Houve, entretanto, outro motivo pelo qual os homens continuaram lutando; e foi por que eles não viram nenhuma possibilidade mais interessante. Como disse Norman Gladden a respeito da véspera da Terceira Batalha de Ypres: “Se ao menos houvesse uma alternativa. Mas eu sabia que não tinha escolha”. Mas seria verdade? Isso nos leva ao ponto crucial. Havia, é claro, uma alternativa. O capítulo anterior só considerou as opções mais difíceis: a deserção, da qual era difícil sair impune (especialmente para soldados britânicos monoglotas como Eric Partridge, que “não teve sequer a coragem de desertar”);1 ou o motim, a forma mais difícil de resistência à autoridade militar. Também se poderiam acrescentar as técnicas de atirar no próprio pé e, até mesmo, suicidar-se; ambas extremamente difíceis de executar, tendo em vista que a dor provocada em si próprio, certa e imediata, raras vezes parece preferível à dor futura e talvez evitável infligida por outros. Por essa razão, o número de suicídios e ferimentos autoinfligidos nunca foi muito alto.
Mas havia outra opção: render-se.
A rendição foi o fator essencial para o desfecho da Primeira Guerra Mundial. Apesar das longuíssimas listas de óbitos, mostrou-se impossível alcançar os objetivos ideais da doutrina alemã antes da guerra, “a aniquilação do inimigo”: a composição demográfica garantia que, a cada ano, houvesse novos recrutas em número mais ou menos suficiente para preencher as lacunas criadas pela exaustão. Por esse motivo, a “contagem líquida de corpos” em favor dos Impérios Centrais não foi suficiente para levá-los à vitória. No entanto, o que de fato se mostrou possível foi fazer o inimigo se render em tal número que sua capacidade de lutar foi fatalmente diminuída.
Na época, as pessoas sabiam que grandes capturas de tropas inimigas eram um bom sinal. Em torno de 10% do filme britânico A Batalha do Somme é dedicado a imagens de prisioneiros de guerra alemães. Curiosamente, há uma sequência no fim da Parte III em que um soldado britânico ameaça um prisioneiro de guerra, embora, em outras, “prisioneiros alemães feridos e emocionalmente abalados” sejam vistos recebendo bebidas e cigarros.2 Os fotógrafos oficiais eram encorajados a retratar tais cenas. Os alemães também produziram cartões-postais e cinejornais mostrando prisioneiros de guerra estrangeiros sendo conduzidos por cidades alemãs.3 A importância da rendição nunca foi mais visível do que na Frente Oriental em 1917; pois a chave para a derrota militar da Rússia foi o grande número de soldados que se entregaram naquele ano. Ao todo, mais da metade do total de baixas russas correspondia a homens que eram feitos prisioneiros. A Áustria e a Itália também perderam grande parte de seus homens dessa maneira: respectivamente, 32% e 26% de todas as baixas. Mas, durante a maior parte da guerra, os índices de rendição dos Exércitos britânico, francês e alemão foram muito mais baixos. Apenas 12% das baixas francesas, 9% das alemãs e 7% das britânicas corresponderam à captura de prisioneiros.
Foi só bem no fim da guerra, como mostra a Figura 17, que os soldados alemães passaram a se entregar em grande número, começando em agosto de 1918. De acordo com uma estimativa, 340 mil alemães se renderam entre 18 de julho e o armistício.4 Entre 30 de julho e 21 de outubro – menos de três meses –, os britânicos, sozinhos, capturaram 157 mil alemães. Durante todo o restante da guerra, eles haviam capturado pouco mais do que isso (190.797). Só na última semana, 10.310 se renderam.5 Esse era um sinal concreto de que a guerra estava chegando ao fim. De fato, o número de homens mortos conta uma história completamente diferente. Nos últimos três meses de combate, 4.225 oficiais e 59.311 soldados britânicos foram mortos, em comparação com 1.540 e 26.688 do Exército alemão (entre os que combateram no setor britânico).6 Em outras palavras, em termos de assassinato, os perdedores na guerra ainda foram duas vezes mais eficazes do que os vencedores. Porém, em termos de captura de prisioneiros, não há dúvida de que os alemães estavam sendo derrotados. Para explicar isso, não basta simplesmente dizer que os alemães estavam “cansados da guerra”, desmoralizados ou, ainda, com frio e com fome. Também é necessário examinar suas atitudes em relação ao inimigo a quem estavam se rendendo; e o modo como esse inimigo reagia à rendição.
Tabela 42 Prisioneiros de guerra, 1914-1918
País de origem dos prisioneiros de guerra |
Mínimo |
Máximo |
Percentual de prisioneiros com relação ao total de baixas |
França |
446.300 |
500.000 |
11,6 |
Bélgica |
10.203 |
30.000 |
11,0 |
Itália |
530.000 |
600.000 |
25,8 |
Portugal |
12.318 |
12.318 |
37,2 |
Grã-Bretanha |
170.389 |
170.389 |
6,7 |
Império Britânico |
21.263 |
21.263 |
3,3 |
Romênia |
80.000 |
80.000 |
17,8 |
Sérvia |
70.423 |
150.000 |
14,6 |
Grécia |
1.000 |
1.000 |
2,1 |
Rússia |
2.500.000 |
3.500.000 |
51,8 |
Estados Unidos |
4.480 |
4.480 |
1,4 |
Total – Aliados |
3.846.376 |
5.069.450 |
28,0 |
Bulgária |
10.623 |
10.623 |
4,2 |
Alemanha |
617.922 |
1.200.000 |
9,0 |
Áustria-Hungria |
2.200.000 |
2.200.000 |
31,8 |
Turquia |
250.000 |
250.000 |
17,2 |
Total – Impérios Centrais |
3.078.545 |
3.660.623 |
19,9 |
Total de prisioneiros |
6.924.921 |
8.730.073 |
24,2 |
Contagem de prisioneiros |
767.831 |
1.408.827 |
|
Diferença percentual |
25 |
38 |
|
Notas: As estimativas para os prisioneiros gregos incluem desaparecidos e, portanto, provavelmente superestimam o número de prisioneiros de guerra. As estimativas para os romenos são bem aproximadas.
Fontes: War Office, Statistics of the Military Effort, p. 237, 352-237; Terraine, Smoke and the Fire, p. 44.
Há uma boa razão para essa relutância dos soldados em se renderem na Frente Ocidental – e não é apenas a superioridade moral e disciplinar. A rendição era perigosa; com efeito, durante grande parte da guerra a maioria dos soldados sentiu que os riscos que um homem corria ao se entregar eram maiores do que aqueles que corria ao continuar lutando.
Figura 17 Prisioneiros alemães capturados pelo Exército britânico na França, julho de 1917 a dezembro de 1918
Fonte: War Office, Statistics of the Military Effort, p. 632.
Por que a rendição era perigosa? A resposta é que, em várias ocasiões, de um lado e de outro soldados eram mortos não só quando tentavam se render como também depois de terem se rendido. Estas são, pode-se dizer, as “atrocidades” esquecidas da Primeira Guerra Mundial, mas, provavelmente, foram as mais importantes. Durante todo o tempo em que coisas como essas ocorreram – e ocorreram com frequência suficiente para que homens de ambos os lados se conscientizassem delas –, houve um considerável desestímulo à rendição. Essa foi uma das razões mais importantes para os homens continuarem lutando mesmo quando se encontravam em situações perigosas, se não irremediáveis. Se a opção de se render tivesse sido mais segura em 1917-1918, parece plausível que um número maior de homens o tivesse feito a fim de escapar das batalhas terríveis daqueles anos; portanto, o fato de não ser seguro se render acabou prolongando a guerra. Quando os alemães perderam o medo de se entregar para os exércitos dos Aliados, a guerra terminou. Se os franceses ou os britânicos houvessem se entregado em números comparáveis durante a primavera de 1918, Ludendorff teria sido perdoado por todos os seus pecados de omissão estratégica.
Para que fique mais claro o problema da rendição – e esse é um problema constante durante a guerra –, é útil imaginar um jogo teórico: em vez do dilema do prisioneiro, o dilema do capturador. O dilema do capturador é simples: aceitar a rendição do inimigo ou matá-lo. O capturador vinha lutando contra um oponente que tentava assassiná-lo e que, de repente, aparenta se render. Se ele estiver sendo sincero, a coisa certa a fazer é aceitar sua rendição e enviá-lo a um campo de prisioneiros de guerra. Esse é o curso de ação racional por quatro motivos. Um prisioneiro pode ser usado como:
1. informante;
2. mão de obra;
3. refém;
4. exemplo para seus camaradas (se, ao tratá-lo bem, for possível induzi-lo a convencer os demais a se entregarem também).
Desses quatro pontos, o primeiro e o segundo foram considerados especialmente importantes durante a Primeira Guerra Mundial. Os alemães capturados eram submetidos a interrogatórios que tinham por finalidade obter informações sobre o inimigo, e Haig confiou firmemente nos resultados de tal procedimento.7 Além disso, os prisioneiros de guerra eram uma fonte útil de mão de obra barata num momento em que esta era escassa. Embora, no início, Haig tenha se oposto ao uso de alemães capturados na França para esse propósito, acabou sendo vencido pelo Gabinete. Em novembro de 1918, os prisioneiros de guerra alemães representavam 44% da mão de obra da Força Expedicionária Britânica. Tecnicamente, sob a Convenção de Haia, eles não poderiam receber tarefas associadas com operações militares, mas essa foi uma distinção quase impossível de se manter, e o termo “trabalho de preparação” veio a ser interpretado de forma bastante flexível (os franceses usaram prisioneiros de guerra até mesmo para cavar trincheiras).8De fato, o uso de prisioneiros de guerra em áreas a menos de 30 quilômetros da linha de frente deu origem a um protesto por parte do governo alemão em janeiro de 1917, acompanhado de represálias que consistiram em trasladar os prisioneiros britânicos para as proximidades das linhas alemãs na França e na Polônia.9 Os prisioneiros também foram usados como reféns: os alemães colocaram prisioneiros em campos em Karlsruhe, Freiburg e Stuttgart para atuar como “para-raios”, na esperança de deter os bombardeios dos Aliados.10 Entretanto, prestou-se menos atenção ao quarto argumento a favor da captura de soldados inimigos, visto que pouco foi feito para divulgar o fato de que os prisioneiros estavam sendo relativamente bem tratados.
