Três anos, dois meses e vinte e sete dias.

Como lhe parecia agora tanto tempo. Agora que já não podia vivê-lo. Um tesouro perdido.

Teria preferido que fosse em sua casa ou na de Lizard, na sua cama ou na do seu amante, mas tiveram de ir ao MemoLab porque era aí que estava tudo o que era necessário. Por isso encontrava-se agora no laboratório, para onde a tinham trazido na mesma cama articulada de hospital, que fora a sua durante os três dias em que tentaram salvá-la. Conseguiram algumas coisas: que recuperasse a consciência, que o seu cérebro não se sentisse a abrasar ou a congelar alternadamente, que não tivesse dores. Combateram com sucesso a maior parte dos sintomas, mas não conseguiram encontrar o antídoto para o veneno terrível e desconhecido que Lago pusera na sua aranha mecânica, uma substância artificial, simultaneamente neurotóxica e hemotóxica. Os danos neurológicos puderam ser combatidos, mas os tecidos tinham começado a gangrenar inexoravelmente. Cortaram-lhe a perna e, mesmo assim, a peçonha continuava. Morreria dentro de um dia ou dois, quando muito.

Três anos, dois meses e vinte e sete dias. Que rica era em tempo e não se dera conta. Só apreciamos a doçura das coisas quando as perdemos. Bruna olhou para Lizard, que estava sentado junto dela e agarrava com enorme delicadeza a sua mão artificial. O seguro consertara-lhe a prótese, que ficara totalmente operacional. Os médicos tinham-lhe cicatrizado a ferida da mão direita, a mutilada. Não lhe doía, mas estava inchada, parecia de madeira. Na prótese, pelo contrário, voltava a desfrutar de toda a sua sensibilidade, como se fossem os seus dedos, a sua carne, a sua pele. Mas não eram. Acariciou a mão cálida e enorme de Paul. Ele sorriu.

– Minha bela Bruna.

– Já não serei assim – sussurrou a rep.

– Para mim, serás sempre bela.

– Talvez nem venha a ser nada.

– Serás e eu estarei contigo.

Que palavras tão carinhosas. Curativas.

Quando se percebeu que o estado de Bruna era irreversível, Yiannis propôs testarem a transferência total da rep para as bases de sílica e, daí, para um novo tecno-humano. Não se tratava apenas de dados convencionais de memória; como lhe tinha dito o velho arquivista, procuravam-se as memórias sensoriais não conscientes, o passado emocional, os traços levíssimos que a vida ia deixando nos nossos organismos. A questão era apoderarem-se da identidade, se é que isso era possível, transferindo-a para outro corpo. Nunca se fizera. Não se sabia se funcionava. Mas Yiannis estava otimista, muito otimista. Já lhe tinham substituído a válvula de oxitocina e ele voltara a estar, quimicamente, na maior.

«TriTon vai doar-nos um replicante maduro em vias de ativação. Não terá de prestar os dois anos de serviço à corporação, felizmente. Os filhos de Lago, que formam o novo conselho de administração da empresa, querem mitigar a má publicidade originada pelo pai… Será, claro, um dos tecno-humanos que estavam nos tanques. Muitos morreram. Garantiram-nos que nos podem fornecer um em boas condições, embora possa ter algum pequeno defeito. Mas, em qualquer caso, será começar do zero. Terás novamente dez anos inteiros para viver», explicou-lhe Yiannis.

Tinham sido dias muito estranhos. Intensos, angustiantes, cheios de novidades. O EJI fora completamente desmantelado, pelo menos para já. Emma, cujo nome verdadeiro era Lorena Montfort, fora deportada para São Pedro de Atacama, onde seria julgada e cumpriria pena. Os centros penitenciários das Zonas Zero eram duros. Pobre desgraçada, pensou a rep com uma pena genuína; ficaria presa durante muito tempo naquele buraco pestilento de onde tentara fugir. Emma fora, sem dúvida, a toupeira que denunciara todos os seus movimentos. Pior: com certeza tinha planeado o encontro com Gabi e cultivado a sua amizade para aceder a Lizard, mesmo que mais tarde viesse a amá-la verdadeiramente. O que significava que certamente era a culpada do sequestro do inspetor. E não só. Tinha ordenado as degolações e mesmo as mutilações, o vazar dos olhos, as torturas. Era um monstro. Mas era um monstro digno de lástima, um corolário dos tempos.

