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TECNOLOGIAS NO ENSINO E APRENDIZAGEM INOVADORAS

As tecnologias evoluem em quatro direções fundamentais:
do analógico para o digital (digitalização)
do físico para o virtual (virtualização)
do fixo para o móvel (mobilidade)
do massivo para o individual (personalização).
Carly Fiorina, ex-presidente da Hewlett-Packard

As tecnologias caminham para a convergência, a integração, a mobilidade e a multifuncionalidade, isto é, para a realização de atividades diferentes num mesmo aparelho, em qualquer lugar, como acontece no telefone celular (que serve para falar, enviar torpedos, baixar músicas).

A digitalização permite registrar, editar, combinar, manipular toda e qualquer informação, por qualquer meio, em qualquer lugar, a qualquer tempo, traz a multiplicação de possibilidades de escolha, de interação. A mobilidade e a virtualização nos libertam de espaços e tempos rígidos, previsíveis, determinados. Na educação, o presencial se virtualiza e a distância se presencializa. Os encontros em um mesmo espaço físico se combinam com os encontros virtuais, pela internet. E a educação a distância cada vez aproxima mais as pessoas, pelas conexões em tempo real, que permitem que professores e alunos falem entre si e formem pequenas comunidades de aprendizagem.

As etapas da aprendizagem tecnológica

As tecnologias são meio, apoio, mas, com o avanço das redes, da comunicação em tempo real e dos portais de pesquisa, transformaram-se em instrumentos fundamentais para a mudança na educação. Há uma primeira etapa, que é a definição de quais tecnologias são adequadas para o projeto de cada instituição. Depois, vem a aquisição delas. É preciso definir quanto gastar e que modelo adotar, se baseado em software livre ou proprietário, bem como o grau de sofisticação necessário para cada momento, curso e instituição. Em seguida, vem o domínio técnico-pedagógico, saber usar cada ferramenta do ponto de vista gerencial e didático, isto é, na melhoria de processos administrativos e financeiros e no processo de ensino e aprendizagem.

O domínio pedagógico das tecnologias na escola é complexo e demorado. Os educadores costumam começar utilizando-as para melhorar o desempenho dentro dos padrões existentes. Mais tarde, animam-se a realizar algumas mudanças pontuais e, só depois de alguns anos, é que educadores e instituições são capazes de propor inovações, mudanças mais profundas em relação ao que vinham fazendo até então. Não basta ter acesso à tecnologia para ter o domínio pedagógico. Há um tempo grande entre conhecer, utilizar e modificar processos.

Para que uma instituição avance na utilização inovadora das tecnologias na educação, é fundamental a capacitação de docentes, funcionários e alunos no domínio técnico e pedagógico. A capacitação técnica os torna mais competentes no uso de cada programa. A capacitação pedagógica os ajuda a encontrar pontes entre as áreas de conhecimento em que atuam e as diversas ferramentas disponíveis, tanto presenciais como virtuais. Essa capacitação não pode ser pontual, tem de ser contínua, realizada semipresencialmente, para que se aprenda, na prática, a utilizar os recursos a distância.

Em relação aos alunos, hoje, é importante que eles tenham ambientação tecnológica e pedagógica nos ambientes virtuais. Costuma haver uma grande desigualdade no acesso e domínio das tecnologias. Por isso, os que têm mais dificuldades precisam de maior atenção, principalmente no primeiro contato com a instituição escolar. Escolas e universidades precisam de equipe de apoio técnico-pedagógico a professores e alunos, para avançar mais rapidamente no conhecimento de todas as possibilidades em cada área do conhecimento.

Depois de implantar as tecnologias, as escolas costumam seguir algumas etapas na sua apropriação pedagógica. É o que discutiremos adiante.

Primeira etapa: Tecnologias para fazer melhor o mesmo

As tecnologias começaram a ser utilizadas para melhorar o desempenho do que já existia: melhorar a gestão administrativa; automatizar rotinas de matrícula, boletos, notas, folha de pagamento, receitas. Depois, passaram a ajudar o professor a “dar aula”, na organização de textos (conteúdo), nos programas de apresentação, na ilustração de aulas (vídeos, softwares de conteúdos específicos), na avaliação (planilhas, bancos de dados), na pesquisa (bases de dados e internet). Ao mesmo tempo, os alunos encontram nas tecnologias ferramentas de apoio à aprendizagem: programas de texto, de multimídia, de navegação em bases de dados e internet, de comunicação, até chegar aos ambientes virtuais de aprendizagem.

Segunda etapa: Tecnologias para mudanças parciais

Numa segunda etapa, o avanço das tecnologias e o seu domínio técnico-pedagógico propiciam a criação de espaços e atividades novos dentro da escola, que convivem com os tradicionais: utiliza-se mais o vídeo, para tornar as aulas mais interessantes; desenvolvem-se alguns projetos na internet, nos laboratórios de informática. Professores e alunos criam páginas web e divulgam seus trabalhos. Professores propõem atividades virtuais de grupos, listas de discussão,[26] fóruns[27] e, mais recentemente, blogs,[28] podcasts,[29] produção de vídeos. Esses programas se sofisticaram com a utilização de plataformas integradas de ensino, que permitem atividades a distância. Mas o importante, o que vale de verdade, continua sendo o currículo, as aulas presenciais, as notas. Típica desta segunda etapa é a divisão entre a grade curricular obrigatória (disciplinas) e as atividades virtuais (projetos, webquests[30]), que costumam ser voluntárias ou consideradas atividades complementares.

A escola continua a mesma, no essencial, mas há algumas inovações pontuais, periféricas, que começam a pressionar por uma mudança mais estrutural. Muitas escolas e universidades não fazem mudanças profundas, ao contrário, massificam com as tecnologias o modelo centrado no professor (por exemplo, por meio de teleaulas), focando mais a transmissão do que a interação e a pesquisa.

Terceira etapa: Tecnologias para mudanças inovadoras

Numa terceira etapa, as tecnologias começam a ser utilizadas para modificar a própria escola e a universidade: para flexibilizar a organização curricular, a forma de gestão do ensino-aprendizagem. Trabalha-se mais com projetos integrados de pesquisa e há mais atividades semipresenciais ou quase totalmente on-line. O currículo universitário permite atividades a distância complementares às presenciais. As escolas de ensino fundamental e médio ainda se sentem fortemente pressionadas pelas secretarias de educação, pelo vestibular das universidades, pelas expectativas tradicionais das famílias e pela força da cultura escolar tradicional. Por isso, ainda não estão conseguindo quebrar o modelo padrão de aulas presenciais e presença obrigatória. Mesmo os colégios mais avançados tecnologicamente continuam amarrados, presos à tradição e às expectativas sociais convencionais.

Um dos problemas mais sérios é a demora das universidades em assumir novos modelos pedagógicos inovadores. Mais séria ainda é a defasagem das escolas de educação básica: estacionaram na mesmice. Mesmo com grandes portais de serviços virtuais e franquias, não mexem no essencial, que é o processo de ensino-aprendizagem. O virtual, até agora, é um complemento – só – do presencial, que é o que realmente conta e que continua acontecendo da mesma forma.

As redes, principalmente a internet, estão começando a provocar mudanças profundas na educação presencial e a distância. Na presencial, desenraízam o conceito de ensino-aprendizagem localizado e temporal. Podemos aprender de vários lugares, ao mesmo tempo, on e off-line, juntos e separados. Como nos bancos, temos nossa agência, a escola, que é nosso ponto de referência; só que já não precisamos ir até lá continuamente, pessoalmente, para aprender.

As redes também estão provocando mudanças profundas na educação a distância (EAD). Antes, a EAD era uma atividade muito solitária e exigia bastante autodisciplina. Agora, com as redes, continua como uma atividade individual, combinada com a possibilidade de comunicação instantânea, de criação de grupos de aprendizagem, integrando aprendizagem pessoal e grupal.

A educação presencial está incorporando tecnologias, funções e atividades que eram típicas da EAD, que, por sua vez, está descobrindo que pode ensinar de forma menos individualista, mantendo um equilíbrio entre a flexibilidade e a interação.

Novos espaços e tempos de aprendizagem

Com a internet, as redes de comunicação em tempo real, a TV digital e o celular, surgem novos espaços e tempos no processo de ensino e aprendizagem, que modificam e ampliam o que fazíamos na sala de aula.

