Considerando-se a enorme desvantagem econômica a que estavam submetidos, mas também a relativa ineficiência de seus inimigos, os alemães poderiam ter ganhado a guerra? Poucos historiadores acreditam que sim. Da guerra, de Carl von Clausewitz (publicado pouco depois de sua morte em 1831), traz a famosa definição da guerra como “a continuação da política [des politischen Verkehrs] por outros meios [mit Einmischung anderer Mittel]”. O grande erro dos líderes de guerra alemães, como muitas vezes se afirmou, foi que eles se esqueceram desse preceito. À medida que a Alemanha foi se convertendo em uma ditadura militar, os políticos se tornaram meramente um dos outros meios na atividade suprema da guerra. Em consequência, foram cometidos erros estratégicos que acabaram levando o país à derrota.
Desde o início, a estratégia alemã se caracterizou por uma incrível predisposição para fazer apostas de risco. Seria possível argumentar que era necessário ser assim, precisamente porque a sorte estaria contra eles: convencidos de sua relativa inferioridade no longo prazo, os alemães foram atraídos de maneira irresistível para estratégias arriscadas concebidas para obter a vitória no curto prazo. Ainda assim, não se pode negar que pelo menos algumas das apostas estratégicas da Alemanha foram imprudentes, isto é, baseadas em estimativas de custos e benefícios que, já naquela época, eram visivelmente irrealistas.
A mais criticada dessas apostas foi a de que a guerra submarina irrestrita, que implicava afundar sem aviso prévio navios suspeitos de carregar suprimentos de guerra à Grã-Bretanha, levaria os britânicos à derrota antes que os Estados Unidos pudessem dar uma contribuição efetiva à guerra. Essa estratégia foi tentada em três ocasiões: entre março e agosto de 1915, quando o Lusitania e o Arabic foram afundados; entre fevereiro e março de 1916; e finalmente a partir de 1º de fevereiro de 1917, quando o Almirantado alemão jurou que a Grã-Bretanha imploraria por paz “em cinco meses”. Sendo justo com os estrategistas navais da Alemanha, devo dizer que os U-boots (submarinos alemães) de início superaram a meta original de afundar 600 mil toneladas por mês; de fato, destruíram 841.118 em abril. Mas, em todos os outros aspectos, seus cálculos estavam incorretos. Eles haviam subestimado:
1. a capacidade da Grã-Bretanha de expandir sua própria produção de trigo;
2. o tamanho normal da colheita de trigo norte-americana (1916 e 1917 foram anos excepcionalmente ruins);
3. a capacidade da Grã-Bretanha de realocar o uso de madeira, uma matéria-prima escassa, da construção de casas para as bases de sustentação das minas subterrâneas;
4. a tonelagem disponível para a Grã-Bretanha;
5. a capacidade do Estado britânico de racionar alimentos em escassez;
6. a eficácia dos comboios; e
7. a capacidade da Marinha Naval de desenvolver tecnologia contra submarinos.
Surpreendentemente, os alemães também superestimaram o número de submarinos que eles próprios tinham ou poderiam ter: entre janeiro de 1917 e janeiro de 1918, foram construídos cerca de 87 novos U-boots, mas 78 foram perdidos. A força total no início da última campanha era em torno de cem, dos quais não mais de um terço era capaz de patrulhar as águas britânicas simultaneamente.1 Em 1918, o índice de perdas entre os comboios era menos de 1%; para os U-boots, mais de 7%.2
Mas esse não foi o único aspecto em que os alemães arruinaram a guerra no mar. Às vezes se afirma que a guerra naval foi inconclusiva porque as frotas de superfície alemãs e britânicas nunca travaram uma batalha decisiva, já que a do banco Dogger e a da Jutlândia terminaram em empate. Mas isso não faz sentido. A Marinha Real britânica foi eficaz em sua tarefa de confinar a frota naval alemã ao mar do Norte, levando ou não em consideração uns poucos ataques militarmente insignificantes na costa leste inglesa: seria Tirpitz quem se beneficiaria de uma batalha marítima em larga escala, e não Jellicoe. De fato, toda a estratégia de Tirpitz antes da guerra dependia do ataque da frota britânica à Alemanha; nunca lhe ocorreu que, como já haviam dominado o alto-mar, os britânicos poderiam simplesmente esperar sentados em Scapa Flow.3 Além disso, após perder a Batalha de Coronel, a Marinha Real ganhou a das ilhas Malvinas. Foi também muito eficaz ao neutralizar os navios mercantes alemães durante a primeira fase da guerra, um duro golpe no balanço de pagamentos alemão. É verdade que os pilotos alemães afundaram um bom número de navios mercantes britânicos e norte-americanos antes de Lloyd George conseguir intimidar o Almirantado para que este adotasse o sistema de comboios; mas a proporção afundada foi menor do que a proporção de navios mercantes alemães capturados ou afundados pelos britânicos (44%).
É impressionante como poucas vozes se levantaram na Alemanha contra a aposta em uma guerra submarina irrestrita. Max Warburg foi um dos poucos empresários alemães influentes que se opuseram à suspensão de restrições à guerra submarina, sob a justificativa de que, por maior que fosse o impacto sobre o suprimento de alimentos britânico, o risco de alienar os Estados Unidos era muito grande. “Se a América cortar relações com a Alemanha”, ele afirmou em fevereiro de 1916, “isso significa uma redução de 50% na capacidade financeira alemã para a guerra e um aumento de 100% na capacidade financeira da Inglaterra e da França […] Devemos fazer de tudo para evitar um rompimento com a América”4.
A guerra estará perdida se isso [um combate submarino irrestrito] continuar: financeiramente, porque já não haverá quem compre nossos empréstimos; e economicamente, porque já não teremos acesso ao grande volume de matérias-primas que continuamos a obter do exterior e sem o qual não conseguimos nos manter.5
Em 26 de janeiro de 1917, ele expressou pressentimentos que pareciam prescientes: “Se entrarmos em guerra com a América, estaremos diante de um inimigo com tamanha força moral, financeira e econômica que já não nos restará nada a esperar do futuro; esta é minha firme convicção”.6 Warburg não foi ouvido (sobretudo porque, com dois irmãos morando nos Estados Unidos, sua opinião foi considerada tendenciosa): as restrições à guerra submarina foram suspensas, e em pouco mais de dois meses os Estados Unidos declararam guerra à Alemanha. Esse, segundo se afirma, é um exemplo clássico de decisão baseada em uma “racionalidade limitada”: os alemães fizeram seus cálculos sobre o provável impacto de uma guerra irrestrita de U-boots sem levar em conta possibilidades e fatos inoportunos.7 Por isso, acabaram sendo punidos com a derrota; pois, uma vez que os Estados Unidos entraram na guerra, os alemães já não podiam esperar vencer – é o que diz o argumento convencional.
Os alemães também podem ser acusados de ter feito apostas de risco na guerra que travaram em terra. Em agosto de 1914, eles apostaram na vitória em uma guerra em duas frentes, acreditando que, se esperassem mais, a Rússia e a França consolidariam uma superioridade inabalável. Ao mesmo tempo, apostaram que a Áustria-Hungria daria uma contribuição efetiva à guerra na Frente Oriental. Praticamente não houve tentativa alguma de verificar se poderiam contar com isso, ou mesmo que forma assumiria a contribuição dos Habsburgo.8 Nenhuma das apostas deu resultado. Se acreditarmos que se esperava que o Plano Schlieffen proporcionasse uma rápida vitória militar na Frente Ocidental, então foi um fracasso absoluto, predeterminado por deficiências logísticas no plano.9 A aposta na aliança com a Áustria-Hungria também deu errado. De tempos em tempos, os alemães precisavam desviar homens para a Frente Oriental a fim de resgatar o Exército austro-húngaro: como em 1915, quando a ofensiva da Rússia na Galícia forçou Falkenhayn a contra-atacar em Gorlice, e novamente após a ofensiva de Brusilov em 1916.10 Outra aposta criticada com frequência foi a decisão de Falkenhayn de tentar “exaurir o inimigo” em um “ponto decisivo”: a fortaleza de Verdun, uma “moedora de carne”. Isso acabou custando aos alemães quase tantos homens quanto aos franceses (respectivamente, 337 mil e 377 mil baixas), graças ao uso eficaz das artilharias e à rápida rotação das divisões a cargo do general Philippe Pétain; e o objetivo original se perdeu de vista quando os alemães passaram a acreditar que realmente precisavam conquistar a fortaleza.11
Por fim, Ludendorff foi acusado de cometer suicídio estratégico com a Operação Michael na primavera de 1918. Taticamente brilhante, fazendo os Aliados recuarem quase 65 quilômetros e conquistando 3 mil quilômetros quadrados de território, a ofensiva dos alemães estava, entretanto, fadada ao fracasso porque carecia das reservas e das estruturas de suprimento necessárias para consolidar suas conquistas. Ao expandir a linha de frente, os alemães levaram suas próprias forças ao colapso, de modo que a contraofensiva aliada tinha todas as chances de sucesso. Além disso, as ofensivas subsequentes contra Chemin des Dames e Reims no fim de maio praticamente esgotaram as reservas alemãs.12
De fato, é plausível afirmar que os alemães perderam a guerra precisamente porque estiveram a ponto de ganhá-la. Foi o enorme alcance da vitória contra a Rússia que deixou cerca de um milhão de tropas vagando sem rumo em meio ao caos da Europa Oriental pós-Brest-Litovsk, num momento em que precisavam estar na Frente Ocidental. Foi a distância sem precedentes abarcada pelos alemães na primavera de 1918 que os deixou expostos ao maior número de baixas desde 1914: mais de um quinto da força original de 1,4 milhão de homens foi perdida entre 21 de março e 10 de abril.13 Além disso, a ofensiva na Frente Ocidental deixou os aliados da Alemanha fatalmente expostos no sul e no sudeste;14 foi aqui que a derrota dos Impérios Centrais começou, com a solicitação da Bulgária por um armistício separado em 28 de setembro. Assim, a confissão de Ludendorff a Hindenburg aquela noite, de que um armistício era urgentemente necessário porque “a situação só poderia ficar pior”, foi a admissão de uma derrota que, ao menos em parte, eles próprios provocaram.15
Relacionada com esses argumentos estratégicos está uma crítica à diplomacia alemã. Estados em posição mais forte do que a da Alemanha em 1917 procuraram negociar a paz em vez de arriscar uma derrota. No entanto, quanto mais longo o conflito e maiores os sacrifícios que exigia, mais altas se tornavam as expectativas de suas recompensas. A formulação dos objetivos de guerra, que começou como preliminar a possíveis negociações, logo adquiriu a proporção de um debate público envolvendo interesses econômicos e política interna tanto quanto – de fato, mais que – uma grande estratégia. Quanto mais esse debate se prolongava, mais divorciado da realidade tendia a se tornar. Ao mesmo tempo, os generais alemães reiteradas vezes interferiram na diplomacia – por exemplo, substituindo Jagow como ministro das Relações Exteriores em 1916 por Arthur Zimmermann, cujo nome sempre estará associado a uma das grandes gafes diplomáticas dos tempos modernos (o telegrama oferecendo ajuda ao México para recuperar o Novo México, o Texas e o Arizona dos Estados Unidos). A derrota da Alemanha pode, portanto, ser retratada como consequência de fatores políticos, e não materiais. Foi devido a uma falha na estratégia, e não na produção.
É claro que os alemães obtiveram vitórias inegáveis na Frente Oriental. Tentaram, já em 1915, conquistar o czar com um acordo de paz separado;16 se isso houvesse ocorrido, poderiam muito bem ter ganhado a guerra (e muito provavelmente a Rússia teria evitado o bolchevismo). Quando os russos rejeitaram essas propostas, os alemães prosseguiram, levando-os à derrota total. A magnitude dessa conquista não deve ser subestimada. A guerra havia sido iniciada pelo Estado-Maior Geral para evitar uma deterioração na posição estratégica da Alemanha com relação à Rússia. Em 1917, isso de fato havia sido alcançado. Também não foi totalmente fantasioso imaginar romper o domínio do czar na Europa Oriental. Como afirmara Norman Stone, o tratado de Brest-Litovsk era, mais do que uma fantasia, algo que “poderia ter sido”, e a Grã-Bretanha poderia ter se disposto a aceitar a hegemonia alemã na Europa Oriental como um reduto contra o bolchevismo se este houvesse sido o objetivo da Alemanha. Em 5 de novembro de 1916 – cerca de dois meses e meio antes de Woodrow Wilson fazer sua famosa conclamação a uma “paz sem vitória” com base na autodeterminação –, os alemães haviam saído na frente proclamando a independência da Polônia. Sob o tratado de Brest-Litovsk, a Finlândia e a Lituânia também ganharam a independência, ainda que a Látvia, a Curlândia, a Ucrânia e a Geórgia viessem a ser vítimas (nas palavras de Warburg) de “anexação mal dissimulada, com uma fachada demasiado óbvia proporcionada pelo direito de autodeterminação nacional”.17 Este foi um dos momentos em que os alemães deveriam ter sido aconselhados a procurar um armistício negociado na Frente Ocidental antes que as forças norte-americanas se tornassem numerosas o bastante para fazer pender de maneira irreversível a balança militar.
