EXPURGO NA INDONÉSIA
Número de mortos: 400 mil1
Posição na lista: 81
Tipo: expurgo ideológico
Linha divisória ampla: exército versus esquerdistas
Época: 1965-66
Localização e principal Estado participante: Indonésia
Quem geralmente leva a maior culpa: Suharto, a CIA
As perguntas facilmente respondíveis que todo mundo faz: Sukarno é a mesma pessoa que Suharto? Eles não têm primeiros nomes?a
O ano de viver em perigo
No dia 1º de setembro de 1965, uma pequena facção de oficiais subalternos sequestrou seis dos mais graduados generais da Indonésia. Os detalhes são imprecisos, mas a ação parece ter sido o primeiro estágio de um golpe de Estado. Quando o plano fracassou, os insurgentes entraram em pânico e mataram os sequestrados, jogando seus corpos num poço. O único sobrevivente foi o general Abdul Nasution, que saltara por cima do muro dos fundos do quintal de sua casa para a do embaixador do Iraque, seu vizinho, quando o ataque contra a sua casa deixou mortos sua filha de 6 anos e seu ajudante de ordens.
Depois de escapar da tentativa de sequestro, o general Nasution se apresentou ao oficial mais graduado entre os sobreviventes, general Suharto, que, por alguma razão, não tivera o nome incluído entre os alvos a serem assassinados. Suharto culpou o PKI, o Partido Comunista Indonésio, na época o terceiro maior partido comunista do mundo, com orientação maoista, de ter engendrado o golpe. Outros acham muito estranho que os conspiradores tivessem esquecido completamente de colocar o nome de Suharto na lista dos oficiais a serem sequestrados. Ele não apenas sobreviveu sem um arranhão, mas os ataques funcionaram definitivamente em seu benefício.
O presidente da Indonésia na época era Sukarno, o velho guerreiro pela liberdade, que arrancara o país do império holandês depois da Segunda Guerra Mundial. Na década de 1950, Sukarno ajudara a fundar o movimento de países não alinhados, que tentava organizar um “terceiro mundo”, o qual permanecesse fora dos blocos soviético e americano. Ele começara como presidente propriamente democrático, com eleições e imprensa livre, mas, conforme os anos foram se passando, teceu um rígido casulo de poder em torno de si mesmo, até que emergiu, como uma borboleta, como presidente vitalício, em 1963. Para manter a oposição sob controle, os membros do Parlamento passaram a ser nomeados, em vez de serem eleitos, sob uma política que Sukarno chamava de Democracia Orientada.
A Indonésia ficou calma por umas poucas semanas depois da tentativa de golpe de setembro de 1965, mas logo os militares começaram a prender e a matar qualquer um suspeito de manter simpatias pelos comunistas. Eles elaboraram uma lista que incluía esquerdistas de todos os tipos: comunistas, é claro, mas também sindicalistas, estudantes e jornalistas, e executaram sumariamente milhares deles. Alguns eram mortos em sortidas que eliminavam famílias inteiras ou destruíam vilarejos que não cooperavam. Outros suspeitos eram atirados nas prisões locais para serem interrogados com violência, ficando ignorados por diversas semanas, até que chegava o dia em que eram levados para um local convenientemente deserto e fuzilados. De acordo com diversos ex-funcionários americanos, o serviço de inteligência dos Estados Unidos forneceu aos militares indonésios os nomes de centenas, talvez milhares, de pessoas que eles queriam ver eliminadas.2 Os soldados e seus assistentes de “vigilância” também visavam elementos de etnia chinesa, membros de uma comunidade de comerciantes que tinha sido parte da cultura do Sudeste Asiático por gerações, sob o boato de que eram todos agentes de Mao.
A maioria das sortidas tinha lugar à noite, quando homens mascarados sequestravam e desapareciam com os prisioneiros para sempre. Uma testemunha ocular descreve que ficou escondida na vegetação uma noite, vendo “seguranças” mascarados chegarem até a margem do rio com caminhões repletos de prisioneiros, muitos dos quais a testemunha reconheceu como sendo seus vizinhos e professores. Os sequestrados foram tirados das viaturas e decapitados com facões. Suas cabeças foram colocadas em sacos e guardadas, enquanto os corpos eram empurrados para a água, para saírem boiando.3
Quase meio milhão de pessoas foram perseguidas e mortas durante o expurgo; 600 mil foram para a prisão sem julgamento, frequentemente lá ficando por anos. Milhares foram exilados para colônias penais por todo o arquipélago, onde muitos morriam realizando trabalhos forçados.
O presidente Sukarno não tinha poder para controlar os militares, e, oficialmente, desistiu disso em março de 1966, quando passou o controle do país para o general Suharto, que então passou a ser o presidente de fato por cerca de um ano, até que se promoveu a presidente de direito. Suharto retirou a Indonésia do status de país não alinhado e orientou sua política cada vez mais na direção do bloco americano.4
a Respostas: Não. Não.