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Imperial Library
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Index
Créditos Volume 1
SUMÁRIO NOTA DO EDITOR POESIA DE FERNANDO PESSOA MENSAGEM PRIMEIRA PARTE, BRASÃO
I. Os campos
O dos Castellos O das quinas
II. Os castellos
Ulysses Viriato O conde D. Henrique D. Tareja D. Affonso Henriques D. Diniz D. João, o Primeiro D. Philippa de Lencastre
III. As quinas
D. Duarte, rei de Portugal D. Fernando, rei de Portugal D. Pedro, Regente de Portugal D. João, infante de Portugal D. Sebastião, rei de Portugal
IV. A coroa
Nunalvares Pereira
V. O timbre
A cabeça do Grypho / O infante D. Henrique Uma asa do Grifo / D. João, o segundo A outra asa do Grypho / Affonso de Albuquerque
SEGUNDA PARTE, MAR PORTUGUEZ
I. O infante II. Horizonte III. Padrão IV. O mostrengo V. Epitaphio de Bartolomeu Dias VI. Os Colombos VII. Occidente VIII. Fernão de Magalhães IX. Ascensão de Vasco da Gama X. Mar portuguez XI. A última Nau XII. Prece
TERCEIRA PARTE, O ENCOBERTO
I. Os symbolos
D. Sebastião O Quinto Império O desejado As ilhas afortunadas O encoberto
II. Os avisos
O Bandarra Antonio Vieira Screvo meu livro à beira-magua
III. Os tempos
Noite Tormenta Calma Antemanhã Nevoeiro
À MEMÓRIA DO PRESIDENTE-REI SIDÓNIO PAES QUINTO IMPÉRIO CANCIONEIRO
À guisa de prefácio Quando ela passa Em busca da beleza Mar. Manhã Visão Análise Ó naus felizes, que do mar vago Hora morta Que morta esta hora! Impressões do crepúsculo Hora absurda Dobre Além-Deus Chuva oblíqua As tuas mãos terminam em segredo Canção Serena voz imperfeita, eleita Uns versos quaisquer Como a noite é longa! Bate a luz no cimo Saber? Que sei eu? Vai redonda e alta Sopra demais o vento Chove? Nenhuma chuva cai… Ameaçou chuva. E a negra Meu pensamento é um rio subterrâneo Não sei, ama, onde era Passos da cruz Há no firmamento Súbita mão de algum fantasma oculto Para onde vai a minha vida, e quem a leva? Intervalo Episódios / A múmia Ficções do interlúdio O sol às casas, como a montes Ah! A angústia, a raiva vil, o desespero Onde pus a esperança, as rosas Abdicação Ah, quanta vez, na hora suave Feliz dia para quem é Natal No entardecer da terra Ó sino da minha aldeia Leve, breve, suave Pobre velha música! Dorme enquanto eu velo… Sol nulo dos dias vãos Trila na noite uma flauta. É de algum Põe-me as mãos nos ombros… Manhã dos outros! Ó sol que dás confiança Treme em luz a água Dorme sobre o meu seio Ao longe, ao luar Em toda a noite o sono não veio. Agora Ela canta, pobre ceifeira Sonho. Não sei quem sou neste momento Nada sou, nada posso, nada sigo Não é ainda a noite Pouco importa de onde a brisa O menino da sua mãe Marinha Paira à tona de água Qualquer música Depois da feira Natal… Na província neva Tenho dó das estrelas Abat-jour Um muro de nuvens densas Aqui na orla da praia, mudo e contente do mar Como inútil taça cheia Gomes Leal Boiam leves, desatentos Contemplo o lago mudo Às vezes entre a tormenta Dá a surpresa de ser Tenho dito tantas vezes Lenta e quieta a sombra vasta Chove. É dia de Natal Por trás daquela janela O último sortilégio Gato que brincas na rua Não: não digas nada! De onde é quase o horizonte Vaga, no azul amplo solta O andaime Hoje que a tarde é calma e o céu tranquilo Guia-me a só a razão Há quase um ano não ’screvo Furia nas trevas o vento A morte é a curva da estrada Quem bate à minha porta Iniciação Na sombra do Monte Abiegno Do vale à montanha Cansa sentir quando se pensa Não meu, não meu é quanto escrevo Sorriso audível das folhas Autopsicografia Isto Passa uma nuvem pelo sol É brando o dia, brando o vento Entre o luar e a folhagem Ouço, como se o cheiro Nuvens sobre a floresta… Não sei se é sonho, se realidade Aqui onde se espera Redemoinha o vento Momento imperceptível Vai alto pela folhagem Quando as crianças brincam Passos tardam na relva O que me dói não é Por que é que um sono agita Contemplo o que não vejo Entre o sono e sonho A morte chega cedo Repousa sobre o trigo Tudo que faço ou medito Se eu, ainda que ninguém Tenho tanto sentimento Durmo. Se sonho, ao despertar