Quais são, no dilema do capturador, os argumentos contra a captura de prisioneiros? Um deles é que o suposto capturado pode estar blefando. De tempos em tempos durante a Grande Guerra, os soldados eram alertados por seus comandantes acerca de tais estratagemas: um homem aparentava se entregar, os atacantes afrouxavam seus esforços de vigilância e, então, forças inimigas ocultas abriam fogo. Típica foi a experiência das tropas britânicas em Aisne, em setembro de 1914, assassinadas quando aceitaram um gesto falso de rendição.11 Da mesma forma, o tenente Louis Dornan, do Corpo de Fuzileiros de Dublin, foi morto no Somme quando alguns alemães que aparentemente haviam se rendido “lhe deram um tiro no coração”.12 Em outras ocasiões, não se tentou fraude alguma: enquanto alguns membros de um grupo de soldados se entregavam, outros continuavam lutando. Em Bullecourt, em 1917, um oficial australiano chamado Bowman ordenou que seus homens se rendessem e, em seguida, ele próprio se entregou. “Dois soldados alemães estavam escoltando o oficial quando nossos camaradas atiraram em ambos. Eles também ameaçaram atirar no tenente Bowman”.13 Poderia muito bem ter sido o contrário, como no caso do tenente-coronel Graham Seton Hutchison, que, segundo dizem, atirou em 38 de seus próprios homens por tentarem se entregar, e em seguida retomou a guerra contra os alemães.14
Em outras palavras, aceitar a rendição é, portanto, arriscado.15 Também pode ser bem difícil transportar um prisioneiro – na Primeira Guerra Mundial, o Exército estipulava uma proporção de um ou dois soldados para escoltar dez prisioneiros16 –, e qualquer um incumbido dessa função tinha de ser subtraído da força de ataque. O problema aumenta se o soldado que se entrega está ferido e incapaz de caminhar sem auxílio. A solução simples é atirar no prisioneiro e esquecê-lo; se ele continuasse lutando, esse teria sido seu destino de qualquer modo, e enquanto esteve em combate ele provavelmente infligiu baixas no exército inimigo. Mas a prática de atirar no prisioneiro, embora resolvesse um problema imediato, era ilegal segundo as leis militares nacionais e internacionais: para ser preciso, o Regulamento 23 (c) da Convenção de Haia determinava que era proibido matar ou ferir um prisioneiro que havia baixado as armas em rendição, e o Regulamento 23 (d) proibia que se desse a ordem de inclemência.17 Além do mais, na prática, matar prisioneiros tinha consequências negativas, porque encorajava a resistência por outras tropas inimigas que, não fosse por isso, poderiam ter se entregado. Daí o dilema do capturador: aceitar um inimigo que se entrega, com todos os riscos pessoais que isso implica, ou atirar nele, com a probabilidade de que a resistência se torne mais firme, aumentando assim os riscos para o seu próprio exército como um todo.
Na realidade, foram os alemães que começaram a prática ilegal e, em última instância, irracional de não fazer prisioneiros. Assim, o soldado Fahlenstein, do 34º Corpo de Fuzileiros, registrou em seu diário que, em 28 de agosto de 1914, cumpriram-se ordens de matar prisioneiros franceses feridos. Mais ou menos na mesma época, o suboficial Göttsche, do 85º Regimento de Infantaria, recebeu ordens de seu capitão perto do forte de Kessel, nas proximidades da Antuérpia, de não fazer prisioneiros. De acordo com o diário de um médico alemão, os franceses feridos foram assassinados com baionetas por uma companhia de sapadores alemães em 31 de agosto. Um jornal silesiano inclusive relatou (sob a manchete “Um dia de honra para nosso regimento”) que prisioneiros franceses foram executados no fim de setembro.18 É quase certo que os soldados estavam seguindo ordens verbais como as que foram dadas aos regimentos 112º (Baden) e 114º. De acordo com o diário de um soldado alemão em 27 de agosto, “os prisioneiros franceses feridos foram todos mortos a tiros porque mutilaram e maltrataram nossos feridos”; isso, no entanto, foi o que lhe disseram seus superiores. Outro recruta, chamado Dominik Richert, confirmou que seu regimento (a 112a Infantaria) recebeu ordens de matar prisioneiros; curiosamente, ele observou que a ordem desagradou à maioria dos soldados – ainda que não a todos.19
Tal comportamento continuou durante toda a guerra. Em março de 1918, Ernst Jünger descreveu como um subordinado na companhia de outro oficial atirou em “uma dúzia ou mais” de prisioneiros ingleses que estavam “correndo com os braços para cima em meio à primeira onda de tropas de assalto rumo à retaguarda”. Os sentimentos de Jünger eram ambivalentes: “matar um homem indefeso”, escreveu, “é uma ruindade. Nada na guerra era mais repulsivo para mim do que aqueles heróis das mesas de refeitório que costumavam repetir, com uma risada estúpida, o velho conto [sic] dos prisioneiros trazidos: ‘Você ficou sabendo do massacre? Hilário!’”. Mas ele sentia que não podia “culpar os homens por sua conduta sanguinária”.20
É tentador meramente acrescentar esses episódios à ficha de acusações do Schrecklichkeit (terror) alemão. Mas isso não basta. Pois parece claro que as potências da Entente não demoraram para responder na mesma moeda. Karl Kraus mostrou isso em Os últimos dias da humanidade. No Ato V, cena 14, oficiais alemães são vistos ordenando a seus homens que matem prisioneiros franceses em Saarburg. Na cena seguinte, entretanto, oficiais franceses discutem o assassinato de 180 prisioneiros alemães à baioneta perto de Verdun.21 Como na maioria das vezes, quanto mais grotesca uma cena na peça de Kraus, mais próxima da verdade ela se revela.
Em 1922, August Gallinger, um ex-médico do Exército e, desde 1920, professor de filosofia na Universidade de Munique, publicou um livro intitulado Countercharge [Contra-acusação], no qual listou uma série de alegações de que soldados aliados haviam cometido atrocidades contra prisioneiros alemães.22 A maioria dos historiadores estaria inclinada a descartar tal obra por julgá-la mero pleito especial, uma tentativa débil por parte de um alemão de provar que “um erro justifica o outro” em resposta às alegações de atrocidades alemãs durante a guerra. Entretanto, as acusações de Gallinger merecem consideração.
O próprio Gallinger serviu no Exército bávaro e foi um dos muitos alemães capturados no fim da guerra (pelos franceses, em setembro de 1918). Ele não gostou muito do tratamento que recebeu, embora fosse honesto o bastante para admitir que não presenciou nenhum incidente de morte de prisioneiros. Mas, como veremos, provavelmente houve menos de tais incidentes a essa altura da guerra (e talvez tenha sido por isso que tantos alemães estiveram dispostos a se render).
Depois da guerra, Gallinger começou a reunir declarações de outros ex-prisioneiros. Ler seus depoimentos é de arrepiar. Sem dúvida, alguns descrevem incidentes do tipo que acontece na maioria dos conflitos no calor da batalha. Mas outros descrevem atos que só podem ser definidos como assassinato a sangue-frio. Com frequência, esses prisioneiros eram homens feridos a quem os franceses simplesmente liquidaram. Karl Alfred, de Mehlhorn, descreveu como, depois que a trincheira de sua companhia foi atacada, “os soldados franceses apareceram de ambos os lados e mataram brutalmente os feridos com a coronha dos fuzis ou com as baionetas. Os que estavam deitados a meu lado foram mortos um após outro por baionetas enfiadas na cabeça. Eu fingi estar morto, e por isso escapei”.23 “Johann Sch.”, de Dortmund, descreveu que “reservistas franceses marchando para a frente de batalha enfileiraram cinco ou seis alemães gravemente feridos e tiveram prazer em atirar nesses pobres indefesos. O oficial da companhia, entre outros, foi morto com dois golpes na cabeça”.24 De acordo com Gallinger, esse tipo de comportamento não era necessariamente espontâneo: a 151a Divisão francesa incumbiu nettoyeurs da tarefa específica de matar inimigos feridos sob a justificativa de que “os soldados alemães, depois de erguer os braços em sinal de rendição, com frequência atiravam em seus capturadores pelas costas”.25 Mas não só os feridos foram assassinados. John Böhmm, de Fürth, relatou: “Um sargento francês veio e nos perguntou a que nação pertencíamos. O primeiro homem questionado respondeu ‘Baviera’; tomou um tiro na cabeça e caiu morto no mesmo instante. O sargento fez a mesma coisa com os outros”.26 Em outubro de 1914, de acordo com a declaração juramentada do sargento Feilgenhauer, “150 homens da 140a Infantaria foram exterminados atrás da trincheira, e apenas 36 escaparam, todos na presença de um oficial [francês]”.27 Outra testemunha descreveu que levou um tiro de um oficial francês quando ele e outros prisioneiros eram conduzidos pelas linhas francesas.28 Max Emil Richter, de Chemnitz, recordou que ele e seus camaradas receberam ordens dos capturadores franceses de “desamarrar os braços e descer para uma pequena trincheira”, acrescentando: “mas, enquanto fazíamos isso, nossos adversários atiraram em nós, de modo que caímos uns por cima dos outros. Aqueles que mostraram sinais de vida foram derrubados com coronhadas ou esfaqueados com baionetas […] Eu mesmo levei um tiro no pulmão e outro no couro cabeludo […]”.29 Adolf K., de Düsseldorf, relatou como, em setembro de 1915, ele e outros 39 homens receberam ordens do comandante para se entregar quando sua trincheira foi capturada pelos franceses: “Por ordens de algum superior […], os franceses abriram fogo contra nós. Todos nos dispersamos e eu caí num buraco de granada, com um tiro no joelho. De lá, pude ver os franceses matarem o resto quando eles caíam no chão, usando as botas e a coronha dos fuzis”. Ele foi o único sobrevivente.30 Em maio de 1916, Julius Quade, que serviu na 2a Companhia da 52a Infantaria, foi capturado em Douamont:
Uns 50 ou 60 metros atrás da trincheira inimiga havia um oficial francês que atirou em seis ou sete dos meus camaradas que estavam desarmados, e alguns deles até feridos. Eu mesmo levei um tiro na coxa. Sob seu comando, fomos obrigados a passar por ele em fila, e ele atirou em cada homem à queima roupa.31
