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O barão Fitz-Alwine via Robin Hood como o pesadelo da sua existência, e seu insaciável desejo de uma boa vingança por todas aquelas humilhações sofridas só fazia aumentar. Sempre que derrotado por seu inimigo, o barão voltava à carga prometendo a si mesmo, tanto antes do ataque quanto depois da derrota, exterminar o bando inteiro dos fora da lei.

Obrigado a enfim reconhecer que seria eternamente incapaz de vencer Robin pela força, ele resolveu recorrer a artimanhas. Com um novo plano de ação longamente meditado, o barão esperava ter descoberto um meio pacífico de atrair o jovem para sua rede. Sem perder um minuto, mandou chamar um rico comerciante da cidade de Nottingham e confiou-lhe seus projetos, recomendando que guardasse o mais total segredo.

Esse homem, de caráter fraco e hesitante, foi facilmente induzido a compartilhar o ódio que o barão demonstrava por quem era descrito como um salteador das estradas.

Já no dia seguinte do encontro com lorde Fitz-Alwine, o comerciante, seguindo o combinado com o irascível ancião, chamou em sua casa os principais cidadãos locais, propondo que o acompanhassem para pedir ao xerife que organizasse um torneio público de tiro, reunindo competidores de Nottinghamshire e de Yorkshire.

— Os dois condados nutrem certa rivalidade — acrescentou o negociante — e, para o orgulho de nossa cidade, será proveitoso oferecer aos vizinhos um concurso em que possam demonstrar sua habilidade no arco. Ou seja, na verdade, trata-se de uma oportunidade para realçar a incontestável superioridade dos nossos bons arqueiros. Para igualar a disputa entre os dois campos, vamos estabelecer a prova na divisa das duas regiões, e a recompensa para o vencedor será uma flecha ou dardo de prata com penas de ouro.

Os cidadãos convocados pelo aliado do barão aprovaram a proposta com generosa participação e, acompanhando o negociante, foram pedir a lorde Fitz-Alwine permissão para anunciar uma disputa de tiro com arco entre as duas regiões rivais.

Satisfeitíssimo com o rápido sucesso da primeira parte do projeto, o barão disfarçou seu íntimo contentamento e, fingindo total indiferença, deu o consentimento solicitado, acrescentando que se a sua presença pudesse dar maior prestígio ou, de alguma forma, ser útil para abrilhantar o evento, ele com prazer aceitaria presidir os jogos.

Os cidadãos unanimemente concordaram que a presença do senhor feudal seria uma bênção do céu e se mostraram felizes com a promessa, como se o barão fosse a eles ligado pelos mais carinhosos laços de amizade. Deixaram o castelo felizes da vida e elogiaram, junto a todos os habitantes da cidade, a boa vontade do xerife. E isso foi feito com grande entusiasmo, olhos arregalados e boca aberta, por parte de quem falava e por parte de quem ouvia, pois todas aquelas boas pessoas estavam pouquissimamente acostumadas a qualquer sinal de cortesia nas maneiras do sr. normando.

Uma proclamação redigida com todo esmero anunciou que uma competição seria aberta entre moradores dos condados de Nottingham e de York. Fixava-se o dia e o local, escolhido entre a floresta de Barnsdale e a aldeia de Mansfield. Houve um esforço para que a competição pública fosse amplamente divulgada nas mais diferentes áreas das regiões interessadas, e a notícia então facilmente chegou aos ouvidos de Robin Hood, que imediatamente resolveu se candidatar, em apoio à honra da cidade de Nottingham. Outras fontes o informaram também de que o barão Fitz-Alwine presidiria os jogos. Tal atitude cordial tinha tão pouco a ver com o temperamento rabugento do velho que Robin logo percebeu as intenções secretas do nobre fidalgo.

— Muito bem! — disse para si mesmo nosso amigo. — Tentemos a aventura com todas as precauções necessárias e boa defesa.

Na véspera do grande dia, Robin reuniu seus homens e anunciou sua intenção de ganhar o prêmio, para homenagear a cidade de Nottingham.

— Rapazes — acrescentou ele —, ouçam isto: o barão Fitz-Alwine preside a festa e muito provavelmente tem uma motivação particular para querer tanto agradar aos yeomen. E creio saber que motivação é essa: é mais uma das suas tentativas para me prender. Penso então levar aos festejos cento e quarenta companheiros. Seis participarão da competição como arqueiros e os demais vão se dispersar na multidão, de maneira a rapidamente nos reunirmos em caso de contratempo. Preparem suas armas e estejam prontos para um eventual combate.

As ordens foram executadas com precisão e, no momento de partir, os homens formaram pequenos grupos e tomaram o caminho de Mansfield, chegando sem maiores problemas ao local, onde grande quantidade de pessoas já se encontrava.

Robin Hood, João Pequeno, Will Escarlate, Much e cinco outros companheiros se inscreveram como competidores. Estavam todos vestidos de forma diferente e praticamente não conversavam entre si, para evitar o perigo de serem reconhecidos.

