I. Mas por que tanto ódio?

 

Num panfleto apinhado de erros e atravessado por rumores,1 Michel Onfray, que ignora tudo acerca dos trabalhos produzidos nos últimos quarenta anos pelos historiadores de Freud e da psicanálise, apresenta-se como um psicobiógrafo de Freud, o único capaz de decodificar certas lendas douradas, não obstante invalidadas há décadas. Dedicando-se a discernir pretensas verdades que teriam sido dissimuladas pela sociedade ocidental – dominada, por sua vez, pela ditadura freudiana e suas “milícias” –, ele vê os judeus como forjadores de um monoteísmo mortífero e precursores dos regimes totalitários, e pinta Freud como um tirano doméstico que subjuga todas as mulheres de sua casa a seus caprichos, além de molestar sexualmente a cunhada. Homofóbico, falocrata, falsário, ávido por dinheiro, não hesitaria em cobrar o equivalente a 450 euros por uma sessão de análise.2 Cifra infundada declarada durante um programa de televisão e repetida por diversos órgãos da imprensa.

Ele descreve o cientista vienense como um admirador de Mussolini, cúmplice do regime hitlerista (por sua teoria da pulsão de morte), e faz da psicanálise uma ciência baseada na equivalência do carrasco e da vítima. Embora declarando-se freudo-marxista – no entanto, pretende-se antifreudiano e adepto de Proudhon, logo, nem marxista nem freudiano –, reabilita o discurso da extrema-direita francesa, com o qual (sem saber) alimenta uma certa comunidade de pensamento. Essas posições extrapolam o campo do necessário debate intelectual sobre a questão de Freud e do status da psicanálise. Pois, de tanto inventar fatos que não existem e forjar revelações que não o são, o autor desse ataque instiga a proliferação dos rumores mais extravagantes: como exemplo, órgãos de imprensa noticiaram, antes mesmo da publicação do livro, que Freud passara um tempo em Berlim durante o entreguerras, que fora médico de Hitler e de Göring, amigo pessoal de Mussolini e um inveterado mulherengo. Com a ajuda dos boatos, daqui a pouco descobriremos que ele espancava a governanta, sodomizava os animais domésticos ou assava criancinhas no forno.3

Quando sabemos que 8 milhões de pessoas na França são tratadas por terapias que derivam da psicanálise, vemos claramente que tal procedimento assemelha-se a uma vontade de prejudicar. No fim, ele não fará mais do que provocar a indignação de todos aqueles que – psiquiatras, psicanalistas, psicólogos, psicoterapeutas – levam uma ajuda indispensável aos que são afetados tanto pela miséria econômica – as crianças abandonadas, os loucos, os imigrantes, os pobres – quanto por esse sofrimento psíquico trazido à luz por todos os coletivos de especialistas.

1. Descrição do livro

O livro de Michel Onfray, composto de cinco partes, é destituído de fontes e de notas bibliográficas. A nota bibliográfica final não remete a nenhum capítulo do livro e o índice é imprestável: nada de nomes ou conceitos, e sim rubricas que permitem distinguir os autores “bons” dos “maus” de acordo com os títulos de seus trabalhos; as datas de publicação são frequentemente inventadas, quando não simplesmente omitidas.

Quanto ao autor, projeta sobre o objeto odiado suas próprias obsessões – os judeus, o sexo perverso, os complôs –, a ponto de fazer de Freud um duplo invertido de si mesmo, e da psicanálise, a expressão de uma autobiografia de seu fundador, transformado em impostor. Diante desse alter ego lançado no inferno, o autor vê a si próprio como um libertador vindo livrar o povo francês de sua crença em um ídolo cujo crepúsculo ele anuncia. Ele sugere que atualmente estão disponíveis apenas as biografias de Ernest Jones e Peter Gay, a primeira publicada entre 1953 e 1957, e a segunda em 1988. Não cita nem os trabalhos dos historiadores de Viena (Carl Schorske, William Johnston, Jacques Le Rider etc.), nem os dedicados à questão da judeidade de Freud (Yousef Yerushalmi, Yirmiyahu Yovel, Jacques Derrida, Peter Gay etc.), nem qualquer um dos ensaios acerca dos diferentes aspectos da vida de Freud. Entretanto, somos hoje cabalmente informados, dia a dia, de cada acontecimento de sua vida cotidiana, assim como da de seus companheiros, discípulos e dissidentes. Onfray tampouco conhece alguma coisa da vida de Josef Breuer, Wilhelm Fliess, Sándor Ferenczi, Otto Rank, Ernest Jones, Alfred Adler, Carl Gustav Jung, Melanie Klein, Marie Bonaparte, Lou Andreas-Salomé, Anna Freud (a respeito de quem cita uma biografia errada que ninguém mais lê). Nenhuma palavra sobre a tão discutida questão da sexualidade feminina (de Helene Deutsch a Karen Horney, passando por Simone de Beauvoir, Juliet Mitchell, Judith Butler), nem sobre a história da fundação da International Psychoanalytical Association (IPA), nem sobre a revisão dos grandes casos (a respeito dos quais comete vários equívocos). Não afirma ele que Freud teria inventado dezoito casos? Perguntamo-nos quais…

Quanto à obra de Freud, traduzida em sessenta línguas, Onfray afirma ter convivido intensamente com ela durante cinco meses – entre junho e dezembro de 2009 – na tradução da PUF, a mais criticada atualmente pelos especialistas. Não faz nenhuma referência ao grande debate sobre as traduções e não consultou nenhum arquivo: nem na Biblioteca do Congresso de Washington, nem no Freud Museum de Londres. Ignora o mundo anglófono, germanófono e latino-americano, e é nulo em história da psicanálise na França.

