ELEMENTOS DE DEMOGRAFIA AMERÍNDIA
Elementos de demografia ameríndia*
Talvez cause espanto o fato de se encontrar, ao lado de estudos consagrados à antropologia política, um texto que trata principalmente de demografia. Na verdade, nada obriga, ao que parece, para analisar o funcionamento das relações de poder e das instituições que as regem, a que se estude o tamanho e a densidade das sociedades focalizadas. Haveria como que uma autonomia do espaço do poder (ou do não-poder), estabelecendo-se e reproduzindo-se ao longe e ao abrigo de toda influência externa, como, por exemplo, o número da população. E, de fato, a idéia desse relacionamento calmo entre o grupo e seu poder parece corresponder bastante bem à realidade oferecida pelas sociedades arcaicas, que conhecem e praticam inúmeros meios de controlar ou impedir o crescimento de sua população: aborto, infanticídio, tabus sexuais, desmame tardio etc. Ora, essa capacidade dos selvagens de disciplinar o fluxo de sua demografia levou pouco a pouco à convicção de que uma sociedade primitiva é necessariamente uma sociedade “restrita”, ainda mais porque a chamada economia de subsistência não poderia, segundo se afirma, prover as necessidades de uma população numerosa.
A imagem tradicional da América do Sul (imagem em grande parte esboçada, não o esqueçamos, pela própria etnologia) ilustra particularmente bem essa mistura de meias-verdades, de erros, de preconceitos, que leva a tratar os fatos com uma leviandade surpreen dente (cf., no HSAI, a classificação das sociedades sul-americanas).[1] De um lado, os Andes e as Altas Culturas que lá se sucederam; do outro, o resto: florestas, savanas, pampas, onde pululam pequenas sociedades, todas parecidas, monótona repetição que nenhuma diferença parece distinguir. A questão não é saber em que medida tudo isso é verdadeiro, mas antes medir até que ponto é falso. E, para retornar ao ponto de partida, o problema da conexão en tre demografia e autoridade política se desdobra em duas interrogações:
1] Serão todas as sociedades florestais da América do Sul iguais entre si ao nível das unidades sociopolíticas que as compõem?
2] Será que a natureza do poder político permanece inalterada quando se estende e se fortalece seu campo de aplicação demográfico?
Foi refletindo sobre a chefia nas sociedades tupi-guarani que encontramos o problema demográfico. Esse conjunto de tribos, muito homogêneo sob o ponto e vista não só lingüístico como cultural, apresenta duas propriedades suficientemente marcantes para impedir a confusão dos Tupi-Guarani com as outras sociedades da Floresta. Primeiramente, a chefia se afirmava, entre esses índios, com muito mais vigor do que em qualquer outra parte; a seguir, a densidade demográfica das unidades sociais – os grupos locais – era nitidamente superior às médias comumente admitidas para as sociedades sul-americanas. Sem afirmar que a transformação do poder político era provocada entre os Tupi-Guarani pela expansão demo gráfica, parece-nos pelo menos legítimo colocar em perspectiva essas duas dimensões, específica dessas tribos. Mas uma pergunta prejudicial se impõe: os grupos locais dos Tupi-Guarani eram efetivamente muito mais numerosos do que os das outras culturas?
É todo o problema das fontes e do crédito que lhes convém dar. Os Tupi-Guarani realizam o paradoxo de terem quase completamente desaparecido há muito (à exceção de alguns milhares que sobrevivem no Paraguai) e de serem talvez a população indígena melhor conhecida da América do Sul. Dispomos, com efeito, de literatura muito farta sobre esse assunto: a dos primeiros viajantes, logo seguidos pelos jesuítas, que, vindos da França, Espanha e Portugal desde a metade do século XVI, puderam observar à vontade esses selvagens que ocupavam todo o litoral brasileiro e uma grande parte do Paraguai atual. Milhares de páginas foram assim consagradas à descrição da vida cotidiana dos índios, suas plantas silvestres e cultivadas, sua forma de casamento, sua maneira de educar as crianças, de guerrear, de matar ritualmente os prisioneiros, as relações entre os grupos etc. Os testemunhos desses cronistas, firmados em momentos e lugares diferentes, oferecem uma coerência etnográfica única na América do Sul, onde aparece com muita freqüência um extremo parcelamento lingüístico e cultural. Os Tupi-Guarani apresentam a situação inversa: tribos situadas a milhares de quilômetros umas das outras vivem do mesmo modo, praticam os mesmos ritos, falam a mesma língua. Um guarani do Paraguai se sentiria em terreno perfeitamente familiar entre os Tupi do Maranhão, distantes, entretanto 4 mil km. E se a leitura das antigas crônicas pode revelar-se por vezes fastidiosa pelo fato de os autores verem e descreverem a mesma realidade, elas fornecem em todo o caso uma sólida base de trabalho, por se validarem reciprocamente: Montoya ou Jarque, missionários entre os Guarani, fazem eco, no Paraguai, a Thevet ou Léry, que sessenta anos antes visitaram os Tupinambá da baía de Guanabara. Talento dos cronistas, quase todos pessoas instruídas e observadores fiéis, re la tiva uniformidade dos povos abrangidos: de seu cotejamento permanece, para gáudio dos americanistas, um material de excepcional riqueza, um material sobre o qual os pesquisadores podem se apoiar.
