Nestes poemas do “Grã Cão do outubro”, mais que em [quaisquer] outros,[5]explode a consciência de culpa. Não de uma culpa determinada, sabida nocionalmente, intelectivamente qual é, isso não interessa. Acabo de fazer quarenta anos a 9 de outubro. Surge no meu ser a noção da velhice, noção detestável, e caio na maior safadeza física, exaspero de toda a espécie, sexuais principalmente e sensoriais, álcool, comidas, belezas, em seguida. São dois meses da mais grandiosa e amarga volúpia. Mas me domina o delírio uma consciência de culpa. Que deriva nestes poemas do “Grã Cão do outubro”. Só quando, acalmado, em dezembro, a sexualidade se exaure e todas as experiências se conjugam em mais uma desilusão, entro em algum equilíbrio de mim. É quando nasce o soneto Quarenta anos: uma verificação de idade, uma conscientização escrita [do] passado e do engano do que eu fui. Ainda há um exagero neste soneto. É reconhecer, vingarentamente, que a morte é um engano. Coisa que pressupõe a inexistência de Deus. Mas eu ainda estava por demais exaltado, pra conseguir a posse inteira do meu ser...