Tudo bem, Onfray cita a obra de Henri F. Ellenberger, História da descoberta do inconsciente, publicada em 1970 (em inglês), traduzida pela primeira vez em francês em 1974, depois reeditada em 1994 sob meus auspícios.4 Diz tratar-se da primeira grande revisão da história oficial de Freud, o que é inexato, uma vez que a obra de Ola Andersson é anterior à de Ellenberger.5 Além disso, ao datar a publicação do livro de Ellenberger como sendo de 1991, faz a historiografia científica estrear com vinte anos de atraso, destacando ainda que ela continua a ser ocultada nos dias de hoje, justamente quando se encontra em plena expansão e quando os arquivos da Biblioteca do Congresso, após as grandes batalhas dos anos 1990, estão em vias de sair da lista de documentos censurados, segundo as regras em vigor – com enorme lentidão, bem entendido. Onfray engana-se igualmente quanto à data de publicação do livro de Frank J. Sulloway, Freud, biólogo da mente, publicado em inglês em 1979 e editado duas vezes em francês (1981 e 1998).6 Ainda assim, ele parece convencido de que não existe nenhum trabalho não hagiográfico sobre Freud até então, o que lhe permite apresentar-se como o primeiro autor a resgatar lendas douradas há trinta anos invalidadas pelos historiadores. A propósito, Onfray não faz nenhuma distinção entre história sacra, história oficial, pensamento irracional, historiografia fundada em lendas obscuras e rumores (corrente chamada “revisionista” ou, em inglês, “destruidora de Freud”) e história científica. Seu método reflete um maniqueísmo radical: de um lado, os “bons” (antifreudianos); de outro, os “maus” (adeptos de uma impostura).

Ignorando os trabalhos norte-americanos e só conhecendo Freud por tê-lo lido em francês, Onfray engana-se igualmente a respeito da data de publicação da correspondência não expurgada de Freud com o médico berlinense Wilhelm Fliess, no entanto essencial para desvendar as modalidades da invenção da psicanálise e as hesitações e errâncias do primeiro Freud. Essa correspondência acha-se disponível em inglês, alemão, português e espanhol desde 1986. Foi traduzida pela primeira vez para o francês em 2006, ou seja, vinte anos depois, o que autoriza Onfray a afirmar que ela ficou oculta até hoje.7

Não sendo formado em nenhuma tradição de pesquisa histórica, sem qualquer noção do que seja a internacionalização da pesquisa em história, Onfray despreza a realidade do trabalho historiográfico realizado há décadas nesse domínio, baseando-se no que julga o nec plus ultra da pesquisa sobre essas questões: O livro negro da psicanálise, que reúne cerca de quarenta artigos.8 Se nele Freud é tratado como aproveitador e mentiroso, ávido por dinheiro e incestuoso pelos defensores da corrente historiográfica revisionista norte-americana, os psicanalistas – principalmente franceses – são acusados de complôs e contaminações diversas, uns porque teriam sido desfavoráveis à venda de seringas aos doentes de Aids (rumor inteiramente forjado), outros porque, adeptos de Françoise Dolto, falecida em 1988, teriam defendido após 2000 um abrandamento da autoridade na escola ao idealizarem a “criança rei”. Quanto a Jacques Lacan, é comparado, nesse livro, a um guru de seita, enquanto o conjunto das associações psicanalíticas é insultado por haver produzido um verdadeiro gúlag freudiano: pelo menos 10 mil mortos na França. Nenhuma fonte, naturalmente, vem fundamentar essa afirmação irresponsável.

Ao contrário de seus novos amigos, que conseguiram, como ele próprio admite (Le crépuscule, p.585), convertê-lo à verdade verdadeira – a da conspiração dos freudianos contra a sociedade ocidental –, Onfray ataca apenas Freud, sugerindo que mais tarde, num outro volume, se ocupará dos freudo-marxistas, como se ninguém antes houvesse se interessado por eles. Consequentemente anunciou, durante um programa transmitido na France Culture (em 22 de abril de 2010), que criaria uma escola de psicoterapia freudo-marxista destinada a cuidar gratuitamente dos pobres.9 Será ele seu mestre e principal terapeuta? Graças a que formação?

2. Retrato do autor por ele mesmo como deus solar hedonista

Antes de analisar o conteúdo do panfleto, convém fornecer algumas indicações que permitam compreender como Onfray chegou a se “converter” ao antifreudismo mais radical.

Fundador de uma universidade popular em Caen, titular de um doutorado de terceiro ciclo (antigo regime),10 Onfray é conhecido por ter cooptado à sua volta um vasto público que adere às suas afirmações como se fosse uma iniciativa de renovação do discurso filosófico.

Convencido de que a universidade francesa e a escola republicana são antros de perdição nos quais os professores desferem verdades oficiais para crianças submissas, Onfray empreendeu uma revisão da história dos saberes ditos “oficiais”. Pretende-se libertário, de extrema-esquerda, adepto de Proudhon contra Marx, antifreudiano, antimarxista (e não freudo-marxista), proclamando-se o defensor do povo explorado pelo capitalismo. Por exemplo, foi durante um tempo simpatizante do Novo Partido Anticapitalista (NPA),11 antes de pedir votos para a Frente de Esquerda nas últimas eleições regionais.

De uns anos para cá, planejou popularizar uma “contra-história da filosofia” que pretende pôr fim aos recalcamentos sobre os saberes, que teriam sido censurados pelos professores, pelo papa, pelos padres. Assim, adotou uma metodologia baseada no princípio da prefiguração: tudo já está em tudo antes mesmo da ocorrência do acontecimento.

