Apresentação à edição brasileira

James Watson publicou este livro quando tinha quarenta anos. Não foram anos sem emoções.

Aos 24, juntamente com Francis Crick, ele publicou um pequeno trabalho científico, contendo uma única figura: a dupla hélice que hoje aparece até em embalagens de shampoo. Essas duas páginas, as mais famosas da biologia no século XX, descreviam pela primeira vez a estrutura do DNA.

O último parágrafo desse minúsculo trabalho começa com a seguinte frase: “Não escapou à nossa atenção…” O resto da sentença, meras dezesseis palavras, descreve uma solução para o mistério que atormentava a humanidade: por que um novo ser vivo é quase uma cópia de seus pais.

Aos 35 anos o jovem Jim recebeu o Prêmio Nobel. E cinco anos depois resolveu contar como a estrutura do DNA foi descoberta. O título original do manuscrito era “Honest Jim”.1

Livros em que cientistas famosos, com egos enormes, relatam suas descobertas dificilmente são page turners. Uma das poucas exceções é A dupla hélice.

O que se passou durante os meses em que a estrutura do DNA foi decifrada lembra um romance de suspense. As aventuras amorosas, as intrigas e fofocas, a concorrência entre os diversos grupos e a personalidade dos envolvidos estão em cada página. E se misturam à ciência que estava sendo criada.

Você não vai encontrar um assassinato, mas os outros elementos de um romance policial estão presentes. É assim que é feita a ciência no mundo real, por pessoas semelhantes ao resto da humanidade. É difícil parar de ler.

Foi esta descrição realística do que ocorreu naqueles meses que tornou o livro um grande best-seller. Muitos dos protagonistas ficaram indignados com “Honest Jim”. Alguns tentaram convencer Watson a desistir do projeto. Mas do alto da estrutura do DNA e com o prestígio de um ganhador do Prêmio Nobel, o jovem Watson resistiu. O resultado é a primeira descrição indiscreta de uma grande descoberta científica. E nós devemos agradecer.

FERNANDO REINACH, 2013


Fernando Reinach é biólogo e foi um dos coordenadores do primeiro projeto genoma brasileiro. Professor titular e ex-docente no Departamento de Bioquímica da USP – Universidade de São Paulo, é autor do livro A longa marcha dos grilos canibais e colunista de O Estado de S. Paulo.


1 Ver nota à página 32.