MULHERES BRASILEIRAS NO EXÍLIO FRANCÊS: CONFLITOS, RUPTURAS E TRANSFORMAÇÕES DAS SUAS MILITÂNCIAS
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Eloisa Rosalen
Durante a ditadura militar, muitas mulheres (por seus diferentes motivos) tiveram que deixar o Brasil. Nesse período no exterior, que muitas vezes se iniciou de maneira provisória, essas mulheres (e homens) mudaram os seus projetos políticos, passaram a se identificar como feministas ou a militarem com movimento de mulheres, e a constituírem novas relações de afeto em seus cotidianos (PEDRO; WOLFF, 2007; ROLLEMBERG, 1999; ROSALEN, 2016). Também, foi um momento de autocrítica às práticas políticas desempenhadas no Brasil em suas diferentes esferas, como com relação ao machismo na esquerda e à luta armada, (re)formulação dos conflitos entre os diferentes grupos de esquerda, que não enxergavam com bons olhos a inclusão e a transformação das pautas e projetos desses novos engajamentos políticos (MORAES, 2012; WOLFF, 2011).
Os conflitos, as lutas, a formação de novos vínculos e as militâncias das mulheres brasileiras (com suas transformações) no exílio na França são os temas deste capítulo. Nesse sentido, tenho como objetivo pensar como a trajetória de militância das mulheres exiladas se transformou durante o exílio, que, por sua vez, foi permeada por conflitos, abandonos e inclusões de novos projetos. A ideia é pensar, a partir de algumas trajetórias de mulheres exiladas, quais foram os espaços de militâncias, o que tais mulheres narram sobre a maneira que se inseriram no que tange aos seus engajamentos, e pensar as des/continuidades entre as militâncias desenvolvidas no Brasil e no exílio.
De modo geral, embora as mulheres exiladas estivessem situadas no campo das esquerdas e possam ser caracterizadas como provenientes tanto das camadas médias intelectualizadas quanto dos centros urbanos brasileiros, como tentarei demostrar aqui, seus engajamentos durante o exílio francês nos anos de 1970 variaram em diferentes aspectos, grupos, formas e atividades. Por uma questão de recorte me proponho a analisar aqui somente as trajetórias das mulheres brasileiras que estiveram na França durante os anos de 1970, uma vez que contemplam tanto a emergência de grupos em tal país quanto apresentam um momento de rupturas maiores aos exilados destinarem-se à Europa e a consolidação do
fim de um projeto vivido pela dor do golpe do Chile em 1973 (ROLLEMBERG, 1999). O enfoque na França, como lugar de destino, deu-se por esse país ter recebido uma grande quantidade de exilados e pela constituição de importantes grupos em que muitas mulheres militaram.
O fio condutor da minha análise para este capítulo está amparado nas discussões acerca das categorias de mulheres (com uma leitura sob a perspectiva de gênero
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), trajetória
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, exílio
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, memórias
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(recolhidas a partir de entrevistas de história oral e da produção do livro
Memórias das Mulheres do Exílio
), e campo de experiência/horizonte de expectativa
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. A partir dele, não pretendo somente dar visibilidade às narrativas, às subjetividades e aos engajamentos das mulheres desempenhados no exílio (com suas transformações), mas também explicitar algumas hierarquias estabelecidas dos projetos políticos e demostrar a complexidade que atravessa as trajetórias das mulheres exiladas. A fim de elucidar as atividades políticas desempenhadas pelas mulheres durante no exílio francês, escolhi as trajetórias de militância de Angela Arruda, Elisabeth T. de Vargas e Silva, Margarida M. do Amaral Lopes e Zuleika Alambert
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.
Contextualizando os grupos no exílio francês
Lugar de contestação, resistências diversas e formulações de novas lutas, foi na França que emergiu dois significativos grupos de consciências de mulheres brasileiras, o
Grupo Latino-Americano de Mulheres em Paris
e o
Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris
. Além disso, o exílio foi um espaço da realização da autocrítica por parte de diferentes grupos de esquerda que, por sua vez, não necessariamente passaram pela incorporação do feminismo ou o incorporaram, mas submetido às pautas gerais. Nesse sentido, (res)surgiram espaços/grupos de debate e autocrítica, de denúncias contra a ditadura brasileira e de reestruturação das organizações brasileiras, como o
Campanha
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e o
Debate
, um importante
Comitê de Anistia
, e a
Seção Feminina do PCB
. Os principais grupos que incluíram debates sobre o feminismo ou mulheres serão apresentados rapidamente aqui.
Um dos primeiros grupos que foi organizado na França foi o grupo
Debate,
entre o ano de 1970 até 1982, e se estruturou tanto como um centro de estudos quanto produziu uma revista, de mesmo nome, que teve 40 números em 12 anos (ROLLEMBERG, 2007, p. 331). Tal grupo teve como organizador João Quartim de Moraes
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e contou com a presença de mulheres em suas discussões. Mesmo que ainda limitados aos princípios marxista-leninistas, Denise Rollemberg (2007) sinaliza que, a partir das publicações da revista
Debate
, houve um processo de renovação dessas pessoas a partir das quais foram formuladas alternativas para a luta política que prosseguia. Nessas convergências, além da crítica à luta armada, encontraram-se várias novas inclusões ou eixos de discussões; uma delas era o feminismo.
O entendimento, ainda de acordo com a historiadora supracitada, era de que a determinação econômica não explicaria o fenômeno específico das opressões das mulheres, que existia uma autocrítica em relação à pouca incorporação do homem novo
dentro das esquerdas brasileiras, e que as mulheres poderiam criar uma nova prática, mais democrática, a partir da politização do privado (ROLLEMBERG, 2007, p. 312-315). Mas que, por outro lado, as feministas não deveriam abandonar a condição de classe, a partir da qual as mulheres deveriam tanto lutar contra a opressão específica quanto a exploração de classe; ao mesmo tempo que deveriam “priorizar a luta democrática no contexto da ditadura”, a partir da qual as pautas seriam a derrubada da ditadura militar (ROLLEMBERG, 2007, p. 315-316).
