NOTAS

INTRODUÇÃO

1 – Como comparação, durante o mesmo período, no início de sua carreira de gravação, os Beatles gravaram 86 composições originais de Lennon e McCartney, e embora seu repertório fosse aumentado significativamente por covers e composições de George Harrison, é válido lembrar o quão mais rápido era o processo de gravação nos anos 1960 — e quantos anos os Beatles tinham ficado juntos antes de assinar um contrato de gravação.

2 – Entre astros do pop e do rock britânicos, apenas Sir Cliff Richard teve uma popularidade semelhante com qualquer alegação de celibato, embora, no caso de Cliff, isso não tenha sido declarado publicamente ao longo de grande parte de sua carreira.

3 – Johnny Marr, no entanto, não se mostrou tão reticente. Indagado, numa grande premiação, em março de 2012, mais uma vez, sobre uma reunião dos Smiths, ele respondeu: “Se esse governo renunciar, então eu reunirei a banda.”

4 – Não deixa de ter alguma conexão com o conhecimento da existência de minha iminente biografia que Rogan e seus editores tenham decidido atualizar Morrissey and Marr: The Severed Aliance com uma “Edição comemorativa de vinte anos” em 2012, acrescentando quase duzentas páginas de conteúdo ao original e publicando-a logo antes desta biografia. No momento em que este livro está indo para a gráfica, ainda não tinha lido o livro de Rogan em sua nova versão, mas meu objetivo inicial, em relação à minha motivação e à minha intenção com minha biografia, ainda se mantém.

CAPÍTULO UM

1 – De acordo com o livro de Roger Swift, The Irish in the Victorian City, os imigrantes de Manchester nascidos na Irlanda já representavam um quinto da população no ano de 1834.

CAPÍTULO DOIS

1 – MacColl, um folclorista cujas inclinações comunistas o colocaram sob a observação do MI5 por algum tempo e que, mais tarde, seria o pai da cantora Kirsty MacColl, compôs a canção para uma peça local de sua autoria, Landscape with Chimneys, e, portanto, também achou natural especificar Salford na letra; mas protestos do conselho municipal, por a canção ser associada a uma “Dirty Old Town” [Cidade velha e suja], resultaram no verdadeiro nome ser substituído pelo adjetivo “smoky” [enfumaçada].

CAPÍTULO TRÊS

1 – Da Harper Street à Queen’s Square e, depois, na Kings Road, Steven Morrissey cresceu no que era conhecido à época como o distrito municipal de Stretford, que fazia fronteira com o lado oeste de Manchester e a parte sul de Salford. Old Trafford era um de muitos bairros dentro de Stretford; Moss Side existia oficialmente apenas dentro da própria Manchester, embora a família Morrissey alegasse morar lá por causa da distância muito pequena que os separava da divisa entre Stretford e Manchester. Como resultado do Ato Governamental Local de 1972, a relação entre Trafford e Stretford foi revertida: O distrito municipal de Stretford foi abolido e, então, engolido pelo novo distrito metropolitando de Trafford, um de 16 distritos como ele (entre eles as cidades de Salford e Manchester), que formavam o igualmente novo município metropolitano da Grande Manchester. O novo distrito metropolitano de Trafford adicionalmente absorveu, do condado de Cheshire, os distritos municipais de Sale e Altrincham e os distritos urbanos de Bowdon e Hale — nomes que se tornam familiares mais adiante na história dos Smiths. O futuro lar da família Marr, em Wythenshawe, ficava fora do município metropolitano da Grande Manchester, mas dentro da cidade de Manchester.

2 – Em 1978, os seis médicos do consultório médico de Hulme estavam receitando cerca de 250 mil tranquilizantes por semana.

CAPÍTULO QUATRO

1 – Oficialmente, o Sistema Tripartido, que funcionava desde 1944, abrigava três formatos: escolas de ensino médio, escolas técnicas e escolas secundárias modernas. Na realidade, poucas escolas técnicas foram construídas, e, então, o sistema passou a ser um simples processo de eliminação (não intencional).

2 – Margaret Clitherow foi presa por abrigar padres, um crime capital, mas foi executada por se recusar a apelar contra essa acusação, também um crime capital. (Ela alegou que não via nenhum crime contra o qual apelar.) A rainha Elizabeth, tempos depois, escreveu uma carta para o povo de York a fim de se desculpar por uma mulher ter sido executada.