O campo escolhido para o evento era uma ampla clareira à beira da floresta de Barnsdale, não distante da estrada principal. A imensa multidão, vinda das regiões vizinhas, se comprimia em tumulto ao redor do ponto em que estavam dispostos os alvos. Um estrado, montado de frente para a área de tiro, aguardava o barão, que teria a honra de julgar os lances e dar o prêmio.

O xerife logo apareceu, seguido por uma escolta de soldados. Além deles, uns cinquenta homens de sua confiança se infiltraram na multidão vestidos como yeomen, com ordem de prender quem lhes parecesse suspeito e de levá-lo à presença do barão.

Com tais precauções, ele esperava que Robin Hood, de temperamento aventureiro e pouco preocupado com os riscos, viesse à festa sem reforço e lhe proporcionasse, enfim, a satisfação de uma desforra. Pois esta, diga-se, tardava, muito além do que pode suportar a paciência humana.

A competição teve início. Três arqueiros de Nottingham passaram muito perto do objetivo, atingindo o alvo, mas não no centro. Depois vieram três yeomen de Yorkshire, com sucesso semelhante ao dos adversários. Foi a vez de Will Escarlate se apresentar e ele com facilidade feriu o centro do escudo.

Um clamor de alegria comemorou sua habilidade e coube a João Pequeno se apresentar em seguida, varando com sua seta exatamente o mesmo ponto já aberto pela flecha de William. Então, antes mesmo que o encarregado retirasse a flecha encravada, Robin Hood partiu-a em pedaços com a sua própria, tomando-lhe o lugar.

Entusiasmada, a multidão se agitou em balbúrdia e os torcedores de Nottingham fizeram altas apostas.

Os três melhores arqueiros de Yorkshire se apresentaram e, de mão firme, também acertaram o centro do alvo.

Foi a vez então dos homens do norte cantarem vitória e levantar apostas contra os cidadãos de Nottingham.

Durante todo esse tempo, muito pouco interessado no sucesso de qualquer das partes, o barão examinava atentamente os arqueiros. Robin Hood lhe despertara a curiosidade, mas como a sua vista vinha se enfraquecendo com o passar do tempo, foi-lhe impossível identificar, a tal distância, os traços fisionômicos de seu inimigo.

Much e os alegres companheiros designados por Robin para a competição também atingiram a melhor marca, sem esforço. Quatro yeomen os sucederam e repetiram a façanha.

A maioria dos arqueiros estava tão habituada àquele exercício que a vitória podia, assim dividida, se diluir num empate geral. Resolveu-se então que se plantariam varetas no chão, em substituição aos alvos anteriores, e que apenas sete dos melhores competidores continuariam na disputa.

Os cidadãos de Nottingham tinham para defender a honra local Robin Hood e seus homens, enquanto os de Yorkshire alguns dos seus melhores arqueiros.

Estes últimos começaram: o primeiro rachou a vareta, o segundo passou de raspão e a flechada do terceiro foi tão perfeita que deu a impressão de ser impossível sua superação.

Will Escarlate assumiu o posto e, pegando negligentemente seu arco, atirou, partindo ao meio a vareta de salgueiro.

— Viva Nottinghamshire! — gritaram seus habitantes, lançando para o ar os gorros, sem absolutamente se preocupar com o fato de que provavelmente não os encontrariam.

Novas varetas foram colocadas e todos os homens da floresta, com João Pequeno em primeiro lugar, facilmente as racharam. Chegou a vez de Robin: ele enviou três flechas e com tal rapidez que, sem o visível resultado das varetas partidas, ninguém acreditaria em tal habilidade.

Várias novas provas foram estabelecidas e Robin triunfou sobre os adversários, todos hábeis arqueiros.

Comentava-se que nem o célebre Robin Hood poderia ganhar do yeoman da jaqueta vermelha, que era como a multidão chamava o formidável competidor.

Essa ideia extremamente perigosa para o incógnito jovem herói logo se transformou em afirmação, circulando a notícia de que o vencedor não podia ser outro senão o próprio Robin Hood.

Humilhados com a derrota, os concorrentes de Yorkshire se queixaram, dizendo não ser justo competir com alguém como Robin Hood. Insistiam na ofensa que sofriam como arqueiros, mas também com a perda do dinheiro das apostas (que era o fator mais importante). Tentaram então, provavelmente com a esperança de anulá-las, fazer a discussão virar briga generalizada.

Assim que os alegres homens da floresta perceberam a má intenção dos adversários, organizadamente se reuniram e formaram, sem que se percebesse de fora, um grupo de oitenta e seis cabeças.

Enquanto a discórdia acendia focos de tumulto na multidão de apostadores, Robin Hood foi levado à presença do xerife, cercado pelas vibrantes aclamações dos cidadãos de Nottingham.

— Abram alas ao vencedor! Viva o grande arqueiro! — gritavam duzentas vozes. — Deem passagem ao ganhador do prêmio!

Robin Hood, com a cabeça humildemente inclinada, pôs-se à frente de lorde Fitz-Alwine, numa atitude das mais respeitosas.