Por outro lado, o primeiro grupo feminista foi o
Grupo Latino-Americano de Mulheres em Paris
. Criado em 1972, o grupo promoveu debates, grupos de reflexões (ou autoconsciência) e publicou um boletim bilíngue chamado
Nosotras
(conforme pode ser visto na Figura 1), entre janeiro de 1974 até o segundo trimestre de 1976 (ABREU, 2014). Segundo Maíra Abreu (2014, p. 133), que estudou os boletins publicados, o grupo era profundamente influenciado pelo feminismo francês, mas “não se configurou como uma assimilação acrítica e descontextualizada”; nesse sentido, destacou a autora, “o tema da ‘especificidade’ latino-americana se impôs desde o princípio. Assim, o
Nosotras
do qual falava o grupo era um ‘nós mulheres’, mas tratava-se principalmente de um ‘nós mulheres latino-americanas’”. Para tanto, evidenciou que havia a compreensão de que a situação da mulher latino-americana era específica e exigia métodos de lutas também específicos (ABREU, 2014). Também enfatizou que estiveram presentes os debates entre patriarcado e capitalismo, diferencialismo
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, universalismo, e o ao tema da sexualidade, que foi central (ABREU, 2014).
Já o Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris
, segundo Maíra Abreu (2014), emergiu em 1976 após uma cisão do Comitê de Mulheres
organizado por Zuleika Alambert com a constituição do Grupo Brasileiro de Mulheres Revolucionárias
(GBMR), do Grupo Campanha, o qual buscava formar uma frente feminista revolucionária que incluía questões de classe. Ainda de acordo com a autora, foi a partir desse espaço que houve a necessidade de “criar um grupo ampliado, que pudesse abranger um maior número de
mulheres e com uma perspectiva distinta do Comitê, ideia que se concretizaria com a construção do Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris” (ABREU, 2014, p. 167). O Círculo
era constituído a partir da identidade de brasileira, que incluía ou excluía participantes, mas com propostas que não se reduziam às questões da anistia ou denúncias da ditadura, que já era pauta no ano da fundação.
O debate teórico ocupou grande espaço dentro do Círculo
e esteve ligado a alguns temas, como movimento autônomo, movimento feminista e luta de classes, violência contra as mulheres, feminismo no Brasil, imprensa feminista, sexualidade, realidade brasileira, presas políticas, anistia, educação, trabalho doméstico, teatro, aborto, e direitos reprodutivos (ABREU, 2014). O Círculo
também publicou boletins, o jornal Agora é que são elas
, muitas brochuras, panfletos de denúncia da ditadura e pedido de libertação de presas políticas (conforme pode ser visto na Figura 2). Porém, mesmo não se reconhecendo como uma organização marxista, o Círculo
colocava em sua pauta do dia as questões da luta de classes, uma vez que tinha uma ligação forte com as organizações e com a tendência de lutas de classes do MLF (ABREU, 2014); isto é, como já sinalizado, muitas mulheres provinham de organizações de esquerda nas quais o marxismo era bastante presente.
De modo geral, os dois últimos grupos citados possuíam características similares, uma vez que, em primeiro lugar, eram grupos de consciência, autodenominavam-se feministas, constituíram espaços de reflexão ou, no termo em francês, o
vecù
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, e colocaram em primeiro plano pautas e debates ligados às questões das mulheres no que tange aos aspectos do cotidiano, do envolvimento político, da sexualidade, entre outros. Ademais, constituíram-se como grupo de consciência em função da identidade de mulheres
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, isto é, o grupo de consciência se constituía pela noção de irmandade pelo emprego da dicotomia entre mulheres e homens; nesse sentido, somente era permitida a participação de mulheres, uma vez que muitas delas se queixavam de não serem ouvidas em outros espaços, que, muitas vezes, eram monopolizados pelos homens (PEDRO; WOLFF, 2007).
Figuras 1 e 2:
Capa do Boletim Nosotras e da
Parole aux femmes du Brésil
(Palavra para as mulheres do Brasil)
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do Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris
Fonte
: À esquerda, cada do Boletim Nosotras Ano 1976, n. 25-26, consultado na Bibliothèque Marguerite Durand em Paris. À direita, Parole aux femmes du Brésil,
consultado na Coleção Círculo de Mulheres Brasileiras em Paris – Publicações, v. 5, no Centro Informação Mulher (CIM) em São Paulo.
Para além de grupos de debate e consciência, ainda durante o exílio ocorreu a reorganização partidária do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e a constituição da sua Seção Feminina,
que ocorreu a partir dos anos de 1974 e 1975 e esteve presente em vários países, como na França e Itália (BACK, 2013). Cabe situar que o trabalho junto às mulheres já vinha sendo realizado pelo PCB anteriormente, mas estava vinculado ao Secretariado das Massas do Partido; já a Seção Feminina constituída no exílio foi uma Seção do Comitê Central (BACK, 2013). As discussões realizadas junto à Seção Feminina culminaram na criação pelo PCB do informe intitulado “A condição da mulher e a luta para transformá-la: visão política do PCB” e do documento a “Plataforma de luta pela igualdade de direitos da mulher”, ambos de maio de 1979, que apresentaram as concepções do partido para o debate no que tange à condição da mulher no Brasil, ao trabalho, à família, entre outros aspectos (BACK, 2013). Mesmo que produzindo documentos de maneira mais tardia, não se assumindo como um grupo feminista e submetido ao PCB, a Seção Feminina teve uma importante contribuição para pensar a “condição da mulher” sob uma perspectiva de classe e dentro de um partido.
As trajetórias das mulheres brasileiras exiladas: rupturas e transformações das/nas militâncias
Nesse contexto de diferentes organizações e grupos, como os mencionados acima, muitas mulheres se engajaram, rompendo ou transformando suas militâncias durante o exílio. Teve início com a trajetória de Elisabeth T. de Vargas e Silva
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, que nasceu em Roca Salles no Rio Grande do Sul. No ano de 1967, Elisabeth entrou na UFRGS, em Porto Alegre, para fazer História, mas logo saiu para militar na POC
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. Ainda no Brasil, em 1970 se mudou para São Paulo e permaneceu clandestina desempenhando tarefas de cuidado com documentos, aluguéis de aparelhos, entre outras (VARGAS, 2015, p. 8). Elisabeth esteve exilada no Chile a partir de maio de 1971, onde estudou sociologia (que também não conseguiu concluir) e entrou no MIR
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, envolvendo-se com atividades muito próximas àquelas que fazia em Porto Alegre, como ir para as fábricas para ensinar os operários o leninismo; como todas as pessoas que passaram por lá, permaneceu no Chile até o golpe de 1973 (VARGAS, 2015, p. 21).
