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Capacidade econômica: a vantagem desperdiçada

O grande desequilíbrio

Para o historiador econômico, o resultado da Primeira Guerra Mundial parece ter sido inevitável desde o momento em que a maioria do Gabinete liderado por Asquith refreou seus escrúpulos liberais e optou pela intervenção. Seria possível pensar que uma guerra que durou mais tempo do que a maioria das pessoas havia esperado e custou mais do que qualquer um havia previsto estava fadada a ser ganha por qualquer coalizão que tivesse a Grã-Bretanha a seu lado. Sem a Grã-Bretanha, a França e a Rússia tinham um Produto Nacional Bruto que, somado, era aproximadamente 15% menor que o da Alemanha e da Áustria-Hungria. Com a Grã-Bretanha, o jogo mais do que virou: a Tríplice Entente tinha um Produto Nacional Bruto 60% maior que o dos Impérios Centrais. Os Impérios Centrais eram responsáveis por 19% da produção das manufaturas do mundo em 1913; a Tríplice Entente, por 28%. Segundo os cálculos de Kennedy sobre o “potencial industrial”, a vantagem da Entente era de aproximadamente 1,5 para 1.1 Em número de trabalhadores, a vantagem parecia ainda maior. A população combinada dos Impérios Centrais (incluindo a Turquia e a Bulgária) quando a guerra começou era de aproximadamente 144 milhões; a do Império Britânico, da França, da Rússia, da Bélgica e da Sérvia somava 656 milhões – uma vantagem de 4,5 para 1. Ao todo, 25 milhões de homens lutaram pelos Impérios Centrais entre 1914 e 1918; o outro lado colocou mais de 32 milhões nos campos de batalha. É verdade que os Impérios Centrais conseguiram nocautear a populosa Rússia em 1917. Mas os novos aliados mais do que compensaram essa perda (ver Tabela 21).

Tabela 21 O desequilíbrio demográfico (em milhares)

 

Total Impérios Centrais*

Total Entente em 1914†

Total Aliados em 1918‡

População c.1910-1914

144.282

655.749

690.245

Total mobilizado, 1914-1918

25.100

32.080

30.580

Notas: *Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia, Bulgária; †Grã-Bretanha, Império Britânico, França, Rússia, Bélgica, Sérvia; ‡Grã-Bretanha, Império Britânico, França, Sérvia, Itália, Romênia, Grécia, Portugal, Estados Unidos, Japão.

Fonte: Parker, The Times Atlas of World History, p. 248s.

Também em termos financeiros a Grã-Bretanha fez a diferença graças ao enorme estoque de capitais ultramarinos acumulados – grosso modo, três vezes mais do que a Alemanha (ver Tabela 4, Capítulo 2) – e à superioridade de seu sistema fiscal. Em 1913, o orçamento militar combinado da Rússia e da França não era muito maior que o da Alemanha e da Áustria-Hungria. A incorporação da Grã-Bretanha aumentou a diferença para cerca de 100 milhões de libras.2

Tabela 22 Estimativas do Produto Nacional Líquido/Bruto dos quatro principais países combatentes, 1913-1918 (1913 = 100)

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Notas: Alemanha: Produto Nacional Líquido; Grã-Bretanha e Itália: Produto Interno Bruto; Rússia: renda nacional.

Fontes: Mitchell, European Historical Statistics, p. 409-416; Stone, Eastern Front, p. 209; Witt, “Finanzpolitik”, p. 424. Lyashchenko, National Economy, p. 697, fornece números menores para a Rússia.

Durante a guerra, nada aconteceu para diminuir essa lacuna. Pelo contrário: os Impérios Centrais sofreram com a contração econômica, enquanto as principais economias da Entente cresceram. A Tabela 22 fornece estimativas do Produto Nacional Bruto ou Líquido, com os ajustes inflacionários, dos quatro principais países combatentes. Segundo os indicadores disponíveis, o Produto Nacional Líquido da Alemanha se contraiu em cerca de 25%.3 A Áustria-Hungria provavelmente se saiu pior. Na Grã-Bretanha e na Itália, por sua vez, houve um crescimento real da ordem de 10% entre 1914 e 1917. Até o colapso revolucionário, a Rússia teve um desempenho ainda melhor: em 1916, a produção total era mais do que 20% maior do que em 1913.

Inevitavelmente, a interrupção do comércio e o desvio de fatores de produção para o trabalho de destruição geraram problemas para a indústria de ambos os lados. No entanto, o problema da queda na produção industrial foi particularmente grave na Alemanha (Tabela 23). O índice para a Grã-Bretanha mostra uma queda de cerca de 10% entre 1914 e 1917; para a Alemanha, o índice é de 25%.4 A Rússia, por outro lado (e contrariando a opinião de que o czarismo estava economicamente condenado ao fracasso), conseguiu aumentar a produção industrial em 17% entre 1914 e 1916.

Tabela 23 Índices de produção industrial nos quatro principais países combatentes (1914 = 100)

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Fonte: Mitchell, European Historical Statistics, p. 181ss; Wagenführ, “Industriewirtschaft” p. 23; Stone, Eastern Front, p. 210 (novamente, Lyaschenko, National Economy, p. 761, fornece números menores para a Rússia).

Com exceção dos metais não ferrosos (que, tradicionalmente, a Alemanha importava), a produção de todas as principais indústrias alemãs caiu entre 1913 e 1918 – o carvão mineral, cerca de 17%, e o aço, cerca de 14%. Na Grã-Bretanha, em comparação, a produção de aço aumentou em torno de 25%, embora a produção de carvão mineral tenha diminuído pouco mais de 20%. Além disso, a Rússia havia conseguido um aumento de 16% na produção de carvão em 1916, bem como um aumento de 7% na produção de petróleo (uma substância sempre escassa nos Impérios Centrais) e um aumento ínfimo na produção de aço. A produção de eletricidade alemã aumentou 62% entre 1913 e 1918; mas a Grã-Bretanha e a Itália conseguiram dobrar sua produção, e até mesmo a França alcançou um aumento de 50%.5

Nenhum dos golpes econômicos que os Impérios Centrais infligiram contra seus inimigos se mostrou fatal. É verdade que a França perdeu mais da metade de sua capacidade produtora de carvão mineral e dois terços de sua capacidade de produção de aço, que estava situada no norte do país, onde a defesa foi desastrosa.6 Mas em 1917 a produção de carvão havia recuperado 71% do nível alcançado antes da guerra, e a de aço, 42%. A Bélgica ocupada também não foi uma fonte tão rica de carvão quanto se esperava: a produção total de carvão belga caiu 40% durante a guerra, e a de aço praticamente cessou. A Romênia também decepcionou: forneceu apenas 1,8 milhão de toneladas de comida e forragem no período entre a época de sua invasão em 1916 e julho de 1918 (6% da colheita anual alemã), pelo simples fato de que seu nível de produção de trigo durante a ocupação despencou para um quarto do nível anterior à guerra.7 Sem dúvida, a revolução que irrompeu na Rússia em 1917 mais do que anulou os grandes avanços na produção alcançados desde 1914, mas a entrada dos Estados Unidos compensou com folga essa perda. Em termos de “potencial industrial”, a vantagem dos Aliados agora apoiados pelos norte-americanos passou a ser de 2,6 para 1.8 A produção de aço nos Estados Unidos teve um crescimento extraordinário de 235% entre 1913 e 1917.9 Os alemães levaram os Estados Unidos à guerra ao apostar em um conflito armado irrestrito. Mas não conseguiram construir submarinos tão depressa quanto os Aliados substituíam os navios mercantes afundados. Em 1917, a produção dos estaleiros alemães havia caído para cerca de um quinto de seu nível anterior à guerra; em comparação, a do Império Britânico estava em 70%. Nos Estados Unidos, a construção de navios quadruplicou entre 1914 e 1917; no último ano da guerra, era 14 vezes maior.10

Paradoxalmente, a agricultura alemã teve certo sucesso ao impulsionar a produção de alguns produtos básicos. A produção de tabaco aumentou e a de vinho cresceu não menos que 170%, enquanto a produção de açúcar sofreu uma redução menor que a de ferro-gusa.11 Infelizmente, os alemães não tiveram o mesmo sucesso ao produzir o sustento vital: o pão. A produção total de grãos despencou para quase a metade entre 1914 e 1917 (os dados para o trigo, na Tabela 24, atenuam um pouco a crise: a produção de aveia caiu 62%).12 O declínio no rendimento por hectare de todos os principais cultivos se deu basicamente pela falta de fertilizantes importados em consequência do bloqueio britânico, cuja relevância havia sido totalmente subestimada pelo Ministério do Interior do Reich antes da guerra. O aumento no uso de potássio e de nitratos produzidos pelo processo Haber-Bosch não foi suficiente para compensar essa falta.13 A produção de cerveja foi reduzida em todos os países combatentes europeus, mas foi mais notória nos Impérios Centrais: uma queda de dois terços na Alemanha em comparação com pouco mais de 50% na Grã-Bretanha.14 Também houve quedas bruscas no número de porcos e galinhas na Alemanha e, em menor medida, mas ainda assim significativa, no número de bovinos, bem como uma redução no peso médio do gado de corte e nos rendimentos do gado leiteiro.15 É preciso admitir que esses foram anos ruins para a maioria dos países por motivos climáticos. Na Áustria e na França, a situação foi ainda pior, e até mesmo os Estados Unidos sofreram um declínio de 28% em suas colheitas de trigo. Por outro lado, a Hungria e a Grã-Bretanha conseguiram aumentar a produção de trigo, e na Rússia e na Itália as quedas foram modestas.

Tabela 24 Produção de trigo, 1914-1917 (em milhares de toneladas)

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Fonte: Mitchell, European Historical Statistics, p. 108-125; Stone, Eastern Front, p. 295.

O comércio trouxe ainda mais dificuldades para os Impérios Centrais, que não conseguiram importar dos países neutros tanto quanto seus adversários. A interrupção do comércio alemão por via marítima provocada pela ação naval britânica foi, sem dúvida, severa. A publicação alemã Hansa, especializada em navios, anteviu em 1º de agosto que, se a Grã-Bretanha entrasse na guerra, “a vida econômica [iria] sofrer um colapso sem precedentes na história”.16 Isso se revelou a pura verdade. A incapacidade dos navios de superfície alemães de disputar o controle do mar do Norte significou que o transporte marítimo alemão pelos portos locais foi efetivamente confinado ao Báltico quando a guerra eclodiu, e assim permaneceu durante todo o conflito, com incursões esporádicas no mar do Norte.17 O resultado foi que já em 1915 as importações alemãs haviam caído para cerca de 55% do montante que apresentavam antes do início da guerra. Não é de surpreender, portanto, que antigos anglófilos, como o armador Albert Ballin, clamaram contra os “métodos de mercadores mesquinhos” e “repugnantes” adotados pelos britânicos “com o único objetivo de excluir [os alemães] do mercado mundial”.18

Dito isso, o bloqueio naval se revelou uma arma muito menos letal do que os navalistas britânicos haviam imaginado. No começo, nenhuma tentativa foi feita para impedir o fluxo de bens para os países neutros, de onde poderiam prosseguir para a Alemanha. De fato, nos primeiros nove meses de guerra, as exportações britânicas reexportadas pelos países neutros aumentaram de 10% para 24% do total.19 A maior parte foi para a Alemanha. Levou tempo para que a Entente concebesse para os países neutros um sistema de compra exclusiva de mercadorias, que de outra forma poderiam acabar indo para o inimigo.20 Além disso, foi só quando os Estados Unidos entraram na guerra que suas exportações para os vizinhos neutros dos Impérios Centrais sofreram uma queda significativa (de 267 milhões de dólares em 1915-1916 para apenas 62 milhões em 1917-1918).21 Também é importante lembrar o quanto a coerção de navios neutros afetou negativamente as relações anglo-americanas, sobretudo em julho de 1916, quando o governo britânico publicou sua lista negra de empresas norte-americanas suspeitas de negociar com os Impérios Centrais (para piorar as coisas, a interrupção do comércio naval dos Estados Unidos coincidiu com a repressão da Revolta da Páscoa em Dublin).22 Em comparação, os submarinos alemães conseguiram reduzir para 75% a importação de alimentos dos britânicos em 1917 e para 65% em 1918, tomando por base o ano de 1913.23 Mas isso não foi suficiente: a introdução do sistema de comboio reduziu drasticamente o índice de eficácia dos U-boots; os estaleiros norte-americanos se mostraram mais rápidos para construir novos barcos do que os alemães para afundá-los; ao passo que o aumento da produção interna e a adoção do racionamento contribuíram para minimizar o problema da escassez de alimentos na Grã-Bretanha. Com todo o respeito a Liddell Hart, o poderio naval não decidiu a guerra.24

Tabela 25 Média anual do déficit comercial durante a guerra como percentual das importações

Grã-Bretanha

41,5

França

63,0

Itália (desde 1915)

66,6

Rússia (até 1917)

58,3

Alemanha

45,8

Áustria-Hungria (até 1916)

55,7

Fonte: Eichengreen, Golden Fetters, p. 82s.