não sei Viajar! Perder países! Que coisa distante Na ribeira deste rio No mal-estar em que vivo Quando era criança Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva Grandes mistérios habitam Dorme, que a vida é nada! Não sei que sonho me não descansa Fresta Onda que, enrolada, tornas Montes, e a paz que há neles, pois são longe… Neste mundo em que esquecemos Foi um momento Cessa o teu canto! Eros e Psique Houve um ritmo no meu sono Azul, ou verde, ou roxo quando o sol Começa a ir ser dia A Outra Não me digas mais nada. O resto é a vida Teus olhos entristecem Há doenças piores que as doenças No ouro sem fim da tarde morta Sonhos, sistemas, mitos, ideais… Na quinta entre ciprestes Dizem? Conselho Liberdade Poema Tomamos a vila depois de um intenso bombardeamento No túmulo de Christian Rosenkreutz Glosa Assim, sem nada feito e o por fazer Esta espécie de loucura Entre o bater rasgado dos pendões A minha vida é um barco abandonado Os Deuses vão-se como forasteiros Se já não torna a eterna primavera
QUADRAS
QUADRAS AO GOSTO POPULAR
325 Quadras
OUTRAS QUADRAS
97 Quadras Poemas para Lili Poema Pial
OUTROS POEMAS
Dolora Nova ilusão Às vezes, em sonho triste Estado de alma Tédio Não sei o quê desgosta Eis-me em mim absorto Deus Sou o fantasma de um rei Meus gestos não sou eu Oca de conter-me Dentro em meu coração faz dor Que vinda sombra Saque da cidade… Cada coisa é uma morte vivendo Quando olho para a terra Com tuas mãos piedosas É interior à minha mágoa Asas Escrevo, e sei que a minha obra é má Dia de verão Fecho os olhos, medito Num país sem nome A noite vai alta Tange a tua flauta, pastor. Esta tarde O mar Nada nos faça dor Alga Há uma vaga mágoa Ó mera brancura Mas a Noite e o Silêncio continuaram Scheherazade Impossível visão Não tenho nada pra te dizer Passam as nuvens, murmura o vento Levai-me para longe em sonho Ó altas serras do horizonte Traze, a hora pesa, os perfumes dum Oriente Pobre criança que qu’ria ter Alastor, espírito da solidão Ama, canta-me. Eu nada quero L’Inconnue Nesta hora tu liberta e tu consola Por cima das revoltas, das cobiças Mas tu, Athena, nossas almas livra A alma de meu ser se perde no teu amar Nas turbas densas entre quem seguia Por que vivo, quem sou eu, o que sou, quem me leva? Ah, viver em cenário e ficção! Na estalagem a meio-caminho No circo onde a ver fui criança Um, dois, três… Inútil dessossego Na altura, de onde vejo, toda a rasa Na fuga inútil dos penosos dias No alto da tua sombra, a prumo sobre À noite Non necesse est A criança que mora à beira do cais Sonus desilientes aquae De onde é a ideia do mal? Senhor! Sobrinhos de Caim ou Abel Vendaval A noite é escura, e a cidade alheia Cai do firmamento Onde é que a maldade mora? Pousa um momento Meu ser vive na Noite e no Desejo E na noite do Medo por onde tateio Hoje em que nada é português Clarim! Os mortos! Era dez reis por cada homem A lembrada canção Longe de mim em mim existo Outros terão Poema incompleto No limiar que não é meu Os deuses dão a quem sofre Onde pus a esperança, as rosas Mataram à machadada Meu coração caiu no chão Revive ainda um momento Os deuses são felizes Cansado até dos deuses que não são… Os deuses são felizes Se o teu palácio chega até ao céu Horário Tudo quanto sonhei tenho perdido Eu tenho um Bebé Bombom é um doce Ah, sempre no curso leve do tempo pesado Cansa ser, sentir dói, pensar destrói Ligia Que é feito do luar de outrora Como quem bate à porta Tornar-te-ás só quem tu sempre foste Qualquer caminho leva a toda parte Ó curva do horizonte, quem te passa Um calor morto e mole move Antes que a hora fane Aquela tristeza antiga No fundo do pensamento Cresce a planta, floresce Vento que passas Nos meus desejos existe Quando era jovem, eu a mim dizia: Sepulto vive quem é a outrem dado A parte do indolente é a abstrata vida Ironia em intenção a Cristobal Colon O louco sente-se imperador ou deus e crê-se, crê com firmeza e certeza absoluta Adeus, Maria! Há um só momento É uma brisa leve Não tragas flores, que eu sofro Os deuses, não os reis, são os tiranos Anteus Ah, já está