De lá partiu para a Suíça, lugar no qual conseguiu asilo político, começou novamente a frequentar a universidade, aprendeu francês e passou a ser uma espécie de “representante” do MIR chileno, pois buscava arrecadar fundos para serem enviados ao Chile (VARGAS, 2018, p. 11). Em 1975, mudou-se para Paris, onde passou a ter um maior envolvimento com o feminismo, ao participar do Círculo
(VARGAS, 2018, p. 16).
Sobre a militância que teve junto ao MIR contou que viajou inúmeras vezes para diferentes países da Europa a fim de arrecadar dinheiro e depois enviar de maneira clandestina ao Chile; a atividade durou dois ou três anos, até o assassinado de Miguel Enriquez (VARGAS, 2018, p. 12). Após esse período, Elisabeth trabalhou em diferentes lugares a fim de se manter e deu um novo passo para a sua militância: a tomada de consciência do feminismo. A respeito disso relatou que quando chegou na Europa o movimento feminista já existia, que não lembra muito bem em que momento descobriu o Círculo,
mas que começou a participar (VARGAS, 2018, p. 16).
Elisabeth também traz em suas memórias a passagem da sua militância em organizações de esquerda, do movimento estudantil e clandestinidade no Brasil e no MIR chileno, ligadas ao ensino de trabalhadores e de arrecadadora de fundos para o movimento feminista. Com suas memórias, Elisabeth acentua que a passagem de uma militância a outra não se deu de maneira rápida e imediata a partir da sua chegada na Europa; como pode ser percebido em seu relato, houve um momento de transição, a derrota de um projeto que mantinha vínculos com a América do Sul e com um engajamento mais tradicional em sua estrutura organizacional.
A respeito do Círculo
, recordou sobre o importante vínculo criado entre as participantes e que foram se tornando amigas, embora algumas mais do que as outras (VARGAS, 2015, p. 44); mas por outro lado estavam rompendo com “aquela coisa de ‘é mulher de quem?!’”, disse ela, “Somos mulheres!” e “incorporamos completamente o discurso feminista francês” (VARGAS, 2015, p. 44). Por outro lado, ainda sinalizou que, obviamente, existiu uma proximidade maior entre algumas delas. Além disso, nessa mesma entrevista, realizada em 2015, deu destaque para a solidariedade que o grupo de mulheres teve em função da atividade de um membro da colônia dos brasileiros:
[...] teve uma história meio piada, que tinha um brasileiro [...], o Marcão, era um bonitão carioca, [...] e ele vivia de um lado para o outro era assim, aquela linguagem do Pasquim
, “voco, toco, jáco”: “vou comer, estou comendo, já comi”. Aí um dia essa história apareceu em uma reunião do Círculo
, aí fizemos uma campanha contra o Marcão, “ninguém dá para o Marcão” [risos]. E deu certo, ele ficou desesperado, falou para todo mundo “o que é isso, parem com isso eu não sou assim”; [e nós dissemos] “então para de falar, não é”. [...] nós viramos uma ameaça aos homens brasileiros porque a gente discutia a vida pessoal das brasileiras, [da] colônia brasileira em Paris, e isso era uma grande ameaça. (VARGAS, 2015, p. 45).
É inquestionável a relação de solidariedade criada entre as mulheres do
Círculo
(e que também deve ter existido no grupo
Nosotras
), que, de certa forma, parecia uma grande ameaça aos outros grupos e à comunidade de brasileiros em Paris. O privado se tornou político
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e, como relatou Elisabeth, isso era uma ameaça para os homens, que viram suas práticas de opressão cotidianas questionadas, debatidas em um grande grupo e difundidas entre uma quantidade de mulheres bastante grande da colônia de brasileiros. Isso reverberou em críticas e conflitos com transformações das relações e práticas cotidianas. A solidariedade entre elas foi muito importante porque criou vínculos, os quais, por sua vez, consolidaram-se em redes de apoio, afetos e afinidades existentes até hoje. No entanto esse vínculo não pode ser lido de maneira ingênua ou ilusória. Como sinalizado por Elisabeth, a relação de amizade não atravessou a todas da mesma maneira e, diante de algumas situações, significou escolhas que as aproximaram entre elas, mas que as distanciaram de certos sujeitos.
A solidariedade também implica pensar com quem você se solidariza e com quem não; ou ainda “o sentimento de solidariedade traduz, também, códigos de não solidariedade” (COSTA, 2009, p. 19). Nesse sentido, Elisabeth
foi uma das únicas entrevistadas a relatar um conflito que teve na época: Jorge, seu ex-marido, convidou para jantar na sua casa um amigo
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que, respectivamente, estava morando com uma pessoa que participava do
Círculo
; no entanto, para morar com essa pessoa, o convidado havia deixado sua companheira grávida e saído de casa. Elizabeth contou que, por conta disso, não gostaria de estar no jantar (VARGAS, 2018, p. 19); para ela, não havia qualquer conflito com a colega do
Círculo
e que só mais tarde se tornou amiga da ex-companheira do convidado, mas sentiu que tinha que se solidarizar com ela naquele momento em função da situação de abandono durante a gravidez (VARGAS, 2018, p. 19). Assim, ainda acrescentou que “era demais para mim: deixar a mulher grávida sozinha e se mudar para casa da outra. Coisas da revolução sexual da época, digamos, tudo era permitido, mas eu era meio caxias em alguns pontos” (VARGAS, 2018, p. 19).
Mesmo que houvesse um pacto de irmandade entre as participantes do Círculo,
o qual foi bastante significativo tanto nas memórias quanto para a existência do grupo, sob essa condição, Elisabeth escolheu ser mais solidária com alguém que não era participante. Por outro lado, suas memórias a respeito apresentaram que as liberdades que passaram a experimentar no exterior também desencadearam contradições e conflitos que se refletiram dentro e fora do grupo; e que certamente foram experiências significativas paras as mulheres e homens que viveram na França do pós-1968.