Portanto, embora, antes da guerra, quase a metade de suas importações (48%) viesse de países contra os quais entrou em conflito, a Alemanha foi capaz de encontrar fontes alternativas de importação, operando sobre uma balança deficitária de 15 bilhões de marcos com seus vizinhos continentais e escandinavos, o equivalente a 46% do total de suas importações durante a guerra.25 No entanto, os números para a Rússia, a França e a Itália são significativamente maiores (ver Tabela 25). Algo ainda mais revelador é o fato de que, em média, o déficit na balança comercial da Alemanha durante a guerra foi equivalente a 5,6% do Produto Nacional Líquido; na Grã-Bretanha, foi o dobro disso (11,3%). Sem dúvida, a inferioridade alemã se deveu, em parte, ao bloqueio naval britânico, mas também – e talvez até mais – ao fato de que a Alemanha carecia das receitas invisíveis, as reservas de ativos ultramarinos e o crédito externo para financiar um grande déficit comercial. Durante a guerra, a Grã-Bretanha obteve 2,4 bilhões de libras esterlinas dos “invisíveis” (principalmente do transporte marítimo), vendeu ações totalizando 236 milhões de libras a investidores estrangeiros e tomou emprestado 1,285 bilhão de libras do exterior. A Alemanha não foi capaz de alcançar isso, especialmente por causa das medidas tomadas pelos inimigos, que foram, em muitos aspectos, mais eficazes do que o próprio bloqueio. Em 1914, os alemães haviam feito investimentos no exterior que valiam entre 980 milhões de libras e 1,37 bilhão de libras, a maioria em países que se tornaram seus inimigos. Em consequência da legislação da Inglaterra, da França, da Rússia e, mais tarde, dos Estados Unidos – a começar pelas primeiras leis restritivas ao inimigo externo de outubro de 1914 –, no mínimo 60% disso foi confiscado.26 As casas de comércio alemãs com filiais em território britânico foram sumariamente expropriadas. As companhias marítimas foram as mais prejudicadas. Em decorrência de afundamento ou confisco, os estaleiros alemães perderam 639 navios com uma carga total de 2,3 milhões de toneladas brutas – surpreendentes 44% do total da frota mercante antes da guerra.27 A Alemanha, portanto, praticamente não tinha receitas invisíveis, e fez bem em levantar 147 milhões com a venda de títulos estrangeiros. O governo também não contraiu muitos empréstimos no exterior, primeiro porque sentiu que não tinha necessidade, e mais tarde porque não podia. Por isso, para financiar o déficit de sua balança de pagamento, a Alemanha teve de contar com a venda de ouro no valor de 48 milhões de libras (o dobro dos britânicos) e créditos privados de curto prazo de fornecedores estrangeiros.28

Lebres e tartarugas

Tendo em vista a enorme vantagem com que contaram as potências da Entente durante a guerra, é um tanto misterioso que os historiadores tenham se preocupado por tanto tempo com os defeitos da organização econômica da Alemanha. Embora a discrepância de recursos econômicos possa parecer uma explicação suficiente para o fracasso dos Impérios Centrais em ganhar a guerra, os historiadores (assim como Hitler) sentiram a necessidade de culpar o governo alemão por errar na distribuição daqueles.

O consenso é que os alemães fizeram uma confusão ainda maior que a de seus oponentes ao mobilizar os recursos econômicos. Isso é improvável, uma vez que os políticos e empresários alemães estavam ideologicamente mais predispostos a aceitar uma intervenção estatal em grande escala na vida econômica do que seus equivalentes britânicos. De fato, os historiadores da época, e alguns mais recentes, procuraram retratar a economia de guerra alemã como um novo tipo de economia: “economia planejada”, “socialismo de Estado”, “economia comum”, “capitalismo monopolista de Estado”, “capitalismo organizado” – todos esses conceitos têm uma dívida para com a Alemanha na Primeira Guerra Mundial.29 Mas a realidade ficou muito longe desses rótulos. De fato, a economia de guerra alemã foi minada pela incompetência burocrática e pela falta de realismo das lideranças militares, tipificada pelo dirigisme tosco e fracassado do Plano Hindenburg.30

Os historiadores britânicos tenderam a propagar uma visão complementar. É verdade que os britânicos começaram a guerra com uma animada ingenuidade, tipificada pela frase “business as usual” [os negócios de sempre] (cunhada por H. E. Morgan, da Smith’s, e transformada em slogan de publicidade pela Harrods) – uma atitude que deve menos ao dogma do laissez-faire do que à presunção de que a Grã-Bretanha travaria uma guerra ao velho estilo naval. Os preços não seriam controlados, nem as exportações, nem o transporte marítimo.31 Mas os embates de 1915 acordaram os britânicos. Liderados pela heroica figura de Lloyd George e organizados pelo Ministério das Munições, criado por ele, os britânicos se adaptaram de forma magnífica às exigências da guerra total – o único pecado que cometeram foi esquecer as lições que haviam aprendido tão logo a guerra acabou.32 Daí a conclusão agradavelmente paradoxal: a Grã-Bretanha amadora tateou, titubeou e avançou aos tropeços para uma vitória improvisada contra a Alemanha profissional.33 De fato, era essa a visão um tanto presunçosa do Glasgow Herald em junho de 1916:

Somos incapazes de existir sob um sistema de ferro, com leis e regulações, como o que prevalece na Alemanha, e que é tão propenso a entrar em colapso quando submetido a pressão excessiva […] É verdade que “improvisamos” com demasiada frequência, mas existe alguma outra nação capaz de fazer isso tão bem quanto nós e dar a volta por cima no fim?34

Até mesmo a política econômica da França pode ser retratada dessa maneira, com Etienne Clémentel no lugar de Lloyd George, impondo tardiamente a eficiência organizacional por meio do Ministério do Comércio.35 Segundo Jay Winter, a Grã-Bretanha e a França tentaram “um experimento único e não planejado de capitalismo de Estado” que foi “relativamente bem-sucedido”:

Na Grã-Bretanha, o Estado em tempos de guerra nunca foi um Estado de “negócios”. Ou seja, a produção de material de guerra foi garantida dentro de um marco que colocava os interesses nacionais acima dos interesses dos empresários […] Para a maioria da população britânica […] o Estado durante a guerra foi eficaz onde mais importava, isto é, na produção de bens, tanto para os homens de uniforme quanto para a população civil.

A Alemanha, ao contrário, adotou um sistema “corporativista” que

deixou a gestão da economia para uma burocracia confusa, negociando com as grandes empresas e o Exército. O resultado foi o caos. A escassez de trabalho se tornou crônica, [enquanto] as grandes empresas se beneficiaram […] Os lucros aumentaram […] garantindo assim a aceleração progressiva da espiral inflacionária durante a guerra, a queda abrupta dos salários reais e uma crise de subsistência que acabou por minar o próprio regime. A economia de guerra alemã […] foi um dos primeiros e menos eficazes exemplos de um “complexo militar-industrial” em ação. A solução “corporativista” para as dificuldades econômicas da Alemanha não foi solução alguma […] Os líderes alemães jamais estabeleceram um controle político efetivo sobre a economia de guerra […] Portanto, eles não podiam esperar conciliar as reivindicações por recursos escassos de setores que competiam entre si. O resultado […] foi uma grande luta de todos contra todos. Com efeito, o Estado alemão se dissolveu sob a pressão da guerra industrial […] A situação do outro lado foi diferente. Esse […] é o contexto apropriado em que deve ser situada […] a história do desfecho da guerra […].36

Em outra ocasião, Winter chegou a afirmar que, se os trabalhadores alemães em 1917-1918 tivessem exigido o salário real de seus pares britânicos, e se suas famílias tivessem conseguido manter o nível nutricional [das famílias britânicas], o resultado da guerra poderia ter sido outro”.37 Na Alemanha, segundo argumentou (com base em um estudo detalhado sobre Berlim), havia uma carência de “cidadania”. Enquanto

em Paris e em Londres os direitos de cidadania ajudaram a preservar as comunidades em guerra, forçando uma distribuição mais equilibrada dos bens e dos serviços básicos entre as demandas da população civil e militar […] em Berlim […] a [população] militar teve privilégio, e a economia criada para atendê-la distorceu completamente o delicado equilíbrio econômico interno.

Em poucas palavras, o sistema dos Aliados era “mais equitativo e eficiente”.38

Como a fábula da lebre e da tartaruga, à qual tanto se assemelha, esta é, também, uma fábula. Pois se de fato as potências da Entente houvessem sido mais eficazes que os Impérios Centrais e mais dotadas de recursos, não haveria uma guerra de 1914 a 1918 a respeito da qual escrever: a guerra teria acabado no inverno de 1916-1917, quando a miséria na Alemanha era pior do que nunca. A literatura sobre economia de guerra ilustra perfeitamente os perigos de escrever uma história nacional sem uma perspectiva comparativa adequada. Quando se adota tal perspectiva, fica claro que a hipótese da “organização deficiente” não passa de uma versão respeitável da Dolchstosslegende (a lenda da punhalada pelas costas) propagada pela extrema direita e pelas lideranças militares alemãs durante e depois da derrota da Alemanha. Simplesmente transferir a culpa dos “criminosos de novembro” (socialistas e judeus) aos líderes da Alemanha durante a guerra não torna verdadeiro que a guerra foi perdida pela “Frente Interna” (isto é, a população civil). Ao contrário, há boas razões para acreditar que, considerando os recursos limitados com que contavam, os alemães foram significativamente melhores ao mobilizar sua economia para a guerra do que as potências ocidentais.

Em parte, a visão negativa da mobilização alemã nasceu de expectativas frustradas na época. O pressuposto do pré-guerra fora de que as autoridades militares alemãs eram o grande modelo de eficiência. Em agosto de 1914, Albert Ballin foi capaz de “sentir certa satisfação com a magnífica disciplina e realização do Estado-Maior”.39 A experiência de outros departamentos do governo quase imediatamente destroçou suas ilusões. Em 6 de agosto, Ballin e Max Warburg foram levados a Berlim para discutir a questão da importação de alimentos com oficiais do Ministério do Interior, do Tesouro, do Ministério das Relações Exteriores e do Reichsbank. O caos da viagem (durante a qual foram parados várias vezes por civis armados à procura de espiões) coincidiu com a confusão do encontro, que naufragou devido à visão equivocada do representante do Ministério das Relações Exteriores de que a Alemanha, de alguma forma, seria capaz de fazer uso da Marinha mercante dos Estados Unidos.40 Conforme a guerra avançava, Ballin foi ficando cada vez mais desanimado enquanto lutava para garantir alguma compensação econômica pelas imensas perdas de embarcações que sua empresa havia sofrido nas mãos dos Aliados. Ele ficou totalmente frustrado quando o governo o proibiu de vender navios que haviam sido abandonados em portos neutros. Dirigindo-se a deputados do Partido Nacional Liberal no Reichstag em fevereiro de 1918, Ballin denunciou “a noção perigosa de administrar, do campo de desfiles, a economia nacional e o comércio internacional”, e exigiu “independência da economia planificada de Berlim”.41

Ballin, é claro, era um comerciante de Hamburgo. Já Walther Rathenau, da gigante da engenharia elétrica AEG, foi um dos primeiros adeptos da crença de que a guerra demandaria uma transformação da economia alemã, de um sistema de livre mercado para um sistema quase socialista baseado em planejamento e estruturas corporativistas. Já em 14 de agosto de 1914, em seu memorando em que propunha a criação de um Departamento de Matérias-Primas do Ministério da Guerra, ele renunciava ao individualismo e a outros “deuses econômicos a quem, antes de agosto de 1914, o mundo orava”.42 Mais tarde, em seu livro Things to Come [Das coisas por vir] (1917), ele resumiu sua visão utópica de uma “economia comum” alemã (Gemeinwirtschaft). Mas quando conheceu Hindenburg em Kovno, em 1915, Rathenau ficou profundamente desapontado:

Hindenburg é grande e tende a gordo, suas mãos são atipicamente rechonchudas e macias e a metade inferior de sua cabeça lembra os retratos […] [mas] o nariz é muito delicado e indefinido, os olhos [são] inchados e inexpressivos […] A conversa foi cordial e amigável, mas improdutiva. Seus comentários foram pouco interessantes e, perto do fim, quando falei da grande unanimidade do sentimento popular como não se via na Alemanha desde os tempos de Lutero e de Blücher, ele observou, à sua maneira despretensiosa e amigável, que não merecia tamanho entusiasmo, mas que provavelmente deveria temer que isso gerasse inveja e raiva contra ele no país. Fiquei bastante surpreso com essa apreensão e tentei desviar sua atenção; [mas] ele voltou ao assunto.43

Como outros homens de negócios, Rathenau transferiu sua veneração por Hindenburg ao segundo no comando, Ludendorff, mas ele também acabou se revelando um néscio. Em julho de 1917, Rathenau tentou persuadir Ludendorff de que, de um ponto de vista estritamente econômico, a Alemanha precisava quanto antes de uma reforma política interna e de uma paz negociada. Os “acordos de energia” do país, queixou-se Rathenau, eram “incrivelmente confusos”:

Os subsecretários de Estado não podem fazer nada porque o chanceler está lá. O chanceler não pode fazer nada sem a confirmação dos quartéis-generais. Nos quartéis-generais, Ludendorff é tolhido por Hindenburg. Este último, por sua vez, cede assim que o Kaiser lhe dá um tapinha nas costas. O próprio Kaiser acredita que deve governar constitucionalmente, e assim o círculo se fecha.