Embora muitas das histórias de Gallinger sejam sobre o Exército francês, seu livro trata da maioria dos Exércitos e palcos de guerra. Há histórias de horror sobre africanos, marroquinos e “hindus” cortando cabeças e cometendo outras atrocidades, bem como relatos de romenos assassinando prisioneiros.32 Não faltam acusações contra as tropas britânicas. Estas também, segundo Gallinger, “atiravam sem dó” em prisioneiros que estavam machucados demais para ser levados para a retaguarda.33 E, além disso, assassinaram prisioneiros de guerra saudáveis a sangue-frio. Um homem de Magdeburg assinou uma declaração juramentada que descrevia como, em Pozieres, em julho de 1916, “quatro prisioneiros pertencentes à 27a Infantaria levaram tiros de soldados ingleses e depois foram atravessados por baionetas”.34 Em maio de 1917, de acordo com o testemunho do sargento Drewenick, de Posen, “cerca de 30 homens da 98a Infantaria Reserva, que foram detidos em uma trincheira e se entregaram para um sargento inglês, foram mortos enquanto eram levados dali”.35 Quatro meses depois, segundo alegou o soldado de infantaria Oberbeck, de Hanover, 40 ou 50 homens da 77a Infantaria Reserva capturados em St. Julien foram “enviados para uma casa de concreto perto da segunda linha inglesa. A maioria deles foi morta por granadas de mão e tiros de revólver”.36 No mesmo mês, o soldado de infantaria Stöcken, também de Hanover, testemunhou a “matança sistemática dos feridos por grupos de três ou quatro homens após o fim da batalha” em Ypres.37 Os soldados ingleses também podiam ser violentos ao saquear os prisioneiros. De acordo com Hugo Zimmermann, “um homem que, por nervosismo, demorou para tirar o cinto foi esfaqueado em todo o corpo” em novembro de 1918.38 Friedrich Weisbuch, de Ettenheimmünster, descreveu que estava “500 metros atrás da linha inimiga quando um homem foi morto e dois foram feridos por três soldados ingleses, embora tenham erguido os braços em sinal de rendição”.39 Mais uma vez, Gallinger afirma que, em alguns casos, os homens estavam cumprindo ordens. Ele cita uma declaração de um tal Jack Bryan, do “2º Regimento Escocês”, de que “a ordem de ‘não fazer prisioneiros’ [fora] transmitida de soldado em soldado a toda a companhia”.40 Ele também cita incidentes envolvendo tropas dos domínios do Reino Unido. De acordo com o sargento médico Eller, da 17a Infantaria Reserva da Baviera, os canadenses em Messines haviam recebido “ordens […] de não fazer nenhum prisioneiro, mas matar todos os alemães. Porém, tantos haviam sido capturados que isso se tornava inviável”.41 O sargento Walter, de Stuttgart, testemunhou que “um oficial canadense [em Miramont] matou sem motivo dois prisioneiros, o soldado de infantaria Mahl e o tenente Kübler, ambos da 120a Infantaria Reserva”.42
Estas seriam meras ficções? Certamente, é possível encontrar, entre os Aliados, quem negasse explicitamente que tais coisas tivessem acontecido. Sir John Monash, tenente-general, ao narrar a campanha do Exército australiano na França em 1918, afirmou: “nenhum caso de brutalidade ou desumanidade para com os prisioneiros chegou a meu conhecimento”.43
Porém, corroborando seu argumento, Gallinger foi capaz de citar também fontes inglesas. Em sua memória de guerra A Private in the Guards [Um soldado raso na guarda], Stephen Graham conta que um instrutor lhe disse: “O segundo soldado com baioneta mata os feridos […] Você não pode se dar ao luxo de se encarregar dos inimigos feridos caídos a seus pés. Não seja melindroso. O Exército lhe fornece um bom par de botas; você sabe como usá-las”. Mais tarde, Graham descreveu como
a ideia de capturar inimigos se tornou muito impopular. Um bom soldado era aquele que não fazia prisioneiros. Se convocado para escoltar prisioneiros à cela, sempre era justificável matá-los no caminho e dizer que eles tentaram escapar […] O capitão C., que em Festubert atirou em dois prisioneiros oficiais alemães com quem teve uma discussão, era quase um herói, e, quando um homem contou a história, os ouvintes disseram, satisfeitos: “Isso é o que eles merecem”.
Graham também se referiu a soldados britânicos que “juraram jamais fazer prisioneiros”, e acrescentou: “A opinião cultivada no Exército com relação aos alemães era de que eles eram uma espécie de praga, como ratos que deveriam ser exterminados”. Além disso, Graham relatou uma história que outros lhe haviam contado:
Um sargento experiente se dirige a seu oficial – que, por acaso, era um poeta; escreveu alguns versos realmente encantadores e era um grande apreciador de arte – e bate continência: “Permissão para atirar nos prisioneiros, sir?” “Para que você quer atirar neles?”, pergunta o poeta. “Para vingar a morte do meu irmão”, diz o sargento. Suponho que o poeta lhe diz para seguir em frente. Ele esfaqueia os alemães um após o outro; alguns dos companheiros dizem “Bravo!” e, em outros, o sangue corre frio.44
Gallinger também foi capaz de citar uma história parecida de Now It Can Be Told [Agora se pode contar], de Philip Gibbs, tal como relatada originalmente pelo coronel Ronald Campbell, exímio no manejo de baionetas e reconhecidamente sanguinário:
Uma multidão de alemães foi capturada em um abrigo subterrâneo. O sargento havia recebido ordens de iniciar seus homens no assassinato, e durante o massacre ele se virou e perguntou: “Onde está Harry? […] Harry ainda não teve a vez dele”.
Harry era um rapaz tímido, que fugia do trabalho de carniceiro, mas foi convocado e lhe designaram um soldado para matar. E, depois disso, Harry era como um tigre devorador de homens em seu desejo por sangue alemão.
Outra história de Campbell citada por Gibbs era a seguinte: “Você talvez encontre um alemão que diga ‘Tenha piedade! Eu tenho dez filhos!’ Mate-o! Ele pode vir a ter outros dez”.45 Gallinger também citou um autor francês chamado Vaillant-Courturier, que rememorou “oficiais que se orgulhavam de atirar em prisioneiros alemães para testar seus revólveres […] [e] oficiais que atiraram em companhias de prisioneiros capturados e desarmados e foram promovidos por essas atrocidades.46
É claro que nada disso pode ser tratado como prova absoluta; de fato, as citações inglesas devem ser lidas com um senso de humor que evidentemente Gallinger não tinha. Se houvessem sido escritas mais cedo, ele também poderia ter citado as reminiscências de Norman Gladden:
A maioria de nossos compatriotas do norte [isto é, escoceses] era contra [fazer prisioneiros], para nossa consternação. Fritz não capturou nenhum – insistiam –, então por que deveríamos? Eu não acreditava neles, se bem que, é claro, em tal anarquia tudo era possível. Contaram-se histórias apavorantes de prisioneiros alemães que não conseguiram chegar às celas por um ou outro motivo. A favorita era a de um bando de Gurkhas guerreiros que estavam extremamente irritados por terem sido designados para a inútil tarefa de conduzir um grupo de prisioneiros para a retaguarda. Eles encontraram uma solução mais rápida e as autoridades fizeram vista grossa. Se é verdade ou não, a história foi recebida com satisfação como um exemplo de justiça bruta.47
O tenente A. G. May relatou uma história semelhante depois da Batalha de Messines, tendo visto dois soldados ingleses passarem com um grupo de prisioneiros e, em seguida, voltarem sem eles:
Depois de muito questionados, soube-se que os dois homens haviam matado os prisioneiros. “Tudo bem”, disse o capitão do Estado-Maior, “vocês serão julgados por isso na corte marcial.” “Eu não ligo, nós já esperávamos.” “E por que vocês os mataram?” “Eles mataram minha mãe em um bombardeio aéreo”, disse um. “Quando bombardearam Scarborough, mataram minha amada”, respondeu o outro.48
Em 16 de junho de 1915, Charles Tames, um soldado raso na Honorável Companhia de Artilharia, descreveu um incidente após um ataque em Bellewaarde, perto de Ypres:
Estávamos sob o fogo dos projéteis há oito horas, era mais como um sonho para mim, devíamos estar completamente loucos na época, alguns dos camaradas pareciam mesmo insanos quando o ataque terminou; assim que entramos nas trincheiras alemãs, centenas de alemães foram encontrados destruídos por nosso fogo de artilharia, um grande número veio pedir clemência, nem é preciso dizer que atiramos neles no mesmo instante, pois era a melhor clemência que podíamos dar. Os Royal Scots capturaram uns 300 prisioneiros, seus oficiais lhes disseram para partilhar sua ração com os prisioneiros e considerar que os oficiais não estavam do seu lado, os escoceses imediatamente atiraram em todo o bando e gritaram “morte e inferno para todos vocês” – e em cinco minutos o solo estava inundado de sangue alemão […]”.49
Gallinger também talvez tivesse apreciado as histórias de Somerset Maugham sobre a violência francesa contra prisioneiros, que ele ouviu em um caso testemunhado em 1914. Um oficial da cavalaria cossaca que servia no Exército francês descreveu como,
depois de ter feito prisioneiro um oficial alemão, ele o levou a seu alojamento. Lá, ele lhe disse: “Agora vou lhe mostrar como tratamos prisioneiros e cavalheiros”, e lhe deu uma xícara de chocolate; quando o prisioneiro terminou de beber, ele disse: “Agora vou lhe mostrar como vocês os tratam”. E lhe deu um tapa na cara. “O que ele disse?”, perguntei. “Nada, ele sabia que se abrisse a boca eu o mataria.” Ele conversou comigo sobre os senegaleses. Eles insistiam em cortar a cabeça dos alemães: “Assim você tem certeza de que estão mortos – et ça fait une bonne soupe”.50
Em Goodbye to All That [Adeus a tudo aquilo], Robert Graves relata mais episódios: “Algumas divisões, como os canadenses e uma seção da Divisão das Terras Baixas, […] saíam de seu caminho para liquidar [inimigos feridos]”.51 Ele não tinha dúvida de que “verdadeiras atrocidades, significando […] violações pessoais do código de guerra”, ocorriam frequentemente “no intervalo entre a rendição de prisioneiros e sua chegada (ou não) aos quartéis-generais”:
Com demasiada frequência, tirou-se vantagem dessa oportunidade. Praticamente todo instrutor envolvido na ação sabia citar exemplos específicos de prisioneiros que foram assassinados no caminho […] Em todos os casos, os capturadores informavam nos quartéis-generais que um projétil alemão havia matado os prisioneiros; e não se faziam perguntas. Tínhamos todos os motivos para acreditar que a mesma coisa acontecia do lado alemão, onde os prisioneiros [eram considerados] bocas inúteis para alimentar em um país já carente de rações.52
Tais histórias, a maioria delas um tanto exageradas – se não totalmente inventadas – não servem para corroborar o testemunho alemão de Gallinger, embora atestem a crença disseminada no assassinato de prisioneiros. O major F. S. Garwood afirmou ter ficado espantado quando um oficial alemão capturado na Primeira Batalha de Ypres “declarou que lhe haviam dito que atirávamos em nossos prisioneiros”; isso, segundo Garwood, “mostra as mentiras que os alemães espalham entre suas tropas”.53 Herbert Sulzbach teve exatamente a mesma reação quando prisioneiros franceses lhe contaram “histórias sobre assassinatos de prisioneiros [perpetrados por alemães]”; eles expressaram uma “agradável surpresa de que isso não estivesse acontecendo”.54 Entretanto, está claro que de ambos os lados tais “histórias” se basearam em fatos.