Quase todos os cronistas se esforçaram por completar suas descrições de dados numéricos sobre as dimensões das casas, a superfície das plantações, as distâncias entre as aldeias, e, sobretudo, o número de habitantes das regiões que visitavam. Certamente, as preocupações que os animavam eram diversas: rigor etnográfico de um Léry, objetividade militar de um Staden, preocupação administrativa dos missionários que tinham necessidade de recensear as populações que caíam sob seu controle. Mas sobre esse ponto, como sobre os outros, as informações quantitativas, quer sejam recolhidas entre os Guarani ou entre os Tupi, no Maranhão ou no sul do Brasil, não apresentam nenhuma discordância: de um lado a outro do imenso território ocupado pelos Tupi-Guarani, os números assinalados estão muito próximos. Entretanto, estranhamente, os especialistas da América do Sul negligenciaram completamente, até agora, essas indicações – ainda mais preciosas por serem quase sempre muito precisas –, ou simplesmente recusaram-se a aceitá-las. Motivo invocado: os cronistas exageraram fantasticamente a importância da população indígena. Encontramo-nos, assim, diante de uma situação bem estranha: tudo é aceitável nesses cronistas, menos os números que eles for ne cem! Ninguém se perturba com o fato de que os erros, ou mesmo as mentiras, dos cronistas estariam todos na mes ma ordem de grandeza.
Deve-se primeiramente examinar o valor das críticas, diretas ou implícitas, dirigidas às avaliações dos cronistas. Elas estão, no essencial, reunidas e expostas nos trabalhos do principal especialista de demografia ameríndia, Angel Rosenblatt. O método que esse autor utiliza para calcular a população indígena da América do Sul na época do descobrimento revela a pouca importância que ele concedeu às indicações fornecidas pelos cronistas. Quantos índios havia na América antes da chegada dos brancos? A essa pergunta, desde muito, os americanistas deram respostas tão variadas quanto arbitrárias, porque destituídas de qualquer fundamento científico. Oscila-se assim, para o Novo Mundo em seu todo, de 8,4 milhões de habitantes, segundo Alfred Kroeber, a 40 milhões segundo Paul Ri vet. Rosenblatt, abordando por sua vez o problema da população pré-colombiana da América, chega ao número de quase 13,5 milhões, dos quais 6.785.000 para a América do Sul. Ele estima que a margem do erro de seu cálculo não ultrapassa 20%, e que portanto sua pesquisa é rigorosa, científica. Que rigor será esse? O autor explica que “a densidade da população depende […] não só do meio, mas também da estrutura econômica e social. No estudo de todos os povos observou-se, como é natural, um certo paralelismo entre densidade de população e nível cultural”.[2] Essa afirmação é muito vaga para que se possa admiti-la sem dificuldade. Mais contestável nos parece o ponto de vista do autor, quando escreve: “Encontra-se em particular um grande centro de população onde se constitui uma grande formação política sobre formas agrícolas de existência. Isso ocorreu, na América, com as civilizações asteca, maia, chibcha e inca. Com elas, a agricultura pré-colombiana atingiu seu apogeu e juntaram-se densos núcleos de população”.[3] Parece-nos que existe aí uma manobra astuciosa: Rosenblatt não se contenta, com efeito, em articular forte densidade de população e intensiva tecnologia de agricultura, e introduz sub-repticiamente, quando fala de “grande formação política”, a idéia de Estado. Entretanto, se bem que cheia de implicações, essa referência ao Estado como signo e produtor da civilização só de longe atinge o nosso propósito. O essencial vem a seguir: “Mas se as grandes culturas alcançaram a etapa agrícola, se se chegou no Peru a domesticar a lhama e a alpaca, a maior parte do continente vivia da caça, da pesca e da coleta: os povos caçadores necessitam de vastas pradarias […], os povos que se alimentam da caça e da pesca são obrigados a um certo nomadismo intermitente. A floresta nunca abrigou grandes populações, por causa da grande mortalidade, das condições climatológicas difíceis, da luta com os insetos e animais selvagens, da raridade de plantas alimentícias […]. Excetuada a zona agrícola, que se estendia sobre uma estreita faixa ao longo dos Andes […], o continente era, em 1492, uma imensa floresta ou uma estepe.[4] Seria errado supor uma perda de tempo o exame dessa coleção de bobagens, pois toda a “demografia” de Rosenblatt se baseia nisso, e seus trabalhos continuam sendo a referência e a fonte dos americanistas que se interessam pelo problema da população.