O barão arregalava os olhos tentando reconhecer aqueles traços. Havia certa semelhança de tamanho, talvez até nas maneiras, o que levava o barão a acreditar que tinha à sua frente o sempre incapturável fora da lei. Preso entre duas sensações opostas — a dúvida e uma vaga certeza —, o xerife não queria, entretanto, comprometer o sucesso do plano por qualquer precipitação. Entregou o troféu ao jovem, esperando reconhecer Robin pela voz, mas este driblou a expectativa do barão: pegou a flecha de prata, fez civilizada reverência e prendeu-a na cinta.

Um segundo se passou e o vencedor do torneio fez menção de se retirar. No momento, porém, em que o barão tentava desesperadamente reconhecê-lo, vendo-o se afastar, Robin ergueu a cabeça, olhou-o fixamente e disse rindo:

— Palavras vãs não poderiam exprimir meu apreço por esse troféu que acaba de me entregar, meu excelente amigo. É com o coração transbordando de reconhecimento que volto às grandes árvores verdes do meu solitário refúgio, onde guardarei com carinho esse precioso testemunho da sua bondade. Desejo com toda amizade que tenha um bom dia, nobre senhor de Nottingham.

— Pare! Prendam-no! — berrou o barão. — Soldados, cumpram seu dever! Esse homem é Robin Hood; peguem-no!

— Infame covarde! — exclamou Robin. — Proclamou que os jogos eram públicos e abertos a todos, para diversão geral, sem perigos e sem exceção!

— Proscritos não têm direitos — retrucou o barão. — Você não se inclui em qualquer convite feito aos bons cidadãos. Vamos, soldados, prendam o criminoso!

— Mato o primeiro que se aproximar! — gritou Robin, apontando o arco para o valentão que vinha à frente, mas que, diante dessa ameaça, recuou e desapareceu na multidão.

O herói tocou a trompa e seus alegres companheiros, que já esperavam uma luta sangrenta, se adiantaram para protegê-lo. Robin recuou até o centro do seu grupo e ordenou que todos fossem se retirando com calma, de arcos preparados. Os soldados do barão eram numerosos demais para que se travasse uma batalha sem sério risco de grande derramamento de sangue.

O barão se precipitou à frente da sua tropa e, com voz furiosa, ordenou que atacassem os fora da lei. Os soldados obedeceram e os cidadãos de Yorkshire, irritados com as perdas sofridas nas apostas, aderiram à perseguição. Os de Nottingham, entretanto, gostavam de Robin Hood e lhe deviam muitos favores; jamais então o abandonariam sem socorro à mercê dos inimigos. Abriram verdadeiro corredor para os alegres homens da floresta com carinhosas aclamações, fechando em seguida a passagem.

Mas os que protegiam Robin Hood não eram, infelizmente, suficientes em número nem em força para garantir por muito tempo uma prudente fuga. Foram obrigados a ceder e a tropa do xerife ganhou a estrada tomada pelos homens da floresta em passo de corrida.

Uma perseguição tremenda teve início. De vez em quando, os perseguidos se voltavam e enviavam uma nuvem de flechas contra os perseguidores. Estes respondiam como podiam e, apesar das baixas sofridas, corajosamente continuaram atrás dos fugitivos.

Já há uma hora os dois grupos trocavam flechadas, quando João Pequeno, que seguia ao lado de Robin à frente do bando, parou bruscamente e disse ao jovem chefe:

— Caro amigo, chegou a minha hora. Fui atingido com gravidade e sinto que perco as forças, não posso mais ir adiante.

— O quê? Está ferido?

— Infelizmente. No joelho, e há meia hora perco muito sangue. Estou esgotado, não me aguento mais de pé.

E desabou no chão, depois de dizer essas palavras.

— Meu Deus! — exclamou Robin, ajoelhando-se ao lado do corajoso amigo. — João, meu bravo João, recupere-se, tente se levantar, apoie-se em mim. Não estou cansado, posso levá-lo. Mais uns minutos e estaremos fora de alcance. Deixe-me colocar uma atadura, vai aliviá-lo muito.

— Não, Robin. É inútil — ele respondeu quase sem voz. — Minha perna está paralisada, não consigo fazer movimento algum. Não perca tempo, abandone esse infeliz que tudo que quer é dignamente morrer.

— Abandoná-lo? — assustou-se Robin. — Sabe que jamais faria isso.

— Mas é preciso, Robin, é o seu dever. Tem diante de Deus a responsabilidade por todos esses bravos que a você são dedicados de corpo e alma. Deixe-me aqui. Mas se for meu amigo, pela nossa amizade, não permita que o infame xerife me pegue vivo; enfie sua faca de caça no meu coração, para que eu morra como honesto e bravo saxão. Ouça meu pedido, Robin, mate-me e me evitará um cruel sofrimento e também a amargura de rever nossos inimigos. São tão covardes, os miseráveis normandos, que adorariam insultar minha derradeira hora.