Mas praticamente desde o momento em que o programa de setembro de Bethmann Hollweg levantou a possibilidade de anexações de territórios da França e da Bélgica, essa opção foi descartada. Como vimos, alguns objetivos alemães para a Europa Ocidental não eram de todo inaceitáveis para a Grã-Bretanha: a ideia de um bloco comercial centro-europeu, por exemplo, era algo com que ela poderia ter convivido. Mas o desejo por territórios tanto no Ocidente quanto no Oriente se revelou o obstáculo fatal a uma paz negociada. Tirpitz, seu contra-almirante Paul Behncke e outros no Ministério da Marinha defenderam a anexação do território belga já em setembro de 1914, uma demanda repetida em numerosas ocasiões depois que Henning von Holtzendorff substituiu Tirpitz em 1916.18 Começando com o memorando de Hermann Schumacher no outono de 1914, empresários da indústria pesada afirmaram que a Alemanha deveria reter uma parte considerável da Bélgica e da região de Briey-Longwy, na França, rica em minérios. Em maio de 1915, essas demandas foram incluídas na lista de objetivos de guerra enviada pelas seis associações econômicas, que também conceberam a anexação da região de Pas-de-Calais, das fortalezas de Verdun e de Belfort e de uma faixa da costa norte da França até a foz do Somme.19 Poucos partilhavam da visão de Albert Ballin de que não deveria haver “anexação alguma”, já que “a política inglesa não pode sacrificar a Bélgica em nosso nome”; e mesmo ele imaginou “dependência econômica e militar […] especialmente para os portos”.20
De tempos em tempos, a questão da Bélgica impedia que as negociações avançassem: por exemplo, em novembro de 1914, quando Falkenhayn, em uma atitude realista, alertou Bethmann de que a Alemanha não poderia esperar alcançar a paz com grandes anexações; novamente em janeiro de 1916, quando o coronel House propôs um armistício com base no status quo ante; em dezembro de 1916, quando Bethmann cogitou fazer concessões, mas Hindenburg o dissuadiu com ameaças; e em julho de 1917, quando o papa Benedito XV procurou mediar.21 Como ministro das Relações Exteriores, Richard von Kühlmann defendeu que a Alemanha abrisse mão da Bélgica em setembro de 1917; mas os generais e os almirantes não desistiam. Quando Max Warburg (agindo conforme instruções do chanceler Hertling) foi à Bélgica para conversar extraoficialmente com o embaixador norte-americano na Holanda, em março de 1918, o governo alemão ainda estava insistindo em “cessões menores” do território belga “a fim de ter garantias […] de que a Bélgica não seria usada como pied à terre [base temporária] pelos ingleses e pelos franceses”.22 Até as últimas semanas da guerra, Hugo Stinnes insistiu firmemente que a Alemanha deveria se empenhar em anexar territórios no Ocidente a fim de fornecer uma “área neutra” para a proteção das fábricas ocidentais de ferro e de aço que ela – ou melhor, ele – tinha. Ele também não teve escrúpulos ao propor a expropriação total das plantas industriais e a eliminação da “gestão belga” em qualquer território anexado, para não dizer a administração desse território “de maneira ditatorial por algumas décadas”.23 Que ele continuasse a assumir essa postura mesmo depois do fracasso da ofensiva ocidental de Ludendorff ilustra perfeitamente o modo como o debate sobre os objetivos de guerra alemães se divorciou da realidade estratégica e diplomática. Stinnes não era o único; o capitão de fragata Von Levetzow propôs, ainda em 21 de setembro de 1918, que a Alemanha adquirisse Constantinopla, Valona, Alexandreta e Benghazi depois da guerra.24
Os proponentes da anexação subestimaram fatalmente as vantagens que a Alemanha teria sido capaz de conservar se, ao concordar em desocupar a Bélgica, tivesse conseguido garantir um fim negociado para a guerra antes de seu próprio colapso. Os planos alemães para adquirir colônias da Grã-Bretanha e da França – tipificados pelas numerosas “listas de desejos” das associações de negócios de Hamburgo – foram menos importantes, mas também atestam a falta de realismo que permeou o debate sobre os objetivos de guerra, tendo em vista a clara inferioridade marítima da Alemanha.25 A mesma coisa pode ser dita dos devaneios dos almirantes alemães a respeito de bases em Valona (Albânia), Dakar e nas ilhas de Cabo Verde, Açores, Taiti e Madagascar; isso sem falar de seu imaginado imperium africano.26
Os defeitos na estratégia alemã tiveram origem em defeitos na estrutura política do Reich, que mesmo antes da guerra carecia de instituições capazes de coordenar a política entre os vários departamentos de Estado. Notoriamente, tanto a autoridade do chanceler quanto a do Kaiser diminuíram durante a guerra; os militares passaram a dominar, constituindo depois de 1916, sob o Comando Supremo de Hindenburg e de Ludendorff, uma ditadura militar “silenciosa” (isto é, não declarada).27 Na prática, Ludendorff passou a ser o único soberano da estratégia alemã, e de muito mais. Em parte por essa razão, era inevitável que o debate sobre os objetivos de guerra se tornasse indissociável do debate sobre as disposições constitucionais da Alemanha. Aqueles que sentiam que oportunidades diplomáticas estavam sendo desperdiçadas questionavam não só o calibre do Auswärtiges Amt como também o nível de subordinação do chanceler do Reich aos militares. Aqueles que viam Bethmann como um “traidor” e um “criminoso contra a Pátria” desejavam, ao contrário, que o poder dos generais aumentasse. Os objetivos de guerra – quer fossem anexações, Mitteleuropa, o status quo ante, quer fosse uma paz revolucionária baseada na autodeterminação e na solidariedade da classe trabalhadora – passaram a ser identificados com objetivos nacionais – ditadura, um certo grau de parlamentarização ou revolução socialista. Os acontecimentos entre fevereiro e setembro de 1917 tornaram claras as alternativas. Depois da Revolução de Fevereiro na Rússia, a fundação do Partido Socialista Independente em Gota deu caráter organizacional à ideia de “paz por meio da democratização” e empurrou a maioria social-democrata na mesma direção. No Reichstag, o Partido Social-Democrata se alinhou com o do Centro e o Progressista para aprovar uma resolução conclamando à “paz sem cessões forçadas”. Mas Bethmann, tendo persuadido o Kaiser a aceitar a democratização do sufrágio prussiano, foi afastado por Hindenburg e Ludendorff e substituído pelo insignificante Michaelis; uma manobra endossada pelo novo Partido da Pátria de Tirpitz e Wolfgang Kapp, que em julho de 1918 tinha 2.536 sucursais e 1,25 milhão de membros.28
A essa altura, os ditadores militares e seus apoiadores haviam ido muito além do conservadorismo monárquico tradicional. Um líder pangermânico, Konstantin von Gebsattel, alertou que, se nenhuma anexação fosse concretizada até o fim da guerra, haveria “decepção e ressentimento” popular: “O povo, desiludido depois de todas as suas conquistas, irá se insurgir. A monarquia será ameaçada, até mesmo derrubada”. A política alemã se polarizou. Nessas circunstâncias, aqueles que defendiam uma paz negociada tinham pouca escolha senão abraçar a ideia de um certo grau de reforma interna, ainda que só para aumentar o poder do chanceler do Reich com relação ao dos militares e enfraquecer o lobby da indústria pesada. O problema era que esses elementos só ganharam força na Alemanha em outubro de 1918, depois de Ludendorff ter desperdiçado o que restava do poder de barganha militar alemão. Como lamentou o coronel bávaro Mertz von Quirnheim em julho de 1917:
Que tremenda impressão causaria se o general Ludendorff (pela voz de Hindenburg) declarasse: “Sim, o OHL [o Comando Supremo do Exército] também é a favor do sufrágio universal para a Prússia, porque nossos soldados prussianos fizeram por merecer”. Acredito que Ludendorff seria carregado em triunfo, toda ameaça de greves etc. desapareceria […] Mas o general Ludendorff carece de sabedoria para explorar ideias políticas para o propósito da guerra.29
Assim, o ciclo da política interna à estratégia defeituosa e de volta à política interna parece completo; e só resta tirar a conclusão reconfortante de que as democracias guerreiam melhor do que as ditaduras.
Uma terceira área de fracasso alemão, talvez mais surpreendente que as anteriores, foi a relativa lentidão do Reich para explorar novas tecnologias militares. Sem dúvida, os alemães foram os pioneiros em fortificações de trincheira de alta qualidade, em balas revestidas de aço capazes de atravessar as trincheiras inimigas e em munições incendiárias para se livrar de balões de observação. Notoriamente, também foram o primeiro Exército a usar gás cloro no campo de batalha (em Ypres, em 22 de abril de 1915) – embora os franceses usassem granadas de bromoacetato de etila (em essência, gás lacrimogêneo) desde o começo, e os alemães já houvessem experimentado na Polônia “projéteis traçantes” contendo brometo de xilila.30 Os lança-chamas também foram uma inovação alemã (usados pela primeira vez em Hooge, em julho de 1915); assim como os morteiros de trincheira (os temidos Minenwerfer) e os capacetes de aço.31 Mas em três áreas cruciais eles ficaram para trás. Como afirmou Herwig, os alemães decepcionaram no que se refere a poder aéreo, apesar de que simplesmente contar o número de aeronaves disponíveis na primavera de 1918 (3.670 contra 4.500) é subestimar a eficácia das frotas de zepelins e dos bombardeiros Gotha para matar, ferir e aterrorizar civis britânicos, bem como para destruir propriedades.32 Este também foi o caso dos transportes motorizados. Em 1918, eles tinham em torno de 30 mil veículos, em sua maioria com pneus de aço ou de madeira, contra 100 mil dos Aliados, quase todos com pneus de borracha. Por último, os alemães não fabricaram tanques suficientes. Produziram apenas 20 em 1918, e muitos destes quebraram; os Aliados, na época, tinham 800.33 Daí o paradoxo de que o país com a mais renomada expertise técnica e indústria manufatureira antes da guerra não foi capaz de vencer a Materialschlacht. Outro lapso tecnológico foi a incapacidade dos alemães de se equipararem à espionagem britânica: em particular, os alemães não estavam cientes de que a maior parte de seus sinais para a frota era interceptada pelo Almirantado e decifrada na Room 40.34
Há, no entanto, uma série de dificuldades com essa crítica à estratégia e à diplomacia alemã. Em primeiro lugar, seria possível argumentar que a estratégia das potências da Entente não foi muito melhor que a dos Impérios Centrais.35 Liddell Hart, por exemplo, afirmou que a Alemanha poderia ter sido derrotada sem que a Grã-Bretanha se envolvesse em um impasse continental prolongado e sanguinário se mais tropas houvessem sido disponibilizadas para os ataques indiretos, como a invasão de Dardanelos.36 Em The Donkeys [Os asnos], Alan Clark afirmou que a Grã-Bretanha poderia ter evitado usar forças terrestres, contando unicamente com seu poder naval para impor privações à Alemanha até que esta se rendesse.37
Desde o historiador oficial Edmonds, nenhum historiador fez mais para refutar essas noções do que John Terraine, que durante mais de 40 anos defendeu que a Grã-Bretanha travou a guerra da melhor maneira possível naquelas circunstâncias. De acordo com Terraine, não havia alternativa a não ser enviar a Força Expedicionária Britânica; não havia alternativa a não ser iniciar as ofensivas no Somme e em Passchendaele; e, portanto, é “inútil procurar outras causas para a[s] [grandes] perda[s] britânica[s] que não a qualidade do inimigo […] e o próprio caráter técnico da guerra”38. Correlli Barnett esteve entre os que corroboraram essa visão, embora também argumente que a vitória não fez nada para evitar o declínio estratégico e econômico da Grã-Bretanha no longo prazo, que (por curiosa ironia) se deveu, em parte, à sua incapacidade de se tornar mais similar à Alemanha.39
Sem dúvida, é difícil conceber uma alternativa plausível para que a guerra fosse ganha na Frente Ocidental. Em primeiro lugar, nada poderia ter tornado mais provável uma vitória alemã na França do que o comprometimento de um maior número de tropas britânicas em uma campanha prolongada contra a Turquia. E um triunfo britânico em Gallipoli também não teria significado muita coisa. A principal beneficiária estratégica teria sido a Rússia, que estaria mais perto de concretizar seu tão ansiado objetivo de controlar Constantinopla. A Grã-Bretanha simplesmente teria conquistado o direito de fornecer mais armamentos à Rússia através dos Estreitos por conta própria; está longe de ser uma certeza que este teria sido o uso ideal de recursos britânicos. Enquanto isso, sem soldados britânicos suficientes para resgatá-los, os franceses seriam aniquilados.40 De fato, seria possível argumentar, inclusive, que empregar tropas britânicas em grande escala em qualquer outro lugar era estrategicamente perigoso: não só em Gallipoli, mas também na Mesopotâmia, em Salônica e na Palestina. Os ganhos obtidos em palcos de guerra fora da Europa se mostraram úteis quando se tratou de expandir o Império em negociações de paz; mas, se os alemães tivessem ganhado a guerra em Flandres e na França, todas as apostas no Oriente Médio teriam sido em vão.