Não valia a pena insistir nas anexações para proteger a indústria alemã na região do vale do Ruhr, na Renânia: “Se a guerra continuar por mais dois anos, não teremos que nos preocupar com nossa indústria em Aachen porque não sabemos se, até lá, ainda haverá alguma indústria na região”. Mas Ludendorff simplesmente não entendeu.44

Ballin e Rathenau não estavam sozinhos. Os empresários alemães – em especial aqueles que não eram de Berlim – reclamavam incessantemente do modo como a guerra estava sendo conduzida. O presidente da Câmara de Comércio de Hamburgo também desaprovou “a concentração de todas as transações comerciais […] nas mãos das empresas de guerra […] a distribuição quase exclusiva dos contratos do Exército para a indústria de Berlim […] [e] os incontáveis decretos para inibir o comércio, sancionados pelo Bundestag”.45 Mesmo na área de indústria pesada havia vozes críticas no último ano da guerra, notadamente a de Hugo Stinnes.46 Os agricultores alemães nunca pararam de se queixar da forma como o governo administrou a distribuição de alimentos.47

No entanto, os historiadores interpretaram essas queixas de forma muito literal (como também interpretaram os ataques ao militarismo alemão do pré-guerra). Se considerarmos a experiência das outras economias de guerra, fica claro que todas passaram por problemas muito similares e, considerando a base de recursos muito mais limitada com que contavam os alemães, o fato notável não é sua ineficiência, senão o contrário. Com efeito, as potências da Entente é que foram ineficientes, ou até perdulárias, na forma como mobilizaram suas economias. É claro que havia confusão burocrática na Alemanha; mas o ponto é que havia mais na Grã-Bretanha, na França e na Rússia. O fato de que a Alemanha acabou perdendo a guerra ocultou isso. Mas uma comparação adequada derruba o argumento de que sua derrota foi por causa de uma relativa ineficiência organizacional.

Aprovisionamento e matérias-primas

Em todos os países, levou algum tempo até que alguém questionasse a hipótese fundamental de que as necessidades muito maiores das Forças Armadas deveriam ser atendidas mediante a celebração de contratos com empresas privadas, operando com a ideia de lucro. Foi típico dos problemas que afligiram os aprovisionamentos alemães durante a guerra que, para equilibrar os interesses conflitantes dos diferentes estados, o Ministério da Guerra recorresse à alocação de contratos seguindo uma base matricular (isto é, em proporção à população de cada estado) – um sistema evidentemente absurdo.48 Mas os sistemas britânico e francês eram piores. O empresário George Booth não podia acreditar no modo confuso com que o Gabinete de Guerra organizou o aprovisionamento durante a primeira etapa da guerra e na desconfiança com que Asquith via este e outros empresários que se ofereceram para ajudar. Em um primeiro momento, não foram solicitados equipamentos suficientes; depois, solicitou-se uma quantidade excessiva a preços exorbitantes.49 No fim, o Exército provavelmente contava com um excesso de vestimentas.50 Quanto às munições, as dificuldades que afetaram os aprovisionamentos da Entente em 1914-1915 são bem conhecidas: a crise de munições britânica, que levou à criação do Ministério das Munições em junho de 1915, sua equivalente russa e as batalhas entre Albert Thomas e as empresas armamentistas francesas.51 Mas as melhorias que se seguiram só impressionam quando comparadas com o que veio antes. A contribuição das fábricas nacionais britânicas poderia ter sido maior, bem como a pressão sobre as margens de lucro das empresas privadas.52 A produção francesa de munições ultrapassou consideravelmente a britânica, o que indica que a Grã-Bretanha ainda não estava produzindo à plena capacidade; mas o esforço francês de expandir a produção estatal por meio da construção de um grande arsenal em Roanne, no fim de 1916, foi um dos maiores fiascos econômicos da guerra: custou 103 milhões de francos para ser construído, mas contribuiu apenas com produtos avaliados em 15 milhões de francos.53

Nada do que os alemães fizeram de errado pode ser comparado a isso. Os alemães nunca padeceram de escassez severa de munições (ver Tabela 26);54 embora seja verdade que em 1918 os Aliados tinham uma superioridade de 30% em armas de todos os calibres e de 20% em aeronaves, essas diferenças não foram a razão pela qual a ofensiva de primavera de Ludendorff fracassou. A maior debilidade alemã era a falta de tanques e de veículos blindados (eles tinham apenas dez, contra os 800 dos Aliados) e de caminhões (23 mil contra 100 mil). Não está de todo claro se isso era consequência da falta de combustível (e de borracha) ou de um ludismo tecnológico do Alto-Comando: afinal, os tanques eram precisamente o tipo de coisa que a indústria alemã deveria ser boa em produzir.

Tabela 26 Produção britânica e alemã de armamentos: estatísticas selecionadas

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Fontes: Hardach, First World War, p. 87; Herwig, First World War, p. 254ss. (considerando números mensais multiplicados por 12).

Os empresários tinham poder excessivo na economia de guerra alemã? Uma das principais inovações dos anos de guerra no que concerne aos suprimentos foi que o controle monopólico sobre a distribuição de matérias-primas passou a ser delegado a consórcios de consumidores industriais – as chamadas “corporações de guerra” –, os quais eram supervisados por um novo organismo oficial, o Departamento de Matérias-Primas (KRA) do Ministério da Guerra. No fim da guerra, havia 25 dessas corporações controlando a distribuição de tudo, de metal a tabaco. Embora tenha sido criado por um empresário, não há muito que se possa dizer contra esse procedimento. De fato, é significativo que a crítica mais veemente ao KRA tenha vindo de empresários hanseáticos que não gostavam de suas tendências centralizadoras – o que provavelmente deve ser interpretado como prova de que o sistema estava fazendo seu trabalho.55 Mais aberta ao ataque foi a prática alemã de delegar o estabelecimento de certas metas de produção industrial a cartéis industriais como a Associação de Carvão Mineral da Renânia-Vestfália.56 Esta possibilitou que os grandes negócios industriais e as entidades que os representavam não só regulassem a produção de matérias-primas essenciais como também controlassem seus preços. Não há dúvida de que isso tornou difícil para o governo controlar os preços dos produtos em escassez, e certamente ajudou a aumentar os lucros dos grandes negócios. Por fim, pode-se argumentar que se prestou demasiada atenção a associações empresariais como a Associação Central da Indústria Alemã e a Liga de Industrialistas, que, durante a guerra, formaram juntas um Comitê de Guerra da Indústria Alemã.

Mas qual era a outra opção além de confiar nos grandes negócios? Em todos os países, logo ficou claro que as pessoas mais capazes de enfrentar os problemas organizacionais da economia de guerra eram os empresários experientes das grandes corporações: comparativamente, a maioria dos funcionários públicos estava despreparada. Burocratas como William Beveridge podiam desdenhar da predominância de “amadores” no esforço de guerra britânico,57 mas não deixa de ser significativo que as tentativas de um controle direto da produção por parte do Estado geralmente tenham sido fadadas ao fracasso, onde quer que tenham sido feitas. A questão é qual país foi mais capaz de encontrar um equilíbrio entre os interesses privados dos negócios e as necessidades da economia de guerra como um todo. O que quer que se chame de sistema alemão – e “corporativista” não é necessariamente um termo pejorativo durante a guerra –, pelo menos teve o mérito de institucionalizar as relações entre os empresários e o Estado, ainda que nenhum dos lados estivesse muito fascinado pela experiência.

Na França, ao contrário, os homens de negócios continuaram a considerar o Estado mais um cliente do que um parceiro, até relativamente tarde na guerra.58 A campanha para expulsar Thomas depois do caso do arsenal de Roanne, que levou à nomeação do empresário Louis Loucheur como ministro de Armamentos em setembro de 1917, foi, em parte, um reflexo da hostilidade sentida por alguns setores de negócios em relação à ideia de um arsenal estatal.59 Foi só no fim de 1917 que surgiram na França instituições apropriadas para coordenar a alocação de matérias-primas, e isso só foi feito para acalmar os ânimos dos aliados do país. Apesar das negações de Clémentel em junho de 1918, os consórcios franceses instaurados para alocar matérias-primas eram pouco diferentes das corporações alemãs; só surgiram posteriormente.60 Nessa perspectiva, a velocidade comparativa com que um sistema “corporativista” foi desenvolvido na Alemanha era um sinal de força, e não de fraqueza.

Na Grã-Bretanha também houve algo de peculiar no modo como os empresários foram atraídos para o esforço de guerra. Em vez de criar mecanismos institucionais para a colaboração, Lloyd George preferiu afastar os empresários de seus negócios e lhes conceder departamentos do governo para administrar. Uma espécie de lenda gira em torno desse recrutamento de “homens de ação” para o setor público. Não há dúvida de que indivíduos como George Booth ou Alfred Mond eram bons no que faziam, embora funcionários públicos como Christopher Addison ficassem irritados com a maneira assistemática que eles tinham de lidar com a papelada. Também não há dúvida de que eles tiveram o escrúpulo de distinguir o interesse público do privado quando aceitaram seus empregos como funcionários do governo. Mas é um erro considerar esses homens como, de alguma forma, típicos das relações entre o Estado britânico e os negócios durante a guerra. As grandes empresas britânicas que dominaram o mercado de armamentos não foram mais estritas em suas políticas de preços do que suas equivalentes alemãs.61 Embora D. A. Thomas (mais tarde, lorde Rhondda) tenha defendido o controle público da indústria de carvão mineral desde o início, nem todos os proprietários de minas partilhavam de sua visão, e alguns continuaram a se opor ao controle até 1917.62 É verdade que o carvão foi efetivamente submetido a controle direto quando a Controladoria de Carvão Mineral foi criada em 1917, mas há poucos indícios de que isso tenha contribuído para aumentar a produtividade. De fato, o sistema de controle de carvão foi descrito como nada mais que um sistema para garantir os lucros dos donos das minas.63 Os empregadores nos setores de engenharia (sobretudo aqueles em Clydeside) também foram visivelmente lentos para abandonar o estilo confrontador que marcou as relações industriais antes da guerra. De tempos em tempos, funcionários civis tentando resolver disputas em Glasgow consideravam os empregadores tão teimosos quanto seus empregados.64

Em 1917-1918, os mesmos problemas surgiram nos Estados Unidos, que passaram por uma perturbação econômica surpreendentemente grave ao entrar na guerra. O Conselho das Indústrias de Guerra, criado em julho de 1917 a cargo do banqueiro Bernard M. Baruch, revelou-se totalmente inapto para a tarefa de mobilizar a economia para a participação direta na guerra. “Hoje”, reclamou um de seus membros em janeiro de 1918, “não há ninguém […] em nosso governo cuja função seja decidir o que deve ser feito.”65

É interessante confrontar a experiência das potências ocidentais com a da Rússia, que, em termos de aumento absoluto na produção, teve a economia de guerra mais eficaz. Lá os grandes negócios ganharam a batalha contra o ministro da Guerra, Vladimir Sukhomlinov, que havia resistido à pressão de impulsionar a produção de armamentos no setor privado: ele não só foi demitido como preso em maio de 1915, e se instaurou um novo “Conselho Especial para a Investigação e a Consonância de Medidas Requeridas para a Defesa do País”, com a indústria de Petrogrado bem representada. Assim como na Alemanha, outros grupos de negócios lamentaram a predominância de grandes empresas. Assim como na Alemanha, houve uma série de Comitês de Indústrias de Guerra e departamentos locais do governo, todos se intrometendo na alocação de matérias-primas e contratos. Assim como na Alemanha, os cartéis do período que antecedeu a guerra, como o Prodameta, de produtores de metal, exerceram grande influência sobre os preços. E, assim como na Alemanha (só que ainda mais), houve desperdício, lucros inflados e erros de conduta, como nos casos de Solodovnikov, dono da fábrica Revdinskoye nos Urais, e Putilov, em Petrogrado, os quais defraudaram o Estado em milhões.66 Mas o sistema entregou os produtos, como atestam os números impressionantes para a produção de armamentos: a produção de artilharia russa chegou perto de superar a britânica e a francesa em 1916-1917 e, em novembro de 1918, havia acumulado uma enorme reserva de 18 milhões de munições.67