O professor, em qualquer curso presencial, hoje, precisa aprender a gerenciar vários espaços e a integrá-los de forma aberta, equilibrada e inovadora. O primeiro espaço é o de uma nova sala de aula, equipada com atividades diferentes, que se integra com a ida ao laboratório para desenvolver pesquisa e o domínio técnico-pedagógico. Essas atividades se ampliam e complementam a distância, nos ambientes virtuais de aprendizagem, e se integram aos espaços e tempos de experimentação, de conhecimento da realidade, de inserção em ambientes profissionais e informais.

Antes, o professor só se preocupava com o aluno em sala de aula. Agora, continua com o aluno no laboratório (organizando a pesquisa), na internet (atividades a distância) e no acompanhamento das práticas, dos projetos, das experiências que ligam o aluno à realidade, à sua profissão (no ponto entre a teoria e a prática).

Antes, o professor se restringia ao espaço da sala de aula. Agora, precisa aprender a gerenciar também atividades a distância, realizar visitas técnicas, orientar projetos e, tudo isso, como parte da carga horária de sua disciplina, visível na grade curricular, flexibilizando o tempo que está em aula e incrementando outros espaços e tempos de aprendizagem.

Assim, educar com qualidade implica organizar e gerenciar atividades didáticas em, pelo menos, quatro espaços, como veremos em seguida.

Reorganização dos ambientes presenciais

A sala de aula como ambiente presencial tradicional precisa ser redefinida. Até agora, identificamos ensinar com frequentar regularmente esse ambiente. Aos poucos, a sala de aula irá se tornar um lugar de começo e de finalização de atividades de ensino-aprendizagem, intercalado com outros tempos, em que frequentaremos outros ambientes. Como regra geral, estaremos nela para nos conhecer, para organizar os procedimentos didáticos, para motivar os alunos, para instrumentalizá-los sobre as etapas de pesquisa e a alternância com outros ambientes. Depois de um tempo maior ou menor, voltaremos a ela para a apresentação dos resultados, para uma troca de experiências, para a contextualização e generalização da aprendizagem individual e coletiva. E assim iremos intercalando novas situações presenciais com atividades fora da sala de aula.

A sala de aula perde o caráter de espaço permanente de ensino para o de ambiente onde se iniciam e se concluem os processos de aprendizagem. Permaneceremos menos tempo nela, mas a intensidade, a qualidade e a importância desse período serão incrementadas. Estaremos menos tempo juntos fisicamente, mas serão momentos intensos e também importantes de organização de atividades de aprendizagem.

A sala de aula precisa ser confortável, com boa acústica e tecnologias, das simples até as sofisticadas. Uma classe, hoje, precisa ter ao seu alcance aparelhos de vídeo, DVD, projetor multimídia e, no mínimo, um ponto de internet, para acesso a sites em tempo real pelo professor ou pelos alunos, quando necessário. Com o avanço das redes sem fio e o barateamento dos computadores, as escolas estarão conectadas e as salas de aula poderão tornar-se espaços de pesquisa, de desenvolvimento de projetos, de intercomunicação on-line, de publicação, com a vantagem de combinar o melhor do presencial e do virtual no mesmo espaço e ao mesmo tempo.

Um computador em sala com projetor multimídia é um caminho necessário, embora ainda distante em muitas escolas, para oferecer condições dignas de trabalho a professores e alunos. São poucos os cursos até agora que dispõem dessa tecnologia, mas ela se torna uma realidade cada vez mais premente, se queremos educação de qualidade. Um projetor multimídia com acesso à internet permite que o professor e os alunos mostrem simulações virtuais, vídeos, games, materiais em CD, DVD, páginas web ao vivo.

O foco de um curso deve ser o desenvolvimento de pesquisa, fazer do aluno um parceiro-pesquisador. Pesquisar de todas as formas, utilizando todas as mídias, fontes, formas de interação. Pesquisar, às vezes, todos juntos; outras vezes, em pequenos grupos; outras, individualmente. Pesquisar, às vezes, na escola; outras, em outros espaços e tempos. Combinar pesquisa presencial e virtual. Comunicar os resultados da pesquisa para todos e para o professor. Relacionar os resultados, compará-los, contextualizá-los, aprofundá-los, sintetizá-los.[31]

Mais tarde, depois de uma primeira etapa de aprendizagem on-line, a volta ao presencial adquire outra dimensão. É um reencontro tanto intelectual como afetivo. Já nos conhecemos, mas fortalecemos esses vínculos, trocamos experiências, vivências, pesquisas. Aprendemos juntos, tiramos dúvidas coletivas, avaliamos o processo virtual. Fazemos novos ajustes. Explicamos o que acontecerá na próxima etapa e motivamos os alunos a continuar pesquisando e se encontrando virtualmente. Em seus próximos encontros presenciais, os alunos já trazem maiores contribuições, os resultados de pesquisas, de projetos, solução de problemas, outras formas de avaliação.

Atividades nos ambientes presenciais conectados

Um dia, todas as salas de aula estarão conectadas em rede. Como isso ainda está distante, é importante que cada professor programe, em uma de suas primeiras aulas, uma visita com os alunos ao “laboratório de informática”, a uma sala de aula com computadores suficientes conectados à internet. Nessa aula, o professor pode orientar os alunos a fazer pesquisa na internet, a encontrar os materiais mais significativos para a área de conhecimento que vai trabalhar com eles, a aprender a distinguir informações relevantes de informações sem referência. Ensinar a pesquisar na web ajuda muito os alunos na realização de atividades virtuais depois, pois se sentirão seguros na pesquisa individual e grupal.

Outra atividade importante nesse momento é a capacitação para o uso das tecnologias necessárias para acompanhar o curso em seus momentos virtuais: conhecer a plataforma virtual, as ferramentas, como se usa o material, como se enviam atividades, como se participa de um fórum, de um chat, como se tiram dúvidas técnicas. Esse contato com o laboratório é fundamental, porque há alunos pouco familiarizados com as novas tecnologias e para que todos tenham uma informação comum sobre as ferramentas, sobre como pesquisar e sobre os materiais virtuais do curso.

Tudo isso pressupõe que os professores foram capacitados antes para fazer esse trabalho didático com os alunos no laboratório e nos ambientes virtuais de aprendizagem (o que muitas vezes não acontece).

A utilização de ambientes virtuais de aprendizagem

Os alunos já se conhecem, já têm as informações básicas para pesquisar e utilizar os ambientes virtuais de aprendizagem. Agora, já podem iniciar a parte a distância do curso, combinando momentos em sala de aula com atividades de pesquisa, comunicação e produção a distância, individuais, em pequenos grupos e todos juntos.[32]

O professor precisa adquirir a competência da gestão dos tempos a distância combinados com o presencial. O que vale a pena fazer pela internet e que ajuda a melhorar a aprendizagem, mantém a motivação, traz novas experiências para a classe, enriquece o repertório do grupo.

Existem ambientes virtuais simples (como, por exemplo, as páginas de grupos) e complexos (plataformas virtuais integradas). Existem ambientes gratuitos (Moodle, Teleduc, E-Proinfo, Aulanet) e ambientes virtuais pagos (Blackboard). Existem ambientes de código fechado (gratuitos ou pagos, nos quais não se pode mexer no código-fonte) ou de código aberto (que permitem modificar o programa, como o Moodle).[33]

Esses ambientes virtuais incorporam cada vez mais recursos de comunicação em tempo real e off-line, de publicação de materiais impressos, vídeos etc., bem como recursos de edição on-line: professores e alunos podem compartilhar ideias, modificar textos, comentá-los; podem travar discussões organizadas por tópicos (off-line) e discussões ao vivo, com som, imagem e texto. Os ambientes de aprendizagem se integram aos programas de gestão acadêmica e financeira. Com a mesma senha, os alunos acessam o histórico escolar, os pagamentos, os cursos. Tudo se integra cada vez mais, tudo fala com tudo e com todos.

Os ambientes virtuais complementam o que fazemos em sala de aula. O professor e os alunos têm menos aulas presenciais e mais atividades a distância; podem ser só algumas aulas ou cursos totalmente on-line. Nos cursos presenciais, uma parte das aulas é a distância, os chamados cursos semipresenciais, e precisamos aprender a gerenciar e organizar atividades que se encaixem em cada momento do processo e que dialoguem e complementem o que estamos fazendo na sala de aula.