Nesse contexto, é importante tentar distinguir entre o assassinato ocorrido no calor do combate e o assassinato a sangue-frio, longe do campo de batalha. O diário de Harry Finch para o primeiro dia da Terceira Batalha de Ypres fornece um bom exemplo da dificuldade de estabelecer essa distinção: “Enviamos multidões de prisioneiros”, escreveu ele. “Eles estavam completamente assustados. Alguns dos pobres-diabos foram mortos a sangue-frio por nossos homens, que estavam muito agitados.”55 Nesse caso, o sangue dos soldados responsáveis (homens do Regimento Real de Sussex) não estava nem um pouco “frio”: isso foi típico do tipo de confusão no campo de batalha que John Keegan descreveu tão bem, em que os soldados atacantes consideravam impossível suprimir seu desejo de matar o inimigo diante de um gesto de rendição. Em 20 de setembro de 1917, para dar mais um exemplo, as tropas australianas cercaram uma casamata alemã de dois andares e persuadiram os homens do andar debaixo a se entregar:
O cerco de australianos logo assumiu uma atitude complacente, e os prisioneiros estavam saindo quando houve tiros, e um dos australianos foi morto. O tiro veio do andar de cima, onde não se sabia nada a respeito da rendição dos homens no andar de baixo, mas as tropas ao redor estavam exaltadas demais para perceber isso. Para eles, o ato foi uma traição, e eles imediatamente mataram os prisioneiros com golpes de baioneta. Um deles, prestes a matar um alemão, viu que sua baioneta não estava no fuzil. Embora o pobre homem lhe implorasse por clemência, ele a acoplou com obstinação e o matou.56
Isso foi feito a sangue-frio ou quente? Pode-se fazer a mesma pergunta acerca do outro exemplo da Grande Guerra citado por Keegan: a história, relatada por Chapman, de um sargento no Somme que atirou em um oficial alemão que havia dito explicitamente “Eu me rendo”, e que inclusive entregou seus binóculos. A opinião de Chapman era que o homem provavelmente estava “um tanto alterado quando entrou na trincheira. Não acho que ele sequer tenha pensado no que estava fazendo. Se você aciona o ímpeto assassino de um homem, não pode simplesmente pará-lo como se fosse um motor”.57 Um veterano do Somme lembrou-se de ter matado alemães que se entregavam, quase como um ato reflexo: “Alguns dos alemães estavam saindo das trincheiras, as mãos para o alto em sinal de rendição; outros estavam correndo de volta para suas trincheiras de reserva. Para nós, eles tinham de ser mortos”.58 No mesmo espírito, o Batalhão Otago da Nova Zelândia não fez nenhum prisioneiro quando atacou Crest Trench.*59 Quando esse tipo de coisa não acontecia, era motivo de comentário. Em setembro de 1916, um tenente irlandês na 16a Divisão em Ginchy ficou im pressionado com o fato de que “nenhum” dos 200 “hunos” “envolvidos até o último minuto na matança de nossos homens houvesse sido morto” após a rendição. “Não vi um único caso de um prisioneiro ser assassinado a tiro ou golpe de baioneta”, acrescentou. “Considerando que nossos homens chegaram a tal nível de arrebatamento, esse ato supremo de clemência para com os inimigos é, sem dúvida, eterno motivo de orgulho”.60 O fato de que tenha ficado tão impressionado com isso indica que essa foi a exceção, e não a regra.
Seria fácil listar muitos casos similares de violência formalmente “imprópria” que, no entanto, estava fadada a acontecer de vez em quando em confrontos diretos; provavelmente, uma série de casos enumerados por Gallinger foi desse tipo, mais do que suas narrativas indicam. Em Nada de novo no front, Remarque faz um relato vívido das decisões tomadas em uma fração de segundo que determinaram o destino dos homens que se rendiam:
Perdemos todos os sentimentos pelos demais; mal reconhecemos uns aos outros quando alguém mais entra em nossa linha de visão, de tão agitados que estamos. Somos homens mortos sem nenhum sentimento, e, por algum truque, alguma mágica perigosa, somos capazes de continuar correndo e matando.
Um jovem francês fica para trás, nós o alcançamos, ele ergue as mãos e ainda tem um revólver em uma delas – não sabemos se quer atirar ou se render. Um golpe com uma pá de mão parte seu rosto em dois. Um segundo francês vê isso e tenta escapar, e uma baioneta é cravada em suas costas. Ele voa para longe e então cai, os braços abertos e a boca escancarada em um grito, a baioneta pendendo em suas costas. Um terceiro joga o fuzil no chão e se encolhe com as mãos cobrindo os olhos. Ele fica para trás com outros poucos prisioneiros de guerra para ajudar a carregar os feridos.61
O próprio Ernst Jünger admitiu:
A força defensora, depois de atirar na força atacante a uma distância de cinco passos, deve arcar com as consequências. Um homem não pode mudar seus sentimentos novamente no último segundo com um véu de sangue diante dos olhos. Ele não quer fazer prisioneiros, e sim matar. Ele já não tem escrúpulos; só resta o ímpeto de instinto primitivo.62
No entanto, Jünger também citou um incidente em que prisioneiros alemães atiraram em seu capturador, e outro em que um oficial britânico foi capturado ao tentar fazer prisioneiros alguns alemães.63 Esse era precisamente o tipo de coisa que levava homens como os de Norfolk na 18a Divisão, sob o comando de Ivor Maxse no Somme, a não fazer prisioneiros. Como lembrou um subalterno:
Vi grupos de alemães durante o ataque atirarem em nossos companheiros até quando estavam a poucos metros deles; então, assim que perceberam que não havia esperança para eles, jogaram suas armas e avançaram correndo para apertar as mãos dos nossos homens. A maioria conseguiu o que queria e não foi feita prisioneira. Alguns dos alemães feridos atiraram em nossos homens pelas costas depois de terem sido enfileirados por eles. Eles são imundos – acredite em mim –, vi essas coisas acontecerem com meus próprios olhos.64
Era particularmente gratificante matar um homem que aparentava estar se rendendo e que então deixava antever que sua intenção era assassinar. “Deitado de bruços, ele levantou a cabeça e pediu clemência”, escreveu um soldado,
mas seus olhos diziam assassinato. Enfiei a baioneta na parte de trás de seu coração e ele desabou com um gemido. Eu o virei. Havia um revólver em sua mão direita, embaixo de sua axila esquerda. Ele estivera tentando atirar em mim por sob seu corpo. Quando tirei a baioneta, apertei o gatilho e lhe dei um tiro, para ter certeza.65
Mas a desconfiança não era a única justificativa que os homens apresentavam para matar prisioneiros. Graves citou como “motivos mais comuns […] a vingança pela morte de amigos ou parentes, a inveja porque o prisioneiro seria enviado a uma prisão confortável na Inglaterra, o entusiasmo militar, o medo de ser subitamente dominado pelos prisioneiros ou, simplesmente, a impaciência com a tarefa de escoltá-los”.66 Às vezes, bastava a ameaça de uma contraofensiva: em outubro de 1917, o 2º Corpo das Forças Armadas da Austrália e da Nova Zelândia (Anzac, na sigla em inglês), segundo se afirma, matou um grande número de prisioneiros ao saber que “os Boche estavam se concentrando para contra-atacar”.67 Com mais frequência, os homens eram motivados pelo desejo de vingança, que, como já vimos, era também um motivo para lutar: observem-se os homens descritos por May, que estavam retaliando os alemães pela morte da mãe de um e da amada do outro em bombardeios aéreos. Provavelmente mais usual era o desejo de vingar um camarada morto: o tenente John Stamforth descreveu como três “rapazes” do 7º Batalhão do Regimento de Leinster mataram seis prisioneiros depois do ataque em Vermelles em junho de 1916, quando eles “caíram sobre o corpo de um de nossos oficiais” enquanto eram levados da linha de frente.68 Ocasionalmente, um homem era motivado por vingança pessoal: depois de levar um tiro no pé durante um ataque alemão em uma galeria subterrânea perto de Loos, em dezembro de 1916, o soldado raso O’Neill, do 2º Batalhão do Regimento de Leinster, precisou ser contido quando tentou matar um prisioneiro alemão capturado em seguida.69 O clássico exemplo do modo como era alimentado o ciclo de violência é fornecido por George Coppard, que lembrou “um truque baixo dos prussianos” no forte de Hohenzollern:
Três centenas deles atravessaram a terra de ninguém fingindo se render, sem fuzis nem equipamentos, as mãos para o alto, mas com os bolsos cheios de granadas de mão. Logo antes de alcançar nosso arame farpado, eles se jogaram no chão e arremessaram uma chuva de bombas na trincheira da Companhia “B”, provocando muitas baixas. O golpe foi tão duro que os remanescentes da companhia foram incapazes de uma verdadeira retaliação. O resto do batalhão ficou irritado e furioso com o truque e chamou os prussianos de canalhas malditos. Muitos juraram uma revanche sombria quando capturassem algum prisioneiro. A maioria dos metralhadores jurou uma vingança pessoal. Daí em diante, o avanço de uma multidão de Jerries [soldados alemães] com as mãos para cima era um sinal para atirar.70