O único ponto óbvio de comparação internacional – o nível de lucros alcançados pelos negócios – certamente não serve para condenar os alemães por práticas irregulares. Há, é claro, exemplos notórios. Os lucros na Krupp AG subiram de 31,6 milhões de marcos para 79,7 milhões em 1916-1917.68 Hugo Stinnes expandiu seu já imenso império de carvão, ferro e aço, comprando participações em companhias marítimas e outras empresas de transporte como parte de sua estratégia de “integração vertical”. Entre os projetos prediletos de Rathenau para a AEG durante a guerra estavam investir em transporte aéreo e na construção de navios: as sementes da futura Lufthansa foram plantadas durante a guerra. A gigante do aço Gutehoffnungshütte também obteve lucros suficientes para investir em uma empresa de construção de navios totalmente nova, a Deutsche Werft. De fato, a construção de navios é um bom exemplo do desempenho da indústria alemã durante a guerra. Os lucros líquidos da Blohm & Voss (que recebeu pedidos para 97 submarinos durante a guerra) subiram gradativamente de 1,4 milhão de marcos em 1914-1915 para 2,7 milhões de marcos (13,5% do capital) em 1917-1918. A empresa foi capaz de expandir sua produção anual para cerca de 600 mil toneladas brutas, adquirindo uma nova doca e uma fábrica de maquinário de um estaleiro menor, além de aumentar seu capital social de 12 milhões de marcos para 20 milhões de marcos e expandir sua mão de obra de 10.250 para 12.555. Isso de forma alguma foi excepcional: entre 1914 e 1920, os três principais estaleiros alemães aumentaram seu capital em 120%. Enquanto o índice de emprego nos setores de engenharia de modo geral subiu apenas 6,6% durante a guerra, nos estaleiros aumentou 52%. O governo não tinha dúvida de que “a indústria da construção de navios se saiu […] muito melhor durante a guerra do que nos anos precedentes”; e, com efeito, acusou os estaleiros de ocultarem o verdadeiro alcance de seus lucros, “fosse por permissões para depreciação ou por transferências de todo tipo”.69

Mas isso talvez tenha exagerado os benefícios dos contratos em tempos de guerra: o principal motivo para expandir a mão de obra era a qualidade muito mais baixa dos trabalhadores disponíveis em consequência do recrutamento indiscriminado. Pode-se observar que os lucros da Blohm & Voss, se deflacionados para compensar a inflação, registraram não mais do que um crescimento moderado com relação à baixa de 1914 – como um percentual do capital, os lucros subiram apenas de 11,4% para 13,5% –, e a expansão do estaleiro foi, em muitos aspectos, uma aposta arriscada no boom da demanda por navios que se previa para o pós-guerra. Além disso, esses lucros estavam acima da média: para a indústria alemã em geral, os lucros como um percentual do capital e das reservas subiram de 8% em 1913-1914 para apenas 10,8% em 1917-1918. Considerada como um todo, a indústria alemã de ferro e de aço foi muito afetada,70 e as cidades hanseáticas – com exceção dos estaleiros – se saíram ainda piores.71 Um bom indício de como andavam os negócios foi a contração do capital social das sociedades anônimas em termos reais. O valor total das ações do Reich no capital social dessas empresas caiu 14% em termos reais durante a guerra; as ações de Hamburgo caíram mais de um terço.72 As mais prejudicadas foram as grandes companhias marítimas e as pequenas casas de comércio, que sofreram mais perdas de capital durante a guerra do que qualquer outro setor: nos registros da Hapag no pós-guerra consta uma queda de 25% no valor real de seus ativos totais, subindo para 53% se forem considerados apenas os ativos físicos. Os ganhos também foram drasticamente reduzidos: os cálculos com base nos registros da Hapag no pós-guerra indicam que, ajustando para compensar a inflação, a empresa só foi capaz de ganhar 43,9 milhões de marcos durante os anos de guerra: uma queda de 84% nos ganhos anuais.

A situação era pouco diferente em outras economias. As empresas de armamentos da França, da Grã-Bretanha e especialmente da Rússia registraram aumentos vultosos nos lucros nominais, e é provável que estes tenham sido subestimados nos relatórios contábeis publicados.73 Na Grã-Bretanha, os lucros da Nobels’ Explosives foram três vezes maiores, mas a empresa química Brunner Mond só conseguiu um aumento de 50%, e os lucros com transporte subiram apenas um terço descontados os impostos. A mineração como um todo viu os lucros triplicarem durante a guerra; no caso de uma empresa como a Cardiff Collieries Ltd, 1916 foi o ano de pico, ainda que a imposição de controles provavelmente tenha feito os lucros caírem, em termos reais, para abaixo do nível em que se encontravam antes da guerra. A Courtaulds e a Lever Brothers registraram grandes aumentos na capitalização.74 Os lucros na Rússia podem ter sido ainda maiores. Os lucros brutos na indústria metalúrgica russa subiram de 26% do capital em 1913 para 50% em 1916; os números equivalentes para as empresas de processamento de metais são 13,5% e 81%.75 Até os agricultores britânicos tiveram lucros mais altos durante a guerra do que a indústria alemã: como um percentual do capital, os lucros dos agricultores subiram de 6,1% (1909-1913) para um pico de 14,3% em 1917.76 E, assim como na Alemanha, as pequenas empresas na Grã-Bretanha, na França e na Rússia tiveram mau desempenho em termos relativos.77

Em muitos aspectos, portanto, todas as economias de guerra enfrentaram problemas similares. Isso pode ser visto claramente no caso do transporte ferroviário. Na Alemanha, a maior parte das ferrovias estivera sob controle estatal desde que foram construídas, de modo que submetê-las ao controle direto do Reich foi simplesmente uma questão de centralização administrativa; ao passo que os governos francês e britânico precisaram impor o controle sobre empresas que permaneceram formalmente no setor privado. Mas o efeito do controle durante a guerra foi essencialmente o mesmo. Em todos os casos, o volume do transporte de carga sofreu uma drástica redução – na Alemanha em 1917, para cerca de 59% dos níveis anteriores à guerra; e na França, para cerca de 66%. Mas o controle estatal garantiu que as linhas fossem mantidas em condições razoáveis para uso militar: o investimento alemão em locomotivas excedeu em 23% o que se havia investido antes da guerra.78 A malha ferroviária russa também foi bem conservada – 2,5 bilhões de rublos foram investidos entre agosto de 1914 e setembro de 1917 –, embora tenha precisado lidar com quantidades significativamente maiores de transporte de carga e de passageiros devido à extraordinária expansão econômica que a guerra impulsionou no país.79

O caso do transporte marítimo, no entanto, foi muito diferente. Na Alemanha, não havia muito que o governo pudesse fazer para compensar economicamente as companhias marítimas pela tonelagem que perderam para o inimigo. Na Grã-Bretanha, o governo começou subsidiando o seguro, mas logo precisou criar um Comitê de Requisição para garantir que o fornecimento de alimentos tivesse prioridade, e a este se seguiu, em janeiro de 1916, a criação de um Comitê de Controle do Transporte Marítimo. Por fim, em dezembro de 1916, foi criado um Ministério do Transporte Marítimo.80 A França basicamente dependia da Grã-Bretanha para a Marinha mercante.81 O controle do comércio era muito mais simples para os Impérios Centrais, já que eles tinham menos comércio para controlar, e era relativamente fácil intimidar os austríacos (embora não os húngaros). Quando a guerra eclodiu, uma Corporação Imperial (mais tarde, Central) de Compras (Einkaufsgesellschaft) foi instaurada em Hamburgo para coordenar as importações.82 Parecia não haver necessidade de restringir as exportações até janeiro de 1917, quando se implementou um sistema de licença de exportação para evitar que os produtores de ferro e de aço procurassem preços mais altos para produtos essenciais nos mercados estrangeiros aos quais eles ainda tinham acesso.83

Entretanto, as dificuldades das potências da Entente para gerenciar seu comércio conjunto – a chave para sua sobrevivência econômica – ilustram perfeitamente a debilidade organizacional de que padeciam. Na Grã-Bretanha, o controle do comércio havia começado com a restrição às importações de carvão impostas no verão de 1915. A essa medida se somou, no fim de 1916, a implementação de um sistema de licença de importação controlado pelo novo Departamento de Restrição de Importações da Junta de Comércio. Até esse momento havia uma espécie de vale-tudo no que se refere às importações dos Estados Unidos, com o Almirantado e o Gabinete de Guerra resistindo aos esforços do Ministério da Fazenda para subordiná-los ao banco J. P. Morgan, de Nova York. Exatamente por que o Ministério da Fazenda queria fazer isso é difícil dizer: comprar armamentos para exportar para a Grã-Bretanha não era o tipo de coisa que o grupo Morgan fazia (era especializado na emissão de obrigações), e o monopólio que se estava concedendo à empresa sobre as finanças das importações britânicas prometia lucros imensos – entre 1% e 2% de 18 bilhões de dólares, como se constatou mais tarde. A decisão de dar a Morgan essa função também não resolveu o problema de aprovisionamento transatlântico: atritos consideráveis continuaram existindo entre os diferentes negócios britânicos e os interesses do governo representados no Conselho de Munições instaurado na Grã-Bretanha em setembro de 1915.84

Inevitavelmente, por ter uma frota mercante maior e mais recursos financeiros, a Grã-Bretanha se tornou a responsável pelo aprovisionamento das potências da Entente, com o J. P. Morgan como seu banco.85 Mas os britânicos acreditavam que os franceses estavam trapaceando, ou pelo menos desperdiçando recursos.86 Em consequência, procuraram impor controles aos franceses, retirando metade dos navios mercantes que haviam arrendado à França e ameaçando tomar o resto se a França não adotasse o sistema britânico. Quando Clemenceau incumbiu Clémentel dessa tarefa, houve protestos ruidosos por parte da imprensa e dos empresários franceses. Foi só em novembro de 1917 que se implementou um consórcio de transporte marítimo anglo-francês; e foi só no último ano da guerra, sob pressão dos norte-americanos, que se instaurou um Conselho Interaliado para Compras e Finanças da Guerra com a finalidade de coordenar todas as importações. Tentar conciliar a política comercial com os russos se mostrou ainda mais difícil, sobretudo quando inspetores russos rejeitaram, por considerá-los de má qualidade, produtos norte-americanos fabricados em massa pelos quais a Grã-Bretanha e a França haviam pagado.87 Os italianos também não gostaram de ser tratados como mercenários pelos britânicos; embora, como assinalou Keynes, isso fosse, em termos financeiros, o que eles e os outros aliados da Grã-Bretanha tinham se tornado.

Mão de obra: o problema britânico

A alocação de mão de obra foi, talvez, o problema econômico mais difícil que os países combatentes enfrentaram. Em toda parte, revelou-se extremamente complicado encontrar o equilíbrio entre as necessidades das Forças Armadas e as necessidades de produção interna de alimentos e materiais. Muitos trabalhadores qualificados que estariam mais bem empregados em seus postos de trabalho anteriores à guerra se ofereceram ou foram recrutados para o combate. Se eram mortos, a economia sofria uma piora permanente; mas, mesmo se sobrevivessem, não estariam dando a contribuição ideal para o esforço de guerra.

No caso da Alemanha, o número de homens no Exército aumentou de 2,9 milhões no primeiro mês de guerra para 4,4 milhões no começo de 1915, e mais de 7 milhões em seu ápice, no início de 1918. Ao todo, 13 milhões de homens serviram o Exército.88 Muitos dos que lutaram eram empregados do setor industrial. Em janeiro de 1915, empresas como a Blohm & Voss, que tinham contratos de guerra vultosos, estavam solicitando o regresso de trabalhadores qualificados que haviam sido convocados.89 A Bosch, em Stuttgart, perdeu 52% de sua mão de obra nos primeiros meses da guerra; a empresa química Bayer perdeu quase metade de seus funcionários. Até dezembro, a empresa de mineração Hibernia havia perdido cerca de 30% dos 20 mil funcionários que tinha antes da guerra.90 No entanto, os alemães agiram rapidamente para manter trabalhadores essenciais em seus postos de trabalho. No início de 1916, um total de 1,2 milhão de trabalhadores foi classificado como isento do serviço militar, dos quais 740 mil haviam sido considerados aptos para o serviço ativo. Dois anos depois, 2,2 milhões de trabalhadores foram isentos, dos quais 1,3 milhão era kriegsverwendungsfähig.91 Para compensar a defasagem de mão de obra masculina, o emprego de mulheres aumentou (outras 5,2 milhões entraram no mercado de trabalho), cerca de 900 mil prisioneiros de guerra foram colocados para trabalhar e quase 430 mil trabalhadores estrangeiros foram importados, incluindo muitos belgas relutantes.92 Em consequência, a mão de obra civil em julho de 1918 era apenas 7% menor do que havia sido em 1914.93