3 - Em 1984, Morrissey disse à Smash Hits que “raramente passo um dia sem escutar A importância de ser honesto. Tenho em fita”. Um importante documentário feito para a TV, em 2002, ao qual o cantor forneceu um acesso estranhamente próximo, foi intitulado The Importance of Being Morrissey [A importância de ser Morrissey].

4 – Foi pura coincidência que, na semana em que acabei de escrever este capítulo, um ensaio sobre Wilde (“Deceptive Picture”, supostamente sobre as variações nos manuscritos de Dorian Gray) tenha sido publicado na New Yorker, no dia 8 de agosto de 2011, escrito por Alex Ross, crítico de música moderna da revista. A descoberta de Ross confirmava meus próprios escritos. Mais interessante foi sua observação, como um homem gay assumido (na verdade, casado) do século XXI, de que, “desde o final dos anos 1980, era possível ver jovens intelectuais aceitando sua sexualidade ao ler Wilde”. Ele estava falando sobre si mesmo, mas poderia estar se referindo a Morrissey uma década antes.

CAPÍTULO CINCO

1 – Graham Pink tornou-se famoso, tempos depois, como um “informante” perseguido após revelar os padrões escandalosos de tratamento do sistema de saúde pública em seu hospital local.

CAPÍTULO SEIS

1 – O que pode ser apenas descrito como um filme de propaganda, produzido por Manchester em 1946 a fim de vender as atrações de Wythenshawe em comparação às dificuldades de Hulme, deu muita atenção ao fato de que 270 toneladas de fuligem sólida e poeira tinham sido registradas em Hulme em um ano (e 200 quilos em Ancoats); em contraste, Wythenshawe tinha “apenas” 120 toneladas. O filme, A City Speaks, disponível no Museu de Ciências e Indústria de Manchester, é fascinante por seu estereótipo: enquanto uma voz bem-gravada da BBC vende as virtudes das novas propriedades e um homem natural de Hulme, em Manchester, quase indecifrável, expressa inicialmente suas dúvidas, mas rapidamente é convencido do contrário, o filme projeta a atenção na caricatura de uma velha senhora pobre, encolhida em seu cortiço em Hulme, com uma xícara de chá, sobreposta a uma bela e jovem esposa desfrutando de seu jardim externo em Wythenshawe. Certamente, havia aspectos positivos por trás do processo de eliminação de cortiços e realocações forçadas, e a família Maher pareceu se beneficiar deles. De qualquer forma, é válido relatar as lembranças de Jack Kirwan em Annals of Ardwick, um panfleto publicado de forma independente e descoberto na Manchester City Library. Kirwan teve o trabalho de remover fisicamente uma dessas velhas senhoras de seu lar em Hulme durante o que ele chamou de “a grande destruição”, período em que tanto os Morrissey quanto os Maher foram realocados. “Quando cheguei pela manhã, no horário combinado, ela estava lá, esperando, com todas as suas posses bem-empacotadas e prontas. A casa e os quartos estavam impecáveis. Eu soube instantaneamente que, apesar da pobreza, ela mantivera os padrões tão essenciais aos valores da classe trabalhadora. Ela estava constantemente chorando, e a situação me fez sentir desamparado. Ela havia nascido naquela casa e nunca morara em nenhum outro lugar, tinha criado uma família ali, toda a sua vida e as suas lembranças estavam naquele lugar. Tentei consolá-la da única forma que podia e lhe disse que ela teria instalações melhores no lugar para onde estava indo, embora eu soubesse que era tarde demais para que ela recomeçasse a vida, numa nova redondeza, entre desconhecidos... Eu a levei para o prédio alto na Bagnall Court, em Northenden, e fui informado, posteriormente, de que ela morreu em menos de 15 dias.”

2 – Tanto Fletcher quanto Duffy se recordam de uma carta de Morrissey num jornal musical, com seu endereço completo, procurando signatários para fazer com que a aparição dos New York Dolls no Whistle Test fosse retransmitida na BBC, e de que eles lhe escreveram oferecendo seu apoio. Eu não vi essa carta.