Em virtude dessa metodologia, que angaria um autêntico sucesso junto ao público fascinado pelo que percebe como uma conclamação à insurreição das consciências, Onfray pôde afirmar que Immanuel Kant, filósofo alemão do Iluminismo, não passava de um precursor de Adolf Eichmann – idealizador da “Solução Final” que se pretendia kantiano –, que os três monoteísmos (judaísmo, cristianismo, islamismo) são empreendimentos assassinos, que o apóstolo João é ancestral de Hitler, que Jesus prefigura Hiroshima e, por fim, que o mundo muçulmano é fascista.12

Na origem desse caso tenebroso, os judeus, fundadores do primeiro monoteísmo – isto é, de uma religião sanguinária cujo eixo é a pulsão de morte –, seriam então, segundo Onfray, responsáveis por todos os infortúnios do Ocidente, os verdadeiros “criadores da guerra santa”:

Pois o monoteísmo privilegia a pulsão de morte, afaga a morte, goza com a morte, é fascinado pela morte, é fascinado por ela .… Da espada sanguinária dos judeus exterminando os cananeus ao uso de aviões comerciais como bombas voadoras em Nova York, passando pelo lançamento de descargas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, tudo se faz em nome de Deus, abençoado por ele, mas sobretudo abençoado por todos os que o reivindicam. (Traité d’athéologie, p.201, 212, 228 etc.)

A essa humanidade monoteísta (judaica, cristã, muçulmana) fadada ao ódio e à destruição, Onfray opõe uma humanidade ateológica, preocupada com o advento de um mundo higienista, paradisíaco, hedonista; a que seria orquestrada por um deus solar e pagão integralmente investido pela pulsão de vida e do qual ele, Onfray, seria o representante, tendo como missão inculcar aos seus discípulos a melhor maneira de gozar com seus corpos e com o corpo de seus vizinhos: pela masturbação. Embora pareça ignorar as obras de referência sobre a questão, e em particular o livro de Thomas Laqueur,13 Onfray mostra-se bem determinado a transformar o pênis em objeto de um culto fálico e vulcânico herdado dos antigos deuses da Grécia, os quais, como pré-socráticos, seriam os precursores de Nietzsche. Não obstante, o fato de Nietzsche ter efetuado um grande retorno aos pré-socráticos não os torna um precursor daquele.

Ao longo de um ensino intensamente midiatizado, Onfray conseguiu convencer um vasto público de que os representantes desse deus pagão, ao celebrarem as virtudes do raio, dos cometas e das tempestades, nunca entraram em guerra contra quem quer que seja, sendo admiráveis pacifistas. Nessa Grécia virtuosa dos bosques da Baixa Normandia, forjada por Onfray, Homero não existe, nem a guerra de Troia, nem Ulisses, nem Aquiles, nem Zeus, nem Urano, nem os titãs, nem a tragédia…

Onfray conta que, na infância, foi vítima de malvados padres “salesianos”, entre os quais alguns seriam pedófilos (Le crépuscule, p.15), que o transformaram naquele que ele se tornou. Rebelde alarmista, obcecado pelo complô edipiano que se teria abatido sobre ele, afirma que seu pai, “infeliz empregado de leiteria”, teria sido uma vítima permanente em um drama cujo pano de fundo seria o “mercado da subprefeitura de Argentan” (p.15). Sua própria mãe teria sido abandonada num engradado quando nasceu e, em virtude disso, desenvolveu um ódio pelo filho, explica ele, a ponto de espancá-lo e vaticinar que ele terminaria a vida no cadafalso: “Sem jamais ter matado pai (e sobretudo) mãe, nem sonhado com uma carreira de salteador de estrada, menos ainda considerado a arte de degolador, eu me via mal sob a lâmina da guilhotina. Minha mãe não!”14

Para vingar-se do ódio que o habita e do qual não para de falar, ele então decidiu atacar aquele que considera o responsável por todos os complôs contra o pai: Sigmund Freud, acerca do qual sabemos que foi adorado pela mãe. Onfray admirara-o antigamente a ponto de ler alguns de seus livros na infância, e se masturbando, como ele mesmo conta,15 e depois incluir sua gloriosa história na da ateologia (Traité d’athéologie, p.265). Mas eis que, depois de sua conversão quase mística ao antifreudismo radical, Onfray empenhou-se em denunciar o conspiracionismo freudiano, que consiste, segundo ele, em promover o ódio aos pais e a adoração às mães para melhor seduzi-las sexualmente: tal é, a seus olhos, a essência da psicanálise, puro e simples relato autobiográfico desse fundador depravado cujo “assassinato [ele] não premeditara”.16

Tenta, por conseguinte, contra Freud, herdeiro da cultura judaico-cristã, reabilitar a figura maltratada do pai: um pai solar, flamejante e fálico. Mas ele só ama os pais com a condição de que… jamais sejam pais. Fervoroso adepto do celibato, Onfray não cessa, assim, de afirmar sua recusa da paternidade:

As estéreis voluntárias gostam tanto de crianças, até mais, quanto de reproduções prolíficas .… Quem acha o real suficientemente desejável para iniciar seu filho ou sua filha na inexorabilidade da morte, na falsidade das relações entre os homens, no interesse que guia o mundo, na obrigação do trabalho assalariado? … Seria preciso denominar amor essa arte de transmitir semelhantes vilanias à carne de sua carne?17

3. Freud, perverso sexual; psicanálise, ciência fascista

Para melhor inscrever seu panfleto na lógica de sua contra-história dos saberes oficiais, Onfray apresenta Freud como um perverso que infligiu maus-tratos ao pai, julgado pedófilo, molestou psiquicamente as três filhas (Mathilde, Sophia e Anna) e cometeu adultério com a cunhada durante quarenta anos, de 1898 até sua morte.18 O apartamento de Viena não teria sido, a lê-lo, senão um autêntico lupanar, e Freud um abominável Édipo que só tinha na cabeça fornicar realmente com a mãe (mesmo numa idade avançada) e depois matar realmente o pai (mesmo depois da morte deste, ocorrida em 1896), a fim de engendrar filhos incestuosos para melhor tiranizá-los.