Podemos começar, por exemplo, com algumas atividades na sala de aula: informações básicas de um tema, organização de grupos, explicitação dos objetivos da pesquisa, solução das dúvidas iniciais. Depois, vamos para a internet e orientamos e acompanhamos as pesquisas que os alunos realizam individualmente ou em pequenos grupos. Pedimos que coloquem os resultados em uma página, um portfólio ou que as enviem virtualmente para nós. Colocamos um tema relevante para discussão num fórum ou numa lista e procuramos acompanhá-la, sem sermos centralizadores nem omissos. Os alunos se posicionam primeiro e, depois, fazemos alguns comentários mais gerais, incentivamos, reorientamos algum tema que pareça prioritário, fazemos sínteses provisórias do andamento das discussões ou pedimos que alguns alunos as façam. Podemos convidar um colega, um pesquisador ou um especialista para um debate com os alunos num chat, realizando uma entrevista a distância, em que atuamos como mediadores. Os estudantes gostam de participar desse tipo de atividade.

Eles podem desenvolver projetos de curta ou longa duração, individualmente ou em grupos, projetos teóricos ou práticos. Nós, professores, podemos marcar alguns tempos de atendimento semanais, se acharmos conveniente, para tirar dúvidas on-line, para atender grupos, acompanhar o que está sendo feito pelos alunos. Sempre que possível, incentivaremos os alunos a criar seu portfólio, seu espaço virtual de aprendizagem próprio, e disponibilizar o acesso aos colegas, como forma de aprender colaborativamente.

Creio que há três campos importantes para as atividades virtuais: o da pesquisa, o da comunicação e o da produção-divulgação. Pesquisa individual de temas, experiências, projetos, textos. Comunicação em debates off e on-line sobre os temas e experiências pesquisados. Produção, para divulgar os resultados no formato multimídia, hipertextual, “lincado”, e publicá-los para os colegas e, eventualmente, para a comunidade externa ao curso.[34]

É fundamental, hoje, pensar o currículo de cada curso como um todo e planejar o tempo de presença física em sala de aula e o tempo de aprendizagem virtual. A maior parte das disciplinas pode utilizar, ao menos parcialmente, atividades a distância. Algumas, que exigem menos laboratório ou menos tempo juntos fisicamente, podem ter uma carga maior de atividades e tempo virtuais. Podemos ter disciplinas totalmente a distância e outras com mais carga presencial. O semipresencial é uma das tendências mais fortes na educação em todos os níveis, principalmente no superior. Neste último, essa flexibilização na gestão de tempo, espaços e atividades é especialmente necessária, porque ele está ainda tão engessado, burocratizado e confinado à monotonia da fala do professor num único espaço, que é o da sala de aula.

Inserção em ambientes experimentais, profissionais e culturais

A escola pode estender-se fisicamente até os limites da cidade e virtualmente até os limites do universo. A escola e a universidade podem integrar os espaços significativos da cidade: museus, centros culturais, cinemas, teatros, parques, praças, ateliês, centros esportivos, comerciais, produtivos, entre outros. Podem organizar também os currículos com atividades profissionais ou sociais, com apoio da comunidade.

Os cursos de formação, os de longa duração, como os de graduação, precisam ampliar o conceito de integração de reflexão e ação, teoria e prática, sem confinar essa integração somente ao estágio de fim de curso. Todo o currículo pode ser elaborado pensando em inserir os alunos em ambientes próximos da realidade em que estudam, para que possam sentir na prática o que aprendem na teoria e trazer experiências, casos e projetos do cotidiano para a sala de aula. Em algumas áreas, como administração de empresas e engenharia, parece mais fácil e evidente essa relação, mas é importante que ela aconteça em todos os cursos e em todas as etapas do processo de aprendizagem, levando em consideração as peculiaridades de cada um.

Se os alunos fizerem pontes entre o que aprendem intelectualmente e as situações reais, experimentais, profissionais ligadas aos seus estudos, a aprendizagem será mais significativa, viva, enriquecedora. As universidades e os professores precisam organizar atividades integradoras da prática com a teoria, do compreender com o vivenciar, do fazer e do refletir, de forma sistemática, presencial e virtualmente, em todas as áreas e ao longo de todo o curso.

A escola e a universidade podem integrar-se aos espaços culturais e profissionais da cidade (museus, teatros, quadras esportivas, parques, praças, ateliês, fábricas, cinemas, centros culturais) e assim ampliar sua interação, seu currículo, suas práticas, sua inserção social. É importante integrar as experiências individuais de ongs, de empresas, de entidades religiosas e de classe na educação formal. O governo pode apoiar as melhores práticas e fazer com que façam parte de cursos reconhecidos, de escolas oficiais.

Não basta oferecer boa escola: é preciso, além de envolver e qualificar as famílias, acionar as diferentes esferas do governo (saúde, geração de renda, esporte, saúde) e transformar toda a cidade em espaços educativos, tirando proveito dos cinemas, teatros, parques, empresas, museus.[35]

Podemos aproveitar melhor a aprendizagem prévia de cada aluno, principalmente do adulto, fazendo programas especiais para profissionais que precisam de determinadas certificações. Exemplo, um enfermeiro que tem experiência muito rica em um hospital de ponta pode incorporá-la ao curso que está fazendo, personalizando o currículo, considerando muitas das habilidades desenvolvidas anteriormente. O currículo pode alternar etapas na universidade e em atividades profissionais desde o começo; pode prever parcerias de práticas integradas a reflexões na universidade. Isso já existe hoje, mas ainda é muito complicado gerenciar essas situações diferenciadas.

O currículo pode ser “negociado” entre a universidade e os alunos mais maduros. Cada aluno deveria ter um professor orientador, para decidir, em cada etapa, em conjunto, o que é melhor para si. No modelo atual, massificador, essa proposta é ingênua, mas é possível viabilizá-la em instituições sérias com projetos pedagógicos avançados.

Por outro lado, na educação básica, quanto mais as escolas se inserem na comunidade, mais todos ganham: alunos, professores e a própria comunidade. Hoje, temos, no Brasil, muitas iniciativas de escolas abertas para a comunidade, que procuram as competências no bairro, para que os alunos sejam beneficiados em contatos, visitas, palestras, aprendizagem prática. Mas ainda são projetos pontuais. A maior parte das escolas permanece bastante distante da inserção na comunidade.

Tecnologias para organizar a informação

Do ponto de vista metodológico, o educador precisa aprender a equilibrar processos de organização e de “provocação” na sala de aula. Uma das dimensões fundamentais do ato de educar é ajudar a encontrar uma lógica dentro do caos de informações que temos, organizar uma síntese coerente, mesmo que momentânea, dessas informações e compreendê-las. Compreender é organizar, sistematizar, comparar, avaliar, contextualizar. Uma segunda dimensão pedagógica procura questionar essa compreensão, criar uma tensão para superá-la, modificá-la, avançar para novas sínteses, outros momentos e formas de compreensão. Para isso, o professor precisa questionar, criar tensões produtivas e provocar o nível de compreensão existente.

No planejamento didático, predomina uma organização fechada e rígida, quando o professor trabalha com esquemas, aulas expositivas, apostilas, avaliação tradicional. O professor que “dá tudo mastigado” para o aluno, por um lado, facilita a compreensão; mas, por outro, transfere para o aluno, como um pacote pronto, o conhecimento de mundo que ele, professor, tem.

Inversamente, predomina a organização aberta e flexível no planejamento didático, quando o professor trabalha com base em experiências, projetos, novos olhares de terceiros (artistas, escritores etc.). Em qualquer área de conhecimento, podemos transitar entre uma organização inadequada da aprendizagem e a busca de novos desafios, novas sínteses. Há atividades que facilitam a má organização, e outras, a superação dos métodos conservadores. O relato de experiências diferentes das do grupo ou uma entrevista polêmica podem desencadear novas questões, expectativas, desejos. E há também relatos de experiências ou entrevistas que servem para confirmar nossas ideias, nossas sínteses, para reforçar o que já conhecemos. Precisamos saber escolher aquilo que melhor atende ao aluno e o traz para a contemporaneidade.

Há professores que privilegiam a organização questionadora, a superação de modelos e não chegam às sínteses, nem mesmo parciais e provisórias. Vivem no incessante fervilhar de provocações, questionamentos, novos olhares. Nem o sistematizador nem o questionador podem prevalecer no conjunto. É importante equilibrar organização e inovação; sistematização e superação.