tudo lido Nada Hoje, neste ócio incerto Depois de me ver ao espelho Ah, como o sono é a verdade, e a única Ouço passar o vento na noite Que milagre de Lourdes, meu amigo! Eu Morte do príncipe Ver as coisas até ao fundo… Enigma Dorme, sonhando! ’Sparsa luz te alumbre Eu olho com saudade esse futuro Dormir! Não ter desejos nem ’speranças Trêmula chama Súbita ária leve Ah quanta melancolia! Maravilhosa paz Sim, poderia ser… Pia, pia, pia A Teca faz anos Converso às vezes comigo Meus dias passam, minha fé também Flor que não dura Aqui neste profundo apartamento Ligeia Nas entressombras de arvoredo Glosas E o rei disse, “Memora estes meus lemas: Sinto-me forte contra a vida inteira O merecer e o receber não têm Ouço dizer a verdade Estio. Uma brisa ardida Como a nevoa que o realço Amiel Como às num dia azul e manso O contra-símbolo Não haver deus é um deus também Saudade eterna, que pouco duras! Em torno a mim, em maré cheia Não há verdade inteiramente falsa O catavento Tudo dorme. Pela erva Presságio Já não vivi em vão Horas Já me não lembra o sonho que não tive… Quem com meu nome é obsceno nas paredes? Não venhas sentar-te à minha frente, nem a meu lado Velo, na noite em mim A levíssima brisa Correm-me menos tristonhos Post-scriptum No fim do outono que finda É um rio entre arvoredo Não: não pedi amor nem amizade Ó curva do horizonte, quem te passa Música, sim, popular… Xadrez Sopra lá fora o vento Há luz no tojo e no brejo Não tenho razão Brincava a criança O que eu fui o que é? A água da chuva desce a ladeira Há música. Tenho sono Hoje ’stou triste, ’stou triste Passava eu na estrada pensando impreciso O sonho que se opôs a que eu vivesse O amor, quando se revela Vaga história comezinha É inda quente o fim do dia… E, ó vento vago O meu coração quebrou-se No fim da chuva e do vento O louco Caminho a teu lado mudo Há uma música do povo A ’sperança, como um fósforo inda aceso E a extensa e vária natureza e triste A pálida luz da manhã de inverno Sim, tudo é certo logo que o não seja A tua voz fala amorosa… Qual é a tarde por achar Vou com um passo como de ir parar Parece que estou sossegando Aqui está-se sossegado O céu de todos os invernos Mas o hóspede inconvidado Mas eu, alheio sempre, sempre entrando Pela rua já serena Tenho pena até… nem sei… O som do relógio Epitáfio desconhecido Nas grandes horas em que a insônia avulta O abismo é o muro que tenho Relógio, morre — Quem vende a verdade, e a que esquina? Na noite que me desconhece Mais triste do que o que acontece Ó ervas frescas que cobris Há quanto tempo não canto Ó sorte de olhar mesquinho Dormi. Sonhei. No informe labirinto Dói-me quem sou. E em meio da emoção Depois que todos foram Sombra… Árvore verde Eu tinha um sonho Vou em mim como entre bosques Meus versos são meu sonho dado Deixa-me ouvir o que não ouço… A tua carne calma Teu corpo real que dorme Ah, a esta alma que não arde Fito-me frente a frente Que coisa é que na tarde Sei bem que não consigo Se eu pudesse não ter o ser que tenho Não quero mais que um som de água Deve chamar-se tristeza Quem me roubou quem nunca fui e a vida? Se sou alegre ou sou triste?… O grande sol na eira Grande sol a entreter Maravilha-te, memória! Não sei quantas almas tenho Vem do fundo do campo, da hora Deus não tem unidade Entre o luar e o arvoredo Deixo ao cego e ao surdo Passam na rua os cortejos Tenho pena e não respondo Olha-me rindo uma criança Quero ser livre insincero Meu ruído de alma cala Gnomos do luar que faz selvas Minha mulher, a solidão Na margem verde da estrada Quando nas pausas solenes A estrada, como uma senhora Tão vago é o vento que parece De aqui a pouco acaba o dia É boa! Se fossem malmequeres! Enfia a agulha Parece estar calor, mas nasce Gradual, desde que o calor Como um vento na floresta Quando fui peregrino Do meio da rua Por quem foi que me trocaram Leve no cimo das ervas Se tudo o que há é mentira Cai chuva do céu cinzento Passa entre as sombras de arvoredo Há um grande som no arvoredo Na orla do vento movem Cai amplo o frio e eu durmo na tardança Andavam de noite aos