3 – Marr recordou que o primeiro show a que assistiu foi de Rod Stewart, no Belle Vue, perto de seu velho lar em Ardwick Green, durante a turnê de Tonight is the Night. No show, ele viu Britt Ekland na mesa de som. “Achei que, em todo show a que eu fosse a partir de então, eu ia encontrar uma atriz famosa.” Aquele show foi em novembro de 1976; o show do Slaughter & the Dogs, no Wythenshawe Forum, acredita-se, de forma geral, ocorreu em agosto.

4 – Também foi contada a história de que era Rourke quem estava usando o bottom de Neil Young; a essa altura, nenhum dos dois tem mais certeza absoluta.

CAPÍTULO SETE

1 – “No primeiro ano, não tivemos tanto contato, na verdade”, disse Rourke sobre a partida abrupta de sua mãe. “E, então, ela nos convidou para passar um feriado com ela. Porque o sujeito para quem ela trabalhava, Joe, que se tornou seu parceiro por 25 anos depois disso, tinha viajado a trabalho e ela possuía uma enorme mansão em Son Vida, Majorca, com piscina. Ela convidou a nós quatro para passarmos a semana. Nós conversamos muito sobre as coisas, e ela explicou seus motivos, o porquê de ter ido embora. E as coisas ficaram bem desde então.” O irmão mais novo de Andy, John, mais tarde se mudou para Majorca, onde morreu, aos 24 anos, depois de os Smiths já haverem se separado, por causa de “drogas e alcoolismo”. Andy estava ao lado da cama junto de seu pai, Michael, quando o irmão morreu.

2 – Durkin introduziu essa observação dizendo: “Andy não vai se importar de eu lhe contar isso.”

3 – Não há nenhuma prova de que ele tenha conseguido entrar na casa; a idade mínima para beber era de 18 anos na época, em Nova York, e era aplicada seriamente.

4 – Nos anos 2000, a imagem foi comprada pela Tate.

5 – As observações tipicamente cruéis, mas hilárias, de Morrissey merecem uma discussão mais completa. Apesar do fato de o punk ser considerado uma revolta da classe trabalhadora, tal estilo, mesmo assim, era frequentemente atacado pelos que estavam nas camadas mais baixas da sociedade britânica, sociedade essa de classes claramente definidas. “Toda a ideia de o punk ser uma música das ruas era baboseira”, disse o jornalista Frank Owen, que foi criado em Manchester e tocou na banda Manicured Noise na época. “Os jovens da rua eram os Perry Boys, os hooligans torcedores de futebol, os garotos com as calças de veludo e as facas Stanley, eles eram os jovens encrenqueiros que moravam nos conjuntos habitacionais. Os jovens punks, normalmente, estavam na camada mais elevada da classe trabalhadora, seus pais tinham bons empregos nas fábricas, eles tinham um pouco de dinheiro... Toda a ideia de que eles eram o proletariado dos conjuntos habitacionais, isso era baboseira. Quem realmente o era odiava os punks.” É por esse motivo que o Slaughter & the Dogs, geralmente deixado de fora da história do punk por ser um grupo de jovens toscos como aqueles a que Owen se refere, é tão importante: seu segundo single, “Where Have All the Bootboys Gone”, glorificava a cultura a que a maioria dos punks, teoricamente, se opunha.

6 – Na capa do single dos Nosebleeds, Vini Reilly vestia um blazer emprestado de um aluno de St. Augustine, uniforme obrigatório na época de Johnny Marr e Andy Rourke.

7 – Foi relatado que Morrissey também cantou com os Nosebleeds em abril, na noite da Rabid Records, a qual incluiu o Slaughter & the Dogs, Jilted John e John Cooper Clarke. Se ele cantou, os Nosebleeds não foram creditados. Eles não deixaram de ser anunciados no Ritz, onde o nome da banda apareceu num pôster, contradizendo a afirmação futura de Morrissey, em The North Will Rise Again, de que aquela era uma empreitada de Duffy, com um nome diferente e apenas resenhada de forma errada na NME como The Nosebleeds.

8 – Isso foi muito mais gentil do que uma futura observação de Morley, impressa na Mojo, em junho de 2004, e reproduzida em muitas outras publicações, de que “Morrissey sempre foi motivo de chacota em Manchester... Ele era o idiota do vilarejo”.

