Capítulo 11
Os pássaros marrons
Um oficial da SS chamou de “o caso mais importante de alta traição da guerra”. 1 Em 17 de maio de 1940, Josef Müller tomou conhecimento disso, quando recebeu um telefonema preocupante na rede protegida especial do Abwehr, em Munique. Um confidente de Canaris pediu a Müller que fosse imediatamente a Berlim. Ele devia viajar de carro, evitando trem e avião, para impedir o rastreio posterior de seus movimentos. 2
Müller telefonou para monsenhor Johannes Neuhäusler, e eles combinaram um encontro no Englischer Garten, em Munique.
– Giovanni – disse Müller, utilizando o apelido italiano de seu amigo –, acho que estou perdido. 3
Ele pediu ao padre que cuidasse de sua família, principalmente de sua filha. Ele se afligia pela dureza que seria a vida para a filha de um traidor condenado.
Em Berlim, Müller foi para a casa de Hans Oster. O chefe da Seção Z do Abwehr olhou para ele tristemente. Müller se recorda dele perguntando:
– Você se lembra do que prometemos a nós mesmos? Se algum de nós fizesse alguma besteira, iria para a forca sozinho.
Quando Müller disse que se lembrava, claro, Oster afirmou:
– Bem, agora nós dois estamos em apuros. – Ele não forneceu mais detalhes. – Mas não desanime. Talvez Deus nos ajude –, completou Oster. 4
Müller se dirigiu para o quartel-general do Abwehr, onde se deparou com Canaris. Naquele momento, o almirante estava indo para a reunião diária dos chefes de departamento. Imediatamente, Müller percebeu que Canaris estava agitado. Ele sussurrou e utilizou o íntimo du. “Os pássaros marrons”, disse Canaris. “Leia os pássaros marrons.” A confusão de Müller ficou ainda maior quando Canaris lhe perguntou com os olhos semicerrados:
– Você é o tal?
Müller respondeu:
– Quem eu devo ser?
Canaris se virou sem responder à pergunta. 5
Finalmente, na sala do auxiliar de Oster, Müller tomou conhecimento da verdade. Anos antes, Hans von Dohnanyi explicou, Hermann Göring, chefe da Luftwaffe, tinha criado o escritório de investigação do Ministério de Aviação do Reich para ler comunicações estrangeiras. O escritório interceptava e decodificava mensagens e enviava os resultados para os departamentos interessados. Como as mensagens decodificadas circulavam em papel pardo, marcado com a águia do Reich, os oficiais do Abwehr as denominavam “pássaros marrons”.
O escritório decodificara dois telegramas enviados pelo embaixador belga junto ao Vaticano. Transmitidas por Adrien Nieuwenhuys em 2 e 4 de maio, as mensagens detalhavam os planos de guerra de Hitler. Um texto atribuía a fonte do alerta a um “compatriota” belga, fornecida por um “personagem” que “deixou Berlim em 29 de abril e chegou a Roma em 1º de maio”. 6
– É você? – perguntou Canaris depois que voltou. Müller respondeu calmamente:
– Talvez.
Canaris disse:
– Por Deus, você tem de saber!
Em seguida, sorriu, pôs uma das mãos no ombro de Müller e elogiou a calma dele em meio ao caos. O almirante perguntou:
– Você está preparado para receber uma ordem de mim?
Müller respondeu que dependia da ordem.
– Eu o ordeno a ir a Roma, numa missão especial, e investigar esse vazamento – afirmou Canaris.
Müller devia viajar imediatamente. Assim que o avião decolou, Canaris lançou uma perseguição ao “personagem” e impôs controles de fronteira para todos que viajavam à Itália: “Devo tomar conta disso antes que Heydrich o faça.” Em Roma, Müller deveria telefonar para o escritório do Abwehr, onde o coronel no comando teria ordens para ajudá-lo. Toda a investigação ficaria sob responsabilidade de Müller. Para Canaris, só restava garantir a Hitler, quando ele exigisse uma investigação a respeito do vazamento, que tinha o homem certo para aquilo; um tal Josef Müller, com ligações incomparáveis dentro do Vaticano. 7 Como Müller afirmou tempos depois: “O almirante tinha me convertido no líder da investigação contra mim mesmo.” 8
Uma vez mais, Müller voou para Roma. Ele telefonou primeiro para o padre Leiber e o informou. Eles concordaram que o autor do telegrama, o embaixador belga Nieuwenhuys, devia desaparecer por um tempo no interior do Palácio Apostólico, que possui uma infinidade de aposentos. Em seguida, Müller e Leiber deviam achar alguma maneira de desviar a atenção em relação ao abade-geral Noots, que tinha retransmitido o alerta de Müller para Nieuwenhuys. Müller procuraria a residência do abade-geral depois do anoitecer.