segredos Parece às vezes que desperto O ruído vário da rua Cheguei à janela Eu amo tudo o que foi Há um murmúrio na floresta O vento tem variedade Já ouvi doze vezes dar a hora Paisagens, quero-as comigo Sonhei. Desperto. Um tédio doloroso Quando é que o cativeiro No fundo do pensamento O mau aroma álacre Vão breves passando Não tenho quinta nenhuma Fito-me frente a frente Em plena vida e violência Não sei ser triste a valer Tenho sono em pleno dia: Sou um evadido As nuvens são sombrias Guardo ainda, como um pasmo Se penso mais que um momento Não digas que, sepulto, já não sente Desfaze a mala feita pra a partida! Se estou só, quero não ’star Bem, hoje que estou só e posso ver No céu da noite que começa Incidente Não fiz nada, bem sei, nem o farei Quando estou só reconheço Vê-la faz pena de ’sperança Uma maior solidão Chove. Que fiz eu da vida? Vem dos lados da montanha Desperto sempre antes que raie o dia Clareia cinzenta a noite de chuva A lua (dizem os ingleses) As lentas nuvens fazem sono Segundo grau E toda a noite a chuva veio Eu tenho ideias e razões Não, não é nesse lago entre rochedos Tenho principalmente não ter nada Pálida sombra esvoaça Lembro-me ou não? Ou sonhei? Basta pensar em sentir Como nuvens pelo céu Porque sou tão triste ignoro O que o seu jeito revela Nos jardins municipais Por que, ó sagrado, sobre a minha vida Quando já nada nos resta Aquele peso em mim — meu coração O sol dourava-te a cabeça loura A aranha do meu destino No meu sonho estiolaram Lâmpada deserta Ah, como incerta, na noite em frente Vinha elegante, depressa Lá fora onde árvores são Ah, só eu sei Nada que sou me interessa O ponteiro dos segundos Em outro mundo, onde a vontade é lei Minhas mesmas emoções Depois que o som da terra, que é não tê-lo Rala cai chuva. O ar não é escuro. A hora Eh, como outrora era outra a que eu não tinha! Oscila o incensório antigo Ouço sem ver, e assim, entre o arvoredo Por que esqueci quem fui quando criança? Ser consciente é talvez um esquecimento Quanto fui jaz. Quanto serei não sou Uma névoa de outono o ar raro vela Que suave é o ar! Como parece Do seu longínquo reino cor-de-rosa Entre o sossego e o arvoredo Ligéa Nesta vida, em que sou meu sono Vai pela estrada que na colina Vi passar, num mistério concedido Ladram uns cães a distância Leves véus velam, nuvens vãs, a lua Quero, terei — Olhando o mar, sonho sem ter de quê É um campo verde e vasto Falhei. Os astros seguem seu caminho Deixei de ser aquele que esperava Quando, com razão ou sem Tudo foi dito antes que se dissesse Na noite em que não durmo Vai alta a nuvem que passa A novela inacabada Sim, farei…; e hora a hora passa o dia… Todas as coisas que há neste mundo De além das montanhas A lavadeira no tanque Talhei, artífice de um morto rit Há em tudo que fazemos Meu coração tardou. Meu coração A miséria do meu ser Vão na onda militar A criança que fui chora na estrada (DREAM) Sonhei, confuso, e o sono foi disperso Se acaso, alheado até do que sonhei Durmo ou não? Passam juntas em minha alma Nada. Passaram nuvens e eu fiquei Eu me resigno. Há no alto da montanha A minha camisa rota Onde o sossego dorme Servo sem dor de um desolado intuito Canta onde nada existe Durmo, cheio de nada, e amanhã Tenho esperança? Não tenho Náusea. Vontade de nada O vento sopra lá fora Sopra o vento, sopra o vento Vai lá longe, na floresta Pálida, a Lua permanece Nesta grande oscilação Dorme, criança, dorme Boiam farrapos de sombra Verdadeiramente O que é vida e o que é morte Sabes quem sou? Eu não sei Tenho escrito muitos versos Se eu me sentir sono Tudo que sou não é mais do que abismo Sangra-me o coração. Tudo que penso Flui, indeciso na bruma Renego lápis partido Tudo que sinto, tudo quanto penso Quem me amarrou a ser eu Sonho sem fim nem fundo Eram varões todos Já me não pesa tanto o vir da morte Não digas nada! Que hás me de dizer? Do fundo do fim do mundo Tenho em mim como uma bruma Canto a Leopardi Teu perfil, teu olhar real ou feito Como é por dentro outra pessoa A lâmpada nova Vaga saudade, tanto Onde quer que o arado o seu traço