A maior parte das memórias sobre o Círculo
trazem um passado bastante idealizado, pautado em uma unidade política da militância dessas mulheres, no qual parece que não existiram pontos de conflitos internos ou de debates com relação às pautas e aos projetos. Essa boa imagem pode ser entendida tanto como iniciativas (conscientes ou inconscientes) para a constituição de uma boa narrativa com relação à história do Círculo
quanto uma construção de si em relação ao corpo estranho (materializado pelas minhas entrevistas e perguntas) que buscava escutar tais narrativas. Por outro lado, as perguntas que envolveram conflitos, realizadas durante as entrevistas, nunca foram voltadas àqueles internos, possivelmente, presentes dentro dos debates políticos, o que também significa uma ausência de questionamento a respeito. Da mesma maneira, também muito próximas ao elencado acima, inimizades, hostilidades e antipatias pessoais quase não foram expressas nas memórias ou, quando manifestadas, carregaram práticas de escolhas ligadas à própria solidariedade.
Uma narrativa menos idealizada quanto aos subgrupos do
Círculo
provém de Angela Arruda
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, nascida no Rio de Janeiro em 1947, e que exilou-se, respectivamente, no Chile (em 1970) e na França (a partir de 1973). Durante o período em que esteva na França, participou de grupos de reflexão franceses e do
Círculo
. A respeito da sua militância no Brasil, narrou que, após entrar na UFRJ na segunda metade dos anos de 1960, casou-se com um camarada que rapidamente tornou-se militante de uma das organizações existentes naquele momento (ARRUDA, 2018, p. 4); segundo ela, sua participação era “meio periférica”, o que significava participar de discussões de leituras ou de livros, distribuir panfleto, ir à manifestação, ou seja, nunca chegou até a posição de militante da organização (ARRUDA, 2018, p. 4).
Sobre os anos de 1970 até 1973, período em que esteve no Chile, destacou ter dedicado mais tempo ao seu trabalho e, em menor proporção, participou de um grupo que era coordenado pelo Thiago de Mello, no qual “a gente cantava e se apresentava nas penhas e tal, que era para ajudar os que chegavam, [no intuito de] fazer dinheiro” (ARRUDA, 2018, p. 6); além disso, sobre esse período, contou que colaborou com um jornal denominado Povo/Poder
(ARRUDA, 2018, p. 6). Angela desempenhou importantes funções, como de ida à Argentina, na tentativa de identificar possibilidades de acolhidas em caso do golpe do Chile, o levantamento de fundos para apoio e a colaboração com o jornal (citados acima) (ARRUDA, 2014); de certa forma sua percepção de que desempenhava função menor estava atrelada à própria concepção de militância que, muitas vezes, esteve ligada ao vínculo de uma organização ou à estrutura partidária de que eram militantes àqueles ordenados e definidos dentro dessa lógica.
Após sua passagem pelo Chile, e o respectivo golpe naquele país, a respeito do seu envolvimento na França com militância feminista por volta do ano de 1975 ou 1976, Angela Arruda enfatizou que o seu envolvimento com o feminismo esteve relacionado de maneira direta às questões familiares e às dificuldades em relação ao divórcio legal
200
que estava solicitando no exílio (ARRUDA, 2018, p. 8). De certo modo, o privado a motivou à busca de respostas aos seus anseios e a levou ao novo formato de organização política ligado aos problemas enfrentados pelas mulheres. Nesse sentido, Angela deu destaque aos debates, à criatividade, e ao que chamou de confusão geral em que tudo acontecia e se resolvia dentro do grupo francês que participou (ARRUDA, 2018, p. 8). De certo modo, esse espaço de militância era muito diferente daquele sistematizado pelas organizações de esquerda da qual fez parte (mesmo que considere de maneira tangencial) ou conhecia até então. Por último, o novo engajamento “também me levou a
uma revisão toda da minha vida, eu passei a fazer uma outra leitura de toda a minha vida a partir do feminismo” (ARRUDA, 2018, p. 9); em outras palavras, a militância feminista foi transformadora ao constituir uma nova consciência de si, o que a fez mudar sua percepção do passado e a deslocou para um novo projeto com relação ao futuro.
Além disso, Angela contou também que não teve dificuldades com a inserção dentro do movimento francês (em função da grande solidariedade que havia com os exilados no momento) e as facilidades linguísticas (uma vez que já havia estudado o francês por muitos anos no Brasil e falava com fluência, pois já estava no país fazia um tempo) (ARRUDA, 2018, p. 10-11). Por outro lado, com a sua entrada no Círculo
teve um outro tipo de vínculo e constatou algumas diferenças, que foram questionadas por mim durante a entrevista. Nesse sentido, a respeito do seu engajamento em um novo espaço, explicou que “foi uma outra experiência”, principalmente, ao ver as dificuldades enfrentadas pelas brasileiras; isso seu deu, segundo ela, porque “tinha muita resistência entre o pessoal que estava exilado, as organizações” e “muita gente achava que não podia se afastar da luta principal, que ficar fazendo negócio de mulher era você abandonar a classe. Enfim, toda essa perspectiva negativa com relação ao feminismo” (ARRUDA, 2018, p. 9).
Angela Arruda, em função da sua participação anterior junto às mulheres francesas, demonstra que não teve um deslumbramento em relação ao que passou a ter com o Círculo
. Suas memórias são uma das únicas que não supervalorizam o que passou a ter dentro do Círculo. Nesse sentido, ainda sobre o subgrupo sobre trabalho doméstico do qual fez parte, relatou que não se lembra das discussões, “mas a sensação que eu tenho é de que era meio chato” (ARRUDA, 2018, p. 13); e que, por isso, acha que trocou de subgrupo. Para ela, existiam algumas diferenças bem significativas na experiência que teve no grupo francês (em que primeiro se inseriu) e no Círculo
:
O movimento francês foi realmente onde eu me achei, que eu entendi todas as questões de como é que foi a minha vida, a reflexão me levou a isso. O trabalho doméstico era um tema meio árido, porque era um tema muito objetivo, não entrava muito na subjetividade. Eu acho que isso também deve ter mexido comigo de alguma maneira. [...] Era uma discussão de uma questão que me parecia mais convencional, mais convencionável. E no grupo francês tinha discussão mais... bem pessoais, do tipo, “bom, e o prazer tem que ser sempre com penetração?” (ARRUDA, 2018, p. 13).