Sendo assim, durante dez anos Freud teria torturado a filha Anna ao longo de toda uma análise em forma de processo inquisitorial, que se teria desenrolado de 1918 a 1929 e durante a qual, diariamente, no sigilo do consultório, a teria incitado a se tornar homossexual (Le crépuscule, p.243-6). Ora, embora seja exato que Freud analisou a filha, o tratamento durou apenas quatro anos, e não dez. E quando Anna começou a tomar consciência de sua atração por mulheres, Freud antes incitou-a a se orientar para o trabalho intelectual. Mais tarde, quando ela resolveu morar com Dorothy Burlingham e “adotar” os filhos desta, ele daria provas de tolerância. Freud não era nem homofóbico nem misógino, ainda que sua concepção da sexualidade feminina seja discutível – e foi discutida mais de uma vez.

Que se danem os argumentos das feministas e outros pesquisadores: Onfray afirma que o grande molestador vienense não passava de um charlatão “ontologicamente homofóbico”. A “homofobia ontológica”, segundo Onfray, seria muito diferente da homofobia política (Le crépuscule, p.513-5). A primeira consistiria em fazer da homossexualidade uma perversão; a segunda visaria “criminalizar” a homossexualidade. Essa distinção é ainda mais ridícula na medida em que visa introduzir Freud na categoria dos perversos. Ora, a verdade sobre esse caso é completamente diferente. Freud, ao contrário de um bom número de seus discípulos, não considerava a homossexualidade uma perversão, sendo favorável, politicamente, à emancipação dos homossexuais.

Mais uma vez, portanto, a tese de Onfray não tem nenhum fundamento. Ao considerar Freud um ditador falocrata que almeja possuir todas as mulheres – mãe, irmãs, cunhada, filhas, esposa –, ele também fala de si mesmo. Afinal, não enunciou por diversas vezes, além de sua opção pelo celibato e pela não paternidade, sua inclinação filosófica pela poligamia solar, erótica, hedonista, vulcânica, pagã e antijudaico-cristã? Nada a criticar quanto a isso senão que, em se tratando de Freud, ele se transforma em inquisidor daquilo que, por outro lado, se diz adepto.

Cedendo a um velho boato inventado por Carl Gustav Jung (e atualizado pelos “revisionistas” da escola norte-americana e pelos puritanos), segundo o qual Freud teria tido em 1898 um caso com Minna Bernays, irmã de Martha, sua mulher, por ocasião de uma viagem a Engadina,19 Onfray chega a imaginar que ele teria mantido relações sexuais com ela ao longo de toda a vida, no quarto contíguo ao seu e sob o olhar cúmplice da mulher – que teria muitas vezes assistido aos embates dos amantes. Pior ainda, Freud teria engravidado Minna e depois a teria obrigado a abortar. Manifestamente, Onfray, indiferente ao mesmo tempo às leis da cronologia e às da procriação, situa esse episódio em 1923. Ora, nessa data Minna tinha 58 anos e Freud 67. Mesmo Peter Swales, disseminador desse boato, não situou o episódio nessa data, mas vinte anos antes.20

E Onfray ainda acrescenta que Freud teria cedido à tentação de sofrer uma operação dos canais espermáticos a fim de aumentar sua potência sexual para gozar melhor com o corpo de Minna:

Nesse ano, aos 67 anos, Freud, o cientista, passa por uma ligadura dos canais espermáticos sob o pretexto de que esse gênero de intervenção rejuvenesce o sujeito e revigora as potências sexuais declinantes – os defensores da versão hagiográfica do herói renunciando à sexualidade para sublimar sua libido na produção de uma obra universal, a psicanálise, deverão rever sua cópia… Em contrapartida, para os defensores de uma vida sexual com tia Minna, e a hipótese de uma viagem efetuada à Itália para um aborto, as coisas parecem coerentes… Os hagiógrafos afirmam simploriamente: essa ligadura prevenia a volta do câncer. (Le crépuscule, p.246)

E na entrevista concedida a Livres-Hebdo,21 ele acrescenta que Freud também teria mantido “relações simbólicas incestuosas com a filha de sua amante”. “Com Freud”, observa ainda, “o bordel nunca está muito longe do mosteiro.”

Mas quem é então essa filha? Minna nunca teve filhos. Pergunta-se como o jornalista que conversa com Onfray pode engolir essas lorotas. No programa de Franz-Olivier Giesbert (France 2, em 9 de abril), ele se julgou autorizado até mesmo a dizer, diante da cara feliz da vida de seu interlocutor – orgulhoso, manifestamente, de registrar “revelações” em primeira mão –, que Freud “trabalhara no Instituto Göring de Berlim entre 1935 e 1938”.