Quanto à estratégia puramente naval, também não teria garantido a vitória sobre a Alemanha. Apesar do fato de a Alemanha ter perdido a guerra no mar, a estratégia naval da Grã-Bretanha não foi capaz de fazer que os civis alemães se rendessem em decorrência do bloqueio no fornecimento de alimentos como se havia previsto: conforme vimos, as principais vítimas alemãs do bloqueio estavam entre os grupos sociais que não eram cruciais para o esforço de guerra. Se a Grã-Bretanha houvesse combatido apenas no mar, só teria controlado os mares europeus; sem os exércitos reunidos por Kitchener, a Alemanha teria ganhado a guerra terrestre.
Portanto, a guerra precisava ser ganha na Frente Ocidental. Mas isso não significa que a principal estratégia adotada ali – travar uma guerra de exaustão – deve ser aceita como correta sem ressalvas.
As origens da exaustão possivelmente remontam a outubro de 1914, quando Kitchener disse a Esher que, “antes de a Alemanha desistir do combate, ela terá exaurido todos os suprimentos possíveis de homens […]”. No início, Kitchener tinha expectativa de enfrentar uma longa batalha, e construiu o Novo Exército com a ideia de intervir de maneira decisiva (à la Wellington) assim que os franceses houvessem concluído o trabalho mais sujo de desgastar os alemães. Sir Charles Callwell, diretor de Operações Militares, encheu todos de coragem em janeiro de 1915 redigindo um relatório que demonstrava que os alemães ficariam sem homens “em poucos meses”. Cinco meses depois, o brigadeiro Frederick Maurice, sucessor de Callwell como diretor de Operações Militares, continuava prevendo com confiança que, sendo capaz de “manter distância das críticas […], [o Exército] esgotará os alemães, e a guerra estará terminada em seis meses”. A visão de Kitchener era de que a “exaustão” não acabaria com as reservas de homens da Alemanha até “mais ou menos o começo de 1917”; no entanto, ele defendia deixar que os alemães “se consumissem em ataques custosos para destruir nossas linhas” – daí a conversa de Balfour e de Churchill em julho de 1915 a respeito de uma “defesa ativa, infligindo ao inimigo tantas perdas quanto possível e atormentando-o e corroendo-o em toda a frente de batalha”. O inimigo deveria ser “reduzido […] até o ponto em que seja impossível continuar resistindo” (Selborne); ser “desgastado” e “exaurido” (Robertson e Murray); suas reservas deveriam ser “totalmente consumidas” (Robertson). Os generais começaram até mesmo a estipular metas: 200 mil baixas alemãs por mês foi uma delas (em dezembro de 1915).41 Os franceses pensavam da mesma forma. Em maio de 1915, seu Estado-Maior concluiu que “o avanço seguido de exploração” não seria possível “enquanto o inimigo não estiver […] tão esgotado que já não tenha mais reservas disponíveis para suprir as faltas”.42
A “defesa ativa” logo se transformou em ataque. O plano inicial de sir Henry Rawlinson para o ataque do Somme era “matar tantos alemães quanto fosse possível com o mínimo de perdas para nós”, conquistando pontos de importância tática e esperando que os alemães contra-atacassem.43 “Estamos lutando primordialmente para exaurir os exércitos alemães e a nação alemã”, escreveu sir John Charteris, brigadeiro-general, em seu diário em 30 de junho. Sem dúvida, Haig continuou a se aferrar à noção de que um avanço seria possível, temendo que, em uma batalha de exaustão, “nossas tropas não serão menos, mas, possivelmente, mais consumidas do que as do inimigo”.44 Isso era verdade, mas a opção preferida por Haig, um ataque maciço à linha alemã, era ainda mais custosa: com se sabe, no primeiro dia do Somme, o Exército britânico sofreu 60 mil baixas; a relevância total desse número torna-se clara quando se percebe que, para se defender, os alemães sofreram apenas 8 mil baixas. Quando o avanço não se concretizou, todos retomaram os argumentos a favor da exaustão, fantasiando: “os alemães estão com os dias contados, com poucas reservas e duvidando – mesmo os oficiais prisioneiros – que conseguirão escapar da derrota”.45 A realidade era que, na melhor das hipóteses, se aceitarmos o número oficial britânico de 680 mil baixas alemãs, a Batalha do Somme foi um empate (os britânicos perderam 419.654 soldados; os franceses, 204.253). Se, o que é mais provável, a estimativa alemã estava correta (450 mil baixas em seu Exército), então a estratégia da exaustão foi autodestrutiva. Até mesmo Haig começou a inferir que, permanecendo na defensiva, eram os alemães que estavam conseguindo “cansar nossas tropas”;46 nada mostrou isso mais claramente do que a ofensiva suicida de Nivelle em abril de 1917, que jamais deveria ter sido feita depois da retirada alemã para a Linha Hindenburg. Em 15 de maio, os franceses haviam sofrido 187 mil perdas; os alemães, 163 mil.
Porém, quando os franceses sucumbiram, Haig ordenou mais exaustão: quaisquer que tenham sido os ganhos obtidos pela ofensiva britânica em Arras (abril-maio de 1917), estes não se equipararam à perda de 159 mil homens em apenas 39 dias. Em maio, Robertson e Haig ainda estavam defendendo em uníssono que se “desgastasse e exaurisse a resistência do inimigo”; mas o ataque em Messines no mês seguinte ainda custou 25 mil baixas britânicas contra 23 mil alemãs. A exaustão também foi invocada para justificar a Terceira Batalha de Ypres.47 Haig ainda sonhava com um avanço, mas agora até mesmo Robertson admitia estar “aferrado” a essa estratégia: porque “não concebo nada melhor, e porque meus instintos me levam a me aferrar a ela”, e não porque tivesse “algum argumento convincente que pudesse servir para defendê-la”.48 Nesse caso, ambos os lados sofreram em torno de 250 mil baixas. É difícil não concordar com o veredicto de Lloyd George: “Haig não se importa com quantos homens perde. Ele simplesmente desperdiça a vida desses rapazes”.49 A triste ironia do primeiro-ministro – “Quando olho para as assombrosas listas de baixas, às vezes desejo que não houvesse sido necessário ganhar tantas [grandes vitórias]” – foi direto ao ponto.50 As maiores perdas sofridas pelo Exército alemão foram na primavera de 1918, quando Ludendorff iniciou sua ofensiva. O total de baixas alemãs no fim da Operação Michael era 250 mil, contra 178 mil britânicas e 77 mil francesas; no fim de abril, os números eram 348 mil, contra 240 mil e 92 mil. Considerando o total de baixas de cada lado, este foi mais um “empate”, mas a Entente conseguiu absorver melhor as perdas, já que agora contava com o reforço dos norte-americanos. Só em junho de 1918 os comandantes britânicos admitiram que “combater e cansar” o inimigo só valia a pena se houvesse “suficiente deliberação e preparação de artilharia para garantir a economia de soldados”.51
Segundo seus próprios critérios, portanto, os generais britânicos falharam. Como mostra a Tabela 32, o maior paradoxo da Primeira Guerra Mundial é que, apesar de estarem em absoluta desvantagem econômica, os Impérios Centrais foram muito mais eficazes para matar seus inimigos. De acordo com as melhores estimativas disponíveis sobre as mortes militares durante a guerra, cerca de 5,4 milhões de homens lutando em nome das potências da Entente e seus aliados perderam a vida, em sua esmagadora maioria mortos pelo inimigo. O total equivalente para os Impérios Centrais é de pouco mais de 4 milhões. A superioridade dos Impérios Centrais para matar foi, portanto, da ordem de 35%. As estatísticas britânicas oficiais publicadas logo depois da guerra fornecem uma margem ainda mais alta, de 50%, assim como as estimativas em uma série de livros modernos.52 Em outras palavras, os Impérios Centrais tiveram um desempenho pelo menos um terço superior ao cometer assassinato em massa. A respeito da estratégia de exaustão, Elias Canetti afirmou: “Cada um dos lados quer constituir a multidão mais numerosa de combatentes sobreviventes e quer que o lado adversário constitua a maior pilha de mortos”.53 A julgar por essas medidas, os Impérios Centrais “ganharam” a guerra.
Tabela 32 Número total de baixas na Primeira Guerra Mundial
Notas: Os números de mortos incluem morte por doença e por combate, o que infla os totais, sobretudo em palcos periféricos do conflito. Números para Portugal: nenhuma estimativa para feridos de Moçambique ou de Angola. O número de prisioneiros gregos inclui desaparecidos e, portanto, é provavelmente demasiado alto. Fontes: War Office, Statistics of the Military Effort, p. 237, 352-357; Terraine, Smoke and the Fire, p. 44; J. Winter, Great War, p. 75.
Havia uma discrepância ainda maior com relação a outro meio mais eficaz de incapacitar o inimigo: a captura de prisioneiros. Entre 3,1 e (no máximo) 3,7 milhões de soldados dos Impérios Centrais foram feitos prisioneiros durante a guerra, em comparação com entre 3,8 e (no máximo) 5,1 milhões de soldados da Entente e dos Aliados (ver Capítulo 13 para uma discussão sobre esses números). Aqui, a “contagem líquida de corpos” também indica grande vantagem dos Impérios Centrais, que conseguiram capturar entre 25% e 38% mais homens do que perderam como prisioneiros para o inimigo. Só em um aspecto a balança parece pender para as potências da Entente e dos Aliados: as estatísticas disponíveis indicam que 1,3 milhão a mais de soldados dos Impérios Centrais foram feridos em consequência de ação inimiga. No entanto, estes são, de todos os números, os menos confiáveis (por exemplo, os alemães não registraram pequenos ferimentos em suas estatísticas oficiais, mas os britânicos sim). De todo modo, ferir o inimigo era a forma menos eficaz de infligir dano, porque uma proporção substancial de soldados feridos – 55,5%, no caso dos britânicos54 – foi capaz de voltar à ativa se não morreu em virtude dos ferimentos. Em parte por essa razão, as tentativas de estimar o total de baixas são cheias de dificuldades. Para serem precisas, as estimativas devem ser ponderadas para levar em consideração o fato de que matar o inimigo era melhor, tomá-lo como prisioneiro era quase tão bom quanto e talvez até melhor (um prisioneiro precisava ser alimentado e abrigado, o que consumia recursos, mas podia ser forçado a trabalhar), ao passo que feri-lo era o menos prejudicial dos três. A Tabela 33 resume os mínimos e máximos disponíveis e fornece o que parecem ser as melhores estimativas para as baixas. Veremos que, em geral, os Impérios Centrais tiveram uma margem de vantagem de mais de 10%. Se ignorarmos os números de feridos, a margem sobe para surpreendentes 44%. Os Impérios Centrais, em outras palavras, incapacitaram permanentemente 10,3 milhões de soldados inimigos, enquanto perderam apenas 7,1 milhões da mesma maneira. Estas são estatísticas notáveis.