O
Círculo,
ao passo que não abandonou algumas pautas como as
questões de classe e de lutas ligadas às denúncias da ditadura, também ficou muito vinculado a algumas discussões, que para Angela, em função do seu contato anterior, ainda eram muitos “objetivos”; esse tema do trabalho doméstico não a tocou tanto quanto a reflexão que passou a fazer sobre sua vida a partir do espaço junto às mulheres francesas. Nesse sentido, embora os grupos de consciência tenham tido a característica de transformação subjetiva atrelada ao processo de construção da prática de si
201
, com autoexames individuais e coletivos realizados no grupo, para Angela a reflexão realizada no
Círculo
não a transformou tanto quanto o que foi discutido com as mulheres francesas; mesmo que essas mulheres não tivessem uma identidade unificadora comum, a partir da interseccionalidade atrelada à nacionalidade como “brasileiras”.
Além das trajetórias citadas acima, eu poderia apresentar também as transformações vividas por Ângela Xavier de Brito, Ângela Muniz, Helena Hirata, Herbert Daniel, Monica Rabelo, Maria Betânia Ávila, Sandra Macedo, entre tantas outras mulheres e homens que tiveram sua tomada de consciência feminista no exterior e que romperam ou deslocaram seus engajamentos, com aspectos semelhantes aos narrados até aqui.
Como visto, as mulheres brasileiras (mesmo as que frequentaram o Círculo
) não tiveram a mesma trajetória e motivações para a adesão de novos projetos e abandono de outros, como o feminismo, arrecadação de dinheiro, entre outros. Em outras palavras, a transformação da trajetória de muitas mulheres, de seus engajamentos, não significou a mudança de foco por parte de todas elas; ou, ainda, o grau com que cada uma dessas mulheres incorporou novos valores e/ou abandonou os antigos variaram consideravelmente em relação aos seus engajamentos. Nesse sentido, para algumas mulheres o exílio foi espaço de autocrítica e possibilitou novas militâncias, mas não àquela feminista (ou ao menos não autodeclarada como tal), como será visto com Margarida M. Amaral Lopes e Zuleika Alambert. Para esse “segundo” grupo também poderiam ser elencadas as memórias de Carmem Maria Craidy, Lia Zatz, entre tantas outras militâncias no exterior, que (ao menos em um primeiro momento) excluíram o feminismo.
Margarida M. Amaral Lopes nasceu em São Paulo em 1951 e provinha de uma família de classe média. Em função da proximidade de idade com a sua irmã Lucia Amaral, que participou do Congresso da UNE de 1968, viu acontecer em sua casa reuniões e, assim, começou a se envolver com o movimento estudantil (LOPES, 2018, p. 3). Margarida era estudante
secundarista em um colégio de freiras e ia junto à irmã no ano de 1968 fazer panfletagem na Rua Maria Antônia (LOPES, 2018, p. 4). Após esse período, conforme sua narrativa, veio o AI-5 e, no final de 1968, “[...] as pessoas já começaram a perceber que tinha que ter um outro tipo de organização. O que a gente achava na época. E rapidamente eu me envolvi com organizações que estavam iniciando a coisa da luta armada, da guerrilha e dessas coisas todas” (LOPES, 2018, p. 4). Nesse sentido, Margarida, que havia acabado de completar 18 anos e ainda era estudante do ensino secundário, tornou-se militante na Ala Vermelha
202
, passou a morar com o namorado em um aparelho no Brás e ter formação dentro da organização. Em menos de um ano depois o aparelho caiu e Margarida foi presa pela Operação Bandeirantes (LOPES, 2018, p. 5). Margarida foi torturada e permaneceu na prisão por seis meses, passando pelo Dops e pela Prisão Tiradentes (LOPES, 2018, p. 6-8).
Após ser solta, com a ajuda da família e pessoas próximas, exilou-se na França ainda em 1969 (LOPES, 2018, p. 10). Ao chegar no exílio, começou a aprender francês e deu continuidade aos seus estudos, uma vez que não havia concluído o ensino secundário no Brasil em função de seu envolvimento com o movimento estudantil e a luta armada (LOPES, 2018, p. 11). Margarida resumiu o engajamento político desenvolvido na França, mas atrelado à autocrítica e à discussão do vivido no Brasil com relação à luta armada junto a grupos que discutiram a realidade brasileira e nas manifestações contra a ditadura (LOPES, 2018, p. 11). De modo geral, o exílio significou para Margarida o abandono da sua militância na Ala Vermelha e uma outra forma de engajamento, na qual a autocrítica se tornou central. Mas a autocrítica aqui, mesmo dentro de uma leitura de busca de conhecimento de si, deve ser pensada pelo viés do marxista, isto é, espaços de debates em que diferentes posições são apresentadas e emerge uma análise crítica à experiência política do grupo; nesse caso, sobretudo, ligado ao entendimento a respeito da luta armada como projeto revolucionário no Brasil. Seu engajamento esteve atravessado pelos seus estudos, os quais havia interrompido no Brasil, e a entrada na Universidade (LOPES, 2018).
Ao ser questionada se sua atividade era dentro de uma organização ou mais coletiva, contou que “era mais uma coisa coletiva. É claro que tinha divergência e tudo isso. Mas, havia uma... essas conversas eram coletivas, com posições diferentes, mas reuniões coletivas” (LOPES, 2018, p. 12). Margarida não contou a qual organização pertencia e sinalizou ser um espaço coletivo; por outro lado, Sonia Calió (2018, p. 11) relatou que se
tratava do grupo Debate. Independentemente do grupo ou do espaço que frequentou, ou o que ambas consideraram a fim de querer ou não relatar sua participação, a sua trajetória de militância é fortemente marcada pela autocrítica em relação à luta armada. No mesmo sentido, lembrou que, embora estivesse no exílio e possuísse uma militância ligada à autocrítica, ao debate e à reformulação de sua percepção, foi para a França sempre sabendo que iria e queria voltar; nesse sentido, a profissão que escolheu lá “foi uma profissão que me permitiria um contato, na ideia que a gente tinha na época, então eu fui fazer serviço social, porque essa era uma maneira de eu poder estar infiltrada nos movimentos sociais, a partir de uma profissão [...]” (LOPES, 2018, p. 12).