Tecnologias para ajudar na pesquisa

A matéria-prima da aprendizagem é a informação organizada, significativa, a informação transformada em conhecimento. A escola pesquisa a informação pronta, já consolidada e a informação em movimento, em transformação, que vai surgindo da interação, de novos fatos, experiências, práticas, contextos. Existem áreas com bastante estabilidade informativa: fatos do passado que só se modificam diante de alguma nova evidência. E existem áreas, mais ligadas ao cotidiano, altamente suscetíveis de mudança, de novas interpretações.

As tecnologias nos ajudam a encontrar o que está consolidado e a organizar o que está confuso, caótico, disperso. Por isso, é tão importante dominar ferramentas de busca da informação e saber interpretar as escolhas, adaptá-las ao contexto pessoal e regional e situar cada informação dentro do universo de referências pessoais. Muitos se satisfazem com os primeiros resultados de uma pesquisa. Pensam que basta ler para compreender. A pesquisa é um primeiro passo para entender, comparar, escolher, avaliar, contextualizar, aplicar de alguma forma.

Temos cada vez mais informação, e não necessariamente mais conhecimento. Quanto mais fácil for achar o que queremos, mais tendemos a nos acomodar na preguiça dos primeiros resultados, na leitura superficial de alguns tópicos, na dispersão das muitas janelas que abrimos simultaneamente.

Hoje, consumimos muita informação. Isso não quer dizer que conheçamos mais e que tenhamos mais sabedoria – que é o conhecimento vivenciado com ética, praticado. É pela educação de qualidade que avançaremos mais rapidamente da informação para o conhecimento, e pela aprendizagem continuada e profunda é que chegamos à sabedoria.

O foco da aprendizagem deve ser a busca da informação significativa, da pesquisa, o desenvolvimento de projetos e não predominantemente a transmissão de conteúdos específicos. A internet está se tornando uma mídia fundamental para a pesquisa. O acesso instantâneo a portais de busca, a disponibilização de artigos ordenados por palavras-chave facilitam muito o acesso às informações desejadas. Nunca, até agora, professores, alunos e cidadãos em geral tiveram acesso à riqueza e variedade de milhões de páginas web de qualquer lugar, a qualquer momento e, em geral, de forma gratuita.

Os professores podem ajudar os alunos, incentivando-os a aprender a perguntar, a enfocar questões importantes, a definir critérios na escolha de sites, na avaliação de páginas, a comparar textos com visões diferentes. Podem focar mais a pesquisa do que dar respostas prontas; propor temas interessantes e caminhar dos níveis mais simples de investigação para os mais complexos, das páginas mais coloridas e estimulantes para as mais abstratas, dos vídeos e narrativas impactantes para os contextos mais abrangentes e, assim, ajudar os alunos a desenvolver um pensamento arborescente, com rupturas sucessivas, e uma reorganização semântica contínua.

Entre as iniciativas de disponibilização de materiais educacionais para pesquisa, destaca-se o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que oferece on-line todo o conteúdo de seus cursos em várias línguas, facilitando o acesso de centenas de milhares de alunos e professores a materiais avançados e sistematizados (http://www.universiabrasil.net/mit/).[36]

Beneficiam-se alunos, professores, escola e comunidade. Atualmente, a maior parte das teses e dos artigos apresentados em congressos está publicada na internet. Estar no virtual não é garantia de qualidade (esse é um problema que dificulta a escolha), mas amplia imensamente as condições de aprender, de intercambiar, de atualizar-se. Tanta informação dá trabalho e nos deixa ansiosos e confusos, mas a situação é muito melhor do que antes da internet, quando só uns poucos privilegiados podiam viajar para o exterior e pesquisar nas grandes bibliotecas especializadas das melhores universidades. Hoje, podemos fazer praticamente o mesmo sem sair de casa.

A variedade de informações sobre qualquer assunto, num primeiro momento, fascina, mas, ao mesmo tempo, traz inúmeros novos problemas: O que pesquisar? O que vale a pena acessar? Como avaliar o que tem valor e o que deve ser descartado? Essa facilidade costuma favorecer a preguiça do aluno, a busca do resultado pronto, fácil, imediato, chegando até a apropriação do texto do outro. Além da facilidade de “copiar e colar”, o aluno costuma ler só algumas frases mais importantes e algumas palavras selecionadas, dificilmente lê um texto completo.

Jakob Nielsen e John Morkes constataram em uma pesquisa que 79% dos usuários de internet sempre leem palavras ou trechos escolhidos, em títulos atrativos, ao passo que somente 16% se detêm na leitura do texto completo.[37] Na França, 85% dos alunos de ensino fundamental se contentam com os resultados trazidos pelo primeiro site de busca consultado e somente leem rapidamente os primeiros três resultados trazidos. Isso quer dizer que a maior parte dos alunos procura o que é mais fácil, o imediato e lê de forma fragmentada, superficial.

Quanto mais possibilidades de informação, mais rapidamente tendemos a navegar, a ler pedaços de informação, a passear por muitas telas de forma superficial. Por isso, é importante que alunos e professores levantem as principais questões relacionadas com a pesquisa: Qual é o objetivo da pesquisa e o nível de profundidade desejado? Quais são as “fontes confiáveis” para obter as informações? Como apresentar as informações pesquisadas e indicar as fontes nas referências bibliográficas? Como avaliar se a pesquisa foi realmente feita ou apenas copiada?

Uma das formas de analisar a credibilidade do conteúdo da pesquisa é verificar se ele está dentro de um portal educacional, no site de uma universidade ou em qualquer outro espaço já reconhecido e verificar também a autoria do artigo ou da reportagem.

Pensando mais nos usuários jovens e adultos, Nilsen e Morkes propõem algumas características que uma página web precisa apresentar para ser efetivamente lida e pesquisada:

palavras-chave realçadas (links de hipertexto, letras e cores diferentes);

subtítulos pertinentes (e não “engraçadinhos”);

listas indexadas;

uma informação por parágrafo (os usuários provavelmente pularão informações adicionais, caso não sejam atraídos pelas palavras iniciais de um parágrafo);

estilo de pirâmide invertida, que principia pela conclusão;

metade do número de palavras (ou menos) do que um texto convencional.

A credibilidade é importante para os usuários da web, porque nem sempre se sabe quem está por trás das informações nem se a página é digna de confiança. Pode-se aumentar a credibilidade com gráficos de alta qualidade, textos corretos e links de hipertexto apropriados. É importante colocar links que conduzam a outros sites, que comprovem que há pesquisa por trás e que deem sustentação para que os leitores possam checar as informações fornecidas.

Os usuários não valorizam as afirmações exageradas e subjetivas (tais como “o mais vendido”), tão comuns na web hoje em dia. Os leitores preferem dados precisos. Além disso, a credibilidade é afetada quando os usuários conseguem perceber o exagero.[38]

Além do acesso aos grandes portais de busca e de referência na educação, uma das formas mais interessantes de desenvolver pesquisa em grupo na internet é a webquest.

O conceito de webquest foi criado em 1995 por Bernie Dodge, professor da universidade estadual da Califórnia, nos Estados Unidos, como proposta metodológica para usar a internet de forma criativa. Dodge define assim a webquest: “É uma atividade investigativa em que alguma ou toda a informação com que os alunos interagem provém da internet”. Em geral, uma webquest é elaborada pelo professor, para ser solucionada pelos alunos, reunidos em grupos.[39]

A webquest sempre se baseia em um tema e propõe uma tarefa, que envolve consultar fontes de informação especialmente selecionadas pelo professor. Essas fontes (também chamadas de recursos) podem ser livros, vídeos e mesmo pessoas a entrevistar, mas normalmente são sites ou páginas web. É comum que a tarefa exija dos alunos a representação de papéis, para promover o contraste de pontos de vista ou a união de esforços em torno de um objetivo.

Bernie Dodge divide a webquest em dois tipos, ligados à duração do projeto e à dimensão de aprendizagem envolvida:

webquest curta – leva de uma a três aulas para ser explorada pelos alunos e tem como objetivo a aquisição e integração de conhecimentos;

webquest longa – leva de uma semana a um mês para ser explorada pelos alunos, em sala de aula, e tem como objetivo a extensão e o refinamento de conhecimentos.[40]

Resolver uma webquest é um processo de aprendizagem interessante, porque envolve pesquisa e leitura, interação e colaboração e criação de um novo produto, com base no material e nas ideias obtidas. A webquest propicia a socialização da informação, por estar disponível na internet, poder ser utilizada, compartilhada e até reelaborada por alunos e professores de diferentes partes do mundo.