— Por favor, João — respondeu Robin enxugando uma lágrima —, não me peça o impossível. Sabe perfeitamente que não posso deixá-lo morrer sem socorro e longe de mim, sabe que sacrificaria minha vida e a dos companheiros por sua sobrevivência. Sabe também que, em vez de abandoná-lo, sou capaz de dar minha última gota de sangue em sua defesa. Quando eu cair, João, será ao seu lado, assim espero, e partiremos para o outro mundo de mãos e corações unidos, como nossas mãos e corações sempre estiveram aqui neste mundo.

— Lutaremos e morreremos ao seu lado, se o céu parar de nos proteger — confirmou Will beijando o primo. — Se for o caso, verá que existem ainda homens de coragem na Terra. Rapazes! — gritou Will virando-se para os que chegavam às pressas. — Este amigo, companheiro e chefe foi mortalmente ferido, acham que deve ser abandonado à vingança dos infelizes que nos perseguem?

— Não! De jeito nenhum! Mil vezes não! — responderam os alegres homens como se fossem um só. — Vamos armar fileiras ao redor e morreremos em sua defesa.

— Se me permitirem — disse o vigoroso Much tomando a frente —, não precisamos, pelo bem da causa, arriscar a pele. João está apenas ferido no joelho e pode, sem risco de piora, aguentar o transporte. Posso carregá-lo nos ombros pelo menos enquanto as minhas próprias pernas aguentarem.

— E quando não puder mais, Much, eu o substituo — disse Will. — Depois de mim, um dos nossos, não é mesmo, rapazes?

— Claro! — responderam solidários os alegres companheiros.

Apesar da opinião contrária de João, Much o levantou com mão firme e, ajudado por Robin, colocou o ferido nos ombros. E todo o grupo voltou a rapidamente correr pela estrada. A parada forçada a que a pequena tropa fora obrigada permitiu que os soldados ganhassem terreno e já podiam ser vistos. Os alegres homens expediram então mais uma revoada de flechas e aumentaram a velocidade, na esperança de alcançar o esconderijo, convencidos de que os soldados não teriam disposição nem coragem para segui-los até lá. Numa encruzilhada da estrada principal, que se perdia ao longe, os homens da floresta perceberam por entre a folhagem das árvores as torres de um castelo.

— A quem será que pertence? — perguntou-se Robin. — Alguém sabe quem é o proprietário?

— Eu sei, capitão — adiantou-se um companheiro recentemente ingresso no bando.

— Ótimo. Sabe se seríamos bem recebidos pelo dono da propriedade? Pois estaremos em maus lençóis se formos até lá e as portas nos forem fechadas.

— Posso garantir a boa vontade de sir Richard dos Prados — respondeu o homem. — É um bravo saxão.

— Sir Richard dos Prados! — exclamou Robin. — Nesse caso, estamos salvos. Em frente, rapazes, em frente! Abençoada seja a santa Virgem! — continuou Robin, fazendo o sinal da cruz como demonstração de gratidão. — Ela nunca abandona os infelizes na hora do perigo. Will Escarlate, vá na frente e diga à sentinela da ponte levadiça que Robin Hood e uma parte dos seus homens, perseguidos pelos normandos, pedem a sir Richard permissão para entrar no castelo.

William atravessou com a rapidez de uma flecha a distância que o separava do castelo. Enquanto ele se comunicava com o vigia, Robin e os companheiros vinham se aproximando.

Quase que de imediato uma bandeira branca foi içada no alto da muralha externa e um cavaleiro, seguido por Will, saiu a galope na direção de Robin Hood. Chegando perto do jovem chefe, ele desmontou e estendeu as duas mãos.

— Senhor — disse o rapaz apertando com visível emoção as mãos do proscrito —, sou Herbert Gower, filho de sir Richard. Meu pai me encarregou de lhe dizer o quanto é bem-vindo à nossa casa e que ele se considera o mais feliz dos homens se tiver a oportunidade de saldar um pouco das grandes dívidas que temos com o senhor. Sou seu de corpo e alma, sir Robin — acrescentou o jovem, num impulso de profunda gratidão —, disponha de mim como bem entender.

— Agradeço do fundo do coração, jovem amigo — respondeu Robin abraçando Herbert. — Seu oferecimento é tentador, pois ficaria orgulhoso de contar, entre meus oficiais, com tão brilhante cavaleiro. Mas no momento precisamos pensar no perigo que mais ameaça. Estamos exaustos e o mais querido dos companheiros foi ferido na perna por uma flechada normanda. Há quase duas horas somos perseguidos pelos soldados do barão Fitz-Alwine. Veja, meu amigo — e Robin apontou o bando de soldados que começavam a preencher toda a estrada —, eles nos alcançarão se não nos apressarmos para ter abrigo atrás das muralhas do castelo.

— A ponte levadiça já está em posição — disse Herbert. — Vamos rápido, em dez minutos nada mais terão a temer do inimigo.