A pergunta sobre se Margarida teria tido militância ou vínculo ligado ao feminismo ou a grupo de mulheres dentro da organização de esquerda não precisou ser feita. Logo, em seguida, Margarida explicou a existência do Círculo (unindo mulheres brasileiras a partir da solidariedade) e que “se reunião, independente de política”, mas que ela não participou porque não estava sensibilizada. Segundo ela, isso se deu porque pensava que: “o negócio é a luta de classes’”; “isso é bobagem, a luta de classe que importa”; e “era uma coisa meio de ‘pequena burguesia’” (LOPES, 2018, p. 13). Margarida M. do Amaral Lopes, fora do contexto ligado à Ala Vermelha ou à luta armada, mas naquele momento do exílio na França (com as autocríticas, debates e universidade), não quis se envolver no Círculo. O seu envolvimento com o movimento feminista só se deu no retorno ao Brasil, mas essa é uma outra história.
Em sua fala, é interessante perceber que faz uma distinção entre o que é feminismo e o que é militância, e que o Círculo estava mais “voltada para o feminismo e menos para militância” (LOPES, 2018, p. 12). Da mesma maneira em que destaca que as mulheres do Círculo se reuniam “independente de política”, isto é, considerava que o que elas faziam ou não possuía nenhuma relação com as organizações e era independente de relações com a política das organizações ou que não era considerado como uma atividade política. De certa maneira, mesmo com o reconhecimento da importância ligada à solidariedade entre as mulheres, a hierarquização que fazia com relação às pautas de lutas, e o seu engajamento ligado ao feminismo nos anos de 1980 no Brasil, Margarida categorizava naquele momento o feminismo como uma militância menor.
Embora muitas coisas tenham sido escritas acerca de Zuleika Alambert, nesse mesmo caminho de rupturas e continuidades das
militâncias durante o exílio na França, sua trajetória torna-se muito importante para pensar o feminismo (ou melhor, o desenvolvimento do movimento feminino) em uma reestruturação partidária, como a do PCB, realizada no exílio (BACK, 2013).
Zuleika Alambert nasceu no ano de 1922, em Santos. Segundo sua própria autodescrição “a minha primeira atividade política foi muito sentimental”, nos chamados Comitês de Ajuda a FEB durante o Estado Novo (ALAMBERT, 1980, p. 48); após a guerra, vinculou-se ao Partido Comunista, que recém saia para a legalidade e passou a ter um engajamento mais imponente, com participação em comícios, eleições, mobilização das massas, e entrando para o Comitê Central (CC) (ALAMBERT, 1980). Em 1947, Zuleika assumiu como deputada estadual, mas logo em seguida seu mandato foi cassado (SOIHET, 2013). Entre várias mudanças, ida e vinda ao exterior e longos períodos na clandestinidade (que não ocorreram somente na ditadura), a líder comunista e primeira mulher a fazer parte do CC do PCB, em sua autoanálise no livro Memórias das Mulheres do Exílio,
realizada no ano de 1978, relatou que “foi toda uma luta e um esforço para me fazer respeitar” (ALAMBERT, 1980, p. 56).
Com o golpe de 1964, as coisas se complicaram ainda mais para Zuleika, que, em 1970, exilou-se no Chile e, posteriormente, na França. Durante o seu período no Chile, que contou ter ido para estudar e a absorver a experiência chilena, organizou o Comitê de Mulheres Brasileiras no Exterior, que foi uma das primeiras iniciativas de constituir um grupo de mulheres no exterior e no qual buscava criar um espaço para o engajamento das mulheres que se encontravam duplamente marginalizadas: estrangeiras e esposas (ALAMBERT, 1980, p. 60-61). Mas essa iniciativa não durou muito, uma vez que o golpe do Chile dispersou o grupo de brasileiras e conduziu-as a um novo exílio.
Foi no exílio na França que a trajetória de Zuleika em relação ao seu engajamento sofreu grandes transformações. Em sua narrativa, realizada em 1978 para o livro supracitado, considerou que foi lá que “começo a sentir a minha própria condição” e onde “começo uma reavaliação de toda a minha trajetória”; nesse sentido destacou ainda que passou a perceber que algo “tinha sido vedada” (ALAMBERT, 1980, p. 62). Nessa primeira parte de sua narrativa, Zuleika não relaciona a transformação de sua trajetória a uma tomada de consciência feminista ou dificuldades em função da “condição feminina”. Sua explicação é geral e pode significar muitas coisas, como as críticas com relação ao comunismo, que estavam sendo realizadas
na Europa, e a reestruturação partidária pela qual o PCB estava passando durante o exílio (BACK, 2013). No entanto, mais para frente, dá mais detalhes, ao comentar que “ao fazer um estudo sobre o problema da mulher, que é uma questão social, você também se situa como indivíduo dentro dessa questão. Vai ganhando instrumentos para reavaliar a sua trajetória, a sua formação, as suas dificuldades” (ALAMBERT, 1980, p. 62).
Nesse sentido, cabe perceber como a narrativa publicada neste livro é marcada pelo desejo de assinalar tanto a ruptura que teve em sua trajetória para se tornar uma importante militante do PCB quanto a sua percepção retrospectiva de assinalar uma posição ligada à militância das mulheres; isso se deu ao falar sobre os grupos de mulheres durante a sua militância nos anos de 1940 e 1950, a dificuldades enfrentadas como mulher e comunista, os problemas que veio a perceber junto ao CC e no Partido, as percepções com relação às mulheres exiladas e à necessidade de criar o Comitê, e o tipo de militância que passou a ter durante o exílio na França (ALAMBERT, 1980). Por isso, ao relatar sobre o que poderia fazer acerca da realidade brasileira, estando ela no exterior, comentou “que colaborei na denúncia da ditadura, nas campanhas a favor dos presos políticos, a favor da anistia, na organização das mulheres, em tudo o que pudesse esclarecer os europeus sobre a verdadeira situação do nosso povo e das nossas mulheres” (ALAMBERT, 1980, p. 64).