O problema da pesquisa não está na internet, mas na maior importância que a escola dá ao conteúdo programático do que à pesquisa como eixo fundamental da aprendizagem.

Tecnologias para comunicação e publicação

Os alunos gostam de se comunicar pela internet. As páginas de grupos na web permitem o envio de correio eletrônico e seu registro numa página. Há ferramentas de discussão on-line (chats) e off-line (fóruns). O chat ou outras formas de comunicação on-line, por exemplo, são ferramentas muito apreciadas pelos alunos e bastante desvalorizadas pelos professores. Alega-se dispersão (em geral, real) e o não aprofundamento das questões. Mas há a predisposição dos alunos para a conversa on-line, ela faz parte dos seus hábitos. Com as novas soluções, como o videochat, o chat com voz e algumas formas de gerenciamento podem ser muito úteis em cursos semipresenciais e a distância.

A escola, com as redes eletrônicas, abre-se para o mundo; o aluno e o professor se expõem, divulgam seus projetos e pesquisas, são avaliados por terceiros, positiva e negativamente. A escola contribui para divulgar as melhores práticas, ajudando outras escolas a encontrar seus caminhos. A divulgação faz com que o conhecimento compartilhado acelere as mudanças necessárias e agilize as trocas entre alunos, professores e instituições. A escola sai do casulo, do seu mundinho, e se torna uma instituição na qual a comunidade pode aprender contínua e flexivelmente.

Quando focamos mais a aprendizagem dos alunos do que o ensino, a publicação da produção deles se torna fundamental. Recursos como o portfólio, em que os alunos organizam o que produzem e colocam à disposição para consultas, são cada vez mais utilizados. Os blogs, fotologs e videologs são recursos interativos de publicação, com possibilidade de fácil atualização e de participação de terceiros. Essas páginas começaram no “modo texto”, depois, evoluíram para a apresentação de fotos, desenhos e outras imagens e, atualmente, estão na fase do vídeo. Professores e alunos podem gravar vídeos curtos, com câmeras digitais, e disponibilizá-los como ilustração de um evento ou pesquisa. Os blogs, flogs (fotologs ou videologs) são utilizados mais pelos alunos do que pelos professores, principalmente como espaço de divulgação pessoal, de mostrar a identidade, em que se misturam narcisismo e exibicionismo, em diversos graus. No entanto, atualmente, há um uso crescente dos blogs por professores dos vários níveis de ensino, incluindo o universitário. Eles permitem a atualização constante da informação, pelo professor e pelos alunos, favorecem a construção de projetos e pesquisas individuais e em grupo e a divulgação de trabalhos. Com a crescente utilização de imagens, sons e vídeos, os flogs têm tudo para se transformarem em sucesso na educação e se integrarem com outras ferramentas tecnológicas de gestão pedagógica. As grandes plataformas de educação a distância ainda não descobriram e incorporaram todo o potencial dos blogs e flogs.

A possibilidade de os alunos se expressarem, tornarem suas ideias e pesquisas visíveis, confere uma dimensão mais significativa aos trabalhos acadêmicos. “São aplicativos fáceis de usar, que promovem o exercício da expressão criadora, do diálogo entre textos, da colaboração”, explica Suzana Gutierrez, da UFRGS. “Blogs possuem historicidade, preservam a construção e não apenas o produto (arquivos); são publicações dinâmicas que favorecem a formação de redes”.[41] “Os weblogs abrem espaço para a consolidação de novos papéis para alunos e professores no processo de ensino-aprendizagem, com uma atuação menos diretiva destes e mais participante de todos.” A professora Gutierrez lembra que os blogs registram a concepção do projeto e os detalhes de todas as suas fases, o que incentiva e facilita trabalhos interdisciplinares e transdisciplinares. “Pode-se, assim, oferecer alternativas interativas e suporte a projetos que envolvam a escola e até famílias e comunidade.”[42] Os blogs também são importantes para aprender a pesquisar junto e a publicar os resultados.

Há diferentes tipos de blogs educacionais: produção de textos, narrativas, poemas, análise de obras literárias, opinião sobre atualidades, relatórios de visitas e excursões de estudos, publicação de fotos, desenhos e vídeos produzidos por alunos. A organização dos textos pode ser feita por meio de algumas ferramentas colaborativas, como o Wiki, que é um software que permite a edição coletiva de documentos, usando um sistema simples de escrita, sem que o conteúdo tenha de ser revisado antes da publicação. A maioria dos wikis são abertos a todo o público ou pelo menos a todas as pessoas que têm acesso ao servidor wiki.[43]

Portanto, como vimos, a internet tem hoje inúmeros recursos que combinam publicação e interação, por meio de listas, fóruns, chats, blogs. Existem portais de publicação mediados, em que há algum tipo de controle, e outros abertos, baseados na colaboração de voluntários. O site http://www.wikipedia.org representa um dos esforços mais notáveis, no mundo inteiro, de divulgação do conhecimento. Milhares de pessoas contribuem para a elaboração de enciclopédias sobre todos os temas, em várias línguas. Qualquer indivíduo pode publicar e editar o que as outras pessoas escreveram. Só em português foram divulgados mais de 30 mil artigos no Wikipedia. Com todos os problemas, a ideia de que o conhecimento pode ser coproduzido e divulgado é revolucionária e nunca antes havia sido tentada da mesma forma e em grande escala. Aqui, contudo, professores e alunos precisam validar a fonte, pois algumas vezes há informações incorretas.

Outro recurso popular na educação é a criação de arquivos digitais sonoros, programas de rádio na internet ou podcasts. São arquivos digitais, que se assemelham a programas de rádio e podem ser baixados da internet usando a tecnologia RSS, que “avisa” quando há um novo episódio colocado na rede e permite que ele seja baixado para o computador. Há podcasts em todas as áreas.[44]

São muitas as possibilidades de utilização dos blogs na escola. Primeiro, pela facilidade de publicação, que não exige quase nenhum tipo de conhecimento tecnológico dos usuários, e, segundo, pelo grande atrativo que essas páginas exercem sobre os jovens.

É preciso apenas que os professores se apropriem dessa linguagem e explorem com seus alunos as várias possibilidades deste novo ambiente de aprendizagem. O professor não pode ficar fora desse contexto, deste mundo virtual que seus alunos dominam. Mas cabe a ele direcionar suas aulas, aproveitando o que a internet pode oferecer de melhor.[45]

Palloff e Pratt (2002, pp. 192-194) afirmam que as chaves para a obtenção de uma aprendizagem em comunidade, bem como uma facilitação on-line bem-sucedida, são simples: honestidade, correspondência, pertinência, respeito, franqueza e autonomia, elementos sem os quais não há possibilidade de atingir os objetivos de ensino propostos.

O jogo como recurso didático fundamental

Aprender brincando. Brincar é diferente de jogar. Brincar é ter o espírito livre para explorar, ser e fazer por puro prazer. O jogo é uma atividade definida por um conjunto de regras, como no futebol, na composição de um soneto, de uma sinfonia, na diplomacia.

O jogo ensina a conviver com regras e a encontrar soluções para desafios, em parte, previstos. Na brincadeira, há mais liberdade de criação, de reorganização. Os dois são importantes para a aprendizagem. Aprendemos pelos jogos a conviver com regras e limites, explorando nossas possibilidades. Aprendemos, pelas brincadeiras, a encontrar variáveis e inovações com base em nossos objetos ou em pessoas.

Os jogos podem ter caráter competitivo ou cooperativo.

Ao contrário da maioria dos jogos mais conhecidos, os Jogos Cooperativos propõem a participação de todos, sem que ninguém fique excluído. Propõem que o objetivo e a diversão sejam coletivos, não individuais. Libertam os indivíduos da pressão da competição, do medo de serem eliminados e da agressão física. Possibilitam o desenvolvimento da criatividade, da empatia, da cooperação, da auto-estima e de relacionamentos interpessoais saudáveis e realizadores. (Falcão 2003, p. 4)

As tecnologias virtuais têm desenvolvido situações muito variadas de exercícios de jogos: jogos presenciais e virtuais, individuais e coletivos, de poucos ou muitos jogadores, de curta ou de longa duração. Hoje, existem jogos complexos, com milhares de jogadores e com papéis muito variados e diferenciados. Ambientes como o MMORPG, sigla em inglês de Massive Online Multiplayer Role-Playing Game ou o Second Life,[46] são ambientes de jogos massivos, que permitem que o jogador crie um personagem, em uma rede que muitas vezes recebe alguns milhões de jogadores simultaneamente, e interaja com o ambiente virtual e com outros jogadores. São situações novas com imensas possibilidades para a educação em todos os níveis.

