(São Paulo, 6 de abril de 1918)
Caros amigos de Piraçununga,
eis-me na minha terra novamente,
porém, como uma ardente caçununga,
sinto de vós uma saudade ardente.
5 Oh! que doces noitadas que passamos,
como ninguém passou iguais, ninguém!
noitadas em que tanto cavaqueamos
e em que jogamos pocker a... vintém!...
Se inda em S. Paulo eu encontrasse disso!
10 Bons camaradas sem nenhuma jaça,
e um morro que tivesse esse feitiço
que tem o encantador... Morro da Graça!...
Eu fecho os olhos e inda vejo diante
de mim o vulto nobre e encantador
15 dessa Escola Normal que vai avante
nas mãos cuidosas do seu diretor...
E o amigo Palma, o jogador perfeito,
ardente e cálido – um camaradão –
que indeciso carrega no seu peito
20 quadras e trincas em revolução!...
E o nosso Lubo então, que bom rapaz!
Oh! guasca amigo, se inda mais te atreves,
a músicas mostrar-me, tu te dás
alguma indigestão de semibreves!...
25 E o homem dos fantasmas, o Aristides!
Um bom conselho aqui quero (lhe) dar:
arranja o porte do pagão Alcides,
deixa os livros, começa a... namorar.
Que belos dias eu passei!... Que linda
30 temporada feliz aí passei!
Desse bom tempo eu me recordo ainda,
e certamente nunca o esquecerei!...
Estou na minha terra novamente;
porém, como uma ardente caçununga,
35 sinto de vós uma saudade ardente,
meus bons amigos de Piraçununga.