Depois, Müller visitou o escritório do Abwehr. 9 Ali, pediu ao coronel Otto Helferich a pasta que resumia a investigação do vazamento até aquela data. Para alívio de Müller, não continha nada de interesse urgente. Em seguida, Müller pediu e recebeu uma lista dos agentes do Abwehr e da SS que espionavam o Vaticano. Finalmente, sabendo que seus amigos estavam preo­cupados a seu respeito, e precisando impressionar Helferich a respeito da importância de sua missão, Müller telefonou para Canaris, na presença do coronel, e disse que Helferich estava realizando uma boa investigação e que eles tiveram uma “conversa muito satisfatória”. 10 Helferich, um sujeito descontraído, pareceu satisfeito com o fato de Müller ter assumido o trabalho extra. Dessa maneira, Müller recrutou o dispositivo do Abwehr local para avançar em seu propósito: a investigação de si mesmo.
As coisas se ajeitaram. Müller visitou Noots e o advertiu para se manter discreto. Naquela mesma noite, Müller se encontrou com Leiber e lhe entregou uma lista dos espiões nazistas, incluindo Damasus Zähringer, amigo beneditino de Keller; Gabriel Ascher, 11 o judeu convertido ao catolicismo; e o padre Joachim Birkner, agente de Hartl nos Arquivos Secretos do Vaticano.
Na manhã seguinte, Müller se reuniu com o radiante Leiber.
– Tive uma ideia – disse o jesuíta com certa malícia. 12 – Um dos nossos padres, um belga, partiu para o Congo e está fora de alcance. Por que não dizemos que ele é o “compatriota” ao qual Nieuwenhuys se referiu? Isso deve servir para desviar a atenção de Noots.
Naquele momento, Müller tinha uma história plausível para contar para Berlim. Ele tinha incriminado alguém falsamente para o papel de Noots como “compatriota” belga. Müller voltou a se reunir com o coronel Helferich, demonstrando uma satisfação genuína. Ele tomara conhecimento por meio de suas conexões no Vaticano que um jesuíta belga, Theodor Monnens, tinha fugido de Roma para se esconder. Ele, sem dúvida, era o “compatriota” belga mencionado na interceptação.
No entanto, o problema só tinha sido solucionado pela metade. Müller ainda tinha de incriminar falsamente alguém para seu próprio papel como o “personagem” que alertou o “compatriota”. Nesse caso, o abade Noots ajudou a forjar uma história que tiraria partido das ideias preconcebidas nazistas. Heinrich Himmler, chefe da SS, odiava Joachim von Ribbentrop, ministro das Relações Exteriores alemão, e também não gostava de Ga­leazzo Ciano, ministro das Relações Exteriores italiano. Supostamente, Ciano comandava um círculo de espionagem social em circuitos de coquetéis e jantares de Roma. Müller creditaria aos espiões de Ciano a bisbilhotice a respeito dos planos de guerra junto ao séquito de viagem de 35 pessoas de Ribbentrop, que incluía especialistas jurídicos e econômicos, dois cabeleireiros, um massagista, um médico e um instrutor de ginástica. 13 A partir de Ciano, a informação pode ter chegado à herdeira do trono belga, Maria José, que circulava em seu circuito social, e, a partir da princesa belga, pode ter alcançado o jesuíta belga Monnens.