Ora, Freud não saiu de Viena nessa época. Quanto à colaboração entre os freudianos e Jones na política de nazificação22 da psicoterapia alemã orquestrada por Matthias Heinrich Göring, ela é plenamente conhecida dos historiadores. Freud omitiu-se – e foi um erro político grave23 – na esteira de um longo conflito cujos vestígios encontramos em sua correspondência com Max Eitingon,24 que Onfray não leu direito – ainda que a cite –, uma vez que ignora os detalhes do caso e faz de Eitingon o iniciador dessa política, que ele entretanto repeliu com firmeza antes de emigrar para a Palestina, opondo-se a Jones e Freud.

Além disso, Onfray declara que Freud, ganancioso, charlatão, falsário, dissimulador, cobrava de seus pacientes vienenses o correspondente a 450 euros por sessão, sugerindo, aliás, que seus herdeiros o teriam imitado. Para quem conhece a realidade da prática psicanalítica – e mesmo a de suas piores distorções –, é forçoso constatar que a afirmação é totalmente gratuita.

Convencido de que Minna podia estar grávida aos 58 anos e ignorando a história da medicina, Onfray critica os hagiógrafos por terem ocultado a verdade relativa à sexualidade de Freud. A realidade é bem diferente: em 1923, Freud sofreu uma operação de ligadura conhecida como “cirurgia de Steinbach”. Esse endocrinologista foi um dos primeiros a compreender a função das células intersticiais (que secretam os hormônios masculinos). Ligando os canais, ele cogitava obter uma relativa hipertrofia das células e, por conseguinte, um “rejuvenescimento” do sujeito. Como se pensava na época que a formação do câncer se devia em parte ao processo de envelhecimento, a operação de “rejuvenescimento de Steinbach” era considerada um meio de prevenir o retorno do câncer.25

Apóstolo do prazer solar, Onfray acusa Freud não apenas de ter engravidado a cunhada como de ter estimulado a repressão à masturbação (Le crépuscule, p.497-504). O ataque torna-se ainda mais cômico porque Freud foi espinafrado por vários sexólogos puritanos do início do século XX justamente por ter condenado as torturas infligidas às crianças em nome da repressão da masturbação (mãos amarradas na cama, aparelhos estarrecedores, excisão das meninas, ameaças diversas, surras etc.).

Obcecado pela pedofilia, Onfray multiplica as declarações na imprensa para denunciar todos aqueles que imagina serem cúmplices desse crime. Repetindo por conta própria algumas acusações grotescas contra Daniel Cohn-Bendit e citando uma famosa petição de 1977 assinada por vários intelectuais franceses na época favoráveis a uma revisão da lei sobre a sexualidade dos adolescentes,26 ele não hesitou em fustigar a intelligentsia francesa, em seu blog, em novembro de 2009: todos asseclas da pedofilia, sugere (“Pédophilie mon amour”). E, da mesma forma, ataca Roman Polanski e Frédéric Mitterrand:

A pedofilia tem boa imprensa. Quando Bayrou27 lembra, com razão, que Cohn-Bendit acariciava o sexo das crianças e se deixava acariciar por elas, é Bayrou, o infame! … Quando a petição contra a maioridade sexual reúne em 1977 a fina flor dos intelectuais da época (Derrida, Deleuze, Guattari, Althusser, Sartre, Beauvoir, Sollers etc.), mas também os agora sarkozistas Kouchner, Bruckner, Glucksmann … ninguém tem nada a dizer, nem mesmo Dolto, igualmente signatária.

Uma vez que Freud é um perverso, é lógico que sua doutrina ateste uma perversão fundamental: esta seria, segundo Onfray, produto de alguma coisa estranha ao corpo normal e saudável do homem, um elemento heterogêneo associado a estigmas precisos. Seria, de certa forma, o oposto da doutrina professada por esse deus solar e vulcânico, fonte de vida e antítese absoluta do judeu-cristianismo criador de guerra, destruição e pulsão de morte. Da mesma forma, Onfray faz da psicanálise o produto de uma cultura “decadente e fim de século na qual ela proliferou como uma planta venenosa” (Le crépuscule, p.566-7). Repete assim, por conta própria, e sem o saber,28 a grande temática da extrema-direita francesa, que desde Léon Daudet sempre comparou a psicanálise a uma ciência estrangeira (“boche” ou “judia”) que se enxerta como um parasita sobre o corpo do Estado-nação; uma ciência mortífera concebida por um cérebro degenerado e nascido em uma cidade depravada (Viena), no coração de um Império em plena deliquescência.

Portanto, nessas condições, não admira ver surgir sob sua pena não uma crítica da psicanálise à maneira notável de um Theodor Adorno, um Herbert Marcuse, de certas feministas ou dos culturalistas norte-americanos, ou ainda de Gilles Deleuze ou Michel Foucault,29 mas uma acusação análoga à dos adeptos do neopaganismo antijudaico-cristão. Pois é de fato nessa veia que se situa o autor de Le crépuscule d’une idole, quando, invertendo a acusação de “ciência judaica” pronunciada pelos nazistas contra a psicanálise, faz desta uma ciência adequada ao fascismo (p.566s) e de seu fundador uma espécie de ditador adepto da desigualdade das raças (p.533).