Os jogos são meios de aprendizagem adequados principalmente para as novas gerações, viciadas neles, para as quais os jogos eletrônicos fazem parte das formas de diversão e do desenvolvimento de habilidades motoras e de decisão. A educação só tem utilizado os jogos na educação infantil. Parece que, depois dela, o ensino é “sério” e os jogos, cada vez mais, são deixados de lado. É importante a utilização mais frequente, variada e adequada dos jogos. Segundo James Paul Gee (2003), “os games que possuem quebra-cabeças e outros desafios são capazes de proporcionar à criança uma melhora cognitiva muito maior do que uma aula convencional”. Esse professor acredita que o modo de pensar gerado pelos jogos está mais adaptado ao mundo atual do que o ensinado pelas escolas. Em jogos como Grand Theft Auto e Tomb Raider, a criança é desafiada até o limite de sua habilidade. O mesmo não ocorre na sala de aula, argumenta o professor Gee, que considera as atividades escolares alienantes e chatas para os estudantes. Ainda segundo Gee, as crianças alcançam um maior nível de aprendizagem, porque o conhecimento obtido nos games pode ser aplicado imediatamente. Em contrapartida, numa escola, o estudante tende a ser passivo e só irá utilizar o que lhe for ensinado quando fizer a lição de casa. Gee afirma que, ao jogar videogame, as crianças compreendem melhor imagens, símbolos e são estimuladas em sua criatividade. Simuladores como The Sims e Sim City fazem aumentar o interesse pela ciência. Outra vantagem apontada por Gee é a possibilidade de passar informações, de uma maneira mais divertida e interativa.

Ao se tornarem bons jogadores, isto é, ao aprenderem a tirar o melhor proveito possível das regras, é possível que desenvolvam competências e habilidades tais como a disciplina, a concentração, a perseverança, a flexibilidade, a organização. Nos jogos em grupos, os sujeitos poderão desenvolver a coordenação de pontos de vista, a cooperação, a observação, a participação. Pela avaliação e reavaliação contínua – avaliação formativa – o aluno poderá generalizar suas conquistas com os jogos para o âmbito familiar, social e escolar. Saber elaborar explicações e justificativas, levantar hipóteses e descobrir provas, experimentar a necessidade lógica de reconhecer evidências, contradições e implicações, ou seja, aprender a proceder de forma lógica e coerente, será um dos resultados possíveis desse tipo de trabalho. (Gomes 2003, p. 112)

No ensino superior, há uma crescente aceitação dos jogos, principalmente em administração e economia. Os jogos de empresa tentam representar o ambiente empresarial, colocando os jogadores diante de situações similares àquelas pelas quais os executivos passam em sua rotina de trabalho. Podem ser jogos dentro da classe, de uma classe com outra ou de muitas equipes do mesmo país ou de países diferentes disputando entre si. Em pouco tempo, os jogos procuram, pela vivência, pesquisa e aprendizagem direta, transmitir uma grande quantidade de conceitos.[47]

Costuma haver um grande envolvimento emocional dos jogadores nas situações que têm de superar, como resultado da pressão dos concorrentes na luta pela liderança. Nesses jogos, o aprendizado é progressivo. Os participantes aprendem ao analisar acertos e erros ao longo da partida. São desenvolvidas habilidades de diagnóstico em situações de planejamento e implementação de soluções, além da capacidade de trabalho em grupo.

Tecnologias como apoio para inclusão social

Estima-se que 650 milhões de pessoas convivam com algum tipo de deficiência, o equivalente a 10% da população mundial. Um amplo conjunto de problemas e questões afeta o acesso dessas pessoas com necessidades especiais à escola e sua permanência nela. Há desinformação entre os próprios deficientes e na escola. Falta preparação, especificamente dos professores, para receber alunos deficientes e trabalhar com eles. A presença desses alunos é um desafio a mais para os educadores e pode despertar a escola para uma nova organização pedagógica, que valorize as diferenças.

Todos os recursos que contribuem para proporcionar vida mais independente às pessoas com necessidades especiais são denominados tecnologias assistivas, como a linguagem de sinais, os textos falados ou avisos sonoros nos computadores. Para os deficientes visuais, há produção de livros em braille, sistemas de leitura com áudio e equipamentos para ampliação de caracteres gráficos. Na internet, há sites com versões para deficientes, como o http://www.amazon.com/access, uma adaptação da livraria virtual para deficientes visuais. O http://www.dicionariolibras.com.br é outro exemplo. Nele, os deficientes auditivos, especialmente as crianças, podem aprender a linguagem de sinais, denominada Libras. São importantes também as legendas para deficientes auditivos nas TVs e nos vídeos. Quem não enxerga ou tem mobilidade reduzida pode usar um podcast para relatar experiência pessoal, falar de suas habilidades e aspirações. A característica mais extraordinária dessa ferramenta é permitir a comunicação sem barreiras – e muito rápida. Em questão de poucas horas, professores e alunos criam um programa e o colocam no ar.

Muitas páginas da internet estão fora do alcance de deficientes físicos, mas poderiam facilmente ser alteradas para atender aos padrões internacionais de acessibilidade. Entre os problemas mais comuns, está o uso de uma linguagem de programação muito difundida, conhecida como JavaScript, e de recursos gráficos desprovidos de explicação em texto. O uso intensivo dessa linguagem torna impossível, para cerca de 10% dos usuários de internet, obter acesso a informações essenciais, porque não dispõem do software necessário. Descrições textuais de recursos gráficos permitem que indivíduos cegos os “vejam” por meio de software de leitura de telas que converte textos em fala eletrônica.[48] Por outro lado, hoje, os cegos podem, pelo celular, receber e enviar mensagens de texto, identificar ligações, gravar compromissos e contatos na agenda, usar a calculadora, “ler” textos e planilhas, além de conversar. O celular também tem sido muito adotado por deficientes auditivos, que se comunicam por mensagens de texto (SMS).

É muito grande a importância do futuro sistema de telecomunicações móveis, o UMTS (Universal Mobile Telecommunication System), para cidadãos com necessidades especiais. Ele traz enormes vantagens para os deficientes, por poder, por meio de áudio, vídeo ou texto, compensar as dificuldades de comunicação. Um surdo, por exemplo, pode usar o telefone, pois será capaz de comunicar-se por linguagem gestual com seu interlocutor, sem necessidade de ouvi-lo, através da imagem.

As tecnologias possibilitam também que crianças e jovens doentes continuem estudando no hospital ou em casa e se comuniquem em redes com seus pares. Permitem, ainda, que comunidades carentes sejam incluídas na rede e possam estudar, comunicar-se, aprender. Há centenas de telecentros no Brasil com essa missão.

A organização da tecnologia em favor de maior igualdade, inclusão e acesso não está absolutamente garantida, mas dependerá, em grande medida, da mobilização de alunos, educadores e comunidades, exigindo que a tecnologia seja usada de maneira que atenda aos interesses da educação.[49]

Alguns caminhos e atitudes para termos uma escola inclusiva são:

prática inclusiva e disposição para mudar, respeitando os alunos com todas as suas peculiaridades;

fornecer aos professores capacitação para suprir necessidades e lacunas, dentro de uma formação educacional para a diversidade;

ensinar a todos sem distinção e sem homogeneizar;

não adotar a discriminação como ato educacional;

educar com o conceito de cidadania e dignidade presentes na Constituição;

tratar alunos com deficiência como se tratam os sem deficiência.

“Podemos alcançar esses objetivos através da educação e de uma consciência inclusiva, assim como se desenvolveu nas crianças uma consciência ecológica.”[50]

Algumas estratégias de aula focadas na pesquisa

São muitos os caminhos para inovar no ensino com tecnologias. As escolhas dependerão da situação concreta em que a instituição e os professores se encontrem: projeto pedagógico, número de alunos, tecnologias disponíveis, apoio técnico-pedagógico. Algumas parecem ser, atualmente, mais viáveis e produtivas para o educador.