Contudo, o perigo não tinha passado. O coronel Joachim Rohleder, oficial da contraespionagem do Abwehr, tinha tomado conhecimento das mensagens interceptadas. Ele não pertencia ao grupo de conspiradores de Canaris. Rohleder estudou a lista de 36 pessoas que cruzaram a fronteira rumo à Itália no período em questão. Ele viu o nome de Josef Müller. 14
Rohleder decidiu pôr um agente no encalço de Müller. Ele soube que Gabriel Ascher tinha ajudado anteriormente Hermann Keller a coletar informações a respeito de Müller. 15 Como Ascher ainda tinha amigos em altos cargos no Vaticano, Rohleder lhe deu dinheiro e o enviou para Roma.
Duas semanas depois, Ascher voltou com um relatório condenatório. Continha o que Rohleder denominou evidência “logicamente convincente” contra Müller. Ascher citou uma lista impressionante de supostos agentes, incluindo padres em Milão e Gênova, e uma personalidade do Vaticano que conhecia o padre Leiber. Munidos desses dados, Rohleder procurou Oster, que não deu importância às afirmações de Ascher, considerando-as fofocas insignificantes de um grupo clerical rival, com inveja do acesso que Müller dispunha. Então, Rohleder recorreu a Canaris, que considerou o caso “inconclusivo”. 16
Novamente, os conspiradores chamaram Müller a Berlim. Num recanto, próximo da estação ferroviária principal, Müller teve uma conversa confidencial com Hans Dohnanyi, que lhe mostrou o relatório de Ascher e a acusação resultante de Rohleder. 17 Oficialmente, Müller devia assinar e jurar uma declaração contrária. Müller foi ao escritório de um advogado amigo, Max Dorn, que lhe devia um favor. Enquanto Dorn datilografava, Müller ditava uma refutação para entregar a Canaris. 18
O almirante chamou Rohleder. Depois de considerar todos os ângulos, ele achava aconselhável encerrar todo o caso e se livrar de Ascher. O coronel protestou, sobretudo contra o uso contínuo de Müller por parte de Oster. Quando Canaris insistiu, Rohleder não teve escolha senão obedecer.
O quase desastre refreou Pio. Por meio de Müller, ele implorou aos conspiradores para que destruíssem quaisquer papéis implicando a Igreja em seus planos. No entanto, Ludwig Beck, general reformado, hesitou em queimar quaisquer documentos da resistência, que seu protegido Oster mantinha num cofre em Zossen. Beck queria preservar provas para a posteridade de que uma Alemanha Decente tinha existido. Por intermédio de Oster, Müller protestou, afirmando que aquilo colocaria em perigo os conspiradores, tanto em Roma quanto na Alemanha. Ele pediu que Oster prometesse, com sua palavra de honra, destruir os papéis de Leiber. Na presença de Müller, Oster pediu que um subalterno fizesse isso. Só posteriormente Müller se deu conta que Oster não tinha, realmente, dado sua palavra de honra. 19
A vitória de Hitler no front ocidental desmoralizou seus inimigos externos e internos. Os conspiradores salvaram sua honra, mas perderam seu momento. Em vez de atacar Hitler, a Wehrmacht tinha atacado os Aliados: primeiro no front norte e, em seguida, no front ocidental. O gabinete britânico, agora sob o governo de Winston Churchill, não negociaria mais até que os alemães afastassem Hitler. As massas alemãs, inebriadas com a vitória, não queriam o afastamento do Führer. A Batalha da Grã-Bretanha azedou ainda mais Churchill a respeito da ideia de uma “Alemanha Decente”. Para a resistência alemã, ele avisou: “Nossa atitude (...) deverá ser de silêncio absoluto.” 20
Contudo, Pio manteve o canal aberto. Embora não conseguisse melhorar os compromissos britânicos, ficou em contato com os conspiradores alemães. 21 Müller continuou sua missão junto ao Vaticano, posicionando a resistência para alguma virada feliz da roda da fortuna. 22 Talvez já em setembro de 1940, Müller informou Myron Taylor, representante pessoal de Roosevelt junto ao papa, a respeito dos fundamentos da conspiração. 23