CAPÍTULO OITO

1 – Morrissey repetidamente tentou subestimar seu envolvimento com a cena punk de Wythenshawe. “A história local me coloca como um ex-integrante do Slaughter & the Dogs ou dos Nosebleeds, o que é ridículo”, contou ele a John Robb para o The North Will Rise Again. Os integrantes de tais bandas não sofrem de nenhuma ilusão no tocante à participação dele, por mais curta que tenha sido.

CAPÍTULO NOVE

1 – O casal ainda estava junto, casado e com filhos, mais de 32 anos depois.

2 – Robertson teve uma morte prematura relacionada ao álcool.

CAPÍTULO DEZ

1 – “Eu sofri imensamente de depressão”, disse Morrissey no documentário The Importance of Being Morrissey. “Era algo muito sério quando eu era adolescente, e quando eu estava nos Smiths, tomei remédios controlados durante muito tempo.”

2 – Garanto aos leitores que fui frequentemente culpado da mesma coisa ao longo dos anos 1980.

3 – Quando os Nosebleeds acabaram de vez, o baterista, Phillip “Toby” Tomanov, imediatamente se juntou ao Ludus. Morrissey se assegurou de fazer uma menção particular a ele em sua primeira resenha sobre a banda.

4 – Na época da publicação de Exit Smiling, com base no manuscrito datilografado original de Morrissey, completo com correções feitas à mão, o vocalista pediu aos fãs que não comprassem o livro, dando a clara impressão de que ele nunca havia desejado a publicação de nenhum dos três, em nenhum momento, e situando a escritura dos originais na década de 1970, o que parece improvável. Sua rejeição aos livros levanta a questão dos motivos pelos quais ele enviou os manuscritos a um editor, para início de conversa; suas cartas para Tony Wilson sugerem que ele estava, na verdade, desesperado por alguma forma de reconhecimento literário.

5 – Boon se mantém inflexível quanto ao cassete, e Johnny Marr declarou acreditar que ele exista, embora não pareça haver uma música com o título “Wake Up, Johnny” no catálogo de Bessie Smith.

CAPÍTULO ONZE

1 – “Papa’s Got a Brand New Pigbag” passou cerca de setenta semanas no top 50 indie e acabou, um ano após seu lançamento, alcançando o top 3 das paradas nacionais, uma grande façanha para seu principal distribuidor, a Rough Trade.

2 – Entre as pessoas que apareceram na casa de Wolstencroft havia alguém vestido exatamente como Malcolm McDowell em Laranja mecânica (fitas pirata do filme estavam circulando graças à comercialização dos aparelhos domésticos de VHS), com “os cílios, o taco de beisebol, o suporte atlético”, como recordou Rourke. O nome do amigo era Ian Brown e ele havia sido vocalista de uma banda no South Trafford College, chamada The Patrol, junto de Wolstencroft e do guitarrista John Squire.

3 – Geralmente escrito na literatura dos Smiths como “Decibel”, ele, na verdade, tinha ortografia francesa, por causa de seu dono, Philippe Delcloque. O antigo moinho acabou se tornando o local de uma das casas noturnas mais importantes do pós-rave de Manchester, Sankeys Soap.

4 – Marr sempre falou sobre essa sessão como se houvesse ocorrido na noite de Ano-Novo, sabendo que o estúdio estaria vazio. Dale Hibbert frequentemente gravava bandas na madrugada, sem o conhecimento do dono, como uma forma de aprimorar suas habilidades como engenheiro de som. Embora a sessão possa ter acontecido no inverno, é quase certo que não foi na última noite do ano.

5 – Qualquer um que tenha escutado o sucesso do The Jam, que estava no topo das paradas no começo de 1982, “Precious”, sabe que isso não é um aparte frívolo.

6 – As manifestações não surpreenderam Morrissey nem um pouco. “Manchester está destruída”, escreveu ele para sua amiga Lindsay Hutton. “Mas, ainda assim, não é bom saber que o casamento real está quase chegando? Se Charles está tão preocupado, deixe que ele se case em Moss Side ou Toxteth.”