Quanto à conspiração, tudo apontava para a culpabilidade de Cosmos. A Presidente Guang e os seus assessores tinham sido assassinados nas primeiras horas de ocupação do Palácio Presidencial, mas Krakotek saíra ileso. No entanto, os EUT não se atreviam a enfrentar abertamente a plataforma orbital, com receio da sua avançada tecnologia de armamento, exemplificada na máquina do apagão, que nessa altura estava a ser estudada pelos cientistas terrestres. Krakotek regressara à Terra Flutuante, os soldados cósmicos retiraram-se total e incondicionalmente de Ceres e uma paz tensa voltava a reinar entre as duas nações.

As pessoas foram aparecendo. Para lhe desejarem sorte. Ou para se despedirem. Na tarde anterior, Kai tinha lá estado. Amistosa, prudente. Contou-lhe que encontraram Dom Lago enforcado, dependurado da Puente de la Reina. Continuava enfiado no seu exoesqueleto e a madeixa de fios do seu crânio metálico estava meio arrancada da caixa. Talvez se tivesse suicidado, mas a inspetora não acreditava. No parapeito da ponte, mesmo por cima do cadáver, alguém tinha deixado um corvo morto. De qualquer forma, não se sabia como gerir oficialmente o caso. Sendo um ser biónico tão avançado, legalmente não era considerado humano, e por conseguinte também não se podia falar de assassinato ou de suicídio. O Ministério da Tecnologia e Transumanidade criara uma comissão para estudar o assunto. Tinha a sua graça, pensou Husky, que os burocratas que o magnata tanto odiava acabassem por ter a última palavra sobre a sua existência.

Gabi também apareceu. Devido aos acontecimentos dos últimos dias, a pequena russa parecia ter-se tornado adulta; mostrava uma gravidade e uma serenidade triste que antes não possuía. Como se a sua habitual fúria destemperada tivesse dado lugar à determinação.

«Vou estudar Direito. Quero ser juíza. E mudar o mundo», afirmou muito séria.

Uma declaração que entusiasmou o arquivista quase até ao delírio: «Muito bem! Vê a nova Presidente dos EUT, Marina Gonçalves. É uma jurista progressista de muito prestígio e já disse que a sua prioridade como governante será a luta contra a desigualdade social e o desenvolvimento das Zonas Zero…»

Husky não partilhava, em absoluto, do otimismo de Yiannis. Tinha visto nas notícias como festejavam a subida da bolsa e o aceleramento económico resultante da substituição rapidíssima de todo o sistema elétrico e eletrónico da Península Ibérica. Era o que Lago previra: o poder continuava nas mãos dos mesmos poderosos. Mas, de qualquer modo, alegrava-a que Gabi dedicasse a sua energia a um projeto de futuro e não à raiva e à violência. Antes de sair, a pequena russa inclinou-se sobre ela e pôs-lhe, com um cuidado extremo, um fio de lã branca em volta do pulso direito, por cima da ligadura da ferida, em contacto com a pele. Deu um nó duplo e depois um lacinho. No início, quando Bruna resgatara Gabi da Zona Zero, a menina fazia isso. Atava as coisas de que gostava, para não as perder.

«Atei-te. Não te vais embora. Vais voltar. É uma magia muito forte», explicou Gabi.

Depois deixou-se cair sobre o peito da rep como quem se atira para uma piscina. Assim ficou durante muito tempo, abraçada a ela em silêncio. Gabi. Abraçada a ela. Durante muito tempo.

Adeus a tudo isto. Hoje, terça-feira, 4 de março de 2110, era o dia maldito da sua morte.