O xerife e seus homens chegaram a tempo de assistir ao desfile do pequeno bando na ponte levadiça do castelo. Exasperado pelo novo fracasso, ele ali tomou a audaciosa decisão de pedir a sir Richard, em nome do rei, para entregar aqueles que, provavelmente abusando da sua boa-fé, haviam conseguido se pôr sob sua proteção. Diante do pedido de lorde Fitz-Alwine, o cavaleiro se apresentou do alto das muralhas.

— Sir Richard dos Prados — gritou o barão, a quem seus ajudantes haviam dito o nome do proprietário do castelo —, o senhor conhece as pessoas que acabam de entrar na sua casa?

— Conheço, milorde — respondeu friamente o cavaleiro.

— E sabe que o miserável que comanda esse bando de bandidos é um fora da lei, um inimigo do rei, a quem o senhor está dando asilo? Sabe que incorre no castigo reservado aos traidores?

— Sei que este castelo e as terras em volta são propriedade minha; sei que em meu domínio posso agir como bem entender, recebendo quem eu desejar. Esta é a minha resposta, senhor. Por favor se afaste imediatamente, se quiser evitar um combate que não lhe será vantajoso, pois tenho sob minhas ordens uma centena de homens de guerra e as flechas mais bem preparadas da região. Passe bem, senhor.

Terminando a irônica resposta, o cavaleiro deixou a muralha.

O barão, sem suficiente confiança em seus próprios soldados para tentar uma investida contra o castelo, preferiu se retirar e foi, como se pode imaginar, cheio de raiva no coração que retomou, à frente dos seus homens, o caminho de Nottingham.

— Seja mil vezes bem-vindo à casa que devo à sua bondade, meu caro Robin Hood! — disse o cavaleiro beijando o hóspede. — Seja mil vezes bem-vindo!

— Obrigado, cavaleiro — disse Robin. — Mas, por favor, não fale mais do pequeno serviço que tive a satisfação de prestar. Sua amizade já o pagou cem vezes e hoje me salvou de um real perigo. Mas trouxe comigo um ferido e peço que o trate com todo cuidado.

— Como se fosse você mesmo, meu caro Robin.

— Você conhece a pessoa em questão, é João Pequeno, meu primeiro oficial. O mais querido e fiel dos companheiros.

— Minha mulher e Lilás cuidarão dele — respondeu sir Richard. — E saberão o que fazer, sinta-se tranquilo com relação a isso.

— Se estiverem falando de João Pequeno, quer dizer, o maior João que já empunhou um bastão de combate — disse Herbert —, ele já se encontra nas mãos de um bom médico de York que está conosco desde a noite de ontem. O curativo foi feito e tudo indica que o paciente terá uma rápida recuperação.

— Louvado seja Deus! — disse Robin Hood. — Meu querido amigo está fora de perigo. Agora, cavaleiro — acrescentou —, sou todo seu e de sua adorável família.

— Minha mulher e Lilás desejam ardentemente conhecê-lo, prezado Robin, e o esperam na sala ao lado.

— Pai — disse Herbert rindo —, acabei de afirmar a meu amigo — disse, mostrando Will Escarlate — que sou o feliz marido da mulher mais bonita do mundo, e sabe o que ele respondeu? — Sir Richard e Robin trocaram um sorriso. — Ser ele quem possui aquela cuja admirável beleza não tem igual. Mas como vai conhecer Lilás…

— Ah! Se tivesse visto Maude, não falaria assim, meu rapaz. Não é verdade, Robin?

— Muito provavelmente Herbert acharia Maude muito bonita — respondeu Robin em tom conciliador.

— É provável, muito provável, mas Lilás é miraculosamente bela e, para mim, mulher alguma a ela se compara — disse Herbert.

Will Escarlate ouvia, sobrancelhas franzidas. O pobre rapaz realmente se sentia ferido em seu amor-próprio de marido. Mas, justiça seja feita, assim que pôde contemplar a esposa de Herbert, demonstrou sua admiração.

Lilás correspondia a todas as expectativas que podem ser colocadas em alguém da sua idade. A bonita menina que vimos no convento de Santa Maria se tornara encantadora mulher. Alta, esbelta e graciosa, lembrando uma delicada gazela, Lilás se aproximou, fronte baixa, e um divino sorriso brotou em seus lábios rosados ao se aproximar dos visitantes. Ergueu para Robin Hood dois enormes e tímidos olhos azuis, estendendo-lhe a mão.

— Nosso salvador não é um estranho para mim — disse com voz suave.

Mudo de admiração, Robin levou aos lábios a alva mão de Lilás.

Herbert, que se colocara ao lado de Robin, disse então a Will, com um sorriso de orgulhosa ternura:

— Amigo William, apresento-lhe minha mulher…

— É muito bonita — admitiu em voz baixa Will Escarlate —, mas Maude… — acrescentou mais baixinho ainda.

E se calou, pois Robin o intimou com o olhar a que se concentrasse exclusivamente na encantadora esposa de Herbert.