Tabela 33 Estimativas para o total de baixas (mortos, prisioneiros e feridos)
|
Máximas |
Mínimas |
Melhores estimativas |
França |
6.100.000 |
3.791.600 |
3.844.300 |
Bélgica |
92.889 |
68.605 |
92.889 |
Itália |
2.190.000 |
1.937.000 |
2.055.000 |
Portugal |
33.291 |
33.069 |
33.291 |
Grã-Bretanha e Império Britânico |
3.305.000 |
3.190.235 |
3.202.864 |
Romênia |
535.706 |
450.000 |
450.000 |
Sérvia |
481.571 |
248.571 |
481.571 |
Grécia |
48.000 |
27.000 |
48.000 |
Rússia |
9.100.000 |
6.650.000 |
6.761.000 |
Estados Unidos |
325.830 |
324.170 |
324.170 |
Total – Aliados |
22.212.287 |
16.720.250 |
17.293.085 |
Bulgária |
250.513 |
250.513 |
251.013 |
Alemanha |
7.437.000 |
6.501.646 |
6.861.950 |
Áustria-Hungria |
7.000.000 |
6.920.000 |
6.920.000 |
Turquia |
2.290.000 |
970.000 |
1.454.000 |
Total – Impérios Centrais |
16.977.513 |
14.642.159 |
15.486.963 |
Total geral |
39.189.800 |
31.362.409 |
32.780.048 |
“Contagem líquida de corpos” |
5.234.774 |
2.078.091 |
1.806.122 |
Diferença percentual |
30,8 |
14,2 |
11,7 |
Fonte: idem Tabela 32.
Devemos admitir que simplesmente calcular a “contagem líquida de corpos” é uma medida um tanto elementar de eficácia militar; Michael Howard disse inclusive que “reduzir os critérios de eficácia militar a esse tipo de contagem de corpos é uma reductio ad absurdum”.55 Mas não é fácil conceber outra forma de avaliar o desempenho dos Exércitos na Primeira Guerra Mundial. Ao tentar avaliar a eficácia das ofensivas em termos de territórios conquistados, só se consegue provar o que qualquer estudante já sabe: que, durante a maior parte do período de 1915 a 1917, a guerra na Frente Ocidental foi um jogo de soma zero.
Além disso, como assinala Charles Maier, durante toda a guerra o número de alemães mortos pela Grã-Bretanha e por seus aliados jamais superou o dos que completavam 18 anos (Tabela 34). Se a exaustão realmente houvesse sido a maneira de ganhar a guerra, continuaria firme e forte em 1919, quando a coorte de novos recrutas alemães atingiu o nível mais alto desde 1914. Nas palavras de Stone, “o efetivo militar era, para todos os propósitos, inesgotável”.56
É claro, seria possível argumentar que, em termos relativos, a estratégia da exaustão foi eficaz por causa da quantidade muito maior de homens à disposição dos generais da Entente. Em outras palavras, eles seriam capazes de absorver perdas maiores do que os Impérios Centrais: o que contava não era o número absoluto de soldados inimigos mortos ou capturados, mas sim a proporção de homens disponíveis. A Tabela 35 associa o número de mortes com o efetivo militar dos países combatentes. É visível que, em termos relativos, os Impérios Centrais foram realmente mais afetados pela guerra, perdendo 11,5% de seus homens adultos, contra apenas 2,7% do outro lado. Alguns diriam que isso, por si só, é uma explicação suficiente para a vitória dos Aliados. Mas os números dos Aliados são extremamente distorcidos pela grande quantidade de homens do lado da Entente e dos Aliados que não serviu o Exército. Ao todo, apenas 5% da população total desses países foi de fato mobilizada, em comparação com 17% dos Impérios Centrais. Pode-se muito bem perguntar até que ponto esses homens não mobilizados estariam dispostos a lutar caso lhes houvesse sido solicitado. Isso se aplica sobretudo a grandes partes do Império Britânico, mas também poderíamos indagar quantos homens mais os norte-americanos teriam conseguido mobilizar se a guerra tivesse perdurado; como se veio a saber, a insubmissão ao recrutamento nos Estados Unidos chegou a 11% (337.649 casos ao todo).57 Se considerarmos o diferencial mostrado na primeira coluna (número de mortos como um percentual de homens efetivamente mobilizados), a diferença diminui para 15,7% para os Impérios Centrais contra 12% para o lado inimigo.
Tabela 34 Efetivo militar disponível na Alemanha, 1914-1918
|
Homens completando 18 anos de idade (aprox.) |
Mortos na guerra |
Excedente |
1914 |
670.000 |
241.000 |
429.000 |
1915 |
674.000 |
434.000 |
240.000 |
1916 |
688.000 |
340.000 |
348.000 |
1917 |
693.000 |
282.000 |
411.000 |
1918 |
699.000 |
380.000 |
319.000 |
1919 |
711.000 |
|
|
Fonte: Maier, “Wargames”, p. 266.
Tabela 35 Mortes de soldados como percentual do efetivo militar
País |
Total de mortos como percentual do total mobilizado |
Total de mortos como percentual da população masculina entre 15 e 49 anos |
Total de mortos como percentual da população |
Escócia |
26,4 |
10,9 |
3,1 |
Grã-Bretanha e Irlanda |
11,8 |
6,3 |
1,6 |
Canadá |
9,7 |
2,6 |
0,8 |
Austrália |
14,5 |
4,4 |
1,2 |
Nova Zelândia |
12,4 |
5,0 |
1,5 |
África do Sul |
5,1 |
0,4 |
0,1 |
Índia |
5,7 |
0,1 |
0,0 |
Império Britânico (excluindo a Grã-Bretanha) |
8,8 |
0,2 |
0,1 |
França |
16,8 |
13,3 |
3,4 |
Colônias francesas |
15,8 |
0,5 |
0,1 |
Bélgica |
10,4 |
2,0 |
0,5 |
Itália |
10,3 |
7,4 |
1,6 |
Portugal |
7,0 |
0,5 |
0,1 |
Grécia |
7,4 |
2,1 |
0,5 |
Sérvia |
37,1 |
22,7 |
5,7 |
Romênia |
25,0 |
13,2 |
3,3 |
Rússia |
11,5 |
4,5 |
1,1 |
Estados Unidos |
2,7 |
0,4 |
0,1 |
Total – Aliados |
12,0 |
2,7 |
0,7 |
Alemanha |
15,4 |
12,5 |
3,0 |
Áustria-Hungria |
12,2 |
9,0 |
1,9 |
Turquia |
26,8 |
14,8 |
3,7 |
Bulgária |
22,0 |
8,0 |
1,9 |
Total – Impérios Centrais |
15,7 |
11,5 |
2,6 |
Total geral |
13,4 |
4,0 |
1,0 |
Fonte: J. Winter, Great War, p. 75.
Além disso, se considerarmos aquele que foi o país estrategicamente mais importante na guerra – a França –, fica claro que os alemães conseguiram infligir maiores perdas em todos os aspectos. Os franceses e os alemães mobilizaram mais ou menos a mesma proporção de sua população; mas os alemães mataram mais franceses do que o contrário. E, o que é ainda pior, a cada ano os franceses tinham menos homens jovens disponíveis para lutar do que os alemães. Todavia, o Exército francês não sucumbiu (embora tenha sofrido uma debilitante crise moral em 1917). Foi o Exército russo – cujas baixas foram relativamente poucas em proporção ao número de homens mobilizados, e ínfimas em proporção a todos os homens adultos – que sucumbiu primeiro. Como já vimos, os escoceses foram (depois dos sérvios e dos turcos) os soldados que sofreram o maior índice de mortes na guerra; mas os regimentos escoceses continuaram lutando até o fim. Portanto, uma explicação mecanicista para a derrota dos Impérios Centrais, como a defendida pelos proponentes da exaustão, não se aplica. De fato, diante das diferenças na contagem líquida de corpos aqui apresentadas, fica difícil entender como os alemães e seus aliados perderam a Primeira Guerra Mundial.
O estudo mais sofisticado sobre o número de baixas de ambas as Guerras Mundiais, de Trevor Dupuy, conclui que, em média, as tropas alemãs foram 20% mais eficazes do que as britânicas ou as norte-americanas. Dupuy estuda cinco batalhas da Primeira Guerra Mundial e atribui “pontuações” para “o número de baixas por dia, como um percentual dos soldados mobilizados”, e então ajusta essas pontuações para levar em consideração “a vantagem operacional conhecida que é conferida pela postura defensiva” (1,3 para Defesa Ligeira, 1,5 para Defesa Preparada e 1,6 para Defesa Fortificada). A “pontuação de efetividade” média para as forças alemãs é 5,51, ou 2,61 se omitirmos os prisioneiros russos (não há motivo real para fazê-lo); o número para os russos é 1,5; para os Aliados ocidentais, ainda mais baixo: 1,1.58
Essa linha de raciocínio pode ser mais explorada para explicar a decisiva Frente Ocidental. Os números oficiais de baixas mensais talvez não sejam a mais confiável das fontes históricas, mas não são tão inúteis a ponto de merecerem ser ignorados (como, em geral, têm sido pelos historiadores). Eles mostram claramente que, com exceção de oito dos 64 meses entre fevereiro de 1915 e outubro de 1918, os alemães conseguiram infligir um maior número de baixas à Grã-Bretanha no setor britânico da linha – e três daqueles oito meses foram bem no fim da guerra (de agosto a outubro de 1918) (ver Figura 12). Também devemos notar que, durante a maior parte da guerra, as baixas de oficiais foram muito mais numerosas do lado britânico que do lado alemão: em cada ano do conflito, os alemães mataram ou capturaram mais oficiais no setor britânico do que perderam.59 A Figura 13 reúne os números disponíveis com relação à França, à Grã-Bretanha e à Alemanha para mostrar que, de agosto de 1914 a junho de 1918, não houve um único mês sequer em que os alemães não tenham matado ou capturado mais soldados da Entente do que eles próprios perderam. É verdade que durante todo esse período o Exército britânico na Frente Ocidental estava crescendo, de modo que a taxa proporcional de perda de oficiais e de soldados certamente estava diminuindo. Quando os números britânicos são somados aos franceses e comparados com o total de baixas alemãs na Frente Ocidental, a impressão é de que os exércitos da Entente de fato melhoraram. Entretanto, foi só no verão de 1918 que a contagem líquida de corpos virou em seu favor; e isso refletiu primordialmente o rápido aumento no número de alemães se rendendo, e não uma melhora significativa no número líquido de mortes infligido pelos Aliados (ver Capítulo 13). Com efeito, se considerarmos o número de mortes no setor britânico (que é um dado sabidamente incompleto, porque depois se descobriu que muitos dos listados como desaparecidos haviam sido mortos), é como se, ao fim da guerra, a contagem líquida de corpos estivesse mais uma vez a favor da Alemanha depois das perdas terríveis durante a ofensiva da primavera. Esses números indicam que em agosto, setembro e outubro de 1918 os alemães estavam alcançando um superávit de mortos sobre os britânicos que só encontrava equivalente no período da Batalha do Somme.
Figura 12 A “contagem líquida de corpos”: baixas britânicas descontando-se as baixas alemãs no setor britânico da Frente Ocidental, 1915-1918
Nota: Os números nem sempre se referem a meses específicos, de modo que, em uma série de casos, são informadas as cifras médias mensais, o que pode subestimar o impacto de certas ações militares em determinados meses.
Fonte: War Office, Statistics of the British Military Effort, p. 358-362.
Figura 13 A “contagem líquida de corpos”: número de baixas permanentes nos Exércitos britânico e francês descontando-se as do Exército alemão, agosto de 1914 a julho de 1918 (Frente Ocidental)
Nota: Para o período de agosto a outubro de 1918, os números de baixas permanentes se referem apenas ao setor britânico, e portanto a desvantagem alemã é subestimada. Em geral, as estatísticas oficiais alemãs publicadas a partir dos anos 1930 omitem os meses depois de julho. Deist, “Military Collapse”, p. 203, fornece um total de 420 mil mortos e feridos e mais 340 mil prisioneiros e desaparecidos no período de meados de julho a 11 de novembro, o que implica uma média de 245 mil baixas mensais (de agosto a outubro), mais 15 mil em novembro. No entanto, os números acima também omitem as baixas permanentes norte-americanas, que totalizaram 110 mil mortos e 11.480 prisioneiros, a maioria das quais sofridas precisamente nesse período. Se estes fossem incluídos, o déficit alemão na contagem líquida de corpos no fim de 1918 seria reduzido.
Fontes: War Office, Statistics of the British Military Effort, p. 253-265; Reichswehrministerium, Sanitätsbericht, vol. I, p. 140-143; Guinard et al., Inventaire, vol. I, p. 213.