consiga As coisas que errei na vida O sol que doura as neves afastadas Ah quero as relvas e as crianças! Deixem-me o sono! Sei que é já manhã Deixei atrás os erros do que fui Não digas nada! Quero dormir. Não sei se quero a morte Ah, verdadeiramente a deusa! — Se alguém bater um dia à tua porta Sim, vem um canto na noite Tudo que amei, se é que o amei, ignoro Tudo, menos o tédio, me faz tédio A nuvem veio e o sol passou Divido o que conheço Começa, no ar da antemanhã Deslembro incertamente. Meu passado Se há arte ou ciência para ler a sina Bem sei que estou endoidecendo Bem sei que há ilhas lá ao Sul de tudo A montanha por achar A ciência, a ciência, a ciência… Era isso mesmo — Bem sei que todas as mágoas Sim, já sei… O som contínuo da chuva Na véspera de nada Sob olhos que não olham — os meus olhos — Não tenho que sonhar que possam dar-me Exígua lâmpada tranquila Na paz da noite, cheia de tanto durar Criança, era outro… Onde, em jardins exaustos Sá-Carneiro Música… Que sei eu de mim? A mão posta sobre a mesa Não quero rosas, desde que haja rosas Sim, está tudo certo Tudo quanto penso Um dia baço mas não frio… O amor é que é essencial Elegia na sombra Desce a névoa da montanha Já não me importo O véu das lágrimas não cega Ouvi os sábios todos discutir Ah, como o sono é a verdade, e a única Aquilo que a gente lembra Sou o Espírito da treva Um cansaço feliz, uma tristeza informe Dormi, sonhei. No informe labirinto Meu pensamento, dito, já não é Sono
Volume 2
SUMÁRIO NOTA DO EDITOR OUTROS EUS FICÇÕES DO INTERLÚDIO | POEMAS DE ALBERTO CAEIRO O GUARDADOR DE REBANHOS (1911-1912)
Eu nunca guardei rebanhos O meu olhar é nítido como um girassol Ao entardecer, debruçado pela janela Esta tarde a trovoada caiu Há metafísica bastante em não pensar em nada Pensar em Deus é desobedecer a Deus Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo… Num meio-dia de fim de primavera Sou um guardador de rebanhos “Olá, guardador de rebanhos Aquela senhora tem um piano Os pastores de Virgílio tocavam avenas e outras coisas Leve, leve, muito leve Não me importo com as rimas. Raras vezes As quatro canções que seguem Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois No meu prato que mistura de Natureza! Quem me dera eu fosse o pó da estrada O luar quando bate na relva O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia Se eu pudesse trincar a terra toda Como quem num dia de Verão abre a porta de casa O meu olhar azul como o céu O que nós vemos das coisas são as coisas As bolas de sabão que esta criança Às vezes, em dias de luz perfeita e exata Só a Natureza é divina, e ela não é divina… Li hoje quase duas páginas Nem sempre sou igual no que digo e escrevo Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o Se às vezes digo que as flores sorriem Ontem à tarde um homem das cidades Pobres das flores nos canteiros dos jardins regulares Acho tão natural que não se pense O luar através dos altos ramos E há poetas que são artistas Como um grande borrão de fogo sujo Bendito seja o mesmo sol de outras terras O mistério das coisas, onde está ele? Passa uma borboleta por diante de mim No entardecer dos dias de Verão, às vezes Passou a diligência pela estrada, e foi-se Antes o voo da ave, que passa e não deixa rasto Acordo de noite subitamente Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta Deste modo ou daquele modo Num dia excessivamente nítido Da mais alta janela da minha casa Meto-me para dentro, e fecho a janela
O PASTOR AMOROSO
Quando eu não te tinha Vai alta no céu a lua da Primavera O amor é uma companhia O pastor amoroso perdeu o cajado Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela Todos os dias agora acordo com alegria e pena
POEMAS INCONJUNTOS (1913-1915)