Depois de mútua troca de afetuosos cumprimentos entre a mulher de sir Richard e os hóspedes, o cavaleiro deixou Will e o filho conversando com as senhoras, conduziu Robin para outro canto e lhe disse:

— Caro Robin, quero dar a prova de que não existe no mundo um homem que eu aprecie tanto e volto a afirmar essa amizade para que possa agir à vontade e segundo seus projetos. Enquanto esta casa tiver um só defensor de pé em seus muros e de armas em punho, considere-se em segurança aqui, e desafio todos os xerifes do reino. Dei ordem para que as portas se mantenham fechadas para que ninguém entre no castelo sem minha permissão. Minha gente permanece de prontidão e motivada a resistir vigorosamente a qualquer ataque. Os homens do seu bando descansam. Deixe-os desfrutar em paz de uma semana de tranquilidade. Passado esse período, pensaremos o que fazer.

— Aceito de bom grado alguns dias de sossego — respondeu Robin —, mas sob uma condição.

— Qual?

— Os alegres companheiros voltarão amanhã para a floresta de Barnsdale. Will Escarlate os acompanhará e voltará trazendo sua tão querida Maude, Marian e a mulher do pobre João.

Sir Richard concordou satisfeito e tudo se arranjou da melhor maneira entre os dois amigos.

Quinze tranquilíssimos dias se passaram no castelo dos Prados e, no final dessa temporada, Robin, João Pequeno — completamente refeito do ferimento —, Will Escarlate e a incomparável Maude, Marian e Winifred voltaram, uma vez mais, às sombras das grandes árvores verdes da floresta de Barnsdale.

DEPOIS DE TER VOLTADO a Nottingham, já no dia seguinte o barão Fitz-Alwine viajou a Londres, conseguiu uma audiência com o rei e contou toda a sua lamentável aventura.

— Majestade — disse o barão —, provavelmente há de achar muito estranho que o cavaleiro a quem Robin Hood pediu asilo tenha se recusado a entregar o criminoso, mesmo depois de intimado em nome do rei.

— Um cavaleiro faltou a esse ponto com o respeito que deve ao soberano? — assombrou-se irritado o rei Henrique.

— Perfeitamente, sire.67 O cavaleiro Richard Gower dos Prados rechaçou meu justo pedido. Respondeu ser ele rei em seus domínios, pouco se preocupando com o poder de Sua Majestade.

Vê-se que o barão deslavadamente mentia em prol de sua própria causa.

— Pois vamos julgar, por nós mesmos, a impudência desse atrevido. Dentro de quinze dias estaremos em Nottingham. Leve quantos homens achar necessário para a peleja e se algum infeliz desencontro não permitir que nos vejamos, aja como achar melhor, mas prenda esse indomável Robin Hood, assim como o cavaleiro Richard, em seu mais sombrio calabouço. Uma vez postos a ferros, solicite a nossa justiça. Pensaremos então o que fazer.

O barão Fitz-Alwine seguiu ao pé da letra as ordens do rei. Reuniu uma numerosa tropa de homens e marchou à sua frente contra o castelo de sir Richard. Mas o pobre barão não teve sorte, pois chegou no dia seguinte à partida de Robin Hood.

A ideia de segui-lo até o seu refúgio em momento algum aflorou à mente do velho caudilho. Algumas recordações e uma certa dor que ainda lhe tornava penosas as cavalgadas impunham obstáculos a qualquer entusiasmo nesse sentido. Resolveu então, à falta de coisa melhor, prender sir Richard, mas como o assalto seria dificultoso e de perigosa execução, achou melhor e mais garantido apelar para a astúcia: dispersou seus homens, guardando consigo apenas uns vinte soldados mais vigorosos, e se colocou em emboscada, a pequena distância do castelo.

A espera não foi demorada: já na manhã do dia seguinte, sir Richard, o filho e alguns seguidores caíram numa inesperada armadilha e, apesar de corajosa resistência, foram vencidos, amordaçados, amarrados em cima de cavalos e levados a Nottingham.

Um dos homens dos Prados conseguiu escapar e foi, mesmo contundido pelas pancadas recebidas, levar à sua ama a triste notícia.

Sob o impacto da dor, lady Gower quis imediatamente ir ao encontro do marido, mas Lilás fez com que entendesse que tal atitude não traria resultado algum favorável à situação dos dois entes queridos, e aconselhou a mãe a procurar Robin Hood. Melhor do que ninguém ele seria capaz de razoavelmente medir a situação de sir Richard e libertá-lo.

Lady Gower aceitou o conselho da jovem e, sem perder um segundo, escolheu dois servidores fiéis, montou a cavalo e rapidamente partiu para a floresta de Barnsdale. Teve como guia um dos homens do bando, que ficara no castelo adoentado, mas que agora, já recuperado, levou-os até a árvore do Ponto de Encontro.

Por providencial acaso, Robin Hood ali se encontrava.

— Que Deus o abençoe, Robin! — exclamou lady Gower desmontando do cavalo com febril agilidade. — Venho como suplicante pedir, em nome da santa Virgem, novo favor.

— Está me assustando, senhora. Por favor, o que aconteceu? — exclamou Robin extremamente preocupado. — Diga o que a aflige, farei tudo o que estiver a meu alcance.