De fato, quando Coppard teve a chance de concretizar sua vingança em Arras, dando “tratamento extremo” a alguns dos alemães que se entregaram do outro lado do rio Scarpe, “o tenente W. D. Garbutt decidiu que eles não deveriam fazer prisioneiros”. Compreensivelmente, os alemães relutaram em obedecer quando receberam ordens de atravessar o canal, temendo serem massacrados assim que chegassem.71
Entretanto, às vezes a vingança era provocada por atos alemães mais remotos, incluindo atrocidades que os soldados não haviam testemunhado. “Alguns [alemães que se renderam] rastejavam de joelhos”, lembrou outro soldado britânico,
segurando a foto de uma mulher ou de uma criança, com as mãos erguidas acima da cabeça, mas todos foram mortos. A agitação se foi. Matamos a sangue-frio, porque era nosso dever matar o máximo que pudéssemos. Pensei muito no Lusitania. Eu havia rezado para que esse dia [de revanche] chegasse e, quando chegou, matei tantos quantos eu tinha esperado que o destino me permitisse matar.72
Outro homem se lembrou de como um amigo precisou ser impedido de matar um piloto alemão capturado:
Ele tentou descobrir se o piloto esteve [em Londres] atirando bombas. Disse: “Se esteve lá, eu vou matá-lo! Ele não vai sair impune”. Ele teria feito isso. A vida não significava nada para você. A vida estava em risco e, quando você capturava uma porção de Jerries imundos, você não tinha muita simpatia por seu Kamerad* e toda essa coisa de subserviência.73
Um soldado australiano descreveu, em agosto de 1917, como um oficial atirou em dois alemães, um deles ferido, em uma cratera de bomba:
O alemão pediu que ele desse uma bebida ao companheiro. “Sim”, disse nosso oficial, “vou dar uma bebida – tome isto”, e descarregou o revólver nos dois. Essa é a única maneira de tratar um huno. O motivo pelo qual nos alistamos foi para matar hunos, esses assassinos de criancinhas.74
Observe-se aqui a influência de atrocidades fictícias (o assassinato de bebês belgas) gerando atrocidades reais: Kraus tinha razão. Claramente, alguns soldados de fato acreditavam no que haviam lido na imprensa de Northcliffe.
Mais controverso é saber se os homens estavam obedecendo ordens ao atirar em prisioneiros. Há, é claro, muitos exemplos de altos oficiais exortando seus homens a “matar hunos”. O comandante da 24a Divisão instou seus soldados, em dezembro de 1915, a “matar todo alemão armado em toda ocasião possível”; mas ele especificou armado.75 O major John Stewart, da Guarda Negra, disse à esposa que seu batalhão “FEZ POUQUÍSIMOS PRISIONEIROS” em Loos em 1915, acrescentando que “a coisa mais importante a fazer é matar muitos HUNOS com o menor número de perdas possível do nosso lado”. Mas esta era uma carta particular, e não prova que ele tenha dado ordens para que seus homens matassem todos os inimigos.76
No entanto, há indícios inequívocos da ordem de “não fazer prisioneiros” na Batalha do Somme, tradicionalmente retratada como o grande martírio do Exército britânico. Um soldado no Regimento de Suffolk escutou quando um brigadeiro (provavelmente, Gore) disse, à véspera da batalha: “Vocês podem capturar prisioneiros, mas eu não quero vê-los”. Um soldado da 17a Infantaria Ligeira das Terras Altas rememorou a ordem de “não mostrar clemência para com o inimigo e não fazer nenhum deles prisioneiro”.77 Em suas notas sobre as “lutas recentes” do II Corpo de Exército, datadas de 17 de agosto, o general sir Claud insistiu que nenhum soldado inimigo deveria ser feito prisioneiro, já que eles dificultavam as operações de limpeza do terreno.78 O tenente-coronel Frank Maxwell, condecorado com a Cruz da Vitória, ordenou a seus homens da 18a Divisão do 12º Batalhão do Regimento de Middlesex que não fizessem prisioneiros ao atacar Thiepval em 26 de setembro, justificando: “todos os alemães devem ser exterminados”.79 Em 21 de outubro, Maxwell deixou a seu batalhão uma mensagem de adeus que foi divulgada junto com as ordens de seu sucessor. Na mensagem, ele elogiava seus homens por terem
começado a aprender que a única forma de tratar os alemães é assassiná-los […] Mal sei como é um prisioneiro, e um dos motivos para isso é que este batalhão sabe como cuidar de suas almas sedentas […] Lembrem-se, no 12º “Die-Hards”,*
MATEM [e] NÃO FAÇAM PRISIONEIROS, A NÃO SER QUE ESTEJAM FERIDOS.80
O capitão Christopher Stone era da opinião de que “um Boche vivo não tem nenhuma utilidade para nós nem para o mundo”.81
Indícios similares também podem ser encontrados com relação a 1917. Antes de Passchendaele, o comandante do soldado Hugh Quigley disse a seus homens:
Não atirem em prisioneiros como tais – isto é, matem-nos em suas próprias linhas; não matem feridos se eles estiverem indefesos e em situação desesperada. Se houver prisioneiros em seu caminho, vocês têm autorização para se desfazer deles como quiserem. Do contrário, não!82
Estas foram, para dizer o mínimo, diretrizes flexíveis. Típica da atitude de muitos oficiais na linha de frente é a seguinte conversa entre três oficiais no refeitório do Regimento Real de Berkshire:
L: Ouvi uma história muito podre sobre a incursão da noite passada.
R&F: O que houve?
L: Bem, eles capturaram um oficial alemão e o estavam levando de volta para nossas linhas; ele tinha as mãos atadas atrás das costas, e uma bala acidental acertou um dos soldados na escolta, por isso o mataram.
R: Não vejo nada de errado nisso […] Quanto mais alemães matarmos, melhor. L: Mas […] ele era um prisioneiro, e foi só uma bala perdida que acertou o soldado na escolta, e suas mãos estavam atadas atrás das costas; ele não tinha como se defender; eles simplesmente o mataram, assim como estava.
R: E fizeram um bom trabalho.83
Como demonstra essa conversa, os oficiais tinham opiniões diferentes sobre o assunto. Anthony Brennan, do Regimento Real Irlandês, descreveu o caso de “um de nossos anspeçadas que […] deliberadamente deu um tiro fatal em um alemão que vinha em sua direção com as mãos para o alto”. Brennan e seus colegas oficiais “ficaram muito insatisfeitos com isso e dirigiram todo tipo de blasfêmia contra o assassino”.84 Por outro lado, Jimmy O’Brien, do 10º Corpo de Fuzileiros de Dublin, lembrou que seu capelão (um clérigo inglês chamado Thornton) lhe contou: “Bem, rapazes, partiremos para a ação amanhã, e se vocês fizerem alguém prisioneiro, sua ração será cortada pela metade. Não capturem nenhum inimigo. Matem-nos! Do contrário, eles terão de ser alimentados com a ração de vocês. A solução é: não façam prisioneiros”.85
Entretanto, não é correto afirmar que o chefe do Estado-Maior de Haig, o tenente-general sir Lancelot Kiggell, encorajou esse tipo de coisa.86 Sua ordem de 28 de junho de 1916 simplesmente alertou os oficiais acerca dos estratagemas dos alemães (o uso de palavras de ordem britânicas, a camuflagem de metralhadoras), e declarou:
É dever de todos nós continuarmos a usar nossas armas contra as tropas combatentes do inimigo, a não ser que, para além de qualquer dúvida, eles não só tenham cessado toda resistência, como também, havendo jogado suas armas no chão de maneira voluntária ou não, tenham abandonado definitivamente toda esperança ou intenção de continuar resistindo. No caso de uma rendição aparente, cabe ao inimigo provar sua intenção para além da possibilidade de ser mal interpretada, antes que a rendição possa ser aceita como genuína.87
Isso era fazer as coisas conforme as regras.
Os fatos, portanto, parecem claros: às vezes, e com o encorajamento de alguns comandantes, os homens iam para a batalha com a intenção de não mostrar clemência. E, mesmo quando sua intenção não era essa, eles consideravam difícil fazer prisioneiros – arriscando cair em uma cilada –, quando tinham a chance de matá-los. É claro, houve relativamente poucos incidentes em comparação com os milhares de capturas que prosseguiram sem percalços do campo de batalha ao posto misto de barragem, à cela da divisão, ao quartel-general da unidade para interrogatório, ao acampamento, e finalmente de volta para casa quando a guerra havia terminado (em geral, muitos meses depois). Atrás das linhas, o prisioneiro alemão deixava de ser objeto de ódio e se tornava objeto de curiosidade (como animais no zoológico ou “hunos em cafés-concerto”) e até de compaixão;88 assim como os prisioneiros russos meio famintos despertaram a compaixão do herói em Nada de novo no front89 – ainda que, mesmo quando estavam nos acampamentos, os prisioneiros nem sempre estivessem seguros. O próprio Somerset Maugham viu um grupo de gendarmes franceses atirarem gratuitamente em um grupo de prisioneiros alemães. Isso ocorreu a 25 quilômetros do front.90
Mas o número de incidentes não é tão importante quanto a impressão que eles causaram na cultura das trincheiras. Os homens exageravam esses episódios, que passaram a fazer parte da mitologia das trincheiras. E, quanto mais esses mitos eram repetidos, mais relutantes ficavam os soldados em se render. Keegan, portanto, erra ao considerar tais incidentes “absolutamente insignificantes […] em termos de vitória e derrota”, pois as decisões futuras sobre a rendição não podiam deixar de ser afetadas pela percepção de que o outro lado não estava capturando prisioneiros ou, pelo menos, tinha dificuldade de fazê-lo.