7 – A Eighth Day transformou-se numa ainda próspera loja de produtos naturais na Oxford Road. A expressão também mudou, no fim da década de 1980, para “E no oitavo dia, Deus criou Manchester”.

8 – Para qualquer contestação de que o encontro de Morrissey e Marr não foi tão mágico quanto diz a lenda, pelo fato de eles terem sido formalmente apresentados quatro anos antes, no show de Patti Smith, deve ser levado em consideração que Leiber e Stoller tinham conversado ao telefone antes do seu primeiro encontro, e que a aparição de Leiber na porta de Stoller não era nem um pouco inesperada.

9 – O papel de Steve Pomfret foi certamente subestimado ao longo dos anos. Em geral, Marr dava a impressão de que tinha seguido todo o caminho até a Kings Road sozinho. Para este autor, Marr falou sobre como “Steve e eu batemos à porta, e Steve Pomfret literalmente recuou vários passos na direção do portão e se despediu. Ele não entrou na casa comigo”. Em raras entrevistas, especificamente com Johnny Rogan, Pomfret não deu nenhum motivo para dúvida de que ele foi, na verdade, parte da conversa no andar de cima, no quarto de Morrissey, bem como fez parte dos ensaios iniciais dos Smiths.

CAPÍTULO DOZE

1 – Na verdade, ele tinha dito “I schtip to funk”, significando que fazia sexo enquanto ouvia aquela música, o que pode ser visto como uma referência positiva. No entanto, numa edição muito posterior da The Face, em que o jornalista de Manchester da revista, David Johnson, falou bem do Swing, em particular, e, num momento em que os Smiths estavam em alta, Johnson estava disposto a reescrever a intenção como “se quisesse dizer que a música só servia para foder”.

2 – Um clipe de um minuto e sem som do fim pode ser encontrado na internet.

CAPÍTULO TREZE

1 – Uma versão editada de “Suffer Little Children” que há muito tempo circula na internet infelizmente não tem esses elementos; o autor ouviu a mixagem completa e também os canais individuais.

2 – Com o benefício da revelação, o autor, que estava envolvido, nessa época, com o lançamento de discos da banda de Belfast, Rudi, dormiu no chão da casa de Mike Joyce em março de 1982, depois que o Rudi abriu para o The Jam no Manchester Apollo naquela noite. Curiosamente, tanto Morrissey quanto Mike Joyce eram convidados da banda irlandesa; se eles se conheceram e conversaram naquela noite, isso nunca foi mencionado publicamente.

3 – Embora seja tentador pensar que os Smiths talvez tenham esperado para gravar a fita da EMI antes de mostrar qualquer coisa à Factory, Hibbert é inflexível ao recordar que Morrissey e Marr marcaram uma reunião com Tony Wilson e deixaram claro que ele não estava convidado.

4 – Explicação adicional: eu era integrante de minha própria banda na época, Apocalypse, que foi cortejada pela EMI durante exatamente o mesmo período. Foram oferecidas à banda, igualmente, horas de estúdio para a gravação de uma demo no início de 1983 e, depois de muita procrastinação, ela acabou assinando com o selo, por um gerente de A&R que trabalhava sob a supervisão de Hugh Stanley-Clarke. O adiantamento não foi maior que o que os Smiths receberam por assinar com a Rough Trade, embora o grupo do autor tivesse um sucesso indie, exposição no rádio e na TV e já houvesse excursionado pelo país. No entanto, naquela época, os caminhos certamente se separaram: foi só no final de 1983, muitos meses depois, que o grupo do autor foi finalmente levado ao estúdio de gravação para fazer um single. Ironicamente, o estúdio acabou sendo o extravagante e residencial Jacob’s, onde os Smiths gravaram The Queen Is Dead, embora o estúdio caro não tenha contribuído para um disco melhor e, com o ímpeto contido em seu interior, o grupo se separou logo depois que ele foi lançado. Durante aquele mesmo período de 12 meses, os Smiths assinaram com a Rough Trade, lançaram dois singles, um dos quais foi um sucesso, gravaram seu álbum de estreia (duas vezes), gravaram quatro sessões para a BBC, apareceram na televisão e nas capas dos jornais musicais e chegaram a Nova York como a banda mais descolada do Reino Unido. A questão eterna — O que teria acontecido aos Smiths se eles tivessem assinado com a EMI em 1983? — pode talvez ser respondida pela experiência de súbita inércia do próprio autor. E a questão igualmente eterna — Terão os Smiths feito a coisa certa ao avançar em seu caminho numa gravadora independente? — parece ser puramente retórica.