— Ah, Robin! — lamentou a pobre senhora. — Meu marido e meu filho foram sequestrados por seu inimigo, o xerife de Nottingham. Por favor, Robin, salve-os. Não são muitos os miseráveis que os atacaram e acabam de deixar o castelo. Certamente não estão longe.

— Esteja descansada, senhora. Os dois logo estarão em casa. Sir Richard tem título de cavaleiro e com isso depende da justiça real. Por mais poderoso que seja, o barão Fitz-Alwine não pode executar um saxão nobiliariamente qualificado. Terá que abrir um processo, se o crime der matéria a processo. Tranquilize-se e enxugue as lágrimas. Seu marido e seu filho logo estarão nos seus braços.

— Que Deus o ouça! — exclamou lady Gower juntando as mãos.

— Permita-me agora um conselho: volte ao castelo, mantenha as portas fechadas e não dê entrada a estranhos. Enquanto isso, reúno meus homens e partimos em busca do barão de Nottingham.

Tranquilizada pelas consoladoras palavras do rapaz, lady Gower se foi com o coração um pouco mais aliviado.

Robin Hood comunicou aos companheiros a captura de sir Richard e seu plano de atacar o xerife a caminho de Nottingham. A gritaria foi geral, com alguns se indignando por mais uma covardia do barão e outros simplesmente contentes pela expectativa de um novo combate. Rapidamente todos se prepararam felizes para se pôr a caminho.

Robin colocou-se à frente do corajoso grupo e, tendo ao lado João Pequeno, Will Escarlate e Much, partiu no encalço do xerife.

Depois de longa e cansativa marcha, chegaram à cidade de Mansfield e lá foram informados por um estalajadeiro que, após algum descanso, os soldados do barão tinham tomado a estrada de Nottingham. O bando foi deixado sob o comando de João Pequeno e Much, para que descansasse um pouco, e Robin Hood partiu com Will, montados em bons cavalos e a galope, para a árvore do Ponto de Encontro de Sherwood. Bem próximo ao abrigo subterrâneo, Robin fez soar as alegres notas da sua trompa de caça e, ouvindo o conhecido chamado, uma centena de homens da floresta rapidamente se apresentou.

Ele então partiu com essa nova tropa e a conduziu de modo a deixar a escolta do barão entre duas frentes de companheiros, pois o grupo de Barnsdale deveria, após uma hora de descanso, retomar o caminho de Nottingham.

Os alegres homens logo chegaram a um ponto pouco afastado da cidade e, com grande satisfação, viram que a tropa do xerife ainda não havia passado. Robin escolheu um local estratégico e mandou que uma parte do grupo se escondesse, enquanto a outra se posicionava numa encosta mais baixa da estrada.

Pouco tempo depois, a chegada de meia dúzia de soldados mostrou que o xerife se aproximava com sua tropa montada. Os homens da floresta se prepararam em silêncio para calorosamente recebê-los. Os batedores atravessaram o local da emboscada sem nada perceber e, quando já estavam suficientemente afastados para que o grosso da tropa acreditasse não haver perigo, o som de uma trompa atravessou os ares, fazendo uma revoada de flechas se abater sobre a compacta fileira dos primeiros soldados.

O xerife ordenou que todos parassem e mandou que uns trinta homens esquadrinhassem o terreno. Era enviá-los à perdição.

Divididos em dois grupos, os soldados foram atacados por todos os lados ao mesmo tempo e, obrigados pela força, baixaram as armas e se renderam.

Depois disso, os alegres homens da floresta se concentraram na escolta do barão que, com bom cavalo e hábil no manejo das armas, se defendeu com energia.

Robin e seus homens combatiam para libertar sir Richard e o filho, enquanto os soldados vindos de Londres buscavam ganhar a recompensa prometida pelo rei a quem prendesse o bandoleiro.

A luta foi então furiosa e renhida de ambos os lados, com a vitória se mantendo incerta até que, de repente, a gritaria do segundo grupo de homens da floresta anunciou que a situação ia mudar de figura. João Pequeno e sua tropa, chegando de Barnsdale, se lançavam na batalha com irresistível violência.

Uns dez arqueiros logo se aproximaram de onde estava sir Richard e o filho, que foram soltos e receberam armas. Sem medo do perigo a que se expunham, bateram-se corpo a corpo com soldados protegidos por armaduras e cotas de malha.

Com o entusiasmo e impetuosidade da juventude, Herbert se lançou, seguido por alguns dos alegres companheiros, contra o núcleo, propriamente, da escolta do barão. Por quase quinze minutos o corajoso rapazote enfrentou os cavaleiros, mas era visível que, dada a diferença numérica, sairia cara, para ele, a temerária imprudência. Um arqueiro, porém, fosse para socorrê-lo ou apenas para apressar o fim da batalha, lançou uma flecha que, veloz, atravessou o pescoço de lorde Fitz-Alwine, derrubando-o do cavalo. Em seguida cortou a cabeça do fidalgo, ergueu-a na ponta da espada e gritou a plenos pulmões:

— Cães normandos, vejam o chefe de vocês, contemplem pela última vez a cara medonha do orgulhoso xerife. Baixem as armas ou terão o mesmo des…

Não pôde terminar a frase: um normando partiu-lhe ao meio o crânio, fazendo-o cair por terra.

