A Obra Em Negro
Constituindo um espantoso fresco da Europa do século XVI — das intrigas políticas às querelas religiosas, da filosofia à vida quotidiana, da cultura literária às discussões científicas —, “A Obra ao Negro” é também a história pessoal de Zenão, o filho bastardo de um grande negociante de Bruges, cujo pai, que não chega a reconhecê-lo, era ainda aparentado com a poderosa família dos Médicis.
Médico, filósofo e alquimista, podem ver-se na vida de Zenão, embora o romance não o assuma expressamente, as etapas da Grande Obra alquímica, com os seus momentos de decantação, dissipação e sublimação. O objectivo da alquimia, reclama a tradição, era o de transformar o próprio alquimista. A transmutação dos metais constituía apenas o seu fito aparente, a face visível de uma operação interior. Logo no primeiro capítulo deste romance, sintomaticamente intitulado “O Longo Caminho”, Zenão despedese de um primo, dizendo-lhe: “Há alguém à minha espera. Vou até lá.” Pergunta o interlocutor: “Quem é?” E Zenão responde: “Hic Zeno. Eu mesmo.”