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(São Paulo, junho de 1943) 

 

 

Até quando ouviremos e veremos 

Os berros alucinantes dos rádios, 

Rigidez de mortos, gritos de holofotes, 

Blackouts, fotografias, comboios dispersos, 

5     E o nosso olhar voraz sobre as manchetes 

Pedindo uma segunda frente? 

 

Lá muito longe no verão maldito 

Milhões, milhares de homens verdadeiros 

Imploram a segunda frente... 

10   O sol implacável desvenda os caminhos, 

Noites claras demais mentem descansos 

E os homens novos sem tradição 

Lutam sozinhos contra a força bruta milenar 

Porque uma segunda frente não vem. 

 

15   Fecha essa porta, Maria! fecha essa janela! 

Não quero mais escutar os clamores ansiosos, 

Não quero mais ler nos jornais, 

Quero ficar só, neste escuro! 

Abra a porta, Maria! abra essa janela! 

20   O clamor se agrava na escureza medonha 

Pedindo, implorando uma segunda frente! 

 

São homens novos, homens sem tradição 

Os que ainda nos permitem viver... 

São os heróis mais puros, mais ingênuos, 

25   São esses loucos verdadeiros que avançam, que voam, que morrem 

Com que coragem! que resistência! 

Mas com que grandeza! que fé! que martírio! 

Pede também comigo uma segunda frente, Maria, 

Que alivie essas crianças 

30   Que permita um sono, abra uma clareira! 

 

Meus olhos se abrasam na areia vazia das praias, 

Meu brado se afoga na traição submarina das algas, 

Este morrer na espera! esta ansiedade, este crime! 

Não posso mais! não posso mais viver!... 

 

35   E se uma segunda frente não vem, 

Não quero mais viver.