A proposição do autor é sumária. Os povos caçadores, por terem necessidade de muito espaço, têm uma população de fraca densidade; ora, a América do Sul estava quase totalmente ocupada por tribos de caçadores; logo a população do continente era muito pequena. Subentenda-se: não se deve, pois, dar crédito algum às estimativas dos cronistas, por exemplo, pois elas mencionam números de população relativamente altos.
Não seria necessário dizer que tudo isso é arquifalso, mas é melhor dizê-lo. Rosenblatt inventa totalmente uma América de caça do resnômades, para fazer com que se admita uma avaliação demo gráfica fraca. (Deve-se, entretanto, assinalar que ele é muito mais gene roso do que Kroeber.) O que era a América do Sul em 1500? Exatamente o contrário do que afirma Rosenblatt. A maior parte do continente era ocupada por sociedades de agricultores sedentários que cultivavam grande variedade de plantas, as quais não serão enumeradas aqui. Pode-se mesmo axiomatizar esse dado fundamental afirmando que a agricultura estava presente em todo lugar onde era ecológica e tecnicamente possível. Ora, essa determinação do espaço cultivável possível engloba o imenso sistema Orinoco-Amazonas-Paraná-Paraguai e inclusive o Chaco; só está excluída dessa área a região dos pampas que se estende da Terra do Fogo ao paralelo 32, aproximadamente, território de caça e de coleta das tribos tehuelche e puelche. É pois somente essa pequena parte do continente que confirma a tese de Rosenblatt. Dir-se-á talvez que, no interior da zona onde a agricultura é possível, algumas populações não a praticam. Observaremos, primeiro, que esses casos são extremamente raros e localizados: Guayaki do Paraguai, Sirionó da Bolívia, Guaíbo da Colômbia. Lembraremos em segui da que praticamente, para cada caso, foi possível estabelecer que não se tratava de verdadeiros arcaicos, mas, pelo contrário, de sociedades que haviam perdido a agricultura. Por outro lado, já mostramos que os Guayaki, puros caçadores-nômades de floresta, renunciaram a cultivar o milho por volta do final do século XVI. Em suma, nada permanece do apoio que pretende assegurar a proposta de Rosenblatt. Decerto, isso não questiona forçosamente o número de 6.785.000 de habitantes dado pelo autor à América do Sul. Simplesmente é, como todas as avaliações anteriores, puramente arbitrário, e se se confirmasse verdadeiro teria sido por acaso. Por outro lado, o motivo que leva Rosenblatt a não considerar as observações dos cronistas se revelou totalmente fantasista, o que nos permite afirmar: já que nenhum argumento válido destrói os dados demográficos dos cronistas – que foram testemunhas oculares – talvez convenha, afastando os preconceitos habituais, levar por uma vez a sério aquilo que nos dizem. É o que tentaremos fazer.
Não se trata de seguir o mesmo modelo clássico e calcular a população indígena do conjunto da América do Sul em 1500, tarefa irrealizável para nós. Mas podemos tentar saber quantos eram, nessa época, os índios Guarani e isso por duas razões. A primeira prende-se à disposição de seu território, bem homogêneo, de limites conhecidos, e portanto mensurável. Não é o caso dos Tupi: estes ocupavam quase todo o litoral brasileiro, mas ignora-se até que profundidade se estendiam suas tribos pelo interior; é impossível, portanto, medir seu território. A segunda razão se reporta aos dados numéricos. Mais abundantes, como veremos, do que se poderia crer, eles são de duas ordens: os que foram recolhidos no século XVI e no começo do XVII; depois, os do fim do século XVII e do começo do XVIII. Estes últimos, for necidos pelos jesuítas, referem-se aos Guarani. Quanto aos primeiros, informam mais sobre os Tupi do que sobre os Guarani. Porém a homogeneidade dessas sociedades é tal, e sob todos os pontos de vista, que as dimensões demográficas dos grupos locais guarani e tupi eram certamente muito semelhantes. Daí se conclui que é possível, se não aplicar mecanicamente os números tupi sobre a realidade guarani, pelo menos considerá-los como ordem verossímil de grandeza, caso os dados faltassem para os Guarani.
Entre índios do Brasil e europeus, os contatos se estabeleceram muito cedo, certamente durante o primeiro decênio do século XVI, por intermédio dos navegadores comerciantes franceses e portugueses, que vinham trocar, por instrumentos metálicos e pacotilha, o pau-brasil ou madeira cor de brasa. As primeiras cartas dos missionários jesuítas portugueses instalados junto aos Tupinambá datam de 1549. A penetração branca pelo interior do continente desenvolveu-se durante a primeira metade do século. Os espanhóis, empenhados na procura do Eldorado inca, subiram o Rio da Prata, depois o Paraguai. A primeira fundação de Buenos Aires deu-se em 1536. Os conquistadores, pressionados pelas tribos, tiveram de abandoná-la quase em seguida, para fundar em 1537 Assunção, depois capital do Paraguai. Era, então, apenas uma base destinada a organizar as expedições de conquista e de exploração dos Andes, dos quais os separava a imensidão do Chaco. Foi com os Guarani, senhores de toda a região, que os espanhóis se aliaram. Esses breves dados históricos explicam por que os Tupi-Guarani foram conhecidos quase tão cedo quanto os Astecas ou os Incas.