J. E. B. Seely, que comandou a brigada da Cavalaria Canadense, resumiu o absurdo da exaustão quando observou, em 1930: “Alguns tolos do lado aliado pensaram que acabariam com a guerra na Frente Ocidental exterminando os alemães. É claro que esse método só poderia funcionar se houvéssemos matado muito mais soldados do que perdemos”.60 E só se mostrou impossível quando, em consequência da ofensiva de Ludendorff, os britânicos foram obrigados a se defender. Suas próprias operações ofensivas, com pouquíssimas exceções, tenderam a infligir tantas baixas permanentes em suas próprias forças quantas nas do inimigo, se não mais. Em suma, os alemães alcançaram e mantiveram um nível mais elevado de eficácia militar no palco decisivo durante a maior parte da guerra. Diante do exposto, a possibilidade de uma vitória alemã, apesar de todas as probabilidades econômicas contrárias, parece muito menos fantasiosa.
Como podemos explicar a imensa discrepância de eficácia e eficiência entre a Entente e os Impérios Centrais na guerra decisiva em terra?
A explicação mais popular continua sendo a de que os generais da Entente eram “asnos”, caracterizados, no caso britânico, por “uma mentalidade extremamente petulante e invejosa, uma psicologia obtusa […] em consequência de sua educação estreita”.61 Como T. E. Lawrence afirmou de modo memorável: “os homens eram, muitas vezes, nobres combatentes, mas, com igual frequência, seus generais entregaram com estupidez o que haviam obtido com ignorância”.62 Lloyd George foi outro que desdenhou do “cérebro [dos generais] […] cheio de entulhos inúteis, ocupando cada dobra e nicho. Parte disso nunca foi limpa até o fim da guerra […] exceto por ouvir dizer, eles não sabiam nada a respeito de travar uma batalha em condições modernas”.63 Tais visões continuam a influenciar escritores atuais como Laffin, para quem os generais britânicos eram reacionários “carniceiros e ineptos”.64 Recentemente, outros acadêmicos procuraram refinar as críticas. Segundo afirmam, os generais demoraram para compreender a natureza da guerra de trincheira; ordenaram ataques que não estavam suficientemente preparados ou apoiados por artilharia e careciam de objetivos claros; prosseguiram até muito depois de as chances de sucesso terem desaparecido; procuraram penetrar as linhas alemãs em vez de infligir o máximo de baixas; e trataram de ganhar terreno, independentemente de seu valor tático, ao mesmo tempo que foram incapazes de estimar a importância dos terrenos adequados para observação de artilharia. De acordo com Bidwell e Graham, o Exército no pré-guerra carecia de uma doutrina de guerra real e não soube se adaptar às táticas da nova tecnologia de guerra,65 visão que foi endossada por Travers.66
Em defesa dos difamados oficiais de alta patente, uma série de explicações foi apresentada para as baixas relativamente numerosas sofridas pela Grã-Bretanha:
1. O Exército britânico tinha de atacar, ainda que os alemães (e, em Gallipoli, os turcos) fossem capazes de se defender. As armas de fogo modernas afastaram os soldados do campo de batalha e os conduziram às trincheiras e aos abrigos subterrâneos. Com artilharia e munição suficientes, era possível romper essas defesas, mas não havia como tirar vantagem disso. A mesma artilharia que criava a oportunidade também a eliminava, uma vez que a munição destruía o solo e, portanto, tornava extremamente difícil avançar com as armas a fim de retomar a ofensiva sob seu fogo protetor. Enquanto os ataques tendiam a ficar atolados, as reservas inimigas podiam avançar rapidamente por trem. Terraine associou o exército atacante a um lutador com uma perna de gesso: forte, mas lento.67 Foi a mesma coisa quase em toda parte: nas palavras de Fuller, “em cada frente, o inimigo era a bala, a pá e o arame farpado”.68
O outro problema técnico era a má qualidade do comando, do controle e das comunicações.69 Em 1914, a Força Expedicionária Britânica ainda precisava desenvolver meios adequados para observação aérea, fotografia aérea e sinais de comunicação. Os mapas eram imprecisos. As redes de comunicação paravam na linha de frente, e assim que as tropas deixavam esse ponto sua posição era desconhecida. Durante a batalha, apesar de precauções elaboradas como enterrar cabos de telégrafo triplicados por diferentes rotas, era grande a probabilidade de que as comunicações fossem cortadas pelo fogo de artilharia do inimigo. Os generais, portanto, eram obrigados a confiar nos relatos fragmentados dos mensageiros.70 Foi só em 1918 que os exércitos desenvolveram serviços de sinal sofisticados e tiveram acesso à radiotelegrafia. Essa falha nas tecnologias de comunicação é um fator muito significativo para explicar o grande número de baixas do lado agressor.71 Como afirma Holmes,
não foi primordialmente o aumento da capacidade de matar que conferiu à Frente Ocidental seu caráter único: foi o fato de que as comunicações sempre ficaram para trás com relação aos meios de defesa. Sempre foi mais fácil para um defensor, forçado a recorrer às suas próprias comunicações, superar suas fraquezas do que para um agressor, com suas comunicações expandidas pelos rincões inóspitos do campo de batalha, tirar proveito de suas vantagens.72
2. Os britânicos também foram, reiteradas vezes, obrigados a ofensivas prematuras por causa das exigências da guerra de coalizão. A Força Expedicionária Britânica não teria iniciado os ataques precoces de 1915 se não houvesse (nas palavras de Kitchener) “dúvidas de por quanto mais tempo [o Exército russo] seria capaz de suportar os golpes alemães”.73 Ele também alertou o Gabinete de que “não seria possível, sem que isso afetasse a Aliança de maneira grave e talvez irremediável, recusar a cooperação que Joffre esperava”.74 De acordo com Esher, em janeiro de 1915, “os franceses são esplêndidos, mas não conseguem suportar mais do que certa dose de pressão”.75 Não foi atípico que, quando os franceses cancelaram um ataque à Vimy Ridge que deveria coincidir com o ataque britânico à Neuve Chapelle em março de 1915, sir John French tenha seguido na frente de todo modo, para demonstrar sua disposição de “cooperar lealmente e da maneira mais cordial”.76 Da mesma forma, a data, a hora e o lugar da ofensiva no Somme foram decididos pelos franceses, e não por Haig, que preferia ter atacado em Flandres.
Isso continuou em 1917. A Terceira Batalha de Ypres foi justificada por Charteris por causa de um medo de que a França viesse a “desistir” se as tropas britânicas fossem desviadas para outro palco (desta vez, o Adriático, para apoiar a Itália), como Lloyd George queria.77 Foi só em Messines (junho de 1917) que o Exército britânico foi capaz de tomar a iniciativa estratégica, isto é, decidir quando e onde atacar. Mas a independência de ação não era exatamente a maneira de ganhar a guerra. O necessário era uma efetiva coordenação dos esforços dos Aliados. Só diante das ofensivas alemãs de 1918 o Exército britânico aceitou as consequências de um compromisso continental: a unidade de comando sob os franceses.78 Mesmo então, os problemas persistiram; os norte-americanos sob o comando de Pershing, por exemplo, resistiram firmemente à união sob Pétain, negando que a oportunidade fosse guiada por comandantes mais experientes.79
3. Ao contrário do Exército alemão, o Exército britânico não foi concebido para uma guerra continental. Em junho de 1919, Haig lembrou: “entramos nesta guerra sem estar preparados para ela […] Durante todo o conflito, estávamos nos esforçando desesperadamente para não ficar para trás”.80 Por exemplo: havia um único corpo de oficiais em tempos de paz, em parte por causa das restrições financeiras, mas sobretudo porque não havia intenção alguma de que existisse algum nível de comando entre o quartel-general e a Força Expedicionária Britânica.81 Allenby, que estava no comando da Divisão de Cavalaria, percebeu que não contava com nenhum oficial do Estado-Maior permanente. Ele tinha outros, mas eram inexperientes.82 Os generais britânicos, portanto, foram forçados a improvisar desde o início.
O problema era que – e aqui as desculpas devem cessar – toda a cultura do Exército britânico regular desfavorecia uma improvisação eficaz. A estrutura de comando se baseava na obediência a superiores e na desconfiança de subordinados; os homens ainda podiam progredir de acordo com suas conexões; e os comandantes ainda podiam ser “afastados” por disputas pessoais.83 Isso podia ter graves repercussões: quando Haig questionou o plano original de Rawlinson para o Somme, este último se sentiu incapaz de defender sua posição, e, como resultado, Haig conseguiu insistir no objetivo suicida de avançar. Como afirmou Rawlinson, “perseguir uma ofensiva sem limites é uma aposta arriscada, mas D. H. quer isso, e estou preparado para assumir qualquer coisa razoável [sic]”.84 Um comandante do Exército não ousava corrigir o comandante-chefe, mesmo quando dezenas de milhares de vidas estavam em jogo.85 Inibições similares existiram em todos os níveis. As ordens vinham de cima para baixo; havia pouca comunicação no sentido contrário. Em consequência, os oficiais, os suboficiais e os soldados se acostumaram a “aguardar ordens”. Na batalha, como observou J. M. Bourne, “quando o bombardeio alemão interrompeu as comunicações, a paralisia se instalou”. Para adaptar a linguagem não inadequada da organização industrial, isso era “administração de linha”, e não fornecia mecanismo algum pelo qual a visão dos “gerentes de linha locais” pudesse ser transmitida à matriz.86 Em parte por essa razão, os proponentes de uma abordagem mais tecnocrática fizeram poucos avanços em comparação com os que sustentavam a crença tradicional de que a guerra era uma disputa moral em vez de material.87 Deu-se demasiada ênfase ao moral, à coragem e à disciplina; e atenção insuficiente às táticas e ao poder de fogo.88
Mas esses problemas não diminuíram quando o velho Exército foi diluído com novos homens; muito ao contrário. Ser maior significou ser mais burocrático. Como afirma Charteris, o Exército se tornou responsável:
pelo fornecimento de comida, pelo transporte rodoviário e ferroviário, pela lei e pela ordem, pela engenharia, pela prática médica, pela Igreja, pela educação, pelo serviço postal, até mesmo pela agricultura, e por uma população maior do que toda e qualquer unidade de controle (exceto Londres) na Inglaterra […] Além disso, pelo lado puramente militar da questão […] O incrível é que, com exceção do transporte e dos serviços postais, cada parte específica da organização é controlada por soldados regulares […] Cada departamento está sob sua própria liderança, e todas as lideranças recebem ordens de um único homem – o Chefe. Ele não vê nenhum dos responsáveis por esses grandes departamentos mais do que uma vez ao dia, e muito raramente durante mais de meia hora em cada ocasião […]89
O próprio comando, como afirmou Martin van Creveld, tornou-se burocrático: “a condução da guerra no campo de batalha remontava à fábrica e ao gabinete” e, imperceptivelmente, “os métodos do gabinete e da fábrica” passaram a “dominar o campo de batalha”.90 De acordo com Dominic Graham, foi precisamente essa tendência organizacional que fez que a Força Expedicionária Britânica aprendesse tão pouco entre Neuve Chapelle e Cambrai.91 Portanto, embora tenha aprendido a lutar de maneira decisiva, foi lenta em discernir o melhor momento para atacar, sendo incapaz de coordenar os diferentes exércitos à sua disposição, incapaz de dominar a interação entre fogo e movimento.92 Ninguém se deu ao trabalho de especificar nos manuais o princípio básico de que “as táticas de tiro consistiam na ocupação progressiva de posições de disparo vantajosas e em seu uso efetivo por todas as tropas para infligir baixas ao inimigo”, sem, é claro, incorrer em baixas comparáveis em si próprios.93
Além do mais, armamentos como tanques e artilharia tenderam a ser vistos como meros acessórios de infantaria, e não como partes de um mesmo sistema. Um exemplo clássico muitas vezes citado é o fato de que foram necessários 13 meses para que um protótipo de tanque fosse aceito pelo Gabinete de Guerra, outros sete meses para que os tanques fossem empregados em combate (em Flers-Courcelette, em setembro de 1916) e mais 14 meses para que se fizesse um ataque com um número significativo de tanques. Isso apesar do fato de os componentes do tanque – o revestimento blindado, o motor de combustão interna e o sistema de locomoção sobre lagartas (esteiras) – estarem todos disponíveis desde aproximadamente 1900, assim como o conceito de veículo blindado de combate. E mesmo quando os tanques se tornaram disponíveis, os comandantes do Exército tenderam a ignorar os conselhos de especialistas quanto ao modo como esses deveriam ser usados.94 Mesmo depois de Amiens, Haig rejeitou a ideia de uma guerra mecânica, continuando a acreditar que a força humana era essencial para a vitória.95 O conservadorismo no alto escalão foi agravado pelo fenômeno da “lealdade ao distintivo”, que encorajava os oficiais e os soldados a se identificarem com seu batalhão, em vez de se identificarem com a brigada ou com a divisão.96
O uso que a Grã-Bretanha fez da artilharia fornece outro indício notável de deficiência; pois a artilharia foi, em muitos aspectos, o fator mais importante para uma guerra de grandes cercos.97 De 1914 até a Batalha do Somme, os britânicos estavam simplesmente desarmados, carecendo de armas potentes o bastante e de estoques adequados de munição (em especial, havia escassez de explosivos detonantes).98 A artilharia era primordialmente “observada”, o que significa que os atiradores só tinham como acertar os alvos que eram capazes de ver (isso excluía tanto o tiro indireto quanto o de contrabateria); os mapas eram pouco usados, e as baterias eram desperdiçadas, o que tornava difícil o tiroteio concentrado. Na Batalha de Loos, em setembro de 1915, houve cerca de 60 mil baixas britânicas, quando a infantaria recebeu ordens de atacar sem ter apoio suficiente da artilharia. Só aos poucos se compreendeu que a artilharia e a infantaria precisariam coordenar seus esforços.