Isso não era ideal (embora seja difícil dizer o que teria sido: não há nenhuma fórmula para a alocação de mão de obra em tempos de guerra). Mas será que as potências da Entente foram melhores para alocar sua mão de obra? A resposta é: provavelmente não. O total de empregos civis na Grã-Bretanha caiu quase tanto quanto na Alemanha (6,5%), mas menos homens precisaram lutar: 4,9 milhões ao todo entraram para o Exército, menos da metade do número alemão. As vagas dos soldados foram ocupadas por 1,7 milhão de homens e 1,6 milhão de mulheres que entraram no mercado de trabalho.94 Nota-se de imediato que os alemães fizeram muito mais uso da mão de obra feminina durante a guerra. Tanto na Grã-Bretanha quanto na França, as mulheres representavam em torno de 36%-37% da mão de obra industrial quando a guerra chegou ao fim, em comparação com 26%-30% antes de agosto de 1914. Na Alemanha, a proporção subiu de 35% para 55%.95 Também devemos lembrar que o sistema de alistamento britânico atraiu não só egressos de Oxford e funcionários administrativos dispensáveis como também trabalhadores qualificados essenciais. No fim de 1914, 16% de todos os empregados de pequenas fábricas de armamentos haviam se alistado, e também cerca de 25% da mão de obra da indústria química e de explosivos, sobretudo porque muitos deles foram demitidos no primeiro mês caótico de guerra; 21% dos empregados da mineração e 19% dos empregados da indústria de metais haviam se alistado em julho de 1915.96 Fazer o Gabinete de Guerra abrir mão de trabalhadores qualificados se mostrou excessivamente difícil, e mecanismos como as “dispensas em massa”, a convocação de Voluntários para Munições de Guerra e a concessão de “medalhas” (implementada em 1915) não passaram de meias-medidas.97 Como Lloyd George disse à Câmara dos Comuns, “conseguir homens dos regimentos […] [era] como atravessar emaranhados de arame farpado com armas pesadas”.98 Quando um comitê do Gabinete procurou “coordenar […] o esforço militar e financeiro” em janeiro de 1916, seu relatório reconheceu o problema das prioridades departamentais conflitantes:

O método adotado pelo Comitê no início de sua investigação era obter do Gabinete de Guerra, do Ministério da Fazenda e da Junta de Comércio uma afirmação de suas respectivas aspirações com relação ao tamanho do Exército, ao gasto que pode ser dedicado a isso e ao número de homens que podem ser reservados para o serviço militar sem que isso implique resultados desastrosos para o comércio e a indústria do país. Os propósitos originalmente defendidos pelos departamentos não eram conciliáveis; o Ministério da Fazenda não teria conseguido o dinheiro, e a Junta de Comércio não teria fornecido os homens necessários para manter um Exército do tamanho proposto pelo Gabinete de Guerra.99

A fim de tranquilizar os temores da Junta de Comércio de que seria um “desastre para os negócios” se o recrutamento fosse indiscriminado, implementou-se um sistema de serviços essenciais,* mas seu alcance foi relativamente limitado.100 Além disso, um programa implementado no fim de 1916 para conceder cartões de identificação a trabalhadores qualificados foi mais uma resposta aos sindicatos do que fruto de um planejamento governamental.101 Trabalhadores agrícolas qualificados só receberam isenção em julho de 1917, mineradores ainda estavam sendo recrutados em janeiro de 1918 e, em abril, categorias inteiras de atividades protegidas foram canceladas no pânico induzido pela ofensiva de primavera alemã.102 Também não se pode afirmar que o novo Ministério do Trabalho fez muito para melhorar as coisas, já que sua competência logo foi desafiada pelo Ministério das Forças Armadas.103 O “orçamento de mão de obra” elaborado por Auckland Geddes, ministro do Trabalho, em outubro de 1917 apresentava uma análise lúcida da situação: o excedente de homens disponíveis projetado para 1918 era de apenas 136 mil.104 Em abril daquele ano, Geddes reclamou para Lloyd George: “O Almirantado, o Gabinete de Guerra, o Ministério da Agricultura, o do Trabalho e o das Forças Armadas estão todos pescando no mesmo lago, e os empregadores e empregados estão nos colocando uns contra os outros”.105 Essa foi uma acusação chocante depois de três anos e meio de guerra.

Isso acarretava sérios problemas no curto e no longo prazo, devido ao fato de que a economia britânica dependia sobremaneira da mão de obra qualificada. No início da guerra, por exemplo, 60% dos trabalhadores britânicos nos setores de engenharia foram classificados como qualificados. Os historiadores econômicos argumentaram que esse foi um dos motivos pelos quais os empregadores britânicos não se apressaram em implementar novos maquinários ou técnicas de produção em massa: por um lado, os trabalhadores britânicos qualificados eram economicamente acessíveis; por outro, podiam transformar a vida dos empregadores num inferno se estes tentassem impor remunerações padronizadas por unidade de produção.106 Essa também pode ser a razão pela qual a Primeira Guerra Mundial se destaca como o divisor de águas na história industrial britânica moderna.107 A morte de uma proporção muito elevada de trabalhadores qualificados na Grã-Bretanha deixou um buraco que não foi tapado com tanta facilidade. “Diluição” foi precisamente o que acometeu a força de trabalho na Grã-Bretanha; o sangue foi o diluente.

A afirmação de Gregory, de que o sistema britânico de voluntários garantia uma distribuição mais equitativa de baixas do que o sistema de alistamento obrigatório, é, portanto, aberta a discussão; argumentar que isso “ajudou a salvaguardar a estabilidade política” parece ir longe demais.108 A consequência mais importante do sistema britânico foi que ele matou trabalhadores qualificados que teriam sido mais bem empregados em seus postos de trabalho habituais. Essa “geração perdida” era a que importava; a mais comum, composta de membros da nobreza, alunos de escolas de elite e homens de Oxford e de Cambridge,109 era substituída com muito mais facilidade, e provavelmente era mais útil ocupando cargos de oficiais do que em qualquer outra função. Angell havia alertado que a guerra promovia “a sobrevivência dos inaptos”; na Grã-Bretanha, entretanto, foram os não qualificados e não instruídos que sobreviveram.110

Na França, onde a oferta de mão de obra era mais estrita do que em qualquer outra economia combatente, o trabalho foi mal alocado por uma razão diferente: a forte pressão política por uma “igualdade de sacrifício”. A visão popular era de que (como nos anos 1790) o imposto de sangue – l’impôt du sang – deveria ser assumido por todos, inclusive pelos trabalhadores qualificados. Aqueles que foram trazidos de volta do front para ajudar a remediar a escassez de munições em 1915 – os quais, no fim do ano, representavam cerca de metade do total da mão de obra que produzia munições – foram considerados desertores (embusqués).111 Os que regressaram das frentes de batalha (com exceção dos feridos de guerra) corresponderam a apenas 30% do aumento na mão de obra francesa alocada na produção de armamentos durante a guerra.112

Em todas as economias combatentes, a escassez de mão de obra inevitavelmente criou problemas: os trabalhadores estavam em posição de negociar aumentos de salários e/ou diminuir a produtividade “desacelerando” o ritmo de trabalho ou ainda, se a chefia tentasse resistir às demandas por maiores salários, entrando em greve. A experiência de uma única empresa, não atípica, pode ilustrar como esses problemas se manifestaram na Alemanha. Primeiro, a alta gerência do estaleiro Blohm & Voss, de Hamburgo, tentou compensar a escassez de mão de obra aumentando a jornada e a intensidade do trabalho, aproveitando-se da debilidade dos sindicatos. Os chefes e gerentes operacionais às vezes levavam essas táticas a extremos: em março de 1916, foi preciso emitir instruções desencorajando “usar palavras como ‘você vai direto para as trincheiras’ ao se dirigir a trabalhadores insubordinados” (o que ilustra perfeitamente o argumento de Karl Kraus de que a “morte de um herói” era ao mesmo tempo uma honra e uma punição na retórica dos tempos de guerra). Um ano depois, jornadas com mais de 24 horas de duração foram declaradas excessivas.113 Os trabalhadores reagiram de várias formas, na maioria das vezes recorrendo a atos individuais e espontâneos, em vez de greve coletiva.114 Houve problemas recorrentes de indisciplina: os horários de almoço eram prolongados, o trabalho era feito sem entusiasmo, o absenteísmo era alto e os materiais eram roubados constantemente (quase sempre para serem usados como lenha). Acima de tudo, os trabalhadores tiravam vantagem da grande demanda por seus serviços para mudar de emprego com frequência: tradicionalmente elevada, a mobilidade da mão de obra alcançou níveis sem precedentes, de modo que 10 mil trabalhadores precisaram ser substituídos no ano depois de outubro de 1916 – um problema que a Lei do Exército Auxiliar de dezembro de 1916 exacerbou ao reconhecer o direito do trabalhador de mudar de emprego por um salário maior.115 Em consequência, o acordo contra as greves, firmado em agosto de 1914, pouco a pouco desmoronou. Em outubro de 1916, quando a Blohm & Voss rejeitou o pedido de aumento salarial, ocorreu a primeira grande greve da guerra. Houve greves importantes no estaleiro da Vulkan quatro meses depois e novamente em maio de 1917 (um mês depois da grande greve de Berlim, cujo estopim foi uma redução na ração de farinha); e em janeiro de 1918 os estaleiros foram tomados por uma onda nacional de mobilizações que havia começado em Berlim. Essas greves costumam ser vistas como precursoras da revolução de novembro de 1918 – um sintoma, se não uma das causas, da inevitável derrota da Alemanha.116

Porém, mais uma vez, devemos perguntar se as coisas de fato foram melhores nas economias da Entente. Um teste importante, embora rudimentar, da eficiência da economia de guerra é quanto os salários aumentaram durante o conflito.117 Para os historiadores sociais, é quase axiomático que um aumento nos salários reais seja algo positivo. Uma boa parte dos estudos tratou de mostrar que, nesse aspecto, a Grã-Bretanha se saiu “melhor” do que a Alemanha. No entanto, isso não faz sentido em termos econômicos: teria sido desastroso para a economia de guerra alemã se os salários houvessem subido tão depressa quanto na Grã-Bretanha. Em qualquer comparação, o único critério que deve ser aplicado é se os salários reais aumentaram no mesmo ritmo que a produtividade. Quanto mais os salários subiam, em termos reais, à frente da produtividade, menos eficiente era a economia, já que padrões de vida mais elevados para os trabalhadores braçais (embora, sem dúvida, os favorecessem) não eram a principal prioridade para a economia como um todo. Os números na Tabela 27 mostram que, por esse parâmetro, era a Grã-Bretanha, e não a Alemanha, que tinha a economia de guerra menos eficiente. Mesmo admitindo que essas estimativas sejam um pouco grosseiras, parecem indicar que os salários dos trabalhadores britânicos aumentaram mais depressa do que a produtividade – isto é, significaram ganhos não merecidos –, ao passo que os salários alemães diminuíram em termos reais, em sintonia quase perfeita com a queda da produção industrial.

Tabela 27 Produção industrial e salários reais na Alemanha e na Grã-Bretanha, 1914-1918

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Fontes: Mitchell, European Historical Statistics, pp. 33ss., 181ss.; Wagenführ, “Industriewirtschaft”, p. 23; Home, Labour at War, p. 395; E. Morgan, Studies, p. 285; Bry, Wages, p. 53, 331.

É claro que tais índices médios não nos dizem nada a respeito das diferenças de salário, que claramente mudaram bastante durante a guerra. Mais uma vez, os historiadores sociais costumam apontar para diferenças maiores como indícios de uma maior desigualdade, o que eles tendem a considerar algo ruim per se. Mas isso também é equivocado em termos econômicos. Novamente, a questão é se as diferenças nos salários refletiram com precisão a grande mudança na estrutura de demanda por trabalho ocasionada pela guerra. Quanto mais fizeram isso, melhor, porque um aumento relativo nos salários de trabalhadores não qualificados nas fábricas de munições teria o efeito de atrair indivíduos para esse setor vital.

Em todos os países, a escassez de mão de obra em setores estrategicamente cruciais deu poder de barganha a grupos que até então se encontravam na base inferior da escala de renda. Quatro brechas fundamentais tenderam a estreitar: entre trabalhadores de setores diferentes; entre não qualificados e qualificados; entre mulheres e homens; e entre mais jovens e mais velhos. Na Alemanha, por exemplo, entre julho de 1914 e outubro de 1918, o valor da hora de um trabalhador médio do sexo masculino na Blohm & Voss aumentou 113% em termos nominais, enquanto um jovem empregado no mesmo estaleiro ganhava 85% a mais do que antes da guerra, e um trabalhador têxtil, 74% a mais. Em comparação, um auxiliar de escritório ganhava apenas 62% a mais; um contador, somente 37% a mais; e um chefe de caixa, meros 30% a mais. Os trabalhadores braçais, portanto, se saíram muito melhores do que os funcionários de colarinho-branco.118 A diminuição das diferenças significou que, levando em conta a inflação, o trabalhador de um estaleiro perdeu muito menos em termos reais (9%) do que um funcionário público sênior (52%). Dito de outra forma, em 1914 a renda mensal de um funcionário público era cerca de cinco vezes a do trabalhador braçal; em 1918, era menos de três vezes.119 Esses números também não levam em consideração os complementos de salários e os benefícios aos filhos pagos a certas categorias de trabalhadores, que, no fim da guerra, podiam representar até um terço da renda de um trabalhador não qualificado.120

É muito difícil dizer se as coisas foram significativamente diferentes em outros países, por causa da extrema dificuldade de fazer comparações entre as estatísticas de salário disponíveis. Sugeriu-se que as diferenças de salário em Londres diminuíram mais durante a guerra do que as de Berlim; mas os números apresentados na Tabela 28 pareceriam demonstrar justamente o contrário, embora se refiram apenas ao setor de construção nas três capitais.121

Tabela 28 Proporção entre os salários de trabalhadores qualificados e não qualificados no setor de construção nas três capitais, 1914-1918

 

1914

1918

Variação percentual

Alemanha (valores por hora)

1,47

1,07

-27,3

França (valores por dia)

1,90

1,47

-22,6

Grã-Bretanha (valores por hora)

1,53

1,31

-14,2

Fonte: Manning, “Wages”, p. 262s.