As mudanças de foco com relação à sua militância são significativas, uma vez que, conforme fez questão de narrar, buscou incluir e fazer o que seria possível diante da sua situação de exilada na França. Nesse sentido, sem abandonar o PCB e as questões às quais historicamente foi vinculada, como comunismo e a tomada de poder pelo proletariado, a líder comunista também se engajou na luta pela Anistia, a favor dos presos políticos e na organização das mulheres. Em outras palavras, incluiu pautas atreladas aos direitos humanos, à vida cotidiana e às opressões de gênero. Cabe lembrar que Zuleika era de uma geração muito diversa daquela das mulheres provenientes do movimento estudantil e da luta armada citadas anteriormente; mas, mesmo assim, transformou-se diante do novo contexto vivido na França.
Também em sua narrativa no livro supracitado, acerca da maneira como via a “questão da mulher”, em um trecho intitulado “Uma, duas, três mulheres excepcionais não resolvem”
, explicita um pouco do que pensava com relação aos seus projetos, isto é, que, para ela, “Na verdade, não basta o seu florescimento individual e em certa medida aparente, se isto não se
fundir num esforço da coletividade feminina, da população feminina, no sentido de que todas as mulheres tenham efetivamente a mesma possibilidade” (ALAMBERT, 1980, p. 64). Ainda no mesmo trecho, destacou que “Uma outra questão que estou vivendo agora é a da autonomia da mulher como ser humano”; para ela, por mais que fosse independente (economicamente e com uma vida pública), acabava sempre fazendo concessões “quase que inconscientes” e, por isso, “Hoje posso ter bem uma ideia de como é importante, é fundamental esta luta pela autonomia, pelo seu próprio, de você ser você” (ALAMBERT, 1980, p. 65). Por outro lado:
Daí eu pensar que é muito complexa e de difícil êxito esta luta individual, porque enquanto a sociedade não mudar, você estará sujeita às pressões dela por mais livre que seja individualmente. É por isso que não consigo acreditar na liberação do indivíduo, do pequeno grupo. E no entanto, é correto que cada mulher procure se liberar. (ALAMBERT, 1980, p. 66).
Como o subtítulo anunciava, Zuleika demarcou que a maneira como pensava a questão das mulheres não estava atrelada às transformações individuais, mas que todas as mulheres possam ter as mesmas possibilidades e acessar uma mudança coletiva. Por outro lado, por mais que não reconhecesse como libertadoras as mudanças individuais ou em pequenos grupos, ainda assim Zuleika explicitou que a autonomia das mulheres é uma questão fundamental para as suas vidas e que é justo que cada mulher busque se libertar individualmente. A argumentação acerca da maneira como enxergava as organizações de mulheres parece um tanto paradoxal, mas também representa um pouco da transformação e dos anseios que possuía como organizadora de atividades políticas voltadas às mulheres, uma mulher que vivia e enfrentou dificuldades como militante do PCB (conforme fez questão de relatar), e tudo isso sem abandonar seus projetos.
Uma questão importante para as transformações da sua trajetória está relacionada à separação vivida no exílio. Ângela Xavier de Brito, em entrevista concedida à professora Joana Maria Pedro
203
, contou que Zuleika Alambert era antifeminista e tinha (e manteve) todos os preconceitos que as brasileiras possuíam com o feminismo quando chegaram na França (BRITO, 2005, p. 45). Mas, após a virada dos anos de 1976 e 1977, atrelada à separação de Armênio Guedes (até então seu marido e companheiro de militância), com quem estava casada desde muito jovem, Zuleika Alambert modificou o seu posicionamento acerca do movimento feminista (BRITO, 2005; SOIHET, 2013). A situação da separação foi muito dolorida e, por isso, Ângela contou que foi procurada por Zuleika para explicar o que significava
o feminismo (BRITO, 2005, p. 46). Por último, Ângela Xavier reconhece que, quando as brasileiras chegaram no exílio, existia um preconceito muito grande com relação ao feminismo.
Como já dito, a narrativa publicada em Memórias das Mulheres do Exílio
foi recolhida no ano de 1978, data muito próxima ao que foi relatado por Ângela Xavier de Brito. Embora, Zuleika não sinalize abertamente que havia se separado recentemente, traz ao menos um trecho que retrata sobre a importância das mulheres serem autônomas, da dependência afetiva, e que pensava “que o estágio que vivo atualmente é muito no sentido de construir uma personalidade, de criar um indivíduo que será sempre independente das pessoas que eventualmente cruzem no seu caminho” (ALAMBERT, 1980, p. 66).
A trajetória de Zuleika Alambert já foi alvo de inúmeras publicações. Raquel Soihet, por exemplo, ao analisar a sua trajetória, enfatiza que a passagem de sua militância do comunismo ao feminismo e a tomada de consciência como mulher ocorreram de forma gradativa (SOIHET, 2013). Em seu texto, a imagem constituída da líder comunista foi de que o exílio influenciou muito a sua trajetória na constituição como feminista (com a sua participação no Círculo, a separação e a constituição da Seção Feminina do PCB
), mas não foi nesse lugar que se assumiu com tal engajamento (SOIHET, 2013). No entanto cabe destacar que a passagem gradual do comunismo ao feminismo de Zuleika Alambert não significou o abandono de sua militância junto ao PCB (ao mesmo não inicialmente) ou do comunismo, como parece ter ocorrido com as mulheres que participaram mais ativamente do Círculo.