O raciocínio é simples: acusando Freud de haver teorizado a noção de pulsão de morte e tê-la inscrito no âmago da história humana, Onfray acaba por afirmar que, uma vez que os nazistas levaram a cabo a mais bárbara consumação dessa pulsão, Freud seria o precursor dessa barbárie, bem como um representante do anti-Iluminismo incitado pelo “ódio de si judeu” (p.228 e 476).30

Mas teria feito ainda pior: ao publicar, em 1939, Moisés e o monoteísmo religioso, isto é, ao fazer de Moisés um egípcio, e do assassinato do pai um dos princípios do advento das sociedades humanas, teria assassinado o pai da Lei judaica, estimulando assim o extermínio de seu próprio povo pelos nazistas (p.226-7). Em suma, seria mais uma vez, por antecipação, um perseguidor dos judeus, um homem que, não podendo admitir-se nacional-socialista porque era judeu, teria transformado seu fervor por Hitler em admiração por Mussolini, a ponto de imitá-los em “Psicologia das massas e análise do eu” – ensaio publicado em 1921 e que passa ao largo desse assunto: “Evidentemente, Freud, como judeu, não pôde salvar nada do nacional-socialismo. Em contrapartida, o cesarismo autoritário de Mussolini e o austro-fascismo de Dollfuss ilustram à perfeição as teses de ‘Psicologia das massas e análise do eu’” (Le crépuscule, p.546). E Onfray ainda pretende provar o que afirma relatando um episódio de pleno conhecimento de todos os historiadores.

Em 1933, Edoardo Weiss, discípulo italiano de Freud, apresenta-lhe em Viena uma paciente tratada por ele. O pai desta, Giovacchino Forzano, autor de comédias e amigo de Mussolini, acompanha a filha. No fim da consulta, ele pede a Freud que dedique um de seus livros ao Duce. Por respeito a Weiss, que em seguida será compelido à emigração, Freud consente e escolhe Por que a guerra?, escrito em colaboração com Albert Einstein entre 1932 e 1933: “A Benito Mussolini, com a saudação respeitosa do homem que reconhece na pessoa do governante um herói da cultura.”31 Mais tarde, Weiss pedirá a Jones para omitir esse episódio, mas este se recusará, chegando a acusar Weiss de cumplicidade com Mussolini.

Sem conhecer os detalhes desse caso, sobre o qual engana-se, portanto, redondamente, Onfray deduz que Freud apoia o fascismo (Le crépuscule, p.524-32) e que Por que a guerra?, escrito com Einstein, é uma apologia do crime.

Quando se sabe que Freud foi um pensador do Iluminismo sombrio, e jamais adepto do anti-Iluminismo, que afirmou que o assassinato do pai era o ato fundador das sociedades humanas, com a condição todavia de que o assassinato fosse sancionado pela Lei (modelo das tragédias gregas), e que era admirador tanto de Cromwell (o regicida) quanto da monarquia constitucional inglesa (capaz de sancionar o regicídio), perguntamo-nos como Onfray pôde sustentar tamanhas extravagâncias.

Se a psicanálise é, como ele afirma, uma religião ditatorial, e Freud um colaborador de Göring, isso significa que ela é incompatível com a democracia. Mas por que então ela só se desenvolveu nos países onde preexistia o Estado de direito? Por que sempre foi banida, enquanto tal, pelos regimes totalitários ou teocráticos, mesmo quando seus praticantes colaboravam com esses regimes? Onfray não faz a pergunta, contentando-se em afirmar que se ela fez sucesso foi porque Freud organizou “milícias” para defendê-la, transformando-a assim numa religião fanática que estimulava a guerra e as “carnificinas de guerra”. Por conseguinte, ela devia sua sobrevivência exclusivamente ao fato de estabelecer uma equivalência entre carrasco e vítima.

Recusando de facto o próprio princípio da história das ciências segundo o qual nenhuma norma deve ser essencializada em relação a uma patologia – uma vez que os fenômenos patológicos são sempre variações quantitativas dos fenômenos normais –, Onfray reintroduz uma visão maniqueísta da relação entre o normal e o patológico. Ele a pensa sempre segundo o eixo do “bem” e do “mal”: de um lado, o paraíso da norma (os adeptos do deus solar, pacifistas e hedonistas); de outro, o inferno da patologia (os loucos, pedófilos, perversos, monstros, cristãos, judeus, nazistas, muçulmanos).

E isso tão insistentemente e de tal forma que chega a afirmar que a psicanálise é incapaz – como tampouco o próprio Freud – de distinguir o carrasco da vítima, uma vez que, para ela, “tudo se equivale”: o doente e o homem normal, o louco e o psiquiatra, o pedófilo e o bom pai etc. E, a respeito do extermínio das quatro irmãs de Freud pelos nazistas, Onfray declara que a psicanálise não permite explicar o problema da Solução Final, da qual a família Freud é vítima. Diz ele:

Como apreender intelectualmente o que distingue psiquicamente sua irmã Adolfine, morta de fome no campo de Theresienstadt, ou suas outras três irmãs, mortas nos fornos crematórios de Auschwitz em 1942, de Rudolf Höss, o comandante desse campo de sinistra memória, se nada os distingue psiquicamente, salvo alguns degraus praticamente invisíveis e de tal forma irrelevantes que Freud nunca chegou a teorizar essa distância mínima no entanto tão primordial? (Le crépuscule, p.566)

Observemos, aliás, que Onfray engana-se quanto ao campo: Rosa foi exterminada em Treblinka, e Mitzi e Paula em Maly Trostenëts. Se por um lado a Solução Final de fato colheu a família Freud, não foi certamente nesse cara a cara sem “distinção psíquica” imaginado por Onfray entre o comandante do campo de Auschwitz (Höss) e as quatro irmãs do fundador da psicanálise, acusado de ter apagado, por antecipação, toda diferença entre o exterminador e suas vítimas.