As variações nos níveis e nas diferenças salariais – para melhor e para pior – não foram determinadas por fatores externos: tiveram muito a ver com o poder relativo da mão de obra organizada. Em que país os trabalhadores tinham mais influência? Atentos aos acontecimentos de novembro de 1918, os historiadores alemães às vezes tendem a pressupor que seu movimento de trabalhadores foi excepcionalmente militante. No entanto, esse mérito parece, na realidade, ter correspondido à mão de obra britânica, que opôs firme resistência às tentativas de todos, empregadores ou governo, de manter intocados os salários nominais ou “diluir” o custo com mão de obra qualificada.122 Em última instância, até mesmo Lloyd George foi incapaz de restringir a mobilidade dos trabalhadores, o motor crucial na espiral dos salários: o sistema de certificados de conclusão* concebido pela cláusula 7 da Lei de Munições de Guerra de 1915 foi um fracasso na prática, e por fim foi derrubado em agosto de 1917.123 Depois de 1916, não é exagero dizer que os empregadores britânicos pouco a pouco perderam o controle sobre a concessão de salários, que eram determinados por uma combinação de pressão dos trabalhadores e decreto do Estado.124

Uma explicação possível para isso é que os sindicatos alemães foram mais atingidos do que seus equivalentes da Europa Ocidental. Outra forma de comparar as diferentes economias de guerra é considerar os números de afiliados aos sindicatos (ver Tabela 29). Não devemos ler coisas demais nessas estatísticas. Na Grã-Bretanha, na França e na Alemanha, os líderes de sindicatos ofereceram apoio ao esforço de guerra na esperança de defender sua posição em pé de igualdade com os empregadores; e em toda parte os afiliados se indispuseram diante das concessões feitas por seus líderes. Entretanto, não deixa de ser significativo que a afiliação aos sindicatos quase dobrou na Grã-Bretanha e na França durante a guerra, ao passo que na Alemanha diminuiu em mais de um quarto. Nos Estados Unidos também subiu em torno de 85%.125

Por fim, os números a respeito das greves mostram que, mais uma vez, a Alemanha não foi especialmente suscetível. Houve muito mais greves na Grã-Bretanha, onde as tentativas de substituí-las por arbitragem obrigatória (como a Lei de Munições de Guerra de 1915, concebida para “controlar as disposições” na indústria de armamentos) se mostraram impraticáveis. Ao entrar em greve e exigir que os homens demitidos recebessem os certificados de conclusão, os funileiros de Clyde ridicularizaram o Tribunal de Munições, que procurava impingir medidas de “diluição” em Glasgow.126 Igualmente, as tentativas de Lloyd George de convencer os mineradores a aceitarem uma proibição da greve fracassaram quando os mineradores galeses foram às ruas em julho de 1915.127 Como ele próprio admitiu, era “impossível intimar e julgar 200 mil homens”; e, quanto à nacionalização das minas, era precisamente o que os trabalhadores radicais queriam.128 Nenhum político alemão teve de aturar o tipo de humilhação sofrido por Lloyd George pelos representantes dos sindicatos de Glasgow. Confrontá-los em 1916 (quando os jornais Forward e Worker foram banidos e líderes radicais foram presos e deportados da região) não adiantou muito para melhorar a produtividade; foi um confronto simbólico.129 Nenhum sindicato alemão considerou “os privilégios dos trabalhadores qualificados quase um truísmo” como fez a Amalgamated Society of Engineers (ASE), associação que já então representava vários sindicatos de engenheiros na Grã-Bretanha.130 A grande greve dos engenheiros em maio de 1917 terminou em uma vitória decisiva para a ASE: como lembrou Beveridge, a associação “obteve a concessão mais importante que havia solicitado […] sem dar nada do que o governo havia pedido”.131 Surpreendentemente, 22 mil engenheiros entraram em greve em abril de 1918, quando os alemães estavam a menos de 80 quilômetros de Paris. A instrução do Gabinete de Guerra para seus negociadores foi sucinta: “se uma guerra iminente parece ser inevitável, devem-se fazer todas as concessões solicitadas”.132 O contraste com a maneira como o governo alemão interrompeu, depois de uma semana, a greve de Berlim de janeiro de 1918 não podia ser maior.133 Também digno de nota é o fato de que seis das sete demandas dos grevistas de Berlim eram políticas: eles queriam o fim da guerra, e não salários mais altos.

Tabela 29 Filiação a sindicatos na Grã-Bretanha, na França e na Alemanha, 1913-1918

 

Grã-Bretanha (Trades Union Congress)

França (departamentais e federações)

Alemanha (socialistas, liberais e cristãos)

1913

2.232.446

593.943

3.024.000

1914

n/d

493.906

2.437.000

1915

2.682.357

81.617

1.396.000

1916

2.850.547

183.507

1.199.000

1917

3.082.352

559.540

1.430.000

1918

4.532.085

1.175.356

2.184.000

Fontes: Petzina et al., Sozialgeschichtliches Arbeitsbuch, vol. III, p. 110-118; Home, Labour at War, p. 398.

Tabela 30 Greves na Grã-Bretanha e na Alemanha, 1914-1918

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Fontes: Wilson, Myriad Faces, p. 221; Home, Labour at War, p. 396; Petzina et al., Sozialgeschichtliches Arbeitsbuch, vol. III, p. 110-118.

Em suma, a Grã-Bretanha teve sorte por Lloyd George estar errado quando descreveu a guerra em um discurso ao Trades Union Congress (a federação de sindicatos do Reino Unido) como “um conflito entre a mecânica da Alemanha e da Áustria de um lado e a mecânica da Grã-Bretanha e da França do outro”.134 Com exceção da Rússia, as relações de trabalho na Grã-Bretanha foram simplesmente as piores da guerra: nem na Alemanha, nem na Itália, nem na França ocorreram tantas greves.135 Além disso, muitas das greves que assolaram a França no verão de 1917 afetaram a indústria de vestimentas (não essencial), e grande parte dos grevistas era composta de mulheres não sindicalizadas que voltaram a trabalhar quando obtiveram aumento de salário.136 Um surto de greve mais politizada em maio de 1918 parece ter desaparecido diante das críticas públicas, sobretudo vindas de homens fardados.137

Fome, saúde e desigualdade

A fome levou a Alemanha à derrota? A ideia é uma das mais persistentes na historiografia europeia moderna.138 Mas, muito provavelmente, é equivocada. Em seu conjunto, é claro, o alemão médio sofreu mais que o britânico médio, pela simples razão de que na Alemanha a renda per capita real diminuiu – em torno de 24% – durante a guerra, ao passo que na Grã-Bretanha aumentou.139 Como vimos, o bloqueio certamente reduziu o fornecimento de comida à Alemanha, não só diminuindo as importações de alimentos como também, o que é ainda mais grave, cortando o fornecimento de fertilizantes. E não há dúvida de que grandes erros administrativos foram cometidos, principalmente a forma assistemática com que o Conselho Federal (Bundesrat) estipulou os preços máximos, o que gerou tetos mais baixos para os produtos em maior demanda e o abate contraproducente de 9 milhões de porcos (o notório Schweinmord) na primavera de 1915, com a suposta finalidade de liberar grãos e batatas para o consumo humano.140

Mas pode haver exagero nesse argumento. Como mostra a Tabela 31, o consumo de alimentos na Alemanha foi reduzido, mas na Grã-Bretanha também – e, em geral, os britânicos sofreram muito menos escassez graças à expansão da produção interna. Na verdade, de acordo com outras estimativas, o consumo per capita de batata e de peixe na Alemanha foi maior em 1918 do que em 1912-1913.141 Houve muitas críticas ao sistema alemão de racionamento de comida durante a guerra; mas pelo menos se pode argumentar que o laissez-faire britânico foi mais dispendioso e ineficiente. Os alemães implementaram o racionamento em janeiro de 1915 e estabeleceram um Ministério de Alimentos de Guerra em maio de 1916. O Ministério de Alimentos britânico, por sua vez, só foi criado em dezembro de 1916, e foi notadamente ineficaz (apesar das queixas de William Beveridge) até junho de 1917, quando o ministro, lorde Davenport, foi substituído por lorde Rhondda. Alarmado com o surgimento de filas para obter alimentos em muitas cidades, o governo implementou o racionamento de açúcar e começou a montar um sistema de distribuição de comida local e regional; mas foi só em abril de 1918 que se implementou um sistema nacional de racionamento de carne, e demorou outros três meses para que todos os alimentos básicos fossem racionados.142 Começando em meados de 1915, a França foi muito mais rápida para confiscar grãos e controlar a distribuição de alimentos, mas foi só sob pressão anglo-americana que se tomaram medidas efetivas em direção ao racionamento, e em outubro de 1918 houve um grande escândalo envolvendo especulação por parte do consórcio responsável por fornecer óleo vegetal.143 Os historiadores que inferem a inaptidão alemã com base em queixumes sobre os preços e a escassez de alimentos deveriam ler os queixumes idênticos que se ouviram na França em 1917.144 Mas os alemães precisaram lidar com muito mais do que um déficit alimentício.

Tabela 31 Consumo de alimentos na Grã-Bretanha e na Alemanha, como um percentual do consumo em tempos de paz, 1917-1918

 

Grã-Bretanha

Alemanha

Carne

25,3

19,8

Manteiga

37,4

21,3

Batata

100,0

94,2

Notas: Grã-Bretanha: consumo médio semanal das famílias da classe trabalhadora, de outubro de 1917 a maio de 1918; Alemanha: rações oficiais em Bonn, de julho de 1917 a junho de 1918.

Fontes: Winter, Great War, p. 219; Burchardt, “War Economy”, p. 43.

Os alemães certamente passaram fome. Em vez de salsichas e cerveja, precisaram se virar com produtos ersatz inferiores e vinho do Leste europeu. Eles emagreceram: o nutricionista R. O. Neumann perdeu 19 quilos em sete meses alimentando-se exclusivamente da ração oficial.145 Mas não foram encontrados indícios de que alguém realmente tenha morrido de fome – muito menos o número fantástico de 750 mil ainda citado por alguns historiadores quase sempre sensatos.146 É verdade, a mortalidade feminina subiu de 14,3 por mil em 1913 para 21,6 por mil, um aumento significativamente maior do que na Inglaterra (de 12,2 para 14,6 por mil).147 De acordo com uma estimativa, em torno de um terço de toda a população dos hospitais psiquiátricos alemães antes da guerra morreu de fome, doença ou falta de cuidados.148 Também houve um aumento no número de pessoas mortas por doenças do pulmão (de 1,19 por mil para 2,46 por mil) e um nítido aumento no número de mortes de mulheres em trabalho de parto.149 Mas a taxa de mortalidade infantil claramente diminuiu (com exceção da Baviera, onde aumentou em 1918, e do caso excepcional de filhos ilegítimos nascidos em Berlim).150 Nesse aspecto, as coisas eram muito piores na França, onde a taxa de mortalidade infantil em 1918 estava 21% acima dos níveis registrados entre 1910-1913.151 Além disso, pode-se argumentar que Winter exagerou um pouco a melhoria na saúde da população civil britânica durante a guerra. Também houve um aumento de 25% nos casos de morte por tuberculose na Inglaterra e no País de Gales, e parece improvável que isso tenha sido, em parte, decorrência de má nutrição.152 As populações continuaram a travar guerras, apesar de passar muito mais fome do que a sofrida pelos alemães em 1918: a União Soviética na Segunda Guerra Mundial é o caso mais notório.

O verdadeiro teste da economia de guerra foi a eficiência com que os recursos escassos foram distribuídos. Aqui, mais uma vez, argumenta-se que a Alemanha se saiu mal. No clássico estudo de Kocka, a economia de guerra é retratada como tendo aumentado o conflito de classes e outros tipos de divisão social, pavimentando o caminho para a revolução de novembro de 1918.153 O Estado alemão na Primeira Guerra Mundial pareceu acirrar a desigualdade com suas intervenções, favorecendo alguns grupos sociais e penalizando outros. As relações entre as classes se tornaram menos importantes durante a guerra em comparação com as relações entre certos grupos de interesse e o Estado.