Como eram constituídos os grupos locais, ou aldeias, dos Tupi-Guarani? Todos esses fatos são bastante conhecidos, mas é útil lembrar o essencial. Uma aldeia guarani ou tupi compunha-se de quatro a oito grandes-casas coletivas, as malocas, dispostas em torno de uma praça central reservada à vida religiosa e ritual. As dimensões das malocas variam segundo os observadores e, é claro, segundo os grupos visitados. Sua extensão se situa entre 40 m para as menores e 160m para as maiores. Quanto ao número de habitantes de cada maloca, oscila de cem (segundo Cardim, por exemplo) a quinhentos ou seiscentos (Léry). Resulta daí que a população das aldeias tupinambá mais modestas (quatro malocas) devia comportar cerca de quatrocentas pessoas, enquanto as mais importantes (sete ou oito malocas) atingia, se não ultrapassava, 3 mil pessoas. Já Thevet fala de certas aldeias, em que se hospedou, de 6 mil e até de 10 mil habitantes. Admitamos que esses números sejam exagerados. Ainda assim, o tamanho demográfico dos grupos tupi ultrapassa, e de muito, a dimensão habitual das sociedades sul-americanas. A título de comparação, lembraremos que entre os Yanomami da Venezuela, população florestal, e além do mais, intacta, pois ainda protegida do contato com os brancos, os mais numerosos grupos locais agrupam 250 pessoas.
As informações dos cronistas indicam claramente que as aldeias tupi-guarani eram de extensão desigual. Mas podemos aceitar uma média de seiscentas a mil pessoas por grupo, hipótese esta, insistimos em afirmá-lo, deliberadamente baixa. Essa avaliação poderá parecer enorme aos americanistas. Ela é confirmada não só pelos apontamentos impressionistas dos primeiros viajantes – a multidão de crianças que se agitam nas aldeias –, mas sobretudo pelos dados numéricos que fornecem. Estes de referem muitas vezes às atividades militares dos Tupinambá. Unanimemente, com efeito, os cronistas ficaram impressionados, às vezes horrorizados, com o gosto fanático desses índios pela guerra. Franceses e portugueses, em competição armada para assegurar o domínio do litoral brasileiro, souberam explorar essa belicosidade indígena fazendo aliança com tribos inimigas entre si. Staden, por exemplo, ou Anchieta, falam, como testemunhas oculares, de frotas de guerra tupinambá compostas por até duzentas pirogas, cada uma transportando de vinte a trinta homens. As expedições guerreiras podiam envolver apenas algumas centenas de combatentes. Mas outras, que duravam várias semanas e até vários meses, movimentavam até 12 mil guerreiros, sem contar as mulheres, encarregadas da “logística” (transporte da “farinha de guerra” destinada a alimentar a tropa). Léry conta como participou de um combate, sobre as praias do Rio, que durou meio-dia: ele estima em 5 ou 6 mil o número de combatentes de cada facção. Tais concentrações, mesmo fazendo parte do erro inerente à estimativa “de golpe de vista” só eram possíveis mediante a aliança de várias aldeias. Mas a relação entre o número de homens em idade de combater e o número total da população mostra claramente a amplidão demográfica das sociedades tupi-guarani. (Levar-se-á em conta que todas as questões relativas à guerra e ao número de grupos locais implicados nas redes de aliança tocam de muito perto ao mesmo tempo o problema demográfico e o problema político. Não nos podemos demorar aqui. Assinalaremos somente de passagem que, pela duração e pelas “massas” que movimentam, essas expedições militares nada mais têm em comum com aquilo que se chama de guerra nas outras tribos sul-americanas, e que consiste quase sempre em um reide relâmpago efetuado de madrugada por um punhado de assaltantes. Além da diferença na natureza da guerra, esboça-se a diferença na natureza do poder político.)