No fim de 1915, os atiradores britânicos haviam aprendido sobre tiro indireto, e o reconhecimento aéreo era usado pela primeira vez. Cada vez mais armas pesadas (especialmente obuses e armas de calibre maior) apareceram, assim como grandes quantidades de munição para lidar com as taxas cada vez mais altas de disparos. A artilharia era controlada centralmente para o bombardeio inicial. Foram feitos os primeiros experimentos com tiros de barragem. No entanto, esses poucos avanços se tornaram insignificantes diante das ineficiências que caracterizaram a ofensiva no Somme. Os comandantes da Entente agora acreditavam que, como o objetivo da artilharia era destruir as defesas do inimigo, os bombardeios deveriam ser prolongados. Nas palavras de sir John French, “se houver munição suficiente, pode-se abrir caminho pela linha [inimiga]”.99 Ou, como afirmou Pétain, “hoje, a artilharia conquista uma posição e a infantaria a ocupa”. Supunha-se que o peso da munição compensaria qualquer falta de precisão. Mas, com efeito, a decisão de Haig de bombardear tanto a primeira quanto a segunda linha alemã dividiu o peso do bombardeio. O que é ainda mais grave, a munição era defeituosa (cerca de 30% não explodiu), e um quarto das armas estava simplesmente gasto por excesso de uso. Também havia pouquíssimos explosivos detonantes, além de uma série de contratempos técnicos: a calibragem era uma questão de adivinhação, o levantamento topográfico era impreciso, a comunicação ruim impedia o tiro observado e a contrabateria era ineficaz. Além disso, o plano de tiro britânico era demasiado rígido.100 E, o pior de tudo, os bombardeios de 1916 não só fracassaram em sua primeira tarefa de destruição (Haig subestimou a força das defesas alemãs), como também dificultaram o avanço subsequente da infantaria. A mesma coisa aconteceu em Arras em abril de 1917, onde a destruição foi muito mais eficiente e o sucesso inicial, muito maior, mas lá o solo estava tão arruinado que não havia como avançar com as armas suficientemente rápido, e então a defesa conseguiu reparar a brecha. Ainda não se havia percebido a necessidade de bombardeios mais breves para garantir a surpresa, e a adesão a um plano de tiro rígido impedia que se tirasse proveito do sucesso inicial.101 Messines viu outras melhorias técnicas, sobretudo a devastadora explosão de 19 minas ocupadas por alemães e a eficaz barreira progressiva; mas, como observamos acima, o Exército britânico ainda perdeu 2 mil homens a mais que o alemão. O bombardeio breve e concentrado antes do ataque com tanques em Cambrai foi outro passo na direção correta; porém, como tantas vezes, havia pouquíssimas reservas para resistir ao contra-ataque alemão.
Em comparação, o Exército alemão foi um modelo de proficiência tática e operacional. Michael Geyer afirmou que a reorganização do Exército alemão implementada por Ludendorff em 1916 foi o divisor de águas na reação militar à Primeira Guerra Mundial, deslocando “o consagrado controle hierárquico de um homem sobre outro em favor de uma organização funcional da violência”.102 Enquanto os britânicos meramente enxertaram novas armas em seus conceitos imutáveis e continuaram preocupados com a mão de obra, os alemães criaram táticas baseadas na nova tecnologia.103 Os avanços clássicos alemães foram a “defesa em profundidade” (pirateada de um documento confiscado dos franceses);104 a “barreira progressiva” e o bombardeio “furacão”, desenvolvidos pelo coronel Georg Bruchmüller;105 e as “tropas de assalto” (Stosstrupps), unidades especialmente treinadas, de grande mobilidade e armadas até os dentes cuja função era se infiltrar e romper as linhas inimigas. Vistos em sua plena forma na primavera de 1918, estes já existiam em agosto de 1915.106
Foi a defesa em profundidade que mais impressionou analistas do pós-guerra como G. C. Wynne. Em essência, os alemães substituíram o sistema de uma grande linha atirando de frente por pequenos grupos atirando pela lateral do invasor.107 A linha de frente (que era o primeiro alvo para o fogo de artilharia inimigo) era débil, mas por trás dela havia uma zona de defesa contínua, de modo que a “linha” incluía postos avançados dispersos e posições de metralhadora, e a força era reservada para o contra-ataque. Quando a tática foi usada para repelir as ofensivas dos Aliados em 1917, o resultado foi impressionante.108 Foi apenas no início de 1918 que os Aliados começaram a imitar a defesa em profundidade, e é possível afirmar que eles jamais a dominaram realmente. Um princípio similar, aplicado ao ataque, é a base da tática da tropa de assalto: mais uma vez, a ênfase era em pequenos grupos agindo com mobilidade e flexibilidade.
Essas forças táticas alemãs tinham raízes em uma cultura militar diferente. De acordo com Dupuy, as autoridades militares alemãs haviam “descoberto o segredo de institucionalizar a excelência militar”.109 Da mesma forma, Martin Samuels aponta para uma filosofia de combate marcadamente alemã, que reconhecia seu caráter essencialmente caótico.110 Isso, por sua vez, influenciou o modo como as estruturas de comando evoluíram. Os alemães preferiam o “comando diretivo” (processo descentralizado de tomada de decisão, com foco na missão, e flexível em todos os níveis), ao passo que os britânicos preferiam o “controle restritivo”, que deliberadamente desencorajava a iniciativa.111 As diferenças no treinamento também decorreram logicamente disso. A “teoria do caos” alemã demandava um nível mais alto de treinamento para promover a adaptabilidade; o método britânico só exigia obediência. Além disso, o oficial alemão não parava de aprender ao obter sua patente; o corpo de oficiais era baseado na meritocracia e os oficiais inaptos eram eliminados sem piedade.112 Essa linha de argumentação foi mais tarde desenvolvida pelo estudo de Gudmundsson sobre a tática de tropas de assalto, cujo sucesso, segundo o autor, dependia da existência de um “corpo de oficiais autodidata”.113
Antes da guerra, os críticos costumavam desdenhar do militarismo prussiano, afirmando que este inculcou nos soldados a Kadavergehorsamkeit – obediência cega. Lorde Northcliffe certa vez se gabou de que os soldados britânicos tinham mais senso de iniciativa do que os alemães, graças às tradições britânicas de individualismo e esportes em equipe. Nada poderia estar mais distante da verdade. Na realidade, era o Exército britânico, extremamente amador, que se caracterizava por rigidez excessiva em sua cultura de comando e uma cultura de obediência acrítica abaixo do nível dos suboficiais – e, quando os oficiais e os suboficiais eram despreparados, uma cultura de inércia acrítica (“Se você souber de um buraco melhor…”).* Já os alemães, durante a guerra, encorajaram seus homens a tomar a iniciativa no campo de batalha, reconhecendo (como ensinara Clausewitz) que o “atrito” e as falhas de comunicação rapidamente tornariam obsoletos os planos detalhados de operações.
Os defensores do esforço de guerra britânico invariavelmente nos lembram de que a “Grã-Bretanha ganhou a guerra” (ou estava do lado vencedor). Pela mesma razão, poucos estudiosos que se dedicam à história da Alemanha têm paciência com a afirmação expressa por Friedrich Ebert – que logo seria o primeiro presidente da República de Weimar – de que seu exército não havia sido derrotado no campo de batalha.114 Mas, diante das evidências anteriores, é fácil perceber por que tantos alemães acreditaram nisso.
Como, então, explicar a derrota alemã em 1918? De acordo com Paddy Griffith, há uma resposta satisfatória para essa pergunta: a de que a Força Expedicionária Britânica ganhou a guerra porque, no fim das contas, se saiu melhor no combate. Em 1918, os britânicos finalmente haviam aprendido a usar tanques, aeronaves, veículos blindados, cavalaria e, acima de tudo, a coordenar a infantaria e a artilharia. Ao mesmo tempo, a infantaria havia aprendido novas táticas, como avançar em pequenos grupos em formação de losango ou atrás dos tanques, e havia incorporado novos tipos de armas de fogo portáteis (granadas de mão, morteiros de trincheira Stokes, granadas de fuzil e metralhadoras Lewis).115
A artilharia também melhorou. Finalmente se considerou que os ataques deveriam ser corroborados por uma barreira progressiva se quisessem dar resultado, e que seria necessário fazer mais uso de reconhecimento aéreo, pesquisa de campo e inteligência. Morteiros foram usados para cortar cabos, e foram introduzidas barreiras de metralhadoras. Planos de tiro elaborados tiraram melhor proveito de todas as armas disponíveis. As armas foram concentradas de maneira mais eficaz.116 A importância do tiro de contrabateria também foi reconhecida, bem como o uso de munição de fumaça para proteger a infantaria. A calibragem precisa, o melhor posicionamento de armas, o levantamento topográfico e as técnicas de localização do inimigo com base na luz e no som emitidos por seus disparos possibilitaram um tiro de precisão sem precedentes, que antes havia servido como um mero prenúncio para os ataques pretendidos. Acima de tudo, o prolongado bombardeio impreciso foi substituído pelo bombardeio maciço em toda a profundidade da zona defensiva. Por fim, compreendeu-se que a principal tarefa da artilharia não era obliterar, mas sim neutralizar as defesas inimigas e armas por tempo suficiente para a infantaria avançar. Isso não só minimizou a destruição do terreno, como também restaurou o elemento-surpresa, que até então estivera totalmente ausente das ofensivas britânicas.
A culminação desses avanços, segundo se argumenta, foi o triunfo dos “Cem Dias” em 1918. Em ataques como os de Beaumont-Hamel e, acima de tudo, Amiens, os britânicos souberam combinar infantaria, artilharia, tanques e aeronaves de maneiras que, segundo os estudiosos de história militar, prefiguraram a Segunda Guerra Mundial. Bailey chegou a falar do “nascimento […] do estilo de guerra moderno”, uma mudança tão revolucionária “que, daí em diante, o desenvolvimento da blindagem e do poder aéreo e a chegada da Era da Informação não passam de complementos a ela”.117 Griffith a chamou de “uma verdadeira revolução na técnica”.118 Portanto, Terraine parece ter razão: “O inimigo foi fundamentalmente superado pelo sistema de armas britânico”.119
A possível falha nesse argumento é que a retirada alemã no verão de 1918 nunca se tornou um desastre. Pelo contrário: os alemães continuaram sendo extremamente eficazes para matar o inimigo. Sem dúvida, nos meses de agosto a outubro de 1918, a balança da contagem líquida de corpos pendeu contra os alemães pela primeira vez na guerra: ao todo, 123.300 alemães a mais do que britânicos foram registrados como mortos, desaparecidos ou feitos prisioneiros no setor britânico da Frente Ocidental durante aqueles meses. No entanto, uma grande proporção das baixas alemãs era de homens que se renderam. As estatísticas britânicas oficiais, embora imperfeitas, mostram que a contagem líquida de assassinatos ainda indicava uma vantagem dos alemães, de cerca de 35.300 homens. Por esse parâmetro, o pior momento para o Exército alemão não foi agosto, e sim abril de 1918, quando os britânicos estimaram que o número de alemães mortos excedia em 28.500 o de britânicos.