«Não, Bruna, vais continuar a ser tu, só que noutro corpo», insistia Yiannis.

Tinha tentado deixar as coisas em ordem. Pusera o Mosquito à venda. Fora difícil, devido à identidade falsa que usara para a compra, mas Mirari recorreu, mais uma vez, aos seus conhecimentos insondáveis da clandestinidade e conseguiu sacar 180 000 gês pelo chaço. Husky deu uma parte do valor à irmã de Lizard, que pagou um robô mensageiro para devolver o portátil à sua antiga comunidade e utilizou o restante dinheiro para começar uma nova vida.

«Vou para Aix-en-Provence, perto de Marselha. Há aí um grupo de Novos Antigos conhecido pela sua abertura mental. De facto, são quase uma cisão do movimento, porque não são tão rígidos. Acho que lá me sentirei bem. Mandarei notícias e, quando voltares, vai visitar-me», disse.

A seguir, despediu-se, com o mesmo afeto desajeitado do irmão, e saiu a correr. Aznárez deixou Madrid tão depressa que quase parecia estar a fugir. Husky desconfiava de que a experiência de Yiannis a horrorizava. A rep compreendia que tudo aquilo devia ser de mais para uma nova antiga, mesmo uma tão progressista como ela.

Dividiu o resto do dinheiro por Yiannis, Mirari e Maio. Além disso, Bruna legou oficialmente o seu braço biónico à violinista. Era uma prótese magnífica; Mirari poderia voltar a ser a grande música que era antes de perder a mão num teletransporte. A rep suspirou. Gostaria tanto de poder ouvir a nova Mirari a tocar! Oxalá Yiannis conseguisse fazê-la voltar noutro corpo. Oxalá continuasse a ser ela. Oxalá abrisse os olhos e se lembrasse.

– O que tens, Bruna? Porque suspiras? – sussurrou-lhe Lizard, inclinando-se sobre a cama.

Porque quero desesperadamente viver, pensou Husky. Mas, em vez disso, respondeu:

– Tenho medo.

Paul acariciou-lhe a cara:

– É normal. Eu também, um pouco. Mas depois penso que vais voltar. Tenho a certeza. E fico mais tranquilo.

Bruna olhou para ele, embevecida. Agora, barbeado e com o cabelo aparado, notava-se muito mais a sua magreza e o resultado dos maus-tratos. Tinha a cara cheia de equimoses, uma sobrancelha aberta, a esclerótica de um olho injetada de sangue devido a uma pancada. Estava envelhecido e extenuado, mas nunca lhe parecera tão bonito. Pensou no seu próprio corpo, no braço esquerdo que ela mesma amputara, na mão direita mutilada pelo tiro de plasma, na perna que lhe tinham cortado para tentarem deter a necrose. Aquele corpo jovem e belo, aquele organismo perfeito de que se sentira tão orgulhosa, despedaçado pelas dentadas da vida. O tempo, ladrão, arrebatava tudo aos poucos. A vida desgastava; bastava vê-los a ambos, deteriorados, quebrados. Mas uma coisa não se perdera. Uma coisa que, pelo contrário, se fora fortalecendo. A intimidade que partilhavam. A paixão. A ternura.

Também pediu a Maio que ficasse com Bartolo durante os dias cruciais da experiência. O comilão estava desolado e não fazia outra coisa senão chorar e tremer. Tinha passado horas agarrado a Bruna, enchendo-lhe o queixo de moncos. Custou-lhe libertar-se dele, não só porque Bartolo se agarrava a ela com pés e mãos, mas também porque se apercebia agora do muito que amava aquele bicho peludo e disparatado. Mas o momento final aproximava-se ou, como dizia Yiannis, o princípio da viagem, e ela queria ficar a sós com Lizard, algo que o seu memorista teve muita dificuldade em compreender. Pablo Nopal aparecera imediatamente no hospital, abalado:

«Não podes morrer, Bruna. Tens todas as minhas memórias. É como se uma parte de mim se fosse.»