Só nos últimos três meses do conflito os soldados alemães começaram a se render em tão grande número que a guerra já não tinha como continuar. Essa foi a chave para a vitória dos Aliados. Mas está longe de ser fácil explicar por que, de repente, os alemães ficaram dispostos a se entregar. A explicação mais comum é a de que o fracasso da ofensiva de primavera de Ludendorff, após seu sucesso inicial, finalmente convenceu grande quantidade de soldados de que a guerra não poderia ser vencida.91 Outra possibilidade é de que a chegada de tropas norte-americanas à Frente Ocidental encorajou os alemães a se render porque os norte-americanos tinham uma reputação de tratar bem os prisioneiros. Há poucas evidências que corroborem essa hipótese. Quando Elton Mackin, do 21º Batalhão do 5º Regimento da Marinha, encontrou metralhadores alemães mortos enquanto avançava em direção ao rio Mosa, em 7 de novembro de 1918, ele ficou perplexo:
O inimigo havia fugido antes de nós, deixando metralhadoras Maxim dispersas aqui e ali para retardar nosso avanço. Suas equipes, com bravura desesperada, fizeram o melhor que puderam e morreram.
Nunca entendemos realmente esses homens. As equipes eram pequenas, raras vezes mais do que dois ou três soldados, e sempre jovens. Os jovens ficavam e morriam porque cumpriam ordens. Os mais velhos teriam usado a cabeça – gritariam “Kamerad” antes que as armas se inflamassem e os homens fossem tomados por fria crueldade.92
No entanto, os números mostram claramente que só uma minoria dos alemães – em torno de 43 mil – se rendeu aos norte-americanos na última fase da guerra, em comparação com 330 mil capturados pelos britânicos e franceses.93 É mais provável que tenha sido a ideia de reforços norte-americanos cada vez mais numerosos, e não sua presença real, o que contribuiu para o colapso do moral alemão. Em todo caso, está claro que os fuzileiros navais dos Estados Unidos estavam tão prontos para não fazer prisioneiros quanto as tropas britânicas e francesas, mais experientes. O próprio Mackin lembrou-se do que lhe disse o major-general Charles P. Summerall, comandante do V Corpo da Força Expedicionária Norte-Americana: “Lá em cima, para o norte, há um entreposto ferroviário […] Vá cortá-lo para mim. E, quando cortar, você vai passar fome se tentar alimentar os prisioneiros que capturar […] Agora eu digo, e lembre-se disso, naqueles três morros não faça nenhum prisioneiro”.94 Mackin descreve pelo menos uma ocasião em que não se capturou nenhum soldado, e outra em que apenas um alemão ferido foi poupado “por alguma razão que os companheiros mais jovens não compreenderam […] Ele foi o único prisioneiro feito – ou devo dizer, ‘aceito’ – lá”.95
Uma explicação geral para a rendição em massa de alemães no fim de 1918 continua obscura. Dizer que os alemães “sabiam” que haviam perdido a guerra provavelmente implica maior compreensão do “grande cenário” estratégico do que muitos soldados na linha de frente tinham. As decisões sobre lutar ou se render tinham muito mais que ver com cálculos pessoais imediatos do que com grande estratégia. Por que, por exemplo, Ernst Jünger se recusou a se entregar quando sua situação era francamente irremediável nas semanas que precederam o armistício? Ao se recusar a se render junto com seus homens, ele quase foi morto. Sua motivação parece ter sido a honra individual; como o alemão mortalmente ferido que recusou assistência médica britânica porque queria “morrer sem ser capturado”.96 Por que os jovens metralhadores vistos por Mackin continuavam lutando inutilmente em novembro de 1918?
Em 8 de julho de 1920, Winston Churchill declarou na Câmara dos Comuns:
Repetidas vezes vimos oficiais e soldados britânicos atacarem trincheiras sob fogo pesado, com metade de seus homens sendo mortos antes de entrarem na posição do inimigo, a certeza de um dia longo e sanguinário pela frente, um tremendo bombardeio irrompendo em toda parte – nós os vimos nessas circunstâncias […] mostrarem não só clemência, como também bondade para com os prisioneiros, sendo comedidos no tratamento dispensado a eles, punindo os que mereciam ser punidos pelas duras leis da guerra e poupando os que poderiam reivindicar o direito à clemência do conquistador. Nós os vimos se empenhando para mostrar compaixão e ajudar os feridos, mesmo por sua conta e risco. Eles fizeram isso milhares de vezes.97
Milhares de vezes, talvez; mas não sempre. Se ambos os lados houvessem sido capazes de fazer mais para encorajar o inimigo a se render – em vez de permitir que a cultura de “não fazer prisioneiros” infectasse certas unidades, gerando impressões exageradas de ambos os lados quanto aos riscos da rendição –, a guerra poderia ter acabado mais cedo; e não necessariamente com uma derrota alemã. Por outro lado, se mais homens houvessem optado por não fazer prisioneiros, a guerra poderia ter continuado indefinidamente. E talvez tenha sido isso o que aconteceu.
Muitas vezes se afirma que os homens se rendiam porque estavam “cansados da guerra”. Um bávaro chamado August Beerman, que se rendeu em Arras, disse aos capturadores: “Estávamos cansados do gás, cansados das bombas, cansados do frio e cansados de não ter comida. Já não tínhamos disposição para lutar. Nosso espírito estava destruído”.98 Sem dúvida, ele falou por muitos. Mas há outro paradoxo: embora estivessem cansados da guerra, os homens não pareciam ter se cansado da violência. Karl Kraus alertou, em Os últimos dias da humanidade:
Ao regressar, os combatentes invadirão as terras do interior e, lá, começarão a guerra de verdade. Eles se apropriarão dos sucessos que não tiveram [no front], e a essência da guerra – o assassinato, a pilhagem e o estupro – será brincadeira de criança em comparação com a paz que agora surgirá. Que o deus das batalhas nos proteja das ofensivas que haverá pela frente! Uma atividade medonha, libertada das trincheiras, já não submetida a comando algum, buscará as armas e a gratificação em cada situação, e no mundo haverá mais morte e doença do que a própria guerra demandou.99
D. H. Lawrence concordava. “A guerra não acabou”, disse ele a David Garnett na noite do armistício:
O ódio e a maldade são hoje maiores do que nunca. Muito em breve, a guerra irromperá novamente e os devastará […] Mesmo que o combate termine, o mal será maior, porque o ódio estará estancado no coração dos homens e se revelará de todas as formas, o que será pior do que a guerra. Independentemente do que aconteça, não pode haver Paz na Terra.100
Isso se mostrou uma grande verdade. Hermann Hesse estava absolutamente certo quando escreveu, logo depois da guerra: “a revolução nada mais é do que guerra, [assim] como a guerra é uma continuação da política por outros meios”.101
A guerra se alastrou por toda parte no mundo “pós-guerra”. Os Freikorps alemães, compostos de veteranos e estudantes jovens demais para lutar, disputaram com poloneses e outros nas novas e contestadas fronteiras da Alemanha.102 Herbert Sulzbach ficou impressionado quando alguns de seus camaradas entraram para a “Guarda da Fronteira Oriental” (Grenzschutz Ost): “Imagine só, soldados que estiveram no combate intenso durante anos estão se oferecendo como voluntários imediatamente, milhares e milhares deles […] Poderia haver prova mais esplêndida de força e convicção do que isso?”. Outras unidades irregulares combateram “centenas” de espartaquistas e comunistas nas grandes cidades alemãs: houve tentativas de putsch por parte da direita ou da esquerda todos os anos entre 1919 e 1923. A Maioria Socialista usou unidades Freikorps contra a extrema esquerda em 1919; um ano depois, eles precisaram mobilizar um “Exército Vermelho” de trabalhadores no Ruhr para impedir um golpe de conservadores militares conduzido por Wolfgang Kapp, o líder do extinto Partido da Pátria. Em 1921, os comunistas realizaram a “Ação de Março” em Hamburgo; em 1922, houve uma torrente de assassinatos por extremistas de direita (entre as vítimas, estava Walther Rathenau); e, em 1923, tanto a esquerda quanto a direita tentaram golpes (respectivamente, o Aufstand de Hamburgo e o Putsch de Munique). O nível de violência nas áreas urbanas da Alemanha é difícil de quantificar: basta dizer que, em 1920, estimava-se que havia 1,9 milhão de fuzis e 8.452 metralhadoras em situação de posse ilegal; a desmobilização não havia incluído o desarmamento.103
Tabela 43 Número de baixas na Guerra Civil Russa, 1918-1922
Número total de convocados, 1918-1920 |
6.707.588 |
Número máximo do efetivo de todas as Forças Armadas, novembro de 1920 |
5.427.273 |
Número médio do efetivo de todas as Forças Armadas, 1918-1920 |
2.373.137 |
Perdas irrecuperáveis (assassinados, desaparecidos, prisioneiros, mortos), 1918-1920 |
701.647 |
Doentes e feridos, 1918-1920 |
4.322.241 |
Número médio do efetivo de todas as Forças Armadas, 1921-1922 |
1.681.919 |
Perdas irrecuperáveis (assassinados, desaparecidos, prisioneiros, mortos), 1921-1922 |
237.908 |
Doentes e feridos, 1921-1922 |
2.469.542 |
Total de perdas irrecuperáveis (assassinados, desaparecidos, prisioneiros, mortos) |
939.755 |
Total de doentes e feridos |
6.791.783 |
Fonte: Krivosheev, Soviet Casualties, p. 7-39.