Não basta abrir a janela Falas de civilização, e de não dever ser Entre o que vejo de um campo e o que vejo de outro campo Criança desconhecida e suja brincando à minha porta Verdade, mentira, certeza, incerteza… Uma gargalhada de rapariga soa do ar da estrada Noite de S. João para além do muro do meu quintal Ontem o pregador de verdades dele Tu, místico, vês uma significação em todas as coisas Pastor do monte, tão longe de mim com as tuas ovelhas — Dizes-me: tu és mais alguma coisa A espantosa realidade das coisas Quando tornar a vir a Primavera Se eu morrer novo Quando vier a Primavera Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia É noite. A noite é muito escura. Numa casa a uma grande distância Nunca sei como é que se pode achar um poente triste Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol Quando a erva crescer em cima da minha sepultura Se o homem fosse, como deveria ser O único mistério do Universo é o mais e não o menos O Universo não é uma ideia minha Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento O espelho reflete certo; não erra porque não pensa Estas verdades não são perfeitas porque são ditas A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas De longe vejo passar no rio um navio… Creio que irei morrer A noite desce, o calor soçobra um pouco Estou doente. Meus pensamentos começam a estar confusos Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável Seja o que for que esteja no centro do Mundo Pouco me importa A guerra que aflige com seus esquadrões o Mundo Todas as opiniões que há sobre a natureza Navio que partes para longe Pouco a pouco o campo se alarga e se doura Última estrela a desaparecer antes do dia A água chia no púcaro que elevo à boca O que ouviu os meus versos disse-me: Que tem isso de novo? Ah! Querem uma luz melhor que a do Sol! Gozo os campos sem reparar para eles Vive, dizes, no presente Hoje de manhã saí muito cedo Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã Também sei fazer conjeturas A neve pôs uma toalha calada sobre tudo É talvez o último dia da minha vida
FICÇÕES DO INTERLÚDIO | ODES DE RICARDO REIS
Mestre, são plácidas Os deuses desterrados Coroai-me de rosas O Deus Pã não morreu De Apolo o carro rodou pra fora Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio Ao longe os montes têm neve ao sol Só o ter flores pela vista fora A palidez do dia é levemente dourada Não tenhas nada nas mãos Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo As rosas amo dos jardins de Adônis Cuidas, ínvio, que cumpres, apertando Não consentem os deuses mais que a vida Cada coisa a seu tempo tem seu tempo Da nossa semelhança com os deuses Só esta liberdade nos concedem Aqui, Neera, longe Da lâmpada noturna O ritmo antigo que há em pés descalços Vós que, crentes em Cristos e Marias O mar jaz; gemem em segredo os ventos Antes de nós nos mesmos arvoredos Acima da verdade estão os deuses Anjos ou deuses, sempre nós tivemos Tirem-me os deuses Bocas roxas de vinho Ouvi contar que outrora, quando a Pérsia Prefiro rosas, meu amor, à pátria Felizes, cujos corpos sob as árvores Segue o teu destino Feliz aquele a quem a vida grata Não a ti, Cristo, odeio ou te não quero Não a ti, Cristo, odeio ou menos prezo Sofro, Lídia, do medo do destino Uma após uma as ondas apressadas Seguro assento na coluna firme Não quero as oferendas Vossa formosa juventude leda Não canto a noite porque no meu canto Não quero recordar nem conhecer-me A abelha que, voando, freme sobre Dia após dia a mesma vida é a mesma Flores que colho, ou deixo A flor que és, não a que dás, eu quero Melhor destino que o de conhecer-se De novo traz as aparentes novas Quão breve tempo é a mais longa vida Tão cedo passa tudo quanto passa! Prazer, mas devagar Este, seu ’scasso campo ora lavrando Como se cada beijo Tuas, não minhas, teço estas grinaldas Olho os campos, Neera No ciclo eterno das mudáveis coisas Já sobre a fronte vã se me acinzenta Não só vinho, mas nele o olvido, deito Quanta tristeza e amargura afoga Frutos, dão-os as árvores que vivem Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho Solene passa sobre a fértil terra Atrás não torna, nem, como Orfeu, volve A nada imploram tuas mãos já coisas Aqui, dizeis, na cova a que me abeiro Lenta, descansa a onda que a maré deixa O sono é bom pois despertamos dele O rastro breve que das ervas moles Pesa o decreto atroz do fim certeiro Nos altos ramos