CAPÍTULO CATORZE

1 – A capa do single observava que ele foi gravado em março, mas, segundo todos os relatos, a data de gravação era, na verdade, 27 de fevereiro. Outros livros de história declaram que “Hand in Glove” foi tocada ao vivo pela primeira vez na Haçienda. Mas, considerando-se que o show do Manhattan Sound, na semana anterior, tinha a intenção de ser um aquecimento, e de que nenhum setlist sobreviveu, parece ser uma suposição razoável que ela tenha, na verdade, sido revelada no show anterior.

CAPÍTULO QUINZE

1 – Para confundir ainda mais tudo isso, embora admitisse que Rourke estava acompanhando Marr durante a conversa, Travis se recordou de Joe Moss também estar presente — e Moss tinha tanta certeza do fato de ele estar na Rough Trade naquele dia quanto Rourke e Marr tinham de que ele não estava. “Ele teve que ser forçado a escutar a fita e a escutou ali mesmo, enquanto estávamos lá”, recordou Moss sobre Geoff Travis. “Ele gostou. Nós dissemos, de forma bastante insolente, que, se ele não lançasse a fita, nós a lançaríamos.”

Em 1988, numa entrevista com Richard Boon para a revista de distribuição independente The Catalogue, Morrissey deu uma descrição bem-humorada do primeiro encontro, em que ele incluiu ele mesmo na aventura em Londres: “Nós esperamos por horas para que nos dissessem que Geoff não poderia nos ver, então Johnny disse: ‘Quem é Geoff Travis?’ e alguém apontou para uma figura que se aproximava entre outras num corredor, e Johnny correu em sua direção e o forçou a escutar a fita.” Talvez a história toda devesse ser mais bem-esclarecida.

Essa, então, é a maldição do biógrafo — não existir algo como um fato quando tratamos de lembranças individuais. É por isso que, como Tony Wilson (interpretado por Steve Coogan) disse no filme A festa nunca termina, quando estiver entre a lenda e a verdade, sempre publique a lenda.

2 – O crítico, Jim Shelley, recebeu mais adiante o agradecimento nos créditos do álbum de estreia.

CAPÍTULO DEZESSETE

1 – A citação original da Rough Trade Distribution, citação essa que, na verdade, não foi rasurada, seria sustentada legalmente em 1989, quando a empresa entrou em falência, causando um caos a respeito da posse do catálogo dos Smiths, o qual, como acabou sendo descoberto, não pertencia realmente à gravadora.

2 – Em “Childhood, Sexuality and the Smiths”, ensaio que faz parte de Why Pamper Life’s Complexities?, Sheila Whiteley, fã confessa da banda, dedica milhares de palavras a analisar essas canções, refletir sobre esse incidente e tentar desesperadamente chegar a uma conclusão positiva, mas ainda admite: “Claramente, não há nenhuma prova empírica para ajudar na interpretação.”

3 – O primeiro deles foi a reescritura de um verso da banda anarco-punk Crass: “Do they owe us a living? Of course they fucking do” [Eles nos devem um sustento? É claro que sim].O segundo era uma das respostas favoritas de Morrissey e formaria a espinha dorsal de um futuro single dos Smiths. Juntos, eles eram bastante majestosos. A “ponte de ferro” mencionada na canção, como outros versos, parece ter vindo de “Spend, Spend, Spend”, de Viv Nicholson, mas muitos fãs dos Smiths acreditaram fazer menção à passarela que cruzava os trilhos do trem da King’s Road a St. Mary’s.

4 – Oscar Wilde, em correspondência com seu amigo próximo André Gide, tinha se referido ao diretor da sua prisão como “quite a charming man” [um homem bastante encantador], embora a influência em Morrissey possa ter sido completamente subliminar.

CAPÍTULO DEZOITO

1 – Em The Smiths: Songs That Saved Your Life, Simon Goddard assinala que as mixagens alternativas de Troy Tate, disponíveis on-line, são consideravelmente inferiores às mixagens finais, que este autor não escutou.