“Que o ódio seja o outro rosto do amor”, escreve Onfray falando de Freud, “permitam-me duvidar disso, em primeiro lugar porque não há em mim ódio pela psicanálise .…” E acrescenta:

Todo ódio de uma vítima judia por seu carrasco nazista parece-me longe de significar para ela um outro nome do amor! Precisamos parar com esse tipo de pseudoargumento freudiano de que o nada é uma das modalidades do todo, o branco uma das modalidades do preto, a crítica (aberta) a Freud uma das modalidades (inconsciente) do amor a Freud.32

Arrebatado pela negação de seu ódio, e convencido de que ainda assim ama a psicanálise – uma vez que pretende fundar uma escola de psicoterapia existencial e freudo-marxista para os pobres –, Onfray atribui incessantemente suas próprias obsessões ao fundador da psicanálise. Pois, na realidade, é Onfray e não Freud que se permite afirmar que o ódio de uma vítima judia por seu carrasco nazista é o outro nome do amor. E foi de sua imaginação que brotou o roteiro macabro desse cara a cara entre Rudolf Höss e as quatro irmãs de Freud.

Uma vez que a psicanálise não passa do outro nome de uma religião ditatorial criada por um judeu ressentido e perverso, é compreensível que Onfray se entregue, no fim de seu livro, a uma reabilitação sistemática das teses paganistas oriundas de determinada extrema-direita francesa.

Assim, enaltece La scolastique freudienne, livro de Pierre Debray-Ritzen,33 pediatra e fundador da Nova Direita, que nunca cessou de fustigar tanto o divórcio e o aborto quanto a religião judaico-cristã, hostil, segundo ele, à eclosão de uma verdadeira ciência materialista. Daí sua reivindicação de um ateísmo fanático, baseado no culto ao paganismo. Escreve Onfray:

No fim de sua vida, esse tio de Régis Debray que não poderia mais apresentar um programa na rádio Courtoisie, uma mídia claramente à direita da direita .… Como pretender a pertinência de bons argumentos críticos num mundo onde o essencial da classe intelectual comunga menos com a esquerda do que em seu catecismo? (Le crépuscule, p.595)

Não satisfeito em atacar a esquerda francesa, da qual entretanto afirma fazer parte, Onfray gaba os méritos de outro livro, oriundo da mesma tradição, Mensonges freudiens. Histoire d’une désinformation séculaire, publicado na Bélgica por Jacques Bénesteau,34 prefaciado por um simpatizante da Frente Nacional, apoiada pelo Club de l’Horloge,35 e no qual é possível ler que não existia antissemitismo em Viena durante o entreguerras, uma vez que nessa época incontáveis judeus ocupavam postos importantes em todas as esferas da sociedade civil. Escreve Onfray:

Em seu livro, Bénesteau critica o uso que Freud faz do antissemitismo para explicar a frieza a ele imposta por seus pares, sua ausência de reconhecimento pela universidade, a lentidão de seu sucesso. À guisa de demonstração, ele explica que em Viena, nessa época, incontáveis judeus ocupam cargos importantes na Justiça, na política, no jornalismo, na edição – o que lhe valerá ser classificado por Elisabeth Roudinesco na vertente do “antissemitismo disfarçado” (“Le Club de l’Horloge et la psychanalyse: chronique d’un antisémitisme masqué”, Les Temps Modernes, n.627, abr-mai-jun 2004) – disfarçado, ou seja, invisível, embora presente e real .… Ora a leitura desse calhamaço não contém nenhuma observação antissemita, não encontramos nele nenhuma posição que explicite a posição política de seu autor. (Le crépuscule, p.596)

Ao cabo de seu libelo de acusação, Michel Onfray subscreve a tese segundo a qual Freud – homofóbico, misógino, defensor do fascismo, responsável por antecipação pelo extermínio das irmãs, adepto de uma sexualidade doentia e de uma concepção pervertida das relações entre norma e patologia – teria inventado perseguições antissemitas que não existiam em absoluto em Viena: mania de enxergar em toda parte e sob quaisquer circunstâncias, na mais pura tradição da ideologia conspiracionista francesa, a mão, o olho e o nariz de Freud.

À leitura de um livro desses, cujo móbil ultrapassa amplamente o clássico debate entre adeptos e opositores da psicanálise, sentimo-nos no direito de nos perguntar se as considerações comerciais que acompanharam tal publicação não adquiriram tal peso que seriam suscetíveis de abolir todo juízo crítico e senso de responsabilidade. Não obstante, a pergunta merece ser posta.

1 Michel Onfray, Le crépuscule d’une idole. L’affabulation freudienne, Paris, Grasset, 2010.

2 Psiquiatras norte-americanos e europeus que se dirigiam a Viena após 1920 para uma análise didática às vezes pagavam as sessões a Freud em moeda estrangeira. Mais tarde, ele abandonou as moedas estrangeiras e fixou seus honorários em 100 shillings austríacos (fonte: Hilda Doolittle, Pour l’amour de Freud, prefácio de Elisabeth Roudinesco, Paris, Éditions des Femmes/Antoinette Fouque, 2010, p.258). Antes da Primeira Guerra Mundial, seus honorários correspondiam a 40 coroas.

3 Cf. a esse respeito o comentário de Philippe Grauer no site do Centro Interdisciplinar de Formação em Psicoterapia Relacional (CIFP). Aproveito a oportunidade para agradecer a Gilles Olivier Silvagni e Anthony Ballenato, que efetuaram pesquisas para mim. Bem como a Henri Roudier, Jacques Martin Berne e Christiane Menasseyre.

4 Henri F. Ellenberger, Histoire de la découverte de l’inconscient, prefácio de Elisabeth Roudinesco, Paris, Fayard, 1994. Onfray não cita meu prefácio, uma vez que me considera uma hagiógrafa. Como eu poderia, sendo ao mesmo tempo responsável pelos arquivos de Ellenberger depositados na Sociedade Internacional de História da Psiquiatria e da Psicanálise (SIHPP), da qual sou presidente?