Com tecnologias, o professor pode combinar aulas-informação – em que apresenta suas sínteses, mostra novos cenários ou introduz novos temas – com aulas-pesquisa, em que estimula os alunos a serem investigadores, a buscarem, em experiências, informações significativas e a analisá-las, individualmente e em grupo, para teorizar, isto é, compreender o que há de geral naquela experiência particular. As aulas-informação podem ser ao vivo ou gravadas, podem ser para uma classe ou para várias simultaneamente, por meio de webconferência ou outro recurso de comunicação equivalente. As aulas-informação podem ser precedidas de leituras ou complementadas com leituras e análise de textos importantes.

Essa pesquisa pode ser feita individualmente ou em pequenos grupos, utilizando, por exemplo, metodologia colaborativa como a webquest. O professor procura ajudar a contextualizar, a ampliar o universo alcançado pelos alunos, a problematizar, a descobrir novos significados no conjunto das informações. Os resultados da pesquisa são compartilhados com os demais no ambiente virtual, no blog e/ou no presencial e depois divulgados. Esse caminho de ida e volta, em que todos se envolvem e do qual participam, é fascinante, criativo, cheio de novidades e de avanços. O conhecimento elaborado com base na própria experiência se torna muito mais forte e definitivo em nós.[51]

É importante, neste processo dinâmico de aprender pesquisando, utilizar todos os recursos, todas as técnicas possíveis para cada professor, cada instituição, cada classe. Vale a pena descobrir as competências dos alunos em cada classe, que contribuições podem dar ao curso. Não se impõe um projeto fechado, mas um programa com grandes diretrizes delineadas, em que se constroem caminhos de aprendizagem em cada etapa, atentos – professor e alunos –, para avançar da forma mais rica possível em cada momento.

Em cada curso, organiza-se a sequência conveniente de encontros presenciais e virtuais. No virtual, pode-se manter uma parte do tempo ocupado em compreensão de textos fundamentais. Podem-se tirar dúvidas em determinados horários ou de forma assíncrona. Pode-se discutir um texto num fórum ou numa sala virtual. Pode-se iniciar uma discussão num fórum e depois terminá-la num videochat, em tempo real. O importante é que todos participem, envolvam-se, discutam. Em turmas grandes, o professor tem a colaboração de professores assistentes ou tutores, para acompanhar grupos de alunos e dar também atendimento individual.

Com a banda larga, há mais possibilidades de fazer videochats, de ver os alunos, de orientar grupos, de esclarecer pontos difíceis, de fazer apresentações remotas. Cada curso vai utilizar mais recursos on-line ou menos, dependendo das suas características e do seu projeto pedagógico. Isso também depende muito do perfil do professor, do grupo, de sua maturidade, sua motivação, do tempo disponível, da facilidade de acesso à internet. Muitos professores e alunos se comunicam bem no virtual, outros não. Alguns são rápidos na escrita e no raciocínio, outros não. Para determinados professores, a utilização de recursos a distância torna-se bastante difícil. Uns fazem as atividades de forma burocrática, sem entusiasmo. Outros sentem a diferença do ambiente e dos procedimentos e não realizam bem as atividades. A instituição precisa ter programas de capacitação contínua, apoio de uma equipe técnico-pedagógica e organização nas formas de gerenciar as atividades a distância dos professores com maiores dificuldades, como colocar um professor assistente para trabalhar no ambiente virtual.

Educar em ambientes virtuais exige mais dedicação do professor, mais apoio de uma equipe técnico-pedagógica, mais tempo de preparação – ao menos na primeira fase – e principalmente de acompanhamento, mas para os alunos há um ganho grande de personalização da aprendizagem, de adaptação ao seu ritmo de vida, principalmente na fase adulta.

O que muda no papel do professor? Muda a relação de espaço, tempo e comunicação com os alunos. O espaço de trocas se estende da sala de aula para o virtual. O tempo de enviar ou receber informações se amplia para qualquer dia da semana. O processo de comunicação se dá na sala de aula, na internet, no e-mail, na comunicação on-line. É um papel que combina alguns momentos do professor convencional – às vezes, é importante dar uma bela aula expositiva – com um papel muito mais destacado de gerente de pesquisa, de estimulador de busca, de coordenador de resultados. É um papel de animação e coordenação muito mais flexível e constante, que exige muita atenção, sensibilidade, intuição e domínio tecnológico.

Em cada curso, cada professor vai fazer isso de forma semelhante e, ao mesmo tempo, diferente. Não podemos padronizar e impor um modelo único para a educação on-line. Cada área do conhecimento precisa mais ou menos do presencial. É importante experimentar, avaliar e avançar até termos segurança do ponto de equilíbrio na gestão do virtual e do presencial e caminhar para ampliar as propostas pedagógicas mais adequadas para cada situação de ensino-aprendizagem on-line.

Aprender a ensinar e a aprender, integrando ambientes presenciais e virtuais, é um dos grandes desafios que estamos enfrentando atualmente na educação no mundo inteiro.

A avaliação também precisa ser diferente

Minha experiência em avaliação de aprendizagem como professor é mais interessante em cursos semipresenciais, que combinam o blended learning, o aprender em sala de aula e on-line. Comecei no fim da década de 1990 a oferecer disciplinas presenciais em pós-graduação intercalando atividades a distância nas aulas presenciais. Causava um certo estranhamento nos alunos e em mim, no começo, dispensar os alunos de algumas aulas e discutir temas num fórum ou chat, mas também percebíamos a importância de ensinar e de aprender dessa nova forma. A primeira vantagem era diminuir o número de viagens e deslocamentos. Alguns alunos vinham de outras cidades e estados e percebiam como era mais humano ter essa alternância de tempos presenciais e virtuais. Essa flexibilidade facilitava a vida deles e a do professor. Também foram vistas como importantes a liberdade de acesso, a adaptação ao ritmo de cada um, a combinação de aprendizagem individual com grupal e a possibilidade de aprendermos juntos, mesmo a distância.

O contato com os ambientes virtuais me fez perceber que a avaliação não podia ser feita só no fim, que era importante realizar atividades que se somassem, integrassem e concluíssem ao longo do curso. E que era importante equilibrar planejamento e improvisação. No presencial, frequentemente, mudavam o planejamento e a forma de avaliação. No semipresencial, aprendi a elaborar cursos em parte preparados e em parte construídos junto com os alunos. O sucesso dos cursos dependia de mim, do planejamento e da organização, mas também dependia dos alunos, da sua motivação, da sua competência. Há alunos que enriquecem qualquer curso, porque contribuem, colaboram, interagem, pesquisam. Isso ajuda os colegas, que se animam. Se os cursos acontecem em parte pela interação, não se pode prever tudo. É importante que o aluno possa trazer contribuições também para a avaliação, que possa fazer propostas.

Atuei muitos anos em cursos de comunicação, o que me trouxe muitas contribuições para a avaliação. Constatei que negociando com os alunos os ajudava mais do que trazendo uma única proposta acabada e pronta para todos. A atitude dos alunos muda quando, dentro de alguns parâmetros delineados pelo professor, podem sugerir atividades, formas de realização e de apresentação. Se o importante é que o aluno aprenda, quanto mais eu me aproximar dele para ajudá-lo a aprender, melhor. Como a avaliação faz parte da aprendizagem, a avaliação também pode ser combinada, negociada, personalizada. E os cursos semipresenciais se prestam muito bem a essa flexibilidade. No ambiente virtual, o professor pode atuar como orientador de pesquisa, de projetos, como consultor, tirando dúvidas, dando sugestões. Por isso, pode personalizar e tornar mais flexível o processo de avaliação.

Dentre as diferentes possibilidades de avaliação da aprendizagem dos alunos, vale a pena destacar e combinar estas três:

1)Elaboração de atividades relacionadas ao conteúdo, à compreensão de conceitos, de textos e de contextos, em resenhas, comparação entre textos ou autores, até concluir com um ensaio-síntese com as principais ideias aprendidas ao longo do curso. Não basta dar um tema de pesquisa teórico. É importante elaborar um pequeno roteiro, que ajude o aluno a personalizar o assunto, a trazê-lo para sua realidade, que faça ponte entre a teoria e a prática. Isso minimiza o famoso copiar-colar, hoje tão corriqueiro. No caso de dúvida, também pode-se recorrer a um software de verificação de conteúdo na rede ou colocar algum parágrafo num portal de busca e checar os resultados.

