giff.jpg [A costela do grã cão][6] giff.jpg 

 

 

Aqui começam os poemas que Manuel Bandeira e Prudente de Moraes, neto preferem que eu não publique. Mas eu quero publicar. São de uma violência brutal os poemas imputados, reconheço. Serão românticos... Mas derivaram todos (basta ver as datas) de circunstâncias especiais e íntimas de minha vida, quando me visitou o Demônio do Meio-Dia, no momento em que fiz quarenta anos, pois todos são imediatamente posteriores ao dia 9 de outubro de 1933. Foi talvez o período mais angustioso da minha vida. O problema da velhice se apresentou franco ao meu espírito, e o primeiro impulso foi de revolta, de reação desesperada, caí numa orgia sexual absurda, aguentando três amores ao mesmo tempo, com mais volúpia angustiosa que prazer e sabedoria. Era mais uma afirmação enceguecida, colérica do ser, que qualquer espécie de verdade. Mas o mais desastroso era a angústia ideológica em que estava. Foi exatamente o momento em que me senti na beira do abismo, e estive por um triz pra aderir com armas e bagagens ao Comunismo. Não que o considerasse a Verdade, nem mesmo sequer a minha verdade, mas sempre era uma adesão! Era adquirir uma cor, era me fixar, era me acalmar, de qualquer forma me acalmar, mesmo que levasse o diabo tudo! Ora esta série de poemas reflete isso tudo, e tem de curioso o repetir, com mais profundeza me parece, e a mesma sensualidade e dedicação humana, o clima de estouro de Pauliceia desvairada. E a coisa só acalmou mesmo quando, em dezembro, escrevi o soneto dos Quarenta anos. Veio uma grande e falsa paz, que logo se deteriorou. Pouco depois principiavam de novo as angústias sociológicas que só iriam desaparecer realmente em maio de 35 quando o Departamento de Cultura me empolgou a vida. Se deu a substituição que evitou nem sei o quê, talvez o suicídio, nem sei, talvez de novo a definitiva adesão ao Comunismo... Ora eu argumento: se me permitem publicar e aprovam a publicação de coisas tão violentas e tão íntimas como a Canção do mal de Amor[7] e o Reconhecimento de Nêmesis, não vejo razão pra não publicar o reconhecimento do... Grã Cão. São dessas coisas que ficam como que ao lado da arte e da beleza, como valor humano apenas. Apenas... 

Os poemas imputados são: Vinte e nove bichos por Manuel e Prudente; Os gatos (a) por M. e P.; Os gatos (b) só por P.; Estâncias por M. e P.; Poema tridente só por M.; Dor só por M. Marque com sinal apagável os que acha devem ficar. 

M.