Todos esses dados referem-se aos Tupi do litoral. Mas o que é feito dos Guarani? Se os conquistadores se mostraram, em relação a estes, avaros em números, sabemos por outro lado que suas aldeias, compostas, como as dos Tupi, de quatro a oito malocas, deixaram aos primeiros exploradores uma impressão de multidão. Alvar Núñes Cabeza de Vaca, partindo do Atlântico em novembro de 1541, chegou a Assunção em março de 1542. A narrativa dessa travessia de todo o território guarani está repleta de observações sobre o número de aldeias visitadas e de habitantes de cada aldeia. Eis, mais convincentes porque mais precisas, as primeiras informações numéricas sobre os Guarani. Quando os espanhóis, sob o comando de Domingo de Irala, chegaram ao local da atual Assunção, entraram em contato com os dois chefes que controlavam a região: estes poderiam dispor de 4 mil guerreiros. Muito pouco tempo depois da conclusão da aliança, esses dois caciques foram capazes de levantar o que se deve chamar de exército – 8 mil homens que ajudaram Irala e seus homens a combater as tribos agaces sublevadas contra os espanhóis. Estes, em 1542, tiveram de lutar contra um grande chefe guarani, Tabaré, que dirigia 8 mil guerreiros. Em 1560, nova revolta dos Guarani, 3 mil dos quais foram exterminados pelos novos senhores. Não se terminaria de transcrever números, todos situados nessa ordem de grandeza. Citemos de qualquer forma ainda alguns, fornecidos pelos jesuítas. Sabe-se que os primeiros “redutos”, fundados no princípio do século XVII por Ruiz Montoya, sofreram imediatamente os assaltos daqueles que se chamavam mamelucos. Esses bandos de assassinos, constituídos de portugueses e mestiços, partiam da região de São Paulo para, em terra guarani, capturar o máximo de índios, que revendiam como escravos aos colonos instalados no litoral. A história do começo das Missões é a história da luta contra os mamelucos. Estes, dizem os arquivos dos jesuítas, teriam em alguns anos matado ou capturado 300 mil índios. Entre 1628 e 1630, os portugueses capturaram 60 mil Guarani nas Missões. Em 1631, Montoya se conformou em evacuar os dois últimos redutos do Guaíra (situados em território português). 12 mil índios se puseram em marcha sob seu comando, em uma violenta anábase: 4 mil sobreviventes atingiram o Paraná. Em uma aldeia, Montoya recenseia 170 famílias, ou seja, no mínimo uma população de 800 a 850 pessoas.
Esses diversos dados, que abrangem perto de um século (de 1537, com os conquistadores, até 1631, com os jesuítas), esses números, mesmo aproximativos, mesmo maciços, determinam com os números tupi uma mesma ordem de grandeza. Anchieta, homólogo de Montoya no Brasil, escreve que em 1560 a Companhia de Jesus já exerce sua tutela sobre 80 mil índios. Essa homogeneidade demográfica dos Tupi-Guarani leva a duas conclusões provisórias. A primeira é que, para essas populações, devemos aceitar as hipóteses fortes (entendemos fortes em relação às taxas habituais das outras sociedades indígenas). A segunda é que, se fosse necessário, poder-se-ia de pleno direito recorrer aos números tupi para tratar a realidade guarani, sob condição em seguida – e é o que tentaremos fazer – de demonstrar a validade do nosso método.
Seja, pois, da população guarani que desejamos calcular a importância. Trata-se inicialmente de estabelecer a superfície do território ocupado por esses índios. Ao contrário da área tupi, impossível de medir, a tarefa é aqui relativamente fácil, mesmo se não permite a obtenção de dados de uma precisão cadastral. A região guarani era na maior parte limitada a oeste pelo rio Paraguai, ao menos pela parte de seu curso situada entre o paralelo 22, a montante, e o paralelo 28, a jusante. A fronteira meridional encontrava-se um pouco ao sul da confluência do Paraguai e do Paraná. As margens do Atlântico constituíam o limite oriental, mais ou menos do porto brasileiro de Para naguá ao norte (paralelo 26) até a fronteira do Uruguai atual, outrora pátria dos índios Charrua (paralelo 33). Temos assim duas linhas paralelas (o curso do Paraguai, o litoral marinho), das quais basta ligar as extremidades para conhecer os limites setentrional e meridional do território guarani. Esses limites correspondem quase exatamente à área de expansão dos Guarani. Esse quadrilátero de aproximadamente 500 mil km2 não era integralmente ocupado pelos Guarani, uma vez que outras tribos residiam nessa região, principalmente os Kaingang. Pode-se avaliar em 350 mil km2 a superfície do território guarani.
Isso posto, e conhecendo a densidade média dos grupos locais, será que se pode chegar a determinar a população total? Seria preciso poder estabelecer o número dos grupos locais compreendidos no conjunto territorial. É óbvio que a esse nível nossos cálculos se baseiam em médias, em “grandes” números, e que os resultados a que nos permitirão atingir são de ordem hipotética, o que não significa arbitrária. Só conhecemos a existência – para esse período – de um recenseamento de população para um território dado. É o efetuado, no começo do século XVII, pelo Padre Claude d’Abbeville, na ilha do Maranhão, por ocasião da última tentativa francesa de instalação no Brasil. Sobre esse espaço de 1.200 km2, 12 mil Tupi se repartiam em 27 grupos locais, o que dá uma média de 450 pessoas por aldeia, cada uma ocupando em média um espaço de 45 km2. A densidade demográfica na ilha do Maranhão era assim exatamente de 10 habitantes por km2. Mas não é possível reportar essa densidade so bre o espaço guarani (o que daria 3,5 milhões de índios). Não que tal número nos assuste, mas a situação na ilha do Maranhão não é generalizável. Era com efeito uma zona de refúgio para os Tupinambá que queriam escapar aos portugueses. Logo a ilha ficou super povoada. É, sem dúvida, o que explica, paradoxalmente, o tamanho quase pequeno dos grupos: havia aldeias demais. Nas zonas costeiras imediatamente vizinhas da ilha, os missionários franceses haviam recenseado quinze a vinte grupos em Tapuitapera, quinze a vinte grupos em Cumã e vinte a 24 grupos entre os Caetés. Tinha-se aí um total de cinqüenta a 64 grupos, o qual devia reunir entre 30 mil e 40 mil indivíduos. E, dizem os cronistas, todas essas aldeias distribuídas em um espaço bem mais vasto que o da ilha, era cada uma mais povoada do que as da ilha. Em resumo, a ilha do Maranhão com sua densidade demográfica é um caso um pouco aberrante, inutilizável.