Passara os dias junto dela com uma dedicação que comoveu a rep, embora, conhecendo-o, também soubesse que o memorista chorava sobretudo por si próprio. De qualquer forma, Husky tivera de lhe pedir repetidas vezes que, por favor, se fosse embora, explicando-lhe até à exaustão que queria acabar, ou começar, a viagem sozinha. Nopal só tinha saído há uma hora.

«Não te preocupes, Bruna. Se faltar parte da tua memória nesta nova vida, eu voltarei a escrevê-la. E, a propósito, se isso acontecesse, gostarias de mudar alguma coisa? Quer dizer, se calhar preferes que não te insira as recordações dolorosas. Diz-me o que desejas e fá-lo-ei», afirmou, magnânimo, antes de partir.

Husky refletiu por momentos: a morte precoce e violenta dos pais dele, a adolescência de maus-tratos brutais… Mas ela era isso. Sem isso, não seria bem Bruna Husky. No entanto, havia uma coisinha, uma história que a mãe lhe contava na infância, ou seja, a sua falsa mãe na sua infância inexistente: a história do anão e do gigante, da qual Pablo Nopal só incluíra o título, e não o conteúdo, na memória de Bruna.13

«A única coisa que quero é que me escrevas a história do anão e do gigante.»

E Nopal prometeu-lhe que o faria.

– Está na hora, Bruna. Já está tudo preparado – avisou Yiannis, entrando no quarto.

Três anos, dois meses e vinte e sete dias. Um pequeno tesouro de tempo que lhe arrebatavam. Que trocista era a vida. Tinha passado toda a sua existência obcecada com a contagem decrescente e agora tudo se acabava absurda, precoce, inesperadamente. Husky estava a par do procedimento: primeiro sedavam-na, depois ligavam-na à máquina, faziam a transferência de dados para as bases de sílica, desligavam o seu antigo corpo e inseriam as memórias no novo.

Desligavam o seu antigo corpo. Esse corpo quebrado, mas seu. Morreria a dormir.

– Vamos pôr um pouco de música – disse Yiannis, que esvoaçava à sua volta como um besouro. – Para a sedação, trouxemos um perito de EXIT. Será um processo doce e sereno, vais ver.

EXIT, os centros de eutanásia para os humanos. De facto, um homem silencioso acabava de lhe colar um adesivo à jugular. Depois retirou-se com pezinhos de lã. Lizard apertou-lhe suavemente os dedos. Foi uma carícia que lhe chegou ao coração. E, no entanto, não era mais do que um sinal detetado por alguns recetores eletrónicos inseridos numa trama metálica e biodérmica. No raio de um membro artificial. Seria esse o contacto final entre ambos? No fim de contas, talvez ela não diferisse assim tanto de Jan Lago.

– Por favor, Paul, põe a outra mão mais acima, no braço.

Lizard percebeu imediatamente. Acima da prótese. Na carne real. A manápula dele pousou na pele dela como um escudo protetor. Husky olhou para o perfil do homem, para aquelas pálpebras pesadas, para os lábios carnudos que beijara tantas vezes. Mas que também lhe cuspiram tantas palavras duras. Eram ambos animais difíceis e a sua relação sentimental estivera cheia de penumbras, de idas e vindas, de buracos. Uma função delta de emoções decisivas e efémeras. Embora Bruna compreendesse agora, com uma clareza que a ofuscava, que todo esse pântano era medo puro. Que medo dava amar tanto, necessitar tanto de algo que não conseguíamos controlar. Sem amor, não valia a pena viver, dizia Ángela. Mas a noção de amor de Ángela parecia-se demasiado com a aniquilação. A feia, a intensa, a estrafalária Ángela, esse ser luminoso que se tinha sacrificado por ela e que, enquanto se afogava no seu próprio sangue, tinha formado com os lábios a palavra obrigada. Depois de lhe ter dado tudo, ainda lhe agradecia. A ela, que tinha sido tão avara com o seu afeto. Yiannis dissera-o ao falar da mina: se alguém morre por nós, sentimo-nos obrigados a ser melhores. Uma humana oferecera-lhe a sua vida. Agora Bruna tinha uma dívida impagável com a sua espécie. E com a existência.