de árvores frondosas Inglória é a vida, e inglório o conhecê-la Tudo que cessa é morte, e a morte é nossa A cada qual, como a ’statura, é dada Nem da erva humilde se o Destino esquece Quem diz ao dia, dura! e à treva, acaba! Negue-me tudo a sorte, menos vê-la Se recordo quem fui, outrem me vejo Quando, Lídia, vier o nosso outono Tênue, como se de Éolo a esquecessem No breve número de doze meses Não sei de quem recordo meu passado O que sentimos, não o que é sentido Quer pouco: terás tudo Não só quem nos odeia ou nos inveja Não quero, Cloé, teu amor, que oprime Não sei se é amor que tens, ou amor que finges Nunca a alheia vontade, inda que grata No mundo, só comigo, me deixaram Os deuses e os Messias que são deuses Do que quero renego, se o querê-lo Sim, sei bem Breve o dia, breve o ano, breve tudo Domina ou cala. Não te percas, dando Tudo, desde ermos astros afastados Ninguém, na vasta selva virgem Se a cada coisa que há um deus compete Quanto faças, supremamente faze Rasteja mole pelos campos ermos Azuis os montes que estão longe param Lídia, ignoramos. Somos estrangeiros Severo narro. Quanto sinto, penso Sereno aguarda o fim que pouco tarda Ninguém a outro ama, senão que ama Vive sem horas. Quanto mede pesa Nada fica de nada. Nada somos Para ser grande, sê inteiro: nada Quero ignorado, e calmo Cada dia sem gozo não foi teu Pois que nada que dure, ou que, durando Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge Aqui, neste misérrimo desterro Uns, com os olhos postos no passado Súdito inútil de astros dominantes Aguardo, equânime, o que não conheço — Vivem em nós inúmeros Ponho na altiva mente o fixo esforço Temo, Lídia, o destino. Nada é certo Não queiras, Lídia, edificar no ’spaço Saudoso já deste verão que vejo Deixemos, Lídia, a ciência que não põe É tão suave a fuga deste dia Para os deuses as coisas são mais coisas No magno dia até os sons são claros Quero dos deuses só que me não lembrem Aos deuses peço só que me concedam Cada um cumpre o destino que lhe cumpre Meu gesto que destrói Sob a leve tutela
FICÇÕES DO INTERLÚDIO | POESIAS DE ÁLVARO DE CAMPOS
Quando olho para mim não me percebo A Praça da Figueira de manhã Opiário Ode triunfal Dois excertos de odes Ode marítima Saudação a Walt Whitman A Fernando Pessoa Passagem das horas A Casa Branca Nau Preta No lugar dos palácios desertos e em ruínas Não sei. Falta-me um sentido, um tato Soneto já antigo Lisbon revisited Se te queres matar, por que não te queres matar? Lisbon revisited (1926) Faróis distantes O florir do encontro casual Nas praças vindouras — talvez as mesmas que as nossas — Tabacaria Escrito num livro abandonado em viagem Apostila Demogorgon Adiamento Mestre, meu mestre querido! Na noite terrível, substância natural de todas as noites Ao volante do Chevrolet pela estrada de Sintra Nuvens Ah a frescura na face de não cumprir um dever! The Times Gazetilha Insônia Acaso Reticências Apontamento De la musique Aniversário Nunca, por mais que viaje, por mais que conheça Bicarbonato de soda Trapo Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento Grandes são os desertos, e tudo é deserto Cruz na porta da tabacaria! Tenho uma grande constipação Sim, sou eu, eu mesmo, tal qual resultei de tudo Ah, um soneto… Realidade E o esplendor dos mapas, caminho abstrato para a imaginação concreta Psiquetipia (ou Psicotipia) Magnificat Pecado original Datilografia Lisboa com suas casas Esta velha angústia Na casa defronte de mim e dos meus sonhos Domingo irei para as hortas na pessoa dos outros Começa a haver meia-noite, e a haver sossego Depus a máscara e vi-me ao espelho — Na véspera de não partir nunca O que há em mim é sobretudo cansaço — Às vezes tenho ideias felizes Símbolos? Estou farto de símbolos… Ali não havia eletricidade Não: devagar Os antigos invocavam as Musas Há mais de meia hora Eu, eu mesmo.. Estou cansado, é claro Não estou pensando em nada O sono que desce sobre mim Estou tonto Todas as cartas de amor são Quero acabar entre rosas, porque as amei na infância O frio especial das manhãs de viagem No fim de tudo