Com Leiber sob suspeita da SS, Müller passou a se encontrar mais com Kaas. Como o perigo de vigilância aumentou após a queda da França, eles começaram a se reunir na cripta do Vaticano, onde as escavações em busca do túmulo de Pedro continuavam. Müller descia as escadas e atravessava um corredor estreito nas fundações da igreja – uma jornada de poucos segundos o levava para a Roma dos séculos II e III. Nos mosaicos nas paredes, ele não podia deixar de ver alusões à sua própria vida e missão. Numa cena pastoral, dois bois esperavam seu condutor, presos a uma carroça carregada de uvas. Um emblema vermelho, branco e azul, inserido no desenho de uma abóbada de aresta, evocava a bandeira britânica. Debaixo dela, o liberto Flávio Agrícola tinha inscrito: “Quando a morte chega, a terra e o fogo devoram tudo.” Próximo, Jonas caía de um barco na boca da baleia. Nas profundezas da cripta, diretamente abaixo do altar-mor da basílica, alguém tinha inscrito: Petr [ os ] en [ i ], “Pedro está aqui dentro”. 24
No verão de 1940, Josef Müller aprendeu mais a respeito da liderança dos conspiradores. Ele começou a se encontrar com o general reformado Beck. 25 Esses encontros colocaram o agente político mais confiável do papa em contato direto com o chefe designado do regime pós-Hitler da Alemanha Decente. Em longas conversas, Müller convenceu Beck a respeito da ideia de “uma União Econômica Europeia como passo fundamental rumo a uma Europa unida, que impossibilitaria o nacionalismo exagerado e a guerra entre Estados distintos”. 26 A ideia passou a integrar os planos da resistência para a Europa pós-Hitler. 27
Uma segunda ideia desenvolvida com Beck foi a necessidade de tornar a resistência mais ecumênica. Como os generais luteranos mantinham mais rigidamente seus juramentos de lealdade, os possíveis aliados da Alemanha enxergavam o golpe como um plano do Partido do Centro Católico; e como o papa tinha apoiado a conspiração, os possíveis amigos estrangeiros a enxergavam como um projeto do Vaticano. Como Müller relatou, Beck quis “modular” aquela “ressonância” predominantemente católica.
Com esse intuito, a resistência recrutou o teólogo protestante Dietrich Bon­hoeffer. 28 Sua irmã, Christel, era mulher de Hans von Dohnanyi, e Bonhoeffer tinha tomado conhecimento dos contornos da conspiração por intermédio de seu cunhado. Bonhoeffer se ligou ao escritório de Munique do Abwehr, e Müller se tornou seu encarregado. Em outubro de 1940, ele tinha instalado Bonhoeffer além do alcance da Gestapo, na abadia beneditina em Ettal, ao redor da qual os ventos dos Alpes quebravam.
As montanhas bloqueavam o sol, que só alcançava a abadia ao meio-dia. O padre Johannes Albrecht – mestre-cervejeiro que trajava uma túnica negra com capuz – entregou a Bonhoeffer uma chave da biblioteca. 29 Ali, ele passava a maior parte de cada manhã escrevendo sua obra Ética , que fundia preceitos católicos e protestantes.
Por volta dessa época, Bonhoeffer adotou o ponto de vista católico a respeito do tiranicídio. O padre jesuíta Rupert Mayer, então abrigado em Ettal, pode ter incentivado Bonhoeffer a abandonar a doutrina protestante de não resistência. De qualquer forma, da estada de Bonhoeffer em Ettal veio a primeira prova clara de que ele abandonou aquela doutrina. O abade Hofmeister e monsenhor Neuhäusler, contatos de Müller do serviço da inteligência, tornaram-se os companheiros mais próximos do pastor. Bonhoeffer começou referindo-se a temas católicos, como a “Unidade da Cristandade”; 30 e, em cartas aos seus colegas de confiança, passou a falar de forma elíptica, usando termos gregos do Novo Testamento para estimular “a coragem ligada à prudência”. 31 Ecoando os Exercícios espirituais , de Inácio de Loyola, ele escreveu a respeito de “Cristo [como] o destruidor”, que enxergava os inimigos como “perfeitos para queimar”. Em “situações graves”, Bonhoeffer agora sustentava, com casuística jesuíta, a traição se tornava “verdadeiro patriotismo”, e o que normalmente passava por patriotismo tinha se tornado traição. 32
No Natal de 1940, os agentes da resistência cristãos se encontraram em Ettal para planejar o próximo movimento. 33 Eles se reuniram na sala de jantar privada do abade e ficaram sentados metade da noite ao redor da lareira: Müller, Dohnanyi, o padre Mayer, o padre Albrecht e o pastor Bonhoeffer, juntamente com Schmidhuber e o capitão Heinrich Ickhardt, do Abwehr de Munique. Segundo alguns relatos, o Vaticano enviou três prelados para o encontro, incluindo Leiber, e, possivelmente, o padre jesuíta Ivo Zeiger, reitor do Colégio Alemão em Roma.