De repente, a rep tomou consciência da suave chuva de notas que caía sobre eles. Comoventes, belas.

– Que música tão bonita, Yiannis – disse.

– São as Variações Enigma, de Elgar, um compositor do fim do século dezanove e início do século vinte. Esta, em concreto, é a Nimrod.

Porque não apreciara mais estas coisas? Que pouco tempo havia na existência breve dos reps.

– Se voltar, tens de me ensinar um pouco de música – pediu ao arquivista.

– Voltarás e fá-lo-ei. Até daqui a pouco, Bruna – despediu-se o velho.

E saiu bruscamente. Yiannis ficaria na sala de controlo adjacente ao laboratório.

Adeus a tudo isto. Aos dias brilhantes, às noites agradáveis, ao corpo suado e felizmente cansado depois de fazer exercício, ao vinho branco gelado, à água que matava a sede, às palhaçadas de Bartolo, aos conhecimentos de Yiannis, à supernova do orgasmo, à emoção do sexo com Lizard.

De repente, teve um instante de terror.

Angustiada, cravou o seu olhar no inspetor e ele sorriu-lhe. Uma lenta onda de placidez foi-lhe apagando o pânico. Talvez fosse a serenidade artificial do adesivo transfusor, talvez o poder dos olhos de Lizard, capazes de penetrarem tão fundo dentro dela.

Sem amor, não valia a pena viver.

Obrigada, bela Ángela.

Adeus a tudo isto, mas também ao medo. À angústia constante de morrer. Husky riu-se. De facto, morrer acabava com o maldito receio da morte. Adeus às suas obsessões, à contagem frenética dos dias que lhe restavam. À fúria, à raiva, à insegurança, à luta, à dor. Formosa vida, magoas. A morte também é paz.

Quando fechara os olhos? Não se tinha dado conta. Tentou abrir as pálpebras mas não conseguiu. Não se preocupou. Estava muito bem e ainda sentia as mãos de Lizard segurando-a, acariciando-a. Também sentiu que algo húmido caía sobre o seu braço biónico. Outra gota. Uma lágrima. Eram lágrimas de Lizard. O inspetor não devia ter tanta certeza de que a transferência de memória funcionasse. A mágoa dele comoveu-a. Teria gostado de o consolar, de lhe dizer que não era nada, que se sentia muito bem, mas não era capaz de falar. Ah, Paul, Paul. O seu número amigo. Imaginou-o inclinado sobre ela, vendo-a dormir, como ela se inclinava sobre ele naquela noite que parecia tão distante, pouco antes de tudo começar. Voltariam a ver-se? Voltaria a senti-lo dentro de si? Tão juntos. Tão inevitavelmente unidos como o Sol e a Terra. Essa Terra azul e branca que vira quando flutuava junto de Cosmos. Uma beleza tal que morrer não importava. O seu puzzle. O último quebra-cabeças que tinha feito. Que julgou ser uma fotografia do espaço intergaláctico e que, na realidade, eram sinapses neuronais. Talvez o nosso universo fosse só o cérebro de um gigante e não conseguíssemos imaginar o ser que nos alberga. Adeus, gigante, adeus. Ahhh… Os lábios de Merlín da primeira vez que a beijaram… ela tão jovem e acabada de desmobilizar… Montanhas azuladas a flutuar no fulgor do entardecer. Enormes luas vermelhas nas noites de verão. Aroma de melão. Um sol de sal juntamente com um sussurro de ondas.

A sua mãe, na penumbra do quarto infantil, a contar-lhe a história do anão e do gigante.

A mão de Merlín, a mão de Lizard nas suas costas suadas.

Gotas de chuva a cair sobre o pó.

centelhas de luz em alamedas sombrias

um rio bramante

um… tremor… no… ar…

13O Peso do Coração.