5 Ola Andersson, Freud avant Freud, prefácio de Elisabeth Roudinesco e Per Magnus Johansson, Paris, Les Empêcheurs de Penser en Rond, 1997.

6 Frank J. Sulloway, Freud biologiste de l’esprit, prefácio de Michel Plon, Paris, Fayard, 1998.

7 Sigmund Freud, Lettres à Wilhelm Fliess, 1887-1904, Paris, PUF, 2006 [ed. bras.: Correspondência completa Sigmund Freud-Wilhelm Fliess 1887-1904, Rio de Janeiro, Imago, 1983].

8 Le livre noir de la psychanalyse, Paris, Les Arènes, 2005, foi publicado sob a direção de Catherine Meyer, com a colaboração de Mikkel Borch-Jacobsen, Jean Cottraux, Didier Pleux e Jacques van Rillaer. Subtítulo: “Vivre, penser e aller mieux sans Freud”.

9 Cf. Philippe Grauer, site do CIFP.

10 “Les implications éthiques et politiques des pensées négatives de Schopenhauer à Spengler. Mémoire” (texto impresso). Sob a orientação de Simone Goyard, Caen, 1986.

11 NPA: Partido político francês de extrema-esquerda, fundado após as eleições presidenciais de 2007. (N.T.)

12 Michel Onfray, Traité d’athéologie, Paris, Grasset, 2005, p.256; e Le songe d’Eichmann, Paris, Galilée, 2008.

13 Thomas Laqueur, Le sexe solitaire. Contribution à l’histoire culturelle de la sexualité, Paris, Gallimard, 2005.

14 Michel Onfray, La puissance d’exister, Paris, Grasset, 2006. Apresentação do autor.

15 Philosophie Magazine, n.36, fev 2010, p.10.

16 Entrevista a Livres-Hebdo, 9 abr 2010, p.16.

17 Michel Onfray, Théorie du corps amoureux, Paris, LGF, 2007, [2000], p.218-20.

18 Voltarei a essa célebre questão no Cap.3.

19 Cf. Sigmund Freud, Notre coeur tend vers le sud. Correspondance de voyage 1895-1923, prefácio de Elisabeth Roudinesco, Paris, Fayard, 2005..

20 Cf. Cap.3.

21 Livres-Hebdo, op.cit

22 Designada “arianização” pelos nazistas. A psicanálise é então decretada “ciência judaica” e seu vocabulário é erradicado: as palavras da psicanálise são, de certa forma, “exterminadas” antes mesmo da aplicação do programa da Solução Final. Onfray diz o contrário (Le crépuscule, p.549), escarnecendo da verdade dos fatos, convencido de que apenas os psicanalistas foram perseguidos e a doutrina “salva”.

23 Que René Major e eu mesma denunciamos em 1986, e mais tarde por ocasião da realização dos Estados-Gerais da Psicanálise, em 2000.

24 Sigmund Freud e Max Eitingon, Correspondance, Paris, Hachette-Littérature, 2009.

25 Max Schur, La mort dans la vie de Freud, Paris, Gallimard, 1972, p.434.

26 Cf. Jean-François Sirinelli, Intellectuels et passions françaises, Paris, Fayard, 1990, p.269-70.

27 François Bayrou: político francês, presidente da União Democrática Francesa, ex-aliado da UMP (União por um Movimento Popular), partido do presidente francês Nicolas Sarkozy. (N.T.)

28 O que talvez seja ainda mais grave e cômico ao mesmo tempo. Cf. texto de Guillaume Mazeau, no Cap.4.

29 Inseri suas críticas na história da psicanálise, e elas nada têm a ver com o antifreudismo radical da escola “revisionista” norte-americana. Nada a ver, tampouco, com o antifreudismo radical da extrema-direita francesa. Cf. Elisabeth Roudinesco, Filósofos na tormenta, Rio de Janeiro, Zahar, 2007, [2005]. E Jacques Derrida e Elisabeth Roudinesco, De que amanhã… Diálogo, Rio de Janeiro, Zahar, 2004, [2001]

30 Freud, entretanto, sempre criticou o ódio de si judeu. Cf. Elisabeth Roudinesco, Retorno à questão judaica, Rio de Janeiro, Zahar, 2010.

31 Observemos que Freud levou certo tempo para perceber que o nazismo destruiria toda a psicanálise europeia. Daí seu erro político diante da política de “salvamento” da psicanálise preconizada por Jones na Alemanha (contra Eitingon e Wilhelm Reich). E, se veio a acreditar que Dollfuss ou Mussolini poderiam constituir uma muralha contra Hitler, como aparece em sua correspondência, nem assim isso o transforma num assecla do fascismo, como afirma Onfray interpretando distorcidamente o significado das cartas, já que as isola de seu contexto. Aliás, a partir de 1936, Freud não alimenta mais qualquer ilusão.

32 Michel Onfray, Lire, mar 2010, p.35.

33 Pierre Debray-Ritzen, La scolastique freudienne, Paris, Fayard, 1972.

34 Jacques Bénesteau, Mensonges freudiens. Histoire d’une disinformation séculaire, Paris, Mardaga, 2002, p.190-1.

35 Para maiores informações sobre o Club de l’Horloge, ver “Crônica de um antissemitismo camuflado: o Club de l’Horloge e a psicanálise”, in Elisabeth Roudinesco, Em defesa da psicanálise, Rio de Janeiro, Zahar, 2010. (N.T.)