Na trajetória de Zuleika Alambert sobressaem-se dois diferentes conflitos: o primeiro deles relacionado às feministas e às marxistas (aqui explicitado de maneira geral, mas pensado a partir do conflito Seção Feminina do PCB e Círculo); e o segundo atrelado, embora toda a discussão presente no Partido por meio da Seção Feminina, à maneira preconceituosa de como o feminismo era visto. Como pode ser visto, em entrevista concedida à professora Roselane Neckel
204
, ao contar sobre o exílio e sua participação no Círculo
,
Zuleika explicitou que entrou em contato com o grupo “mas eu disse assim, ‘oh, eu estou aqui, mas eu não sou feminista, eu sou uma marxista que estuda a mulher’”, isso porque, segundo ela, naquele momento “o partido me educou dizendo que o feminismo era uma coisa de mulheres pequeno-burguesas”; e ainda demarcou que “porque você vai ver nesses livrinhos que estou te dando, [...] os marxistas tinham uma ideia muito feia do feminismo” (ALAMBERT, 200
6, p. 13).
De maneira retrospectiva, quando inclusive já havia sido desligada do PCB, Zuleika Alambert critica de forma explícita o Partido (coisa que não fez nas memórias de 1978), no que tange à sua posição com relação ao feminismo. Grosso modo
, Zuleika sinalizou sua presença em um grupo de consciência feminista, espaço no qual se apropriou de discussões e estava estudando a “mulher”, mas que não se reconhecia como tal e preferia estar localizada como marxista, isto é, que privilegiava tanto a sua posição quanto tinha práticas políticas voltadas às lutas “gerais”. Nesse sentido, assumiu as orientações partidárias de que as feministas eram pequeno-burguesas, a partir da qual se hierarquizava o que deveria vir primeiro e se desqualificavam as lutas feministas em meio à disputa política.
De modo mais específico, em relação ao conflito entre as mulheres que estavam no Círculo e as que estavam na Seção Feminina do PCB
,
ainda é possível aferir algumas questões. Maíra Abreu (2016, p. 185), a partir dos documentos produzidos pelo Círculo, assinalou alguns aspectos: existia uma participação limitada das mulheres provenientes da Seção Feminina do PCB e da
Debate
; “para o PCB, o
Círculo
seria essencialmente anticomunista”; e para o Campanha (grupo que organizou o Círculo), o PCB era “reformista”, “assistencialista” e contra a autonomia do movimento
205
. Além disso, a ideia de que o
“Círculo
partiria do “individual” e o PCB do “geral” orbitava nos termos como muitas vezes a esquerda se posicionava frente às reivindicações feministas (ABREU, 2016, p. 185); aspecto esse que pode ser revisto em trecho das memórias de Zuleika Alambert, citados acima, em que assinala serem insuficientes as lutas individuais.
Também, como destacou Lilian Back (2013), ao analisar os documentos da Seção Feminina do PCB, somava-se o embate com as trotskistas (que optaram pela luta armada
206
), que eram chamadas pelas pecebistas de (ultra)esquerdistas e com os coletivos de mulheres que eram denominados “existencialistas” e “sexistas”. Por outro lado, como destacou a pesquisadora, “as pecebistas eram classificadas de reformistas por força política que tampouco havia superado uma concepção etapista da revolução
207
[...]”, o que por sua vez se tornava paradoxal; e que “parte das forças que as pecebistas taxavam de sexistas consideravam que a luta pela emancipação das mulheres estava irremediavelmente ligada à luta de classes” (BACK, 2013, p. 93), isto é, eram criticadas por algo que estava na pauta de seus debates. Além disso, em virtude dessas disputas, algumas mulheres pecebistas que participaram diretamente no Círculo ocultavam a sua origem partidária para que a participação fosse viável (BA
CK, 2013).
Por último, ainda estava presente a tentativa de captação das mulheres para a participação do PCB. Marisa Jordan contou, em entrevista concedida a mim no ano de 2015, que o PCB, por meio de uma de suas principais dirigentes, designou “algumas mulheres para irem participar do Círculo,
para fazer a cabeça do pessoal” (JORDAN, 2015, p. 13). Em sua narrativa, explicitou que se tratava dela e mais três amigas, todas recém-ingressantes do Partido no exílio, que passaram a participar do Círculo e que “em pouco tempo a gente tinha virado feminista” (JORDAN, 2015, p. 13). De modo geral, Marisa resume o embate como o feminismo sendo o inimigo do comunismo e que, posteriormente, levaram uma bronca do Partido por essa situação; para ela, a lembrança desse episódio é muito presente por conta da bronca do Partido, uma vez que “E eu me lembro muito de uma senhora vinda de Moscou [...] completamente dento daquela visão mais antiga e dizendo que era muito sério o que a gente tinha feito [risos]” (JORDAN, 2015, p. 14).
Algumas considerações
Atravessadas por questões macros (como o golpe do Chile, a derrota dos seus projetos revolucionários ou de resistência à ditadura, pressões e práticas de organizações e a perseguição vivida no Brasil e exílio), as mulheres brasileiras integraram em diferentes espaços e militâncias durante os anos de 1970 na França, desde autocrítica e debates sobre a realidade brasileira, arrecadação de fundos, e feminismo. Como tentei demonstrar, as transformações gradativas ou rupturas pontuais ocorreram de maneira diferente para cada uma dessas mulheres exiladas e foram alimentadas tanto por aspectos coletivos (como os sinalizados acima) quanto individuais, relacionados às relações afetivas, à perda de familiares e aos conflitos internos passados em relação a ambos os aspectos. Além disso, com essas transformações estiveram entranhados conflitos e hierarquizações, ligados à definição das pautas mais importantes (classe versus
“questão da mulher”), aos aspectos cotidianos explicitados pela escolha de com quem se solidarizar e a partir de que projetos se engajar.
As transformações das trajetórias das militâncias, de certa forma, apresentam uma mudança na percepção do tempo por parte dos sujeitos aqui analisados, nas quais a experiência revolucionária fracassada (e sentida no exílio francês, após o golpe do Chile) rompeu completamente com o horizonte de expectativa (atrelado às expectativas do projeto
revolucionário da transformação socialista) das militantes de esquerda e fez com que assumissem novas práticas políticas, como o levantamento de frentes de denúncia da ditadura e o feminismo. Diante disso, e no contato com outras maneiras de organização e outros projetos políticos existentes, as expectativas se tornaram distintas; o que significou, por outro lado, as transformações de seus engajamentos, a passagem de uma militância revolucionária (atrelada à modernidade e às questões de classe) para uma atrelada ao contemporâneo e às demandas do cotidiano.
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