O egomaníaco poeta italiano Gabriele D’Annunzio capturou Fiume (hoje Rijeka) em setembro de 1919 para evitar que a cidade fosse cedida à Iugoslávia; essa incursão efêmera atraiu o apoio de arditi (tropas de choque) dispersas e insatisfeitas, cujas camisas negras logo se tornaram o emblema do novo movimento político de tendência violenta conhecido como fascismo. Combates esporádicos também ocorreram na Albânia; e outras tropas italianas aportaram em Adália (hoje Antália), no sul da Anatólia. Embora o governo italiano tenha desistido de Fiume e da Albânia em 1920, isso só trouxe a violência para dentro da Itália. Na Romanha e na Toscana, o fenômeno do esquadrismo floresceu quando proprietários de terra e socialistas tomaram as armas uns contra os outros: o arquetípico ex-soldado protofascista era Italo Balbo, de Ferrara. A fascista “Marcha sobre Roma” (26-30 de outubro) foi, sem dúvida, uma impostura: os 25 mil fascistas pouco armados que se reuniram ao redor de Roma poderiam facilmente ter se dispersado se o rei italiano não houvesse entrado em pânico e convocado Mussolini ao poder; mas, com seus uniformes e saudações, os fascistas estavam seguindo um roteiro mais ou menos baseado na guerra.104
Também nos Bálcãs, a “paz” significou guerra no interior, sobretudo no norte da Croácia; houve o primeiro sinal de que os sérvios usariam a força para impor sua dominação sobre as minorias étnicas no novo “reino dos servos, croatas e eslovenos”: de acordo com um informe, mil homens muçulmanos foram mortos e 270 vilarejos foram saqueados na Bósnia em 1919.105 A Turquia parecia debilitada em 1918, finalmente pronta para ser trinchada pela França, pela Grã-Bretanha e pela Itália. Os três países imediatamente começaram a disputar os saques. Encorajados por Lloyd George, os gregos enviaram uma força rival a Esmirna.106 Eles subestimaram os turcos, que, sob a liderança de Mustafa Kemal, os expulsaram em 1921.
A violência também era endêmica no Império Britânico. Na Irlanda, os “Black and Tans” e os “Auxies” – veteranos do Exército britânico – foram empregados contra os republicanos; quando os britânicos desistiram, os nacionalistas mataram uns aos outros em uma guerra civil que ceifou pelo menos 1.600 vidas.107 No Oriente Médio, o governo recém-instaurado da Grã-Bretanha foi abalado por rebeliões no Egito em 1919, além de revoltas na Palestina e no Iraque em 1920.108 As tropas britânicas mostraram violência extrema ao reprimir esses motins: cerca de 1.500 egípcios foram mortos no intervalo de oito semanas, enquanto, no Iraque, o general sir Aylmer Haldane até cogitou usar gás venenoso.109 Em 11 de abril de 1919, em uma das atrocidades mais marcantes da história do Império Britânico, os soldados mataram 379 pessoas em um encontro político em Amritsar. O brigadeiro-general Reginald Dyer, que deu a ordem de atirar, teria matado ainda mais se houvesse conseguido usar veículos blindados com metralhadoras.110 Assim, os homens exportaram as técnicas de assassinato em massa que haviam sido patenteadas na Frente Ocidental.
Em outras palavras, o mundo não estava cansado da guerra, só estava cansado da Primeira Guerra Mundial. Para muitos homens que haviam lutado, a violência se tornou um vício; e, quando a violência cessou na Frente Ocidental, eles a buscaram em outros lugares. Isso incluía homens que haviam sido feitos prisioneiros durante a guerra: a Legião Checa, na Rússia, é o exemplo clássico. E os veteranos encontraram cúmplices em homens como bolcheviques, estudantes alemães e republicanos irlandeses que não haviam lutado, mas estavam sedentos de sangue.
O caso extremo foi, sem dúvida, a Rússia. Foi o Exército russo que ruiu primeiro, e foi o soldado russo que esteve mais pronto para se render do que para continuar lutando. E em nenhum lugar a violência foi mais prolongada depois do suposto fim da guerra do que na Rússia. Mais russos perderam a vida durante a Guerra Civil Russa do que durante a Primeira Guerra Mundial. Entre outubro de 1917 e outubro de 1922, algo em torno de 875.818 homens que serviram nas Forças Armadas soviéticas foram assassinados ou morreram em decorrência de ferimentos ou doenças (por volta de 13% de todos os convocados); a melhor estimativa disponível para a mortalidade no Exército Branco é 325 mil. Esse total (1,2 milhão) deve ser comparado com o número total de soldados russos mortos durante a guerra (1,8 milhão).
No entanto, esses números para a Guerra Civil omitem uma grande quantidade de pessoas que morreram nas centenas de rebeliões camponesas ou levantes antissoviéticos que também ocorreram nesse período, mas que não foram parte do esforço de guerra do Exército Branco: por exemplo, em torno de 250 mil pessoas provavelmente foram assassinadas nas várias “Guerras do Pão”, quando os camponeses tentavam resistir ao confisco de grãos. Uma estimativa do número de vítimas do “Terror Vermelho” dirigido pela polícia secreta (a Cheka) contra oponentes políticos do regime chega a 500 mil, das quais 200 mil foram oficialmente executadas; o número pode, de fato, ser ainda maior.111 Possivelmente, 34 mil pessoas morreram dentro ou a caminho dos campos de concentração e de trabalhos forçados instaurados depois de julho de 1918.112 Também não devemos esquecer os inúmeros massacres perpetrados tanto pelo Exército Branco quanto pelo Exército Vermelho contra os judeus: um informe de 1920 menciona um total de “mais de 150 mil mortes registradas”.113 Finalmente, cerca de 5 milhões de pessoas morreram de fome, e outros 2 milhões de doença. Por todos esses motivos, o número de mortos durante a Guerra Civil quase se equipara ao de pessoas de todas as nações que morreram durante a Primeira Guerra Mundial: uma estimativa para a perda demográfica total no período da Guerra Civil chega a 8 milhões; em torno de 40% dessas mortes podem ser atribuídas às políticas bolcheviques.114
Em um aspecto, a tese de Kraus, de que os soldados regressando da guerra desencadeariam uma guerra civil, estava errada. O Exército Branco, liderado por generais czaristas experientes, sem dúvida foi responsável por um grande número de atrocidades contra civis,115 assim como as unidades do Exército Vermelho lideradas por ex-oficiais do Império igualmente tarimbados (no fim, três quartos dos altos comandantes do Exército Vermelho eram ex-oficiais czaristas; entre os maiores “nomes” estava Brusilov). No entanto, a violência peculiarmente extrema da Guerra Civil deveu muito à sede de sangue de homens que não deram um tiro sequer durante a guerra contra a Alemanha. Em particular, há algo de sinistro no modo como Lênin e Trótski se orgulharam de estabelecer novos padrões de brutalidade militar: dois intelectuais verborrágicos que haviam assistido à guerra daquele que Volkogonov chamou de “grande círculo de exilados russos”;116 que haviam chegado ao poder em 1917 denunciando o Governo Provisório por prolongar a guerra; que haviam prometido trazer paz à Rússia; que haviam se mostrado dispostos a entregar a maior parte das possessões da Rússia na Europa para pôr um fim à guerra contra a Alemanha. Mas Lênin só queria transformar a guerra imperialista em uma guerra civil contra a burguesia de seu próprio país. Em sua busca por esse objetivo, e em sua resistência aos esforços do Exército Branco e de outros oponentes da revolução, ele e Trótski procuraram resolver, por meio do terror, o problema da rendição e da deserção que havia arruinado o Exército czarista. Embora tivessem ficado distantes dos campos de batalha durante a guerra imperialista, sua imaginação – estimulada por um vasto conhecimento da história da França jacobina – esteve mais do que à altura da tarefa de conceber novas regras de guerra que, em sua brutalidade, excederam muitíssimo até mesmo as que vieram a prevalecer na Frente Ocidental em 1917.
Depois de reintroduzir o serviço militar obrigatório em maio de 1918, os bolcheviques precisaram lidar com níveis de deserção maiores até mesmo que os que haviam arruinado o esforço de guerra czarista. Em 1920, 20.018 homens desertaram das tropas na linha de frente, incluindo 59 comandantes; mas a taxa de deserção logo após a convocatória chegou a 20%. Ao todo, cerca de 4 milhões de homens desertaram do Exército Vermelho em 1921; muitos desertores camponeses formaram seus próprios Exércitos “Verdes” para resistir ao serviço obrigatório.117 Os bolcheviques reagiram implementando uma disciplina draconiana: uma Comissão Central Temporária para o Combate à Deserção foi instaurada em dezembro de 1918. Apenas em sete meses de 1919, 95 mil homens foram considerados culpados de deserção em circunstâncias agravadas, dos quais 4 mil foram condenados à morte e 600 efetivamente fuzilados.118 Em 1921, em torno de 4.337 homens foram executados na Rússia e na Ucrânia por tribunais militares.119 Aqui, foi Trótski quem ditou o ritmo. “Repressão” era sua palavra de ordem: em novembro de 1918, ele exigiu “punição impiedosa para os desertores e fugitivos que estão minando a determinação do 10º Exército […] Nenhuma clemência para desertores e fugitivos”. “É impossível manter a disciplina sem um revólver”, declarou em 1919.120 As famílias dos oficiais deveriam ser presas em caso de deserção. Acima de tudo, foi Trótski quem, em dezembro de 1918, ordenou a formação de “unidades de bloqueio” equipadas com metralhadoras, cujo papel era simplesmente atirar em soldados da linha de frente que tentassem escapar. Assim nasceu a regra elementar de que, se os soldados do Exército Vermelho avançassem, eles poderiam ser mortos – mas, se fugissem, certamente o seriam.121
Com efeito, Lênin foi ainda mais envenenado pelas possibilidades de terror. Em agosto de 1918, ele telegrafou a Trótski: “Deveríamos dizer [aos comandantes do Exército Vermelho] que, de agora em diante, estamos aplicando o modelo da Revolução Francesa e levando a julgamento, e até mesmo executando, os altos comandantes se eles hesitarem e falharem em suas ações”. Ao mesmo tempo, ele instou o chefe do partido em Saratov a “atirar em conspiradores e hesitantes sem pedir a permissão de ninguém nem de nenhuma burocracia idiota”.122 Sua carta aos bolcheviques de Penza naquele mesmo mês dá uma boa ideia do novo espírito de violência contra cidadãos que caracterizou o período da Guerra Civil:
Camaradas! O levante do kulak [camponês rico] em [seus] cinco distritos deve ser reprimido sem piedade. Os interesses de toda a revolução exigem isso, pois agora se disputa a “batalha final e decisiva” contra os kulaks em toda parte. Deve-se dar um exemplo. 1) Enforcar (e digo enforcar para que as pessoas possam ver) não menos de cem kulaks conhecidos, homens ricos, sanguessugas. 2) Publicar o nome deles. 3) Confiscar todos os seus grãos. 4) Identificar os reféns […] Façam isso para que, em um raio de centenas de quilômetros, as pessoas possam ver, estremecer, saber e gritar: eles estão matando e continuarão a matar os kulaks sanguessugas […].