Consumindo vinho de gelo francônio, a conversa deles sofreu uma sóbria reviravolta. Eles se perguntaram se o papa conseguiria renovar os contatos com os britânicos. Os jesuítas esperavam isso, mas Müller alertou seus amigos para que não esperassem muita coisa. Naquele momento, todo o ambiente tinha mudado. Com a Itália na guerra ao lado dos nazistas e os britânicos numa guerra real contra a Alemanha. O momento para conversações tinha passado. Os alemães decentes deviam agir. Se fizessem isso, o papa os ajudaria. Caso contrário, nenhuma ajuda do papa importaria. Com Hitler triunfante em todos os lugares, a Europa estava se tornando um império pagão. Martin Bormann, auxiliar do Führer, tinha acabado de lançar o Klostersturm [ Tempestade no claustro ], confiscando propriedades religiosas, removendo crucifixos das escolas e fundindo sinos de igrejas para produção de munição. 34 O padre Albrecht compartilhou a profunda preocupação do papa, que temia “o equivalente de uma sentença de morte para a Igreja na Alemanha”. 35
Quando os padres foram dormir, os espiões avaliaram suas opções. Eles teriam de continuar tentando estabelecer contato com os Aliados. No entanto, a iniciativa real, todos concordaram, devia partir da Alemanha. Müller já tinha discutido com Bonhoeffer a respeito de como criar pequenas comunidades de cristãos comprometidos. Então, Dohnanyi buscaria uma maneira de ligar essas células de cristãos com círculos de trabalhadores e militares, numa frente popular combativa. 36
Na Baviera rural, já existiam focos de revolta. Quando os chefes do Partido Nazista removeram os crucifixos das escolas rurais, mulheres devotas lançaram uma onda de desobediência civil. Muitas vezes elas marchavam juntas para recolocar um crucifixo após uma missa por um soldado morto em batalha. No vilarejo de Veiburg, quinhentas mulheres cercaram a casa do prefeito, imobilizaram-no quando ele tentou pegar uma pistola e forçaram sua mulher a entregar as chaves das escolas. 37 Em outros vilarejos, as mulheres se reuniam com seus maridos, onde as praças públicas se enchiam de agricultores brandindo forcados. 38 Percebendo “uma frente de resistência psicológica” e “quase um estado de espírito revolucionário”, o governo bávaro restaurou o uso das cruzes nas escolas. 39
Mulheres desarmadas tinham confrontado os nazistas conquistadores do mundo. O episódio inspirou e envergonhou os conspiradores de Ettal. Naquele momento, eles se sentiram obrigados a encabeçar uma ação direta dentro da própria Alemanha.
Mas uma guerra de guerrilha não era uma atividade para senhores de idade. “Os velhos preferem deixar tudo do jeito que está, e gostam de evitar aborrecimentos a todo custo”, escreveu um padre jovem de Passau, naquele mês, para o presidente dos bispos alemães de 81 anos, expressando o novo estado de espírito combativo. “Como é necessário e importante, nesses cargos de grande responsabilidade, ter a determinação e a energia de realizar intervenções vigorosas e intrépidas e até ter a coragem de estar preparado para morrer.” 40 Exatamente dentro desse espírito, enquanto o ônus da ação católica mudava do Vaticano para a Igreja alemã, os conspiradores de Ettal se alinhariam com os grupos dos padres mais jovens e mais ousados, numa nova rodada de conspirações contra Hitler. 41