Em julho de 1942, Josef Müller
trouxe Dietrich Bonhoeffer a Roma para conversas com os auxiliares do papa. O diálogo visava a construir pontes e fechar lacunas inter-religiosas, de modo que os cristãos pudessem coordenar sua luta contra Hitler. Müller apresentou Bonhoeffer ao padre Leiber e a monsenhor Kaas, que, com sutileza, fizeram proselitismo, apresentando ao protestante a busca ao túmulo de Pedro.
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Enquanto isso, o drama dos judeus colocava Pio à beira do protesto. Em 20 de janeiro de 1942, Reinhard Heydrich, chefe dos espiões da SS, presidiu uma reunião no subúrbio berlinense de Wannsee, para planejar o extermínio do judaísmo europeu.
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Cinco semanas depois, o padre Pirro Scavizzi relatou que os alemães tinham começado a exterminar populações inteiras. Como capelão militar da Ordem de Malta, Scavizzi tinha acompanhado um trem italiano convertido em hospital militar através da Polônia e da Rússia ocupadas, onde oficiais com a consciência pesada lhe contaram a respeito de “deportações para campos de concentração, dos quais, eles disseram, poucas pessoas voltam vivas (...) Nesses campos, milhares e milhares de pessoas são assassinadas sem qualquer processo judicial”. Perto de Auschwitz, os informantes do capelão revelaram que conseguiam sentir o cheiro nauseabundo da fumaça do crematório.
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Scavizzi fez um relatório para o arcebispo de Cracóvia, que o mandou destruí-lo, com medo de que os alemães descobrissem o texto e “matassem todos os bispos e talvez outras pessoas”.
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O padre obedeceu, mas primeiro fez uma cópia em segredo, para o papa tomar conhecimento.
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Em 12 de maio, quando Scavizzi entregou o relatório, o padre afirmou tempos depois, Pio descontrolou-se, elevou as mãos ao céu e “chorou como uma criança”.
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No final de 1942, os planos para uma revolta cristã estavam ganhando força. A unidade inter-religiosa tornou-se um axioma operacional à medida que a política secreta do papa crescia gradualmente em Munique, Colônia e Berlim. As conversas na cripta continuaram para apoiar a expansão do Comitê. “A Igreja está obrigada a recuperar contato com seus círculos alienados cada vez maiores por meio de nosso pessoal integrado e orientado ideologicamente”, escreveu padre Delp. Marcando o novo ecumenismo que o inspirou a intermediar uma aliança entre líderes da resistência católicos e trabalhistas socialistas, ele ressaltou: “Devemos tentar coordenar as iniciativas de grupos extraeclesiásticos para a derrubada do sistema por forças suficientemente poderosas.”
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