Porém, os indícios de que a Alemanha se tornou uma sociedade menos desigual entre 1914 e 1918 são confusos. Os cálculos do “coeficiente de Pareto” para a Prússia indicam que, em 1918, a distribuição de renda prussiana era mais desigual do que em qualquer outro momento desde 1850.154 Mas esses números podem ser distorcidos pelas rendas elevadas de um número relativamente pequeno de empreendedores. Outros indícios apontam que as maiores quedas relativas nos padrões de vida foram sofridas não pelos trabalhadores, mas sim por outros grupos na vasta camada sociológica que denominamos classe média. A diminuição das diferenças nos salários nominais descrita acima fala por si: os funcionários públicos foram especialmente prejudicados por isso, e quanto mais alta a hierarquia, mais eles perderam. Além do mais, durante a guerra, os controles tenderam a favorecer os lares da classe trabalhadora à custa de vários estratos sociais detentores de propriedades. As leis contra os preços excessivos foram aprovadas às pressas nos primeiros meses de guerra, e os tetos aos preços foram estipulados pela primeira vez no começo de 1915. No entanto, foi só com o decreto do Bundesrat para a criação de Conselhos de Supervisão de Preços (Preisprüfungstellen), em setembro de 1915, que surgiu uma política coerente de controle de preços.155 Apesar de terem criado uma série de crimes (por exemplo, “venda em cadeia”, que um inglês da era Tudor teria identificado como “regrating”*), em essência os Conselhos de Supervisão de Preços existiam para perseguir comerciantes que não respeitavam o preço máximo; o mesmo sistema foi adotado na Áustria.156 Aquele instaurado em Hamburgo em outubro de 1916 é um bom exemplo de como funcionavam. Só em 1917 houve 1.538 processos bem-sucedidos, levando ao fechamento de 5.551 empresas, penas de prisão totalizando 12.208 dias e multas totalizando 92.300 marcos.157 Com isso, os comerciantes se viram incapazes de continuar a aumentar os preços do varejo para seus consumidores. Algo similar aconteceu no interior, onde os controles se tornaram cada vez mais estritos em 1916-1917 (o chamado “inverno dos nabos”): aqui, os agricultores se viram sujeitos a buscas domiciliares e confiscos.158

Como é sabido, o controle dos preços não era estrito o bastante para evitar o surgimento de um grande mercado negro ao qual logo recorreram os habitantes da cidade com dinheiro sobrando e contatos no campo.159 Mas quais citadinos tinham condições de pagar os preços do mercado negro (que às vezes chegavam a ser 14 vezes os preços oficiais)? Claramente, os trabalhadores na indústria de armamentos, em rápida expansão, estavam agora em melhor posição do que os funcionários públicos de baixo nível hierárquico. Sem dúvida, era esta a percepção que tinham as autoridades militares em Hamburgo:

Frutas e vegetais frescos […] são comprados pela classe alta e pelos trabalhadores hoje universalmente bem pagos, que não têm necessidade alguma de evitar os preços elevados. Mas a situação está se tornando cada vez mais difícil para a Mittelstand ou para os funcionários públicos [Beamtentum], que têm de arcar com os maiores ônus da guerra.160

Sacrifícios similares foram exigidos daqueles que haviam sido, antes da guerra, uma das mais poderosas forças políticas da Alemanha: os proprietários de imóveis urbanos. Apesar do êxodo de homens para o front, continuou a haver certa pressão sobre a disponibilidade de habitações por causa da suspensão quase completa da construção de moradias em decorrência da guerra: entre 1915 e 1918, apenas 1.923 novas casas foram acrescentadas ao mercado imobiliário de Hamburgo, em comparação com 17.780 nos dois anos antes do início do conflito.161 Quanto mais pessoas se mudavam para as grandes cidades para trabalhar nas indústrias bélicas, mais crescia a demanda por moradia. Mas uma sucessão de leis controlando os preços dos aluguéis impediu os proprietários de imóveis de se beneficiarem. Ao contrário, os preços dos aluguéis foram congelados, de modo que, em termos reais, os valores diminuíram. A Associação de Proprietários de Imóveis de Hamburgo estimou em 80 milhões de marcos o custo da guerra para seus associados, em grande medida em virtude das reduções obrigatórias nos valores dos aluguéis, impostas sobre metade das propriedades existentes em Hamburgo naqueles anos. No fim de 1918, os preços mensais dos aluguéis haviam sido reduzidos a quase metade dos valores praticados em julho de 1914.162 Obviamente, controles similares foram adotados na Grã-Bretanha, onde os preços dos aluguéis começaram a subir em 1914-1915 e, em consequência, houve falta de moradia.163 Mas é quase certo que os proprietários de imóveis na Alemanha foram mais prejudicados, assim como as outras classes profissionais que, depois da guerra, lamentaram ruidosamente sua “proletarização”.164

Diante de tudo isso, é tentador concluir que a guerra fez a balança do equilíbrio socioeconômico pender contra a classe média, e sobretudo a Mittelstand (as pequenas e médias empresas), em favor da classe trabalhadora e dos grandes negócios.165 Os controles sobre os preços das mercadorias e dos aluguéis foram usados para subsidiar os padrões de vida da classe trabalhadora à custa dos varejistas e dos proprietários de imóveis; os salários dos funcionários públicos se mantiveram inalterados, ao passo que os salários nominais dos trabalhadores em setores estratégicos aumentaram. A experiência da família Schramm – uma família senatorial no cume do Grossbürgertum de Hamburgo – ilustra o trauma da privação burguesa. Para Ruth Schramm, a guerra significou mais do que mera privação física; foi uma época de humilhação moral e cultural. O “público hostil e lúgubre”; os que se aproveitavam da guerra para especular; a corrupção e a violência de 1917 – tudo isso representou uma zombaria grotesca dos ideais da Burgfrieden três anos antes. Ter de comer pasta de carne feita dos gansos de Alster era simbólico da degradação de Hamburgo; ter de comprar comida no mercado negro representava uma ruptura profunda com “os princípios aos quais me mantive fiel antes de 1914”.166 Quando seu irmão regressou do front para a residência da família em dezembro de 1918, viu que seus pais haviam sublocado o segundo andar e fechado o andar térreo para economizar na calefação. Embora ainda comessem com colheres de prata, ele imediatamente reconheceu “o fim do estilo de vida da grande burguesia”.167

Tal empobrecimento da alta sociedade, entretanto, não necessariamente levou a um colapso interno, muito menos a uma revolução. Pelo contrário: os grupos sociais mais prejudicados pela guerra em termos relativos foram precisamente os mais dispostos a apoiar os objetivos de guerra oficiais. Uma explicação da derrota alemã que enfatiza o colapso da “Frente Interna”, portanto, simplesmente não serve. Em nenhum momento, incluindo o período de greves em abril de 1917 e janeiro de 1918, o moral dos alemães chegou perto de desmoronar como aconteceu na Rússia e quase aconteceu na França.168 Em termos puramente cronológicos, foi a Frente Ocidental, e não a “Frente Interna”, que ruiu primeiro; e quando, em novembro de 1918, a revolução assolou os portos do norte e varreu a Alemanha em direção a Berlim e Munique, ao sul, foi uma revolução feita não pelos perdedores econômicos da guerra, mas por seus vencedores relativos: os soldados e os marinheiros, que haviam sido mais bem alimentados do que os civis, e os trabalhadores industriais, cujos salários reais haviam sido menos reduzidos.

O único argumento plausível que se pode apresentar a favor das economias de guerra alemã e russa é que estas foram eficazes demais: o estímulo da produção de armamentos a qualquer preço acabou exercendo pressão excessiva sobre os consumidores urbanos, levando à deterioração do moral. Como veremos, há, entretanto, problemas com essa tese; e, mesmo se fosse verdade, não seria uma boa prova das conquistas britânicas, francesas e norte-americanas. Se as potências ocidentais conseguiram um melhor equilíbrio entre as necessidades civis e militares, foi por mero acaso. Além do mais, em termos militares, elas pagaram um preço alto por isso – com efeito, tão alto que estiveram a ponto de perder a guerra.

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1. Kennedy, Rise and Fall of the Great Powers, p. 314, 333ss. Cf. Bairoch, “Europe’s Gross National Product”, p. 281, 303.

2. J. M. Hobson, “Military-Extraction Gap”, p. 464s.

3. Witt, “Finanzpolitik und sozialer Wandel im Krieg”, p. 425.

4. Wagenführ, “Die Industriewirtschaft”, p. 23.

5. Mitchell, European Historical Statistics, p. 186ss, 199ss, 225ss, 290s; Hardach, First World War, p. 91.

6. Godfrey, Capitalism at War, p. 47; Kemp, French Economy, p. 31s.

7. Burchardt, “Impact of the War Economy”, p. 45.

8. Kennedy, Rise and Fall of the Great Powers, p. 350.

9. Glaser, “American War Effort”, p. 22.

10. Wagenführ, “Die Industriewirtschaft”, p. 23; Hardach, First World War, p. 45.

11. Calculado com base em Hoffman, Grumbach e Hesse, Wachstum, p. 358s, 383ss, 390-93; Wagenführ, “Die Industriewirtschaft”, p. 23ss; Feldman, Iron and Steel, p. 474s; Mitchell, European Historical Statistics, p. 141ss. O aumento na produção de vinho (algo também alcançado na Hungria e na Bulgária) significou a substituição de importações. A produção italiana e a francesa diminuíram um pouco.

12. Burchard, “Impact of the War Economy”, p. 42, 47. Cf. Bertold, “Die Entwicklung”.

13. J. Lee, “Administrators and Agriculture”, p. 232ss.

14. Mitchell, European Historical Statistics, p. 285s.

15. J. Lee, “Administrators and Agriculture”, p. 235.

16. Hansard, 1º de agosto de 1914.

17. Offer, First World War, p. 300-309; Hardach, First World War, p. 11-19. Cf. Vincent, Politics of Hunger.

18. Tirpitz, Deutsche Ohnmachtspolitik, p. 68.

19. Hardach, First World War, p. 19.

20. M. Farrar, “Preclusive Purchases”, p. 117-133.

21. Hardach, First World War, p. 30.

22. Burk, Britain, America and the Sinews of War, p. 41, 80.

23. Hardach, First World War, p. 124.

24. Liddell Hart, British Way, p. 29. Cf. Ferguson, “Food and the First World War”, p. 188-195.

25. Hardach, First World War, p. 33.

26. Ver as várias estimativas em Keynes, Economic Consequences, p. 161, 165 (estimativas alemãs anteriores à guerra); Economist, “Reparations Supplement”, 31 de maio de 1924, p. 6 (estimativa do Comitê McKenna); Hoffmann, Grumbach e Hesse, Wachstum, p. 262; Kindleberger, Financial History, p. 225.

27. Bundesarchiv [ex-Potsdam], Ministério Reichswirtschafts, 764/268-301, “Verluste der deutschen Handelsflotte”.

28. Eichengreen, Golden Fetters, p. 82ss. Para detalhes sobre o balanço de pagamentos alemão, ver Bresciani-Turroni, Economics of Inflation, p. 83-93; sobre o britânico, E. Morgan, Studies in British Financial Policy, p. 341.

29. Zunkel, Industrie; Ehlert, Die wirtschaftsliche Zentralbehörde; Feldman, “Der deutsche organisierte Kapitalismus”, p. 150-171.

30. O estudo clássico continua sendo Feldman, Army, Industry and Labour. Para repercussões desse estudo, ver e.g. W. Fischer, “Die deutsche Wirtschaft”; Bessel, “Mobilising German Society”.

31. D. French, British Economic and Strategic Planning, p. 6-27; Marwick, Deluge, p. 79.

32. Adams, Arms and the Wizard; Wrigley, “Ministry of Munitions”, p. 32-56; Beveridge, Power and Influence, p 117. Cf. Dewey, “New Warfare”; Chickering, “World War”.

33. Hurwitz, State Intervention, p. 62. Cf. McNeill, Pursuit of Power, p. 327.

34. Reid, “Dilution”, p. 61.

35. Kemp, French Economy, p. 28-57; Godfrey, Capitalism at War, p. 64, 104s, 289-296.

36. J. Winter, “Public Health”, p. 170ss.

37. J. Winter, Great War, p. 279ss, 305.

38. J. Winter, Capital Cities, p. 10s. Ver também Offer, First World War, passim.

39. L. Cecil, Albert Ballin, p. 212s.

40. Warburg, Aus meinen Aufzeichnungen, p. 34s.

41. Ferguson, Paper and Iron, p. 146.

42. Pogge von Strandmann, Walther Rathenau, p. 189.

43. Ibid., p. 200.

44. Feldman, “War Aims”, p. 22s.

45. Ibid., p. 145.

46. Feldman, Iron and Steel, p. 80.

47. Moeller, “Dimensions of Social Conflict”, p. 142-168.

48. Ferguson, Paper and Iron, p. 105.

49. Crow, Man of Push and Go, p. 69-85.

50. Dewey, “New Warfare”, p. 78s.

51. D. French, British Economic and Strategic Planning, p. 11-25; Adams, Arms and the Wizard, p. 14-69, 83, 90, 164-179; T. Wilson, Myriad Faces, p. 217-236; Wrigley, “Ministry of Munitions”, p. 34-38, 43-49; Wrigley, David Lloyd George, p. 83-84; Crow, Man of Push and Go, p. 86-92; Beveridge, Power and Influence, p. 124ss. Cf. Marwick, Deluge, p. 99. Sobre a Rússia, Stone, Eastern Front, p. 196s. Sobre a França, Godfrey, Capitalism at War, p. 45-48, 107, 184-210, 259s.

