(janeiro de 1924)
Com este calor quem dormirá!...
A escuridão acumulou-se em minha rua
E encapuça a cabeça alemã dos lampiões...
Eu preciso de alguém...
5 Meus olhos varrem a escuridão.
Mas somente o calor a se mexer
Sob a vigilância implacável das estrelas.
Dir-se-ia que os burgueses dormem...
Casais suados
10 Virgens vazias
Crianças descobertas...
O que mais me comove é pensar nos solteirões.
Os solteirões mastigam o silêncio,
Os solteirões roncam e viram de lado na cama
15 Ofegando em silvos malcheirosos...
– São sonhos imorais.
A noite hesita em seguir para a frente.
De repente deitou-se nas hortênsias.
E eu velo.
20 Eu velo o sono dos burgueses
Condescendentemente.