Felizmente encontramos nos cronistas informações que nos fazem progredir; e, particularmente, uma indicação muito preciosa de Staden. Este, durante os nove meses em que esteve prisioneiro dos Tupinambá, levado de grupo em grupo, teve todo o tempo de observar a vida de seus senhores. Ele anota que as aldeias distavam, em geral, de 9 a 12 km umas das outras, o que daria cerca de 150 km2 de espaço por grupo local. Guardemos este número e suponhamos que o mesmo acontecia junto aos Guarani. É possível, a partir daí, conhecer o número – hipotético e estatístico – de grupos locais. Ele seria de 350 mil dividido por 150: 2.340, aproximadamente. Aceitemos como verossímil o número de seiscentas pessoas em média por unidade. Teremos então: 2.340 x 600 = 1.404.000 habitantes. Logo, cerca de um milhão e meio de índios Guarani antes da chegada dos brancos. Isso implica uma densidade de 4 habitantes por km2. (Na ilha do Maranhão ela era de 10 habitantes por km2.)
Esse número parecerá enorme, inverossímil, inaceitável para alguns, se não para muitos. Ora não somente inexiste razão (salvo ideológica) para recusá-la, como acreditamos ser até modesta a nossa estimativa. Chegou agora o momento de evocar as pesquisas do que se chama a Escola de Berkeley, grupo de historiadores demógrafos cujos trabalhos revolucionaram totalmente as certezas clássicas quanto à América e sua população. É a Pierre Chaunu[5] que cabe o mérito de haver, em 1960, chamado a atenção dos pesquisadores sobre a extrema importância das descobertas da Escola de Berkeley, e remetemos aos dois textos onde esse autor expõe com vigor e clareza o método e os resultados dos pesquisadores americanos. Diremos simplesmente que seus estudos demográficos, conduzidos com irrepreensível rigor, levam a admitir números de população e tabelas de densidade até o presente insuspeitadas, quase inacreditáveis. Assim é que para a região mexicana do Anauaque (514 mil km2), Borah e Cook determinam, em 1519, uma população de 25 milhões, isto é, como escreve Chaunu, “uma densidade comparável à França de 1789, de 50 habitantes por km2”. Isso significa que a demografia de Berkeley, não hipotética, mas demonstrada, encaminha-se, à medida que avança, no sentido dos números mais altos. Os trabalhos recentes de Nathan Wachtel, relativos aos Andes, estabelecem lá também índices de população muito maiores do que se acreditava: dez milhões de índios no império inca em 1530. É necessário, pois, constatar que as pesquisas realizadas no México ou nos Andes obrigam a aceitar as hipóteses fortes no que se refere à população indígena da América. É por isso que nossa cifra de um milhão e meio de índios Guarani, absurda aos olhos da demografia clássica (Rosenblatt e outros), torna-se muito razoável quando recolocada na perspectiva demográfica traçada pela Escola de Berkeley.
Se temos razão, se efetivamente um milhão e meio de Guarani habitavam um território de 350 mil km2, então é preciso transformar radicalmente nossas concepções sobre a vida econômica das populações florestais (sandice do conceito de economia de subsistência), recusar as tolas crenças sobre a pretensa incapacidade desse gênero de agricultura sustentar uma população importante e, é claro, repensar totalmente a questão do poder político. Observaremos que nada impedia os Guarani de serem numerosos. Consideremos com efeito a quantidade de espaço cultivado necessária. Sabemos que é preciso aproximadamente meio hectare para uma família de quatro a cinco pessoas. Esse número está perfeitamente estabelecido pelas medidas muito precisas de Jacques Lizot[6] entre os Yanomami: ele descobriu entre estes (pelo menos para os grupos onde efetuou as medidas) uma média de 1.070 m2 cultivados por pessoa. Logo, se é preciso meio hectare para cinco pessoas, serão necessários 150 mil hectares de plantações para um milhão e meio de pessoas, isto é, 1.500 km2. O que significa dizer que a superfície total das terras simultaneamente cultivadas para prover as necessidades de um milhão e meio de índios não ocupa senão a 220a parte do território total. (Na ilha do Maranhão, caso especial como vimos, as áreas de cultivo não ocupam senão a 90a parte da superfície da ilha. E, segundo Yves d’Evreux ou Claude d’Abbeville, não parece que os 12 mil habitantes da ilha estivessem particularmente ameaçados de escassez.) Conseqüentemente, nossa cifra de um milhão e meio de Guarani, certamente hipotética, nada tem de inverossímil. São, pelo contrário, as avaliações de Rosenblatt que nos parecem absurdas, já que ele aceita 280 mil índios no Paraguai em 1492. Sobre que bases se situam esses cálculos, não se sabe. Quanto a Steward, ele descobre, para os Guarani, uma densidade de 28 habitantes por 100 km2, o que deveria levar a um total de 98 mil índios. Por que então ele conclui que havia 200 mil em 1500? Mistério e incoerência da demografia ameríndia “clássica”.