Devemos, é claro, tratar esses números com cuidado, já que muitos dos registrados como desaparecidos nos meses decisivos de 1918 na verdade haviam sido mortos. Mas as evidências parecem indicar que a chave para a vitória dos Aliados não foi uma melhoria em sua capacidade de matar o inimigo, mas, antes, um aumento repentino na disposição dos soldados alemães para se render. Como argumentaremos nos próximos dois capítulos, não se pode assumir com certeza que essa queda no moral alemão se deveu necessariamente às melhorias nas táticas britânicas descritas acima; há pelo menos uma possibilidade de que tenha sido um fenômeno endógeno. Uma afirmação similar pode ser feita sobre o colapso austro-húngaro no monte Grappa e no rio Piave. Entre 26 de outubro e 3 de novembro, os italianos capturaram 500 mil prisioneiros, mas infligiram apenas 30 mil baixas em batalha.120 Isso teria ocorrido porque o marechal Diaz havia revolucionado as táticas italianas? Parece mais provável que tenha sido porque o moral austro-húngaro implodiu quando os soldados alemães deixaram de estar dispostos a lutar pelo império moribundo dos Habsburgo.
Estudos mais detalhados mostram os limites do sucesso militar dos Aliados contra os alemães. O estudo de Rawling sobre o Corpo Canadense revela, como era de esperar, que este sofreu o maior número relativo de baixas na Batalha de Ypres, em 1915, e na Batalha do Somme, em 1916 – em outras palavras, na base de sua curva de aprendizagem tática. No entanto, não houve avanços sustentados depois disso. O índice de baixas em Vimy Ridge em 1917 foi 16%; em Passchendaele, 20%; em Amiens, 13%; em Arras, 15%; e em Canal du Nort, 20% – exatamente o que havia sido em Passchendaele.121
Os indícios de perdas consideráveis em 1918 são ainda mais evidentes no caso da Força Expedicionária Norte-Americana, uma parte importante do efetivo dos Aliados, mas demasiado inexperiente para partilhar de sua suposta revolução tática. Muitas vezes se afirmou na época (e algumas pessoas ainda acreditam) que os norte-americanos “ganharam a guerra”. Na realidade, a Força Expedicionária Norte-Americana sofreu baixas desproporcionalmente numerosas, sobretudo porque Pershing ainda acreditava em ataques frontais, desprezava o treinamento britânico e o francês por considerá-los excessivamente cautelosos e insistia em manter divisões descomunais e difíceis de manejar. As operações do Primeiro Exército Norte-Americano contra a Linha Hindenburg (a Kriemhilde Stellung) em setembro-outubro de 1918 eram ultrapassadas e dispendiosas. Foi só na última semana de outubro que as defesas alemãs finalmente foram penetradas, depois de uma sucessão de ataques frontais que custaram em torno de 100 mil baixas (muitas delas foram causadas por gás, algo com o que outros exércitos haviam aprendido mais ou menos a lidar). Trask concluiu que “o serviço mais importante da Força Expedicionária Norte-Americana” foi simplesmente “aparecer na França”; eles eram mais úteis para aliviar as tropas britânicas e francesas em setores tranquilos do front e para insinuar aos alemães que a reserva de homens dos Aliados era inesgotável.122 Se foi isso o que fez os soldados alemães decidirem se render, dificilmente foi um triunfo de táticas revolucionárias.
O avanço dos Aliados estava, na verdade, desacelerando no fim de outubro de 1918; quando as tropas alemãs se aproximaram de sua própria Heimat, recuperaram sua determinação. Austen Chamberlain perguntou à esposa: “Quantos homens mais teremos perdido daqui a um ano?”.123 Haig também encarou com alívio a possibilidade de um armistício. Em 19 de outubro, ele disse a Henry Wilson: “Nosso ataque no dia 17 encontrou resistência considerável, e […] o inimigo não estava pronto para uma rendição incondicional. Nesse caso, não haveria armistício, e a guerra continuaria por mais um ano”.124 Como lembrou Lloyd George, “o conselho militar que recebemos não nos encorajou a esperar o fim imediato da guerra. Todos os nossos planos e preparações […] foram, portanto, feitos com base no pressuposto […] de que a guerra certamente não terminaria antes de 1919”.125
Portanto, não foi a superioridade tática dos Aliados que pôs fim à guerra: foi uma crise de moral alemã, e isso só em parte pode ser atribuído à influência exógena da infantaria e da artilharia dos Aliados. O ponto crucial a ser observado é que os alemães que continuaram lutando ainda se mostraram mais aptos para matar o inimigo. Foram os alemães que escolheram se render – ou desertar, evadir ou protestar – que acabaram com a guerra. Sem dúvida, sua decisão foi influenciada pela melhoria na capacidade de combate do inimigo; os acontecimentos de 8 de agosto fora de Amiens foram de fato “a maior derrota que o Exército alemão havia sofrido desde o início da guerra”.126 Mas o que tornou as coisas realmente sombrias foi a admissão de derrota por parte do Alto-Comando alemão. Em 10 de agosto, Ludendorff entregou ao Kaiser seu pedido de renúncia, admitindo que “o espírito guerreiro de algumas divisões deixa muito a desejar”. Embora não tenha aceitado o pedido de Ludendorff, Guilherme II respondeu com atípico realismo: “Vejo que precisamos fazer um balanço, estamos à beira da [in]solvência. A guerra precisa acabar”.127 Três dias depois, Ludendorff
reavaliou a situação militar, a condição do Exército e a posição de nossos Aliados, e explicou que já não era possível forçar o inimigo a implorar por paz por meio de uma ofensiva. A defensiva, por si só, dificilmente conseguiria atingir esse objetivo, de modo que o fim da guerra deveria ser alcançado por diplomacia […] A conclusão lógica [era de] que negociações de paz eram essenciais.128
Se essa era a opinião tanto do soberano de facto quanto do soberano de jure da Alemanha, não é de admirar que seus soldados agora começassem a se render ou a desistir de lutar. Foi só em 2 de outubro que o Reichstag e a população alemã receberam a notificação formal de que o Alto-Comando queria um armistício. No entanto, é óbvio que os muitos soldados perceberam, mais de um mês antes, que seus líderes consideravam a guerra perdida.
Mas hoje está claro que Ludendorff, exausto e doente, estava reagindo de forma exagerada. Assim como a guerra da Alemanha havia começado com um ataque de nervos (o de Moltke), também terminava com um: o de Ludendorff. Cansado e enfermo depois do fracasso de suas ofensivas, Ludendorff concluiu, de maneira precipitada, que o Exército ruiria se ele não garantisse um armistício; parece mais provável que seu desejo de um acordo de paz causou a ruína. Haig acreditava que o Exército alemão era “capaz de se retirar para suas próprias fronteiras e defender essa linha”.129 Essa também era a visão de Julian Bickersteth, um experiente capelão da linha de frente do Exército, que escreveu em 7 de novembro (o dia em que o armistício foi assinado):
O inimigo […] está empreendendo uma inteligente ação de retaguarda, e não vejo como podemos esperar que ele se movimente com mais rapidez. As dificuldades em nossas comunicações à medida que avançamos são alarmantes – com pontes explodidas e estradas arruinadas, nosso progresso é, por necessidade, muito lento, e o inimigo tem tempo mais do que suficiente para recuar e formar novos postos de metralhadoras, infligindo baixas numerosas quando avançamos […] Todos nós, exceto, talvez, os oficiais de Estado-Maior que não entendem nada do combate ou do moral dos alemães, prevemos pelo menos mais seis meses de guerra.130
Foi Ludendorff quem deu a punhalada fatal nos alemães, e foi pela frente, não pelas costas. Para adaptar a frase de Ernst Jünger (embora ele estivesse se referindo a Langemark, com um significado bem diferente): “Os alemães depararam com uma força superior: eles depararam consigo mesmos”.131
Se novembro de 1918 houvesse testemunhado uma verdadeira vitória dos Aliados, os soldados britânicos, franceses e norte-americanos teriam marchado em triunfo pela avenida Unter den Linden. Isso, afinal, era o que Pershing, Poincaré e muitos outros queriam ver. O principal motivo pelo qual isso não aconteceu foi que Haig, Foch e Pétain duvidaram que seus Exércitos tivessem capacidade para tal. Os Aliados haviam, sem dúvida, derrotado os búlgaros, os austro-húngaros e os turcos: mas não haviam derrotado completamente os alemães. Em vez disso, foram as tropas alemãs que marcharam para Berlim, com tristeza, mas como tinha de ser.
Em 31 de maio de 1918, sir John du Cane, encarregado da missão britânica no quartel-general de Foch, comunicou a sir Maurice Hankey seus
consideráveis temores sobre o futuro […] [Ele] está particularmente aflito com a ideia de termos 2,5 milhões de reféns no continente no caso de uma derrota francesa. Ele vislumbra a possibilidade de o Exército francês ser esmagado e separado de nós, de o inimigo exigir, como condição para a paz, a entrega de todos os portos de Ruão e Havre a Dunquerque e, diante de uma recusa, de sermos impiedosamente atacados pelo Exército alemão. Ele não acredita que possamos retirar nosso exército e considera que, se quiséssemos prosseguir com a guerra, teríamos de encarar a possibilidade de mais de um milhão de prisioneiros na França.132
Essas não eram as visões de uma Cassandra isolada. Cinco dias depois, sir Maurice Hankey, sir Henry Wilson e lorde Milner se reuniram no número 10 da Downing Street para discutir “a proposta de evacuação de Ypres e de Dunquerque” e “a possibilidade de retirar todo o Exército da França se os franceses falharem”. Ainda em 31 de julho, a opinião de Milner era de que “jamais se deve bater nos Boch”.133
Os acontecimentos mostram que essas visões eram demasiado pessimistas, mas atestam o fato de que uma vitória alemã na Primeira Guerra Mundial parecia não ser uma possiblidade irrealista. Os Impérios Centrais haviam derrotado a Sérvia (em 1915), a Romênia (em 1916) e a Rússia (em 1917). Também haviam chegado perto de derrotar a Itália. Portanto, a derrota da França e da Grã-Bretanha em 1918 estava longe de ser inconcebível; afinal, os alemães chegaram a 65 quilômetros de Paris naquele mês de maio. E tudo isso apesar da enorme inferioridade em recursos econômicos. Essa conquista se deveu primordialmente à excelência tática do Exército alemão.
Diante das críticas batidas à estratégia alemã, é, portanto, tentador formular outra pergunta contrafatual. Depois que a guerra eclodiu, houve alternativas estratégicas que a Alemanha poderia ter adotado para alcançar a vitória? Várias se revelam.
Alguns historiadores insinuam que o antigo plano Ostaufmarsch para uma concentração inicial em derrotar a Rússia em 1914 teria sido preferível ao Plano Schlieffen. No entanto, seria possível argumentar que o Plano Schlieffen não foi concebido para conquistar um Blitzkrieg, mas meramente para dar à Alemanha a posição defensiva mais forte possível para uma guerra prolongada;134 nesses termos, foi relativamente bem-sucedido. Também devemos lembrar que os alemães foram muito eficazes para matar franceses durante os primeiros meses da guerra: poucos Exércitos na história sofreram tantas baixas em tão poucas semanas e sobreviveram.
Mais digno de crédito é o argumento de que Falkenhayn errou ao atacar Verdun: teria sido melhor manter uma postura defensiva no Ocidente e se concentrar na Rússia. Mas, uma vez que os britânicos e os franceses intensificaram sua produção de armas e munições, a defesa se revelou não muito menos custosa do que o ataque. Não está nada claro se os alemães teriam se saído melhor se houvessem sentado e esperado que os britânicos e franceses cometessem suicídio atacando. Os historiadores que ridicularizam o “culto” à ofensiva durante o pré-guerra tendem a negligenciar o fato de que defender, como os alemães precisaram fazer no Somme, era genuinamente mais desmoralizante do que atacar, e não muito menos custoso em termos de vidas e amputações.135 Em todo caso, a vitória sobre a Rússia em 1917-1918 criou quase tantos problemas quanto resolveu. Para ter garantido a máxima concentração de força no Ocidente, os alemães teriam precisado resistir à tentação à qual sucumbiram em 1918: tentar a expansão em larga escala na Europa Oriental.
De maneira similar, os argumentos contra o uso de guerra submarina irrestrita negligenciaram o fato de que, sem ela, os britânicos teriam sido capazes de importar ainda mais produtos e munições do outro lado do Atlântico. E este só foi um erro se for possível demonstrar que os alemães poderiam ter ganhado a guerra antes de os norte-americanos terem chegado à França em número suficiente para garantir uma vitória dos Aliados.