dormir Gostava de gostar de gostar Encostei-me para trás na cadeira de convés e fechei os olhos O tumulto concentrado da minha imaginação intelectual… Ah, perante esta única realidade, que é o mistério Contudo, contudo Acordar da cidade de Lisboa, mais tarde do que as outras Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir O binômio de Newton é tão belo como a Vênus de Milo Não, não é cansaço.. Mas eu, em cuja alma se refletem O descalabro a ócio e estrelas… Ora até que enfim…, perfeitamente… O mesmo Teucro duce et auspice Teucro Ah, onde estou ou onde passo, ou onde não estou nem passo Que lindos olhos de azul inocente os do pequenito do agiota! Que noite serena! O ter deveres, que prolixa coisa! Começo a conhecer-me. Não existo Vai pelo cais fora um bulício de chegada próxima Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa A plácida face anônima de um morto Desfraldando ao conjunto fictício dos céus estrelados Marinetti, acadêmico Ode marcial Là-bas, je ne sais où… Dobrada à moda do Porto Poema em linha reta Vilegiatura Clearly non-Campos! Barrow-on-Furness
OUTRAS LÍNGUAS POEMAS INGLESES
35 SONNETS
Whether we write or speak or are but seen If that apparent part of life’s delight When I do think my meanest line shall be I could not think of thee as piecèd rot How can I think, or edge my thoughts to action As a bad orator, badly o’er-book-skilled Thy words are torture to me, that scarce grieve thee — How many masks wear we, and undermasks Oh to be idle loving idleness! As to a child, I talked my heart asleep Like to a ship that storms urge on its course As the lone, frighted user of a night-road When I should be asleep to mine own voice We are born at sunset and we die ere morn Like a bad suitor desperate and trembling We never joy enjoy to that full point My love, and not I, is the egoist Indefinite space, which, by co-substance night Beauty and love let no one separate When in the widening circle of rebirth Thought was born blind, but Thought knows what is seeing My soul is a stiff pageant, man by man Even as upon a low and cloud-domed day Something in me was born before the stars We are in Fate and Fate’s and do but lack The world is woven all of dream and error How yesterday is long ago! The past The edge of the green wave whitely doth hiss My weary life, that lives unsatisfied I do not know what truth the shown untruth I am older than Nature and her Time When I have sense of what to sense appears He that goes back does, since he goes, advance Happy the maimed, the halt, the mad, the blind — Good. I have done. My heart weighs. I am sad Antinous Inscriptions
EPITHALAMIUM
Set ope ali shutters, that the day come in Part from the windows the small curtains set Open the windows and the doors all wide Let the wide light come through the whole house now Now will her grave of untorn maidenhood Sing at her window, ye heard early wings Now is she risen. Look how she looks down Look how over her seeing-them-not her maids Now is she gowned completely, her face won Now is she issued. List how all speech pines Hang with festoons and wreaths and coronals This is the month and this the day No more, no more of church or feast, for these The bridegroom aches for the end of this and lusts Even ye, now old, that to this come as to No matter now or past or future. Be In a red bacchic surge of thoughts that beat Io! Io! There runs a juice of pleasure’s rage Set the great Flemish hour aflame! But these are thoughts or promises or but And ye, that wed to-day, guess these instincts Separated from thee, treasure of my heart Anamnesis
ALGUNS POEMAS DE ‘‘ THE MAD FIDDLER’’ E OUTROS POEMAS DIVERSOS
The Abyss The End Meantime Spell
POEMAS FRANCESES
Trois chansons mortes Aux volets clos de votre revê épanoui Le sourire de tes yeux bleus
POEMAS TRADUZIDOS PARA O PORTUGUÊS
O Corvo Annabel Lee Ulalume Da antologia grega Hino a Pã Catarina a Camões Godiva Lucy
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Chief Librarian: Las Zenow <zenow@riseup.net>
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