52. T. Wilson, Myriad Faces, p. 237; Wrigley, David Lloyd George, p. 85-89.

53. Godfrey, Capitalism at War, p. 186, 261-284.

54. McNeill, Pursuit of Power, p. 340.

55. Warburg, Aus meinen Aufzeichnungen, p. 92, 100.

56. Hardach, First World War, p. 58-61; Feldman, Iron and Steel, p. 67s; Feldman, Great Disorder, p. 52ss.

57. J. Harris, William Beveridge, p. 235.

58. Kemp, French Economy, p. 45; Godfrey, Capitalism at War, p. 49s; McNeill, Pursuit of Power, p. 320.

59. Godrey, Capitalism at War, p. 197s.

60. Ibid., p. 107-122.

61. Boswell e John, “Patriots or Profiteers”, p. 427-434; Alford, “Lost Opportunities”, p. 222s. Cf. Wrigley, “Ministry of Munitions”, p. 42s.

62. Boswell e John, “Patriots or Profiteers”, p. 435s; Hurwitz, State Intervention, p. 174-179. Cf. G. Holmes, “First World War”, p. 212-214.

63. Hurwitz, State Intervention, p. 179.

64. Ver Rubin, War, Law and Labour.

65. Glaser, “American War Effort”, p. 16.

66. Stone, Eastern Front, p. 197-209.

67. Ibid., p. 210s.

68. Hardach, First World War, p. 106.

69. Ferguson, Paper and Iron, p. 105ss.

70. Feldman, Iron and Steel, p. 11s.

71. Bresciani-Turroni, Economics of Inflation, p. 288.

72. Calculado com base em: Vierteljahreshefte zur Statistik des Deutschen Reiches, Ergänzungsheft II (1914), p. 11; (1915), p. 9; (1916), p. 9; (1917), p. 11; (1918), p. 11; (1920), p. 106.

73. Hardach, First World War, p. 106.

74. Boswell e John, “Patriots or Profiteers”, p. 443; Marwick, Deluge, p. 164; G. Holmes, “First World War”, p. 211; Alford, “Lost Opportunities”, p. 210-218.

75. Lyashchenko, History of the National Economy, p. 751. Ver também Stone, Eastern Front.

76. Dewey, “British Farming Profits”, p. 378.

77. Kemp, French Economy, p. 54.

78. Graham, Exchange, p. 307s; Petzina, Abelshauser e Foust, Sozialgeschichtliches Arbeitsbuch, vol. III, p. 82; Fontaine, French Industry, p. 455.

79. Stone, Eastern Front, p. 205, 297ss.

80. Hurwitz, State Intervention, p. 72; Burk, Britain, America and the Sinews of War, p. 24-38.

81. Godfrey, Captalism at War, p. 69-74.

82. L. Cecil, Albert Ballin, p. 216; Warburg, Aus meinen Aufzeichnungen, p. 34-37.

83. Feldman, Iron and Steel, p. 72-77.

84. Burk, Britain, America and the Sinews of War, p. 14-42. Cf. Ver também Burk, “Mobilization of Anglo-American Finance”, p. 25-42.

85. Hurwitz, State Intervention, p. 173; G. Holmes, “First World War”, p. 208ss; Godfrey, Capitalism at War, p. 72-80, 94-101.

86. Godfrey, Capitalism at War, p. 65-71.

87. Burk, Britain, America and the Sinews of War, p. 45-48; Godfrey, Capitalism at War, p. 68; G. Owen, “Dollar Diplomacy in Default”, p. 260-264; Crow, Man of Push and Go, p. 131, 143-147.

88. Bessel, Germany, p. 5, 73, 79.

89. Ferguson, Paper and Iron, p. 124.

90. Bessel, “Mobilising German Society”, p. 10.

91. A. Gregory, “Lost Generations”, p. 71.

92. A. Jackson, “Germany, the Home Front”, p. 569; Petzina, Abelshauser e Foust, Sozialgeschichtliches Arbeitsbuch, vol. III, p. 27.

93. Henning, Das industrialisierte Deutschland, p. 34s.

94. Dewey, “Military Recruitment”, p. 204-221; Dewey, “New Warfare”, p. 75; Hurwitz, State Intervention, p. 135.

95. J. Home, Labour at War, p. 401; Henning, Das industrialisierte Deutschland, p. 34.

96. Dewey, “Military Recruitment”, p. 204; Chickering, “World War I”, p. 13. Cf. Hurwitz, State Intervention, p. 169; McNeill, Pursuit of Power, p. 326; Marwick, Deluge, p. 96.

97. Adams, Arms and the Wizard, p. 77, 93-97; Wrigley, David Lloyd George, p. 113s, 169; J. Harris, William Beveridge, p. 210.

98. Wrigley, David Lloyd George, p. 135s.

99. PRO CAB 37/141/38, Comitê do Gabinete sobre a coordenação de esforços militares e financeiros, janeiro de 1916.

100. Dewey, “Military Recruitment”, p. 215.

101. Wrigley, David Lloyd George, p. 171-189. Cf. Waites, “Effect”, p. 36s.

102. Wrigley, David Lloyd George, p. 226; Marwick, Deluge, p. 249; Grieves, “Lloyd George”.

103. Lowe, “Ministry of Labour”, p. 108-134.

104. J. Winter, Great War, p. 43s.

105. Wrigley, David Lloyd George, p. 228.

106. Leunig, “Lancashire”, p. 36-43; Zeitlin, “Labour Strategies”, p. 35-40.

107. Greasley e Oxley, “Discontinuities”, p. 82-100. Sou grato a Glen O’Hara por este tópico.

108. A. Gregory, “Lost Generations”, p. 83s.

109. P. Parker, Old Lie, p. 16.

110. Angell, Great Illusion, p. 174.

111. J. Home, “L’Impôt du sang”, p. 201-223. Ver também Godfrey, Capitalism at War, p. 49; Kemp, French Economy, p. 38-43; Becker, Great War, p. 26s, 126, 202.

112. McNeill, Pursuit of Power, p. 321s; Godfrey, Capitalism at War, p. 257.

113. Bieber, “Die Entwicklung”, p. 77-153. A ameaça do serviço militar obrigatório foi usada também pelos empregadores britânicos: Rubin, War, Law and Labour, p. 221, 225.

114. Ullrich, “Massenbewegung”, p. 407-418.

115. Hardach, First World War, p. 63-69, 179s.

116. Ullrich, “Der Januarstreik 1918”, p. 45-74.

117. Manning, “Wages”, p. 225-285.

118. Ferguson, Paper and Iron, p. 126. Cf. Kocka, Facing Total War, p. 17-22; Burchardt, “Impact of the War Economy”, p. 54s.

119. Ver, em geral, Zimmermann, Günther and Meerwarth, Die Einwirkung.

120. Manning, “Wages”, p. 276s.

121. J. Winter, Great War, p. 232ss; Manning, “Wages”, p. 2610-276. Ver também Phillips, “Social Impact”, p. 118s.

122. Além das obras já mencionadas, ver Harrison, “War Emergency Workers’ Committee”; J. Horne, Labour at War.

123. Wrigley, David Lloyd George, p. 119s; J. Harris, William Beveridge, p. 208s; Beveridge, Power and Influence, p. 132. Em mais de um quarto dos casos em que os trabalhadores apelaram ao tribunal de Glasgow por certificados que seus empregadores lhes recusaram, os empregadores foram vencidos: Rubin, War, Law and Labour, p. 203.

124. J. Winter, Great War, p. 232.

125. Gerber, “Corporatism”, p. 93-127.

126. Ibid., p. 35, 41s, 73-76, 110-115, 187s, 208-211, 235s; J. Harris, William Beveridge, p. 218; Wrigley, David Lloyd George, p. 141s. Ver também Reid, “Dilution”, p. 51, 57.

127. Wrigley, David Lloyd George, p. 122-128; Beveridge, Power and Influence, p. 129; J. Holmes, “First World War”, p. 213.

128. T. Wilson, Myriad Faces, p. 228.

129. Wrigley, David Lloyd George, p. 155-163; J. Harris, William Beveridge, p. 219-226. Ver também Rubin, War, Law and Labour, p. 47s, 96-101, 106s, 131s; Reid, “Dilution”, p. 53. Em muitos aspectos, toda a questão da “diluição” foi exagerada. Não foram muitas as mulheres que acabaram trabalhando na indústria de engenharia; em sua maioria, elas foram para o setor de serviços, tomando o lugar dos escriturários: J. Winter, Great War, p. 46.

130. Wrigley, David Lloyd George, p. 147 (frase de Asquith).

131. Beveridge, Power and Influence, p. 129. Cf. Marwick, Deluge, p. 246.

132. Lowe, “Ministry of Labour”, p. 116.

133. Bailey, “Berlin Strike”, p. 158-174.

134. Wrigley, David Lloyd George, p. 137.

135. Ferro, Great War, p. 178s.

136. Becker, Great War, p. 203-219.

137. Ibid., p. 144, 253-259, 298-301, 313s.

138. Burchardt, “Impact of the War Economy”; Offer, First World War, passim. Cf. A. Jackson, “Germany, the Home Front”, p. 563-576.

139. Witt, “Finanzpolitik und sozialer Wandel im Krieg”, p. 424s; Bry, Wages in Germany, p. 233, 422-429, 440-445; Holtfrerich, German Inflation, p. 255.

140. Burchardt, “Impact of the War Economy”, p. 41s; Moeller, “Dimensions of Social Conflict”, p. 147s; A. Jackson, “Germany, the Home Front”, p. 567.

141. Holtfrerich, German Inflation, p. 255.

142. Beveridge, Power and Influence, p. 143s; D. French, British Economic and Strategic Planning, p. 19s; J. Harris, William Beveridge, p. 234-241; Wrigley, David Lloyd George, p. 180, 218; Dewey, “British Farming Profits”, p. 373, 381; Marwick, Deluge, p. 231-240.

143. Godfrey, Capitalism at War, p. 61, 66s, 79, 83s, 129ss.

144. Becker, Great War, p. 132-137, 145, 206-218, 233, 303.

145. Offer, First World War, p. 33.

146. Blackbourn, Fontana History, p. 475. Cf. A. Jackson, “Germany, the Home Front”, p. 575. Para Kraus, o número é 800 mil e a fonte é um “homem louco”: Kraus, Die letzten Tage, p. 439. Para uma divertida paródia dos nomes de produtos ersatz, ver ibid., p. 398s.

147. Offer, First World War, p. 35.

148. Burleigh, Death and Deliverance, p. 11.

149. Offer, First World War, p. 32s, 155.

150. J. Winter e Cole, “Fluctuations”, p. 243.

151. Voth, “Civilian Health”, p. 291.

152. A tese foi apresentada pela primeira vez em seu Great War, esp. p. 105-115, 140, 148, 187s, e defendida em “Public Health”, p. 163-173; para duas críticas, ver Bryder, “First World War”, p. 141-157; e Voth, “Civilian Health”. Ver também Marwick, Deluge, p. 64s.

153. Kocka, Facing Total War.

154. Hoffmann, Grumbach e Hesse, Wachstum, p. 515. O coeficiente é uma medida aproximada da igualdade de renda.

155. Feldman, Army, Industry and Labour, p. 97-117, 471s; Hardach, First World War, p. 115, 129.

156. Ver Kraus, Die letzten Tage, p. 334s, para uma cena maravilhosa em que um lojista se opõe a ser processado por violar as regulamentações de preços argumentando que ele aderiu aos empréstimos de guerra e pagou seus impostos.

157. Ferguson, Paper and Iron, p. 132.

158. Moeller, “Dimensions of Social Conflict”, p. 157s.

159. Offer, First World War, p. 56s.

160. Ferguson, Paper and Iron, p. 134s.

161. Petzina, Abelshauser e Foust, Sozialgeschichtliches Arbeitsbuch, vol. III, p. 124.

162. Lyth, Inflation, p. 158.

163. J. Winter, Great War, p. 229, 242ss; Marwick, Deluge, p. 167, 243s; Harrison, “War Emergency Workers’ Committee”, p. 233.

164. Para lamentações similares na Grã-Bretanha, ver Waites, “Effect”, p. 51.

165. Ver Kocka, “First World War”. Cf. Günther, Die Folgen.

166. Schramm, Neun Generationen, vol. II, p. 495.

167. Ibid., p. 501.

168. Becker, Great War, p. 226-231.