Não nos escapa de forma alguma que nossa cifra permanece hipotética (embora se possa considerar um sucesso a possibilidade de haver estabelecido uma ordem de grandeza que nada mais tem que ver com os cálculos anteriores). Ora, dispomos de um meio para controlar a validade desses cálculos. A utilização do método regressivo, brilhantemente ilustrado pela Escola de Berkeley, servirá de contraprova ao método que relacionava as superfícies e as densidades.
Podemos com efeito proceder de forma diferente: a partir da taxa de despovoamento. Temos a sorte de dispor de duas estimativas efetuadas pelos jesuítas. Elas se referem à população índia reunida nas Missões, isto é, na realidade, à quase totalidade dos Guarani. Deve-se a primeira ao Padre Sepp. Ele escreveu que em 1690 havia ao todo trinta redutos, nenhum dos quais de menos de 6 mil índios, alguns ultrapassando 8 mil habitantes. Havia pois, no fim do século XVII, cerca de 200 mil Guarani (sem contar as tribos livres). Trata-se, com a segunda estimativa, de um verdadeiro recenseamento aproximado de todos os habitantes das Missões. É o Padre Lozano, historiador da Companhia de Jesus, que anuncia os seus resultados em sua insubstituível Historia de la Conquista del Paraguay [c. 1750]. A população guarani era de 130 mil pessoas em 1730. Reflitamos sobre esses dados.
Conforme testemunha o desaparecimento, em menos de meio século, de mais de um terço da população, as Missões jesuítas não colocaram de nenhuma forma ao abrigo da despopulação os índios que ali residiam. Ao contrário, a concentração de populações onde se atingia a dimensão de pequenas cidades devia oferecer um campo propício à propagação de epidemias. As cartas dos jesuítas são pontilhadas de constatações apavoradas sobre os estragos periódicos da varíola ou da gripe. O Padre Sepp, por exemplo, escreve que em 1687 uma epidemia matou 2 mil índios em uma só Missão, e que em 1695 uma epidemia de varíola dizimou todos os redutos. É evidente que o processo de despopulação não começou no final do século XVII, mas desde a chegada dos brancos, em meados do XVI. O Padre Lozano o constata: na época em que redige sua Historia, a população indígena tinha baixado muito em relação à de antes da Conquista. Ele escreve, dessa forma, que no fim do século XVI havia, somente na região de Assunção, 24 mil índios de encomienda. Em 1730, não há mais que 2 mil. Todas as tribos que habitavam essa parte do Paraguai não-submetida à autoridade dos jesuítas desapareceram completamente por causa da escravidão da encomienda e das epidemias. E, com amargura, Lozano escreve: “A província do Paraguai era a mais povoada das Índias, e hoje está quase deserta, nelas só se encontrando os índios das Missões”.
Os pesquisadores de Berkeley traçaram para a região do Anahuaque a curva da despopulação. Ela é aterradora, já que dos 25 milhões de índios em 1500, não há mais do que um milhão em 1605. Wachtel[7] dá, para o império inca, cifras um pouco menos acabrunhantes: 10 milhões de índios em 1500, um milhão em 1600. Por diversas razões, a queda demográfica foi menos brutal do que no México, pois a população é reduzida somente, se assim se pode dizer, de nove décimos, enquanto no México ela é de 96/100. Tanto nos Andes quanto no México assiste-se, desde o fim do século XVII, a uma lenta recuperação demográfica dos índios. Isso não ocorre com os Guarani, pois entre 1690 a 1730 a população passa de 200 mil a 130 mil.
Pode-se estimar que nessa época os Guarani livres, isto é, os que escaparam tanto da encomienda quanto das Missões, não eram mais de 20 mil. Somados aos 130 mil Guarani das Missões, chega-se pois a um total de 150 mil por volta de 1730. Acreditamos por outro lado que devemos aceitar um índice de despopulação relativamente fraco, se comparado ao caso mexicano, de nove décimos em dois séculos (1530-1730). Em conseqüência, os 150 mil índios de 1730 eram dez vezes mais numerosos dois séculos antes: eles eram um milhão e meio. Consi de ramos o índice de queda de nove décimos como moderado, mesmo sendo catastrófico. Aí parece, talvez, uma função relativamente “protetora” das Missões, pois os índios de encomienda desaparecem em ritmo mais rápido: 24 mil no fim do século XVI, 2 mil em 1730.