Portanto, a questão crucial talvez seja: Ludendorff deveria ter resistido à tentação de atacar na primavera de 1918? Hoje, é fácil argumentar que sim. Mas não havia nada de errado com seu diagnóstico em 11 de novembro de 1917: “nossa situação geral requer que ataquemos quanto antes, se possível no fim de fevereiro ou no começo de março, antes que os norte-americanos possam enviar forças em grande escala. Precisamos derrotar os britânicos”.136 Havia apenas 287 mil norte-americanos na França em março de 1918, dos quais apenas três divisões estavam na linha. Em novembro de 1918, havia 1,944 milhão. Por outro lado, o Exército francês havia encolhido de 2,234 milhões em julho de 1916 para 1,668 milhão em outubro de 1918, embora os alemães também estivessem bem abaixo de sua capacidade máxima. Sem dúvida, Ludendorff errou ao desviar seu ataque para o sul a fim de separar os britânicos e os franceses; talvez dois ataques convergentes em Flandres e em Péronne tivessem sido melhores. Entretanto, os verdadeiros erros vieram depois que Ludendorff percebeu que não seria capaz de fragmentar completamente a resistência inimiga (em 5 de abril).
Aquele era o momento de renunciar à Bélgica em nome de uma paz negociada, e não de tentar ainda mais ofensivas.137 E, quando estas falharam (e estavam fadadas a isso), Ludendorff não deveria ter procurado um armistício com tanta pressa; em vez de atacar em Reims em 15 de julho, os alemães deveriam ter se retirado para a Linha Hindenburg.138
Finalmente, foi um erro de cálculo endossar os Catorze Pontos de Woodrow Wilson, como os alemães fizeram ao apelar para ele pelo fim das hostilidades. Tanto em casa quanto no front, é bem provável que o moral dos alemães teria se elevado se eles soubessem que os nacionalistas radicais, os industrialistas e os líderes militares franceses solicitaram repetidas vezes que a separação da margem esquerda do Reno, se não o completo desmembramento do Reich, fosse um objetivo de guerra da França. Isso não era nenhum segredo; tais propostas apareceram nas páginas de jornais de direita como o Echo de Paris e o Action Française: por exemplo, Charles Maurras pedia a completa dissolução do Reich em uma série de artigos neste último, no fim de 1916. Suas propostas lembravam muito o plano traçado para Joffre no mesmo ano pelo coronel Dupont, um oficial sob seu comando, que imaginava não só a devolução da Alsácia-Lorena à França como também a anexação da bacia de carvão de Saar e duas porções de Baden (em Kehl e Germersheim); a separação da Renânia e sua conversão em um satélite, ou grupo de satélites, francês; a expansão da Bélgica, que deixaria de ser neutra e passaria a depender da França; o desmembramento da Prússia; e a dissolução do Reich em nove pequenos Estados. A Áustria-Hungria também seria desmembrada. Até mesmo o programa mínimo adotado pelo governo de Aristide Briand em outubro de 1916 concebia a separação e a neutralização da Renânia.139 Para impedir isso, parece haver poucas dúvidas de que os soldados alemães teriam continuado lutando; o que eles se recusavam a fazer era continuar lutando enquanto seus senhores barganhavam um armistício.
1. Herwig, “How ‘Total’ was Germany’s U-Boat Campaign”, passim.
2. Herwig, “Dynamics of Necessity”, p. 104.
3. Kennedy, “Britain in the First World War”, p. 48, 54, 57s, 60s; Herwig, “Dynamics of Necessity”, p. 90s, 98.
4. Ferguson, Paper and Iron, p. 138.
5. Haupts, Deutsche Friedenspolitik, p. 119.
6. Ferguson, Paper and Iron, p. 139.
7. Offer, First World War, p. 15-18. Cf. Simon, “Alternative Visions of Rationality”, p. 189-204.
8. Herwig, “Dynamics of Necessity”, p. 89.
9. Ibid., p. 93s.
10. Ver, mais recentemente, Herwig, First World War, passim.
11. Herwig, “Dynamics of Necessity”, p. 95. Ao todo, 65 divisões francesas lutaram em Verdun, em comparação com 47 divisões alemãs, de modo que o número de baixas entre os franceses foi mais distribuído. As divisões alemãs foram, em média, mais exauridas. Ver também Millett et al., “Effectiveness”, p. 12.
12. Deist, “Military Collapse”, p. 186-207.
13. Ibid., p. 197.
14. Ibid., p. 190.
15. Johnson, 1918, p. 141, 145.
16. Maier, “Wargames”, p. 266s.
17. Ferguson, Paper and Iron, p. 138.
18. Herwig, “Admirals versus Generals”, p. 212-215, 219, 224, 228. Uma das propostas mais pitorescas de Holtzendorff foi que a Bélgica fosse dividida entre os Hohenzollern e os Bourbon, que, segundo imaginou, retornariam ao trono francês.
19. Além de Fischer, Germany’s War Aims, ver Gatzke, Germany’s Drive to the West, e o definitivo Soutou, L’Or et le sang.
20. L. Cecil, Albert Ballin, p. 261-266, 269s; Schramm, Neun Generationen, vol. II, p. 491.
21. Herwig, “Admirals versus Generals”, p. 219.
22. Warburg, Aus meinen Aufzeichnungen, p. 58.
23. Feldman, “War Aims”, p. 5-12, 18.
24. Herwig, “Admirals versus Generals”, p. 231.
25. Kersten, “Kriegsziele”, passim.
26. Herwig, “Admirals versus Generals”, p. 215ss.
27. Kitchen, Silent Dictatorship, passim.
28. Wehler, German Empire, p. 215ss; Stegmann, Erben Bismarcks, p. 497-519.
29. Deist, “Military Collapse”, p. 194.
30. Trumpener, “Road to Ypres”, p. 460-480. Ver também H. Harris, “To Serve Mankind”, p. 31s.
31. Herwig, “Dynamics of Necessity”, p. 96.
32. Ferro, Great War, p. 93s; Banks, Military Atlas, p. 281-301. Os bombardeios por zepelins e aviões mataram 1.413 britânicos e feriram 3.409; as vítimas alemãs em decorrência de bombardeamento aéreo foram 740 mortos e 1.900 feridos.
33. Herwig, “Dynamics of Necessity”, p. 85, 94.
34. Andrew, Secret Service, p. 139-194.
35. Para uma avaliação favorável da estratégia adotada pela Grã-Bretanha, ver Kennedy, “Britain in the First World War”, p. 37-49; Kennedy, “Military Effectiveness”, esp. p. 344s.
36. Liddell Hart, British Way, p. 12s, 29s.
37. Clark, Donkeys, passim.
38. Ver Terraine, Douglas Haig; Terraine, Western Front; Terraine, Road to Passchendaele; Terraine, To Win a War; Terraine, Smoke and the Fire; Terraine, First World War.
39. Barnett, Swordbearers.
40. Howard, “British Grand Strategy”, p. 36.
41. D. French, “Meaning of Attrition”, p. 385-405.
42. Edmonds, Short History, p. 94.
43. D. French, “Meaning of Attrition”, p. 403.
44. Terraine, First World War, p. 122.
45. T. Wilson, Myriad Faces, p. 331.
46. Terraine, First World War, p. 172.
47. Guinn, British Strategy, p. 230; Woodward, Great Britain, p. 276ss.
48. J. Gooch, Plans of War, p. 31.
49. T. Wilson, Myriad Faces, p. 441.
50. Ibid., p. 547.
51. Edmonds, Short History, p. 335. Palavras do tenente-general Godley, comandante do 21º Corpo de Exército.
52. G. Parker, Times Atlas of World History, p. 248s; Bullock, Hitler and Stalin, Apêndice II; Davies, Europe, p. 1328.
53. Coker, War and the Twentieth Century, p. 93.
54. War Office, Statistics of the Military Effort, p. 246. Cf. T. Wilson, Myriad Faces, p. 559.
55. Howard, Crisis of the Anglo-German Antagonism, p. 14.
56. Stone, Eastern Front, p. 266.
57. Nägler, “Pandora’s Box”, p. 14.
58. Dupuy, Genius for War, esp. p. 328-332.
59. Simpson, “Officers”, p. 63-98; Strachan, “Morale”, p. 389.
60. D. French, “Meaning of Attrition”, p. 386.
61. Cruttwell, History of the Great War, p. 627.
62. T. E. Lawrence, Seven Pillars, p. 395.
63. Terraine, Smoke and the Fire, p. 171.
64. Laffin, British Butchers, passim.
65. Bidwell e Graham, Fire-Power, p. 2s.
66. Ver esp. Travers, Killing Ground, esp. p. 66, 250.
67. Terraine, White Heat, p. 93.
68. Fuller, Conduct of War, p. 161.
69. Terraine, Smoke and the Fire, p. 179.
70. Edmonds, Official History: Military Operations, vol. I, p. 355; Terraine, Smoke and the Fire, p. 118.
71. Terraine, White Heat, p. 148.
72. Holmes, “Last Hurrah”, p. 284.
73. Maier, “Wargames”, p. 267.
74. R. Williams, “Lord Kitchener”, p. 118.
75. Ibid., p. 122. Cf. Terraine, Douglas Haig, p. 154; Philpott, Anglo-French Relations, passim.
76. Edmonds, Short History, p. 89.
77. Maier, “Wargames”, p. 269.
78. Philpott, Anglo-French Relations, p. 163s.
79. Trask, AEF and Coalition Warmaking, passim.
80. Hussey, “Without an Army”, p. 76, 81.
81. Edmonds, Official History: Military Operations, vol. I, p. 7.
82. Terraine, “British Military Leadership”, p. 48.
83. Travers, Killing Ground, p. xx, 23.
84. T. Wilson, Myriad Faces, p. 309.
85. Prior e Wilson, Command on the Western Front, p. 150s.
86. Bourne, Britain and the Great War, p. 171.
87. Travers, Killing Ground, p. 5s.
88. Ibid., p. 49.
89. Creveld, Command in War, p. 156s.
90. Ibid., p. 186; também p. 262.
91. D. Graham, “Sans Doctrine”, p. 75s.
92. Bidwell e Graham, Fire-Power, p. 3.
93. Ibid., p. 27.
94. Travers, Killing Ground, p. 73; ver também p. 62, 75.
95. Travers, How the War Was Won, p. 175-180. Cf. Travers, Killing Ground, p. 111.
96. Griffith, British Fighting Methods, p. 6.
97. Terraine, “Substance of the War”, p. 8.
98. Edmonds, Official History: Military Operations, vol. I, p. 313.
99. Kennedy, “Britain in the First World War”, p. 50.
100. Prior e Wilson, Command, p. 153, 163-166. Sulzbach, With the German Guns, mostra que só mais tarde, na guerra, Sulzbach começou a se sentir vulnerável ao fogo de contrabateria do outro lado.
101. Cf. Farndale, History of the Royal Regiment of Artillery, p. 178.
102. Geyer, “German Strategy”, p. 541.
103. Strachan, “Morale”, p. 383.
104. Herwig, “Dynamics of Necessity”, p. 95.
105. Ver esp. Griffith, Forward into Battle, p. 78.
106. O relato clássico, embora romantizado, é Jünger, Storm of Steel.
107. Wynne, If Germany Attacks, p. 5.
108. Travers, How the War Was Won, p. 176.
109. Dupuy, Genius for War, p. 5.
110. Samuels, Command or Control?, p. 3.
111. Ibid., p. 5.
112. Ver, em geral, Samuels, Doctrine and Dogma, p. 175.
113. Gudmunsson, Stormtroop Tactics, p. 172ss.
114. Bessel, “Great War”, p. 21.
115. Griffith, “Tactical Problem”, p. 71.
116. Farndale, History of the Royal Regiment of Artillery, p. 158.
117. Bailey, “First World War and the Birth of the Modern Style of Warfare”, p. 3.
118. Griffith, British Fighting Methods, p. xii. Cf. Griffith, Battle Tactics.
119. Prior e Wilson, Command, p. 339.
120. Wawro, “Morale in the Austro-Hungarian Army”, p. 409.
121. Rawling, Surviving Trench Warfare, p. 221.
122. Trask, AEF and Coalition Warmaking, p. 171-174.
123. Maier, “Wargames”, p. 273.
124. Johnson, 1918, p. 166.
125. Ibid., p. 167.
126. Ibid., p. 94.
127. Ibid., p. 109.
128. Ibid., p. 112.
129. Strachan, “Morale”, p. 391.
130. Bickersteth, Bickersteth Diaries, p. 295.
131. Coker, War and the Twentieth Century, p. 120.
132. J. Johnson, 1918, p. 189.
133. Ibid., p. 189s.
134. Ver Förster, “Dreams and Nightmares”.
135. Kennedy, “Military Effectiveness”, p. 343.
136. Edmonds, Short History, p. 281.
137. Herwig, “Dynamics of Necessity”, p. 102.
138. Howard, Crisis of the Anglo-German Antagonism, p. 17.
139. Prete, “French Military War Aims”, p. 888-898.