2)Pesquisa sobre temas próximos à vida e ao interesse do aluno. O professor pode solicitar uma pesquisa individual e outra em pequenos grupos, na forma de projeto. Em cursos semipresenciais, venho constatando a importância do desenvolvimento de projetos ligados à experiência e à vida dos alunos. Projetos de poucos alunos, que pesquisam na internet, tiram suas dúvidas com o professor em classe e por e-mail ou pelo Messenger e que são apresentados no final para todos e publicados no ambiente virtual do curso. A webquest tem se revelado um bom guia no desenvolvimento de projetos de pesquisa mediados pela web.

3)Avaliação da qualidade da participação no ambiente virtual em fóruns, listas, chats e blogs, principalmente. O professor pode planejar a avaliação nos ambientes virtuais em três campos principais: o da pesquisa, o da comunicação e o da produção-publicação. Na pesquisa individual e grupal de temas, experiências, projetos, textos. Na comunicação, realizando debates off e on-line sobre os temas e experiências pesquisados. E na produção, divulgando com os alunos os resultados em páginas web, blogs ou em outros formatos multimídia, para que todos possam ter acesso a essas informações.

Percebi que os alunos gostam que a avaliação não sirva só para obter uma nota ou conceito, mas para que possam apresentar, comunicar, expor para a classe e para o professor o que fizeram. E os ambientes virtuais são ótimos para publicar os resultados das pesquisas, depois da apresentação presencial e dos debates subsequentes. Os programas de gestão de cursos a distância, os LMS, em geral, não valorizam a publicação das pesquisas dos alunos. Preveem a entrega dos trabalhos e os comentários do professor, mas não se preocupam com a publicação e a colaboração. Em alguns, há áreas para publicação genérica pelos alunos, mas é uma espécie de espaço público, coletivo, onde os alunos perdem a individualidade. Os blogs podem ser uma forma importante de publicação, porque preservam a individualidade do autor e facilitam a interação, os comentários dos colegas. É importante combinar colocar blogs dentro dos LMS, com a função de publicação interativa do processo e dos resultados de aprendizagem.

Uma das preocupações do professor é acompanhar o progresso do aluno, desde o início até o fim de um determinado curso. Algumas ferramentas do Teleduc foram muito úteis, na minha experiência, para organizar esse acompanhamento. O diário de bordo permite registrar e visualizar o caminho que o aluno percorre, suas dúvidas e realizações. Esse diário compartilhado com o professor foi útil para ajudar os alunos, para modificar os rumos em determinados momentos de um curso e, principalmente, como um instrumento que permitiu a visualização da trajetória do aluno. O diário de bordo se combina com o bom uso do portfólio. Nele, o aluno guarda seus materiais, suas pesquisas e pode ou não compartilhá-las. Os alunos, na sua grande maioria, preferem tornar públicos seus portfólios. É uma excelente forma de avaliar a aprendizagem. Como disse há pouco, os blogs podem ser também importantes ferramentas para a construção do diário de bordo e do portfólio e devem ser incorporados aos tradicionais programas de gestão de cursos on-line.

Uma situação de aprendizagem virtual que os alunos valorizam muito mais do que os professores é a comunicação em tempo real. Vários colegas meus criticam a utilização do chat como uma ferramenta dispersiva, superficial e com dificuldade de aproveitamento. Concordo com essas dificuldades, mas, ao mesmo tempo, sempre confirmei a importância que esses chats tinham para os alunos, mesmo quando tinha a impressão de que não pareciam atingir os objetivos previstos. Muitas vezes, marquei chats em fins de semana, em horários pouco convencionais, escolhidos por eles, e constatei a vivacidade com que participavam e o entusiasmo com que se expressavam. Se os alunos se motivam com o chat, ele pode ser utilizado também como um instrumento de avaliação, principalmente do curso. Com o avanço da banda larga, os chats estão se tornando videochats, com possibilidade de o professor e uma parte dos alunos verem-se, ouvirem-se e comunicarem-se por escrito. Programas de webconference como o Breeze da Macromedia e outros semelhantes possibilitam comunicação em tempo real mais rica, interativa e gerenciada, com inúmeras vantagens para a troca de informações, a apresentação de trabalhos a distância e as discussões virtuais, o que pode ser extremamente útil para novas formas de avaliação on-line.

As contribuições dos alunos em fóruns também são excelentes para avaliação. Os fóruns e as listas de discussão são instrumentos importantes de aprendizagem coletiva. Alguns alunos trazem questões e respostas que enriquecem muito o debate e, por isso, devem ser valorizados. Há também os que escrevem muito e contribuem pouco e os que praticamente não se expõem, que ficam mais como olheiros. Fóruns e listas ajudam a aprofundar a discussão iniciada em sala ou podem ser usados como formas de preparação para a discussão presencial e para a sua avaliação. É possível, na comunicação assíncrona, preparar previamente as aulas, com envio de textos, questionários, resenhas, pesquisas, e apresentar questões para debate. O professor pode acompanhar e avaliar o nível de entendimento do conteúdo, tirar dúvidas e explicar melhor conceitos mal assimilados ou trabalhados sem a devida profundidade. Em respostas e comentários, é possível avaliar o nível de conhecimento e de reflexão do grupo. Permite-se, também, uma avaliação do próprio professor sobre a metodologia de ensino e sobre as estratégias adotadas no curso, o que possibilita a reorganização do planejamento, incorporando os interesses e as sugestões dos alunos.

Grupos pequenos de trabalho colaborativo se beneficiam da assincronicidade pela falta de parâmetros de tempo e espaço nas discussões. Podem desenvolver individualmente materiais com conteúdos mais complexamente trabalhados no seu próprio ritmo e horário, para, num segundo momento, colocá-los em discussão com os pares.

O professor deve “perceber” seus alunos nas participações em atividades síncronas e assíncronas. Pode acompanhar a evolução de cada um, verificar seus pontos fracos e suas dificuldades, onde estão bem e que temas precisam de maior aprofundamento. Ao final do curso, por meio de atividades criativas, o professor/mediador terá mais objetividade na avaliação como um todo, ao traçar um paralelo entre o início e o término do curso.

As ferramentas de comunicação virtual até agora são predominantemente escritas, mas caminham para serem audiovisuais. Por enquanto, escrevemos mensagens, respostas, simulamos uma comunicação falada. Esses chats e fóruns permitem contatos a distância, podem ser úteis, mas não podemos esperar que só assim aconteça uma grande revolução, automaticamente. Depende muito do professor, do grupo, de sua maturidade, sua motivação, do tempo disponível, da facilidade de acesso. Por isso, é importante experimentar uma nova metodologia da educação on-line, desenvolvendo atividades, pesquisas, projetos, formas de comunicação integrados e complementares nos ambientes presenciais e virtuais.

Os princípios de avaliação são os mesmos para cursos presenciais, semipresenciais e a distância; o que muda é a forma de organizá-los e os recursos tecnológicos mais adequados para cada um. Preocupa-me ver em cursos a distância, principalmente os massivos, a utilização de provas de múltipla escolha, presencialmente, porque o MEC exige avaliações presenciais em cursos a distância, o que não significa que sejam necessariamente provas nem que todo o processo de avaliação esteja concentrado só nos momentos presenciais. Ainda predomina o foco no conteúdo na maior parte dos cursos a distância e também nos presenciais. Como consequência, a avaliação se concentra na verificação da apreensão desse conteúdo e esquece todas as outras dimensões: de processo, de construção coletiva do conhecimento, das dimensões emocionais e éticas do projeto de ensino e aprendizagem, da flexibilidade na adaptação ao ritmo do aluno. Falta muito para mudar efetivamente os processos de avaliação, porque os projetos pedagógicos dos cursos presenciais, semipresenciais e a distância são implantados, em geral, de forma simplista, massificadora e reducionista. Só falei da avaliação da aprendizagem, mas precisamos rever e modificar os projetos de educação como um todo, para incluir processos de avaliação mais ricos, abrangentes e participativos.

Acho que toda avaliação, virtual ou presencial, deve ser continuada; o que significa que devemos avaliar não apenas um questionário de perguntas e respostas previamente elaboradas; devemos levar em conta também a participação do aluno, com dúvidas, comentários, críticas e atitudes em relação aos conteúdos abordados e em relação ao grupo e ao professor. Além disso, a pesquisa, o desenvolvimento de projetos, a criatividade nos trabalhos, a organização e, sobretudo, a flexibilidade com que o aluno faz conexões e relações entre diversos temas, autores e áreas de conhecimento devem ser levados em consideração na avaliação.