A cifra de um milhão e meio de Guarani em 1539, obtida dessa maneira não é mais hipotética, como na forma de cálculo anterior. Nós a consideramos mesmo como mínima. Em todo o caso, a convergência dos resultados obtidos pelo método regressivo e pelo método das densidades médias reforça nossa convicção de que não nos enganamos. Estamos longe dos 250 mil Guarani em 1570, segundo Rosenblatt, que só aceita assim, para um período de quase um século (1570-1650), um índice de despopulação de 20% (250 mil índios em 1570, 200 mil em 1650). Esse índice é colocado arbitrariamente, e está em completa contradição com os índices recolhidos alhures em toda a América. Com Steward, a coisa se torna ainda mais absurda: se havia 100 mil Guarani (de acordo com sua densidade de 28 habitantes por km2) em 1530, então, caso único, a sua população não teria cessado de aumentar durante os séculos XVI e XVII! Tudo isso não é sério.
É necessário pois, para refletir sobre os Guarani, aceitar esses dados fundamentais: eles eram, antes da Conquista, um milhão e meio repartidos por 350 mil km2, ou seja, uma densidade de pouco mais de 4 habitantes por km2. Esse fato é rico em conseqüências:
1] No que concerne à “demografia” dedutível das estimativas maciças dos cronistas, é preciso constatar que eles tinham razão. Suas avaliações, todas coerentes entre si porque definem uma mesma ordem de grandeza, o são também com os resultados obtidos pelo cálculo. Isso desqualifica a demografia tradicional, demonstrando sua total falta de rigor científico e nos leva a perguntar por que Rosenblatt, ou Kroeber, ou Steward escolheram, sistematicamente – contra a evidência –, as hipóteses mais fracas possíveis quanto ao número da população indígena.
2] No que concerne à questão do poder político, nós a desenvolveremos mais adiante. Ficaremos satisfeitos no momento em assinalar que entre o guia de um bando de caçadores nômades guayaki de 25 ou trinta pessoas ou o chefe de um partido de uma centena de guerreiros no Chaco, e os grandes mburuvicha, os líderes tupi-guarani que levavam ao combate exércitos de vários milhares de homens, há uma diferença radical, uma diferença de natureza.
3] Mas o ponto essencial refere-se à questão geral da demografia indígena antes da chegada dos brancos. As pesquisas da Escola de Berkeley para o México, as de Wachtel para os Andes, convergentes em seus resultados (hipóteses fortes), têm além do mais em comum o fato de que se referem ao que se chama de Altas Culturas. Ora, nossa modesta reflexão sobre os Guarani, isto é, sobre uma população florestal, caminha, por seus resultados, exatamente no mesmo sentido que os trabalhos precitados: para as populações da Floresta também é preciso ir às hipóteses fortes. Só podemos, pois, afirmar aqui nossa total concordância com Pierre Chaunu: “Os resultados de Borah e Cook levam a uma revisão completa de nossa representação da história americana. Não são mais os 40 milhões de homens julgados excessivos do Dr. Rivet que é preciso supor na América pré-colombiana, mas 80, talvez 100 milhões de almas. A catástrofe da Conquista […] foi tão grande quanto o denunciou Las Casas”. Conclusão que estarrece: “Foi a quarta parte da humanidade, grosso modo, que terá sido aniquilada pelos choques microbianos do século XVI”.[8]
Nossa análise de um caso florestal muito localizado deve ser aceita apenas como uma confirmação das hipóteses de Berkeley. Ela força a admitir a hipótese demográfica forte para toda a América, e não somente para as Altas Culturas. E nos sentiremos realizados se este trabalho sobre os Guarani levar à convicção de que é preciso “empreender essa grande revisão, à qual, há quinze anos, a Escola de Berkeley nos convida de maneira premente”.[9]
* Publicado inicialmente em L’Homme, XIII, n. 1-2, 1973.
1. Quanto aos dados referentes aos séculos X VI, XVII e XVIII, todas as fontes se encontram nos cronistas franceses, portugueses, espanhóis, alemães etc., bem como nos textos e cartas dos primeiros jesuítas que estiveram na América do Sul. Tais fontes são muito conhecidas e seria supérfluo precisar cada uma delas. Além disso, consultamos o Handbook of South American Indians, op. cit., t. V.
2. Angel Rosenblatt, La población indígena y el mestizaje en América (Buenos Aires: 1954), v. I, p. 103.
3. Id., ibid.
4. Id., ibid., pp. 104-05; grifo nosso.
5. Pierre Chaunu, “Une Histoire hispano-américaine pilote. En marge de l’oeuvre de l’Ecole de Berkeley”. Revue Historique, t. IV, 1960, pp. 339-68. E: “La Population de l’Amérique indienne. Nouvelles recherches”. Revue Historique, 1963, t. I, p. 118.
6. Comunicação pessoal.
7. Nathan Wachtel, La Vision des vaincus (Paris: Gallimard, 1971).
8. Pierre Chaunu, op. cit., p. 117.
9. Id., ibid., p. 118.