Mas a morte do xerife fez os normandos de fato baixarem armas e se renderem.

Por ordem de Robin, um bom número dos alegres companheiros escoltou os vencidos até Nottingham, enquanto à frente da tropa restante o jovem chefe contou seus mortos, socorreu os feridos e desfez no local as marcas do combate.

— Adeus para sempre, homem de ferro e de sangue! — disse Robin, dirigindo um olhar de repugnância ao cadáver do barão. — Finalmente encontrou a morte e vai receber a recompensa por suas más ações. Teve o coração ávido e impiedoso, e mão que se estendia como um flagelo sobre os pobres saxões. Martirizou os vassalos, traiu seu rei, abandonou a própria filha: merece todas as torturas do inferno. Mesmo assim, peço a Deus que em sua infinita misericórdia tenha piedade da sua alma e perdoe seus tantos erros. Sir Richard — dirigiu-se a ele Robin, logo que o corpo do velho senhor foi carregado pelos soldados na direção de Nottingham —, tivemos um triste dia. Conseguimos tirá-lo da morte certa, mas não da ruína, pois seus bens serão confiscados. Teria sido melhor, querido amigo, não nos termos jamais conhecido.

— Por que diz isso? — espantou-se o cavaleiro.

— Provavelmente pagaria a dívida com o abade de Santa Maria mesmo sem a minha ajuda, e não teria se sentido na obrigação de me prestar favor. Sem querer, causei a sua desgraça. Será banido, proscrito do reino, sua casa passará a pertencer a algum normando e sua querida família sofrerá por culpa minha… Como vê, Richard, é perigoso ser meu amigo.

— Caro Robin — disse o cavaleiro com uma expressão de indizível ternura —, minha mulher e filhos estão vivos e tenho a sua amizade, por que me lamentar? Se o rei me condenar, deixarei o castelo ancestral, mas ainda assim satisfeito e grato ao destino por tê-lo como amigo!

Desanimado, Robin Hood balançou a cabeça.

— Tratemos seriamente do seu problema, Richard. A notícia do acontecido vai chegar a Londres e o rei será implacável. Atacamos seus soldados e ele não se limitará ao desterro para se vingar da derrota, podendo condená-lo à morte desonrosa. Deixe o castelo e venha viver conosco. Enquanto me restar um sopro de vida, estará em segurança sob a guarda dos alegres companheiros, tem minha palavra.

— Aceito de coração a generosa proposta, Robin Hood, com alegria e gratidão. Mas antes vou tentar, pois é um dever a que me obriga a preocupação com o futuro dos meus filhos, aplacar a cólera do rei. Por uma boa soma ele talvez aceite poupar a vida de um fidalgo.

Nessa mesma tarde, sir Richard enviou um mensageiro a Londres para pedir a um membro poderoso da sua família que o protegesse junto ao rei. A viagem de volta do portador foi tão rápida quanto a de ida, trazendo a notícia de que Henrique II, muito irritado com a morte do barão Fitz-Alwine, havia despachado contra o castelo dos Prados uma companhia inteira dos seus melhores soldados, com a missão de enforcar a ele e ao filho na primeira árvore do caminho. O chefe dessa expedição, um normando sem fortuna, recebera do rei a doação do castelo, para ele e seus descendentes, até a última geração.

O parente de sir Richard mandava também avisar ao condenado que uma proclamação fora enviada às regiões de Nottinghamshire, Derbyshire e Yorkshire, oferecendo uma recompensa extraordinária a quem fosse suficientemente hábil para entregar Robin Hood vivo ou morto ao xerife de uma dessas três regiões.

Sir Richard mandou que imediatamente prevenissem Robin Hood do perigo que corria a sua vida e o avisassem também da sua iminente chegada.

Diligentemente ajudado por seus vassalos, o cavaleiro esvaziou o castelo de tudo que havia dentro, enviando móveis, armas e baixela para a árvore do Ponto de Encontro de Barnsdale.

Depois que a última carroça atravessou a ponte levadiça, sir Richard, lady Gower, Herbert e Lilás saíram a cavalo da tão querida moradia e ganharam sem maiores dificuldades a verde floresta.

Quando a tropa enviada pelo rei chegou ao castelo, as portas estavam abertas e os cômodos complemente vazios.

O novo dono do castelo dos Prados pareceu muito desapontado ao encontrá-lo deserto, mas como havia passado a maior parte da existência a lutar contra os caprichos da fortuna, conseguiu não se aborrecer tanto com isso. Assim sendo, enviou de volta a Londres os soldados e assumiu, como senhor, todo o vasto domínio, para desespero dos vassalos.


67. Tratamento dado aos grandes senhores feudais e reis.