Abraço, Lênin.
P. S. Encontrem pessoas mais valentes.123
Por incrível que pareça, os líderes bolcheviques impuseram um limite ao assassinato de prisioneiros: Trótski o proibiu explicitamente em uma ordem de 1919.124 Mas o fato de a ordem precisar ser dada indica que a prática de atirar em soldados capturados do Exército Branco era comum. Em agosto daquele ano, o comandante-chefe do Exército Vermelho, S. S. Kamenev, ordenou que “nenhum soldado [fosse] feito prisioneiro” ao reprimir um ataque de cossacos do rio Don:
Oficiais [do Exército Branco] feridos ou capturados não só eram liquidados e fuzilados, como também torturados de todas as formas possíveis. Pregos eram enfiados nos ombros dos oficiais de acordo com o número de estrelas em suas dragonas; medalhas eram entalhadas em seu peito e listras em suas pernas. Os órgãos genitais eram cortados e enfiados na boca deles.125
Figes reproduz a imagem de um oficial polonês, capturado pelo Exército Vermelho em 1920, pendurado nu de cabeça para baixo e espancado até a morte.126 Esse tipo de comportamento bárbaro pode ter se mostrado eficaz contra aqueles do Exército Branco – indisciplinados, dispersos e em menor número; contra os poloneses, no entanto, só fez endurecer a resistência. A Guerra Civil, portanto, representou um grande aprimoramento das táticas de terror da guerra mundial que a precedeu. A próxima grande guerra na Frente Oriental seria travada sob essas novas “regras”: morte para os desertores, violência exemplar contra os civis e nenhuma clemência para os prisioneiros. Esta foi, verdadeiramente, a guerra “total”: e, para Hitler e Stálin, os quais deram ordens para esse fim, pareceu a conclusão lógica a ser tirada da derrota alemã e russa na Primeira Guerra Mundial. Sem dúvida, não haveria melhor forma de fazer desta uma guerra de violência sem precedentes, em que homens de ambos os lados lutaram até o fim porque já não lhes restava alternativa.
1. Hynes, Soldier’s Tale, p. 48.
2. Reeves, “Film Propaganda”, p. 469.
3. Welch, “Cinema and Society”, p. 34, 39.
4. Deist, “Military Collapse”, p. 203.
5. Sheffield, Redcaps, p. 56.
6. War Office, Statistics of the Military Effort, p. 358-362.
7. Hussey, “Kiggell and the Prisoners”, p. 46.
8. Scott, “Captive Labour”, p. 44-52.
9. R. Jackson, Prisoners, p. 77-82.
10. Ibid., p. 78s.
11. Ibid., p. 48.
12. Dungan, They Shall Not Grow Old, p. 137.
13. Noble, “Raising the White Flag”, p. 75.
14. Fussell, Great War, p. 177.
15. Keegan, Face of Battle, p. 48ss.
16. Hussey, “Kiggell and the Prisoners”, p. 47; Sheffield, Redcaps, p. 56.
17. Hussey, “Kiggell and the Prisoners”, p. 48. Estes foram explicitamente incorporados no British Manual of Military Law.
18. J. Horne e Kramer, “German ‘Atrocities’”, p. 8, 26.
19. Ibid., p. 28, 32s.
20. Jünger, Storm of Steel, p. 262s.
21. Kraus, Die letzten Tage, p. 579-582.
22. Gallinger, Countercharge.
23. Ibid., p. 40.
24. Ibid., p. 39.
25. Ibid., p. 42.
26. Ibid., p. 40.
27. Ibid., p. 48.
28. Ibid., p. 39.
29. Ibid., p. 38.
30. Ibid., p. 38.
31. Ibid., p. 39.
32. Ibid., p. 29, 41s, 45s.
33. Ibid., p. 49.
34. Ibid., p. 48.
35. Ibid., p. 48.
36. Ibid., p. 48s.
37. Ibid., p. 49.
38. Ibid., p. 26ss.
39. Ibid., p. 49.
40. Ibid., p. 47.
41. Ibid., p. 47.
42. Ibid., p. 48.
43. Monash, Australian Victories, p. 209-213.
44. Gallinger, Countercharge, p. 45.
45. Ibid., p. 46s. Cf. Gibbs, Realities, p. 79.
46. Ibid., p. 37.
47. Hussey, “Kiggell and the Prisoners”, p. 47.
48. M. Brown, Imperial War Museum Book of the Western Front, p. 176.
49. Ibid., p. 177s.
50. Maugham, Writer’s Notebook, p. 86.
51. Graves, Goodbye, p. 112.
52. Ibid., p. 153.
53. M. Brown, Imperial War Museum Book of the Western Front, p. 31.
54. Sulzbach, With the German Guns, p. 187.
55. Finch, “Diary”, 31 de julho de 1917.
56. Keegan, Face of Battle, p. 49. Cf. Bean, Australian Imperial Force, p. 772.
57. Keegan, Face of Battle, p. 49s. Cf. A. Simpson, Hot Blood, p. 169.
58. Kellett, Combat Motivation, p. 190.
59. Ibid., p. 104.
60. Dungan, They Shall Not Grow Old, p. 137.
61. Remarque, All Quiet, p. 83.
62. Jünger, Storm of Steel, p. 263.
63. Ibid., p. 218s.
64. Liddle, 1916 Battle, p. 42.
65. D. Winter, Death’s Men, p. 214.
66. Graves, Goodbye, p. 153.
67. M. Brown, Imperial War Museum Book of the Western Front, p. 178s.
68. Ibid., p. 178.
69. Dungan, They Shall Not Grow Old, p. 136.
70. Coppard, With a Machine Gun, p. 71.
71. Ibid., p. 106s. Grifo meu.
72. D. Winter, Death’s Men, p. 210.
73. Macdonald, Somme, p. 290.
74. Keegan e Holmes, Soldiers, p. 267.
75. Ashworth, Trench Warfare, p. 93.
76. Spiers, “Scottish Soldier”, p. 326.
77. Hussey, “Kiggell and the Prisoners”, p. 47.
78. Griffith, Battle Tactics, p. 72.
79. Ibid.
80. M. Brown, Imperial War Museum Book of the Somme, p. 220.
81. Griffith, Battle Tactics, p. 72.
82. A. Simpson, Hot Blood, p. 168.
83. Ibid.
84. Dungan, They Shall Not Grow Old, p. 137.
85. Ibid., p. 136.
86. Conforme inferido por Macdonald, Somme, p. 228s.
87. Hussey, “Kiggell and the Prisoners”, p. 46.
88. D. Winter, Death’s Men, p. 215.
89. Remarque, All Quiet, p. 136ss.
90. Maugham, Writer’s Notebook, p. 87.
91. Deist, “Military Collapse”.
92. Mackin, Suddenly, p. 246.
93. Trask, AEF and Coalition Warmaking, p. 177.
94. Mackin, Suddenly, p. 227s.
95. Ibid., p. 201s.
96. D. Winter, Death’s Men, p. 212.
97. M. Gilbert, First World War, p. 526.
98. Nicholls, Cheerful Sacrifice, p. 101.
99. Kraus, Die letzten Tage, p. 207.
100. Hynes, War Imagined, p. 266.
101. Coker, War and the Twentieth Century, p. 11.
102. A misoginia era apenas uma das características detestáveis do Freikorps: ver Theweleit, Male Fantasies.
103. Bessel, Germany, p. 81, 261.
104. Mack Smith, Italy, p. 333-372.
105. Malcolm, Bosnia, p. 162.
106. Fromkin, Peace to End All Peace, p. 393.
107. Foster, Modern Ireland, p. 512, cita um número de 800 mortos no lado do Free State e “muito mais republicanos”. Mas também foram poucos os que estiveram envolvidos na guerra contra “os britânicos”: os membros do “serviço ativo” do Exército Republicano Irlandês eram cerca de 5 mil em 1920-1921; o número total de policiais, incluindo a Polícia Real Irlandesa e os Black and Tans, era 17 mil: ibid., p. 502.
108. Fromkin, Peace to End All Peace, p. 415ss.
109. L. James, Rise and Fall of the British Empire, p. 389, 400.
110. Ibid., p. 417.
111. Rummel, Lethal Politics, p. 39.
112. Ibid., p. 41.
113. Figes, People’s Tragedy, p. 679.
114. Rummel, Lethal Politics, p. 47.
115. Figes, People’s Tragedy, p. 563s.
116. Volkogonov, Lenin, p. 103.
117. Figes, People’s Tragedy, p. 599s.
118. Krovosheev, Soviet Casualties, p. 24s.
119. Volkogonov, Trotsky, p. 181.
120. Ibid., p. 175s.
121. Ibid., p. 178ss.
122. Volkogonov, Lenin, p. 201s.
123. Ibid., p. 68s.
124. Volkogonov, Trotsky, p. 185.
125. Pipes, Russia, p. 86. Ver também p. 134s.
126. Figes, People’s Tragedy, imagem oposta p. 579.