2 – Isso certamente faz mais sentido do que a história que tipicamente foi relatada — que Porter tinha recebido um telefonema inesperado de Geoff Travis, menos de uma semana antes de conhecer a banda na sessão da BBC, com a ideia de remixar o álbum dos Smiths. Não apenas isso teria esticado a coincidência a limites impossíveis, mas teria negado a necessidade de os Smiths abordarem Porter na cantina da BBC e se apresentarem para que ele trocasse de sessão.

3 – Sempre otimista em relação aos Smiths, Morrissey garantiu aos ouvintes que sairia em um mês, “porque acho que é a hora certa”.

4 – Em algum momento, Porter teve seu desejo realizado. Um “Single Remix” — da sessão de Londres — foi, no fim, preparado, depois que a banda se separou. Ele soava mais abafado do que a mixagem original.

5 – Enquanto completava este capítulo, o autor ouviu os canais separados de “This Charming Man”. As múltiplas partes de guitarra de Marr representam, não surpreendentemente, uma verdadeira tour de force, ainda mais espantosa por conta da juventude do guitarrista; além dos vários riffs e de solos dedilhados em diferentes canais, há violões e vários reverbs de trás para a frente, que acrescentam volumes (escondidos) à mixagem geral. Os vocais de Morrissey, por mais envolvidos em reverb que estivessem, são igualmente impressionantes. A linha de baixo de Rourke revela uma melodia e uma destreza ainda mais impressionantes do que é audível na mixagem final, enquanto o vazamento do resto da finalizada canção nos canais isolados de bateria confirma que Joyce gravou sua linha no fim da sessão.

CAPÍTULO DEZENOVE

1 – Em virtude da relação de trabalho de Travis com Stein, é inteiramente possível que o contrato tenha sido acertado e que a papelada tenha sido preparada durante o verão, contrato esse baseado no burburinho que cercava os Smiths e, então, assinado e selado depois que Stein viu a banda ao vivo.

2 – Na Grã-Bretanha da época, pouco mais de seis por cento de todas as vendas de disco iam, por lei, diretamente para a Sociedade de Proteção ao Copyright Mecânico; esses royalties eram, então, distribuídos para os compositores por meio de suas gravadoras.

3 – Marr estava se esforçando para ressaltar ao autor que o dinheiro não foi exclusivamente para seu próprio bolso. “A primeira coisa que fiz quando recebi o dinheiro da prensagem foi comprar uma bateria para Mike, o amplificador de Andy e um anel para Angie. E comprei uma Rickenbacker para mim. Morrissey tinha assinado o contrato também, então ele não precisava que eu lhe comprasse nada!”

CAPÍTULO VINTE

1 – Essa mudança de prioridades causou enorme agitação na Rough Trade. Richard Scott recordou que Geoff Travis lhe contara, quando assinou com os Smiths, que ele via Morrissey como “o próximo Boy George”, o que Scott encarou como uma ambição comercial em vez de, talvez, uma observação cultural. “Aquilo colocou tudo numa perspectiva clara”, disse Scott. “De que o que eu achava que estávamos tentando alcançar não era, na verdade, nem um pouco o caso. De que ele tinha interesses completamente diferentes. De que, repentinamente, era tudo uma questão de dinheiro e sucesso nas paradas.” O grau de dissidência que tal fato havia criado na empresa ficou evidente um dia, naquele verão, quando cheguei aos escritórios da Rough Trade, na Blenheim Crescent, a fim de entrevistar Geoff Travis para um segmento do programa The Tube sobre a empresa e o encontrei numa gritaria com várias das outras principais figuras do selo. Travis estava suficientemente abalado a ponto de inicialmente insistir que outra pessoa fosse entrevistada para o programa de TV em seu lugar; ele acabou se acalmando e se sentou para a entrevista, colocando para fora exatamente o tipo de comentário que estava causando a briga interna. “A Rough Trade quer ser bem-sucedida no sentido mais mainstream possível”, disse ele para a câmera, acrescentando: “Estou muito irritado por termos perdido grupos que são tão bons quanto o Scritti e o Aztec para gravadoras grandes... Mas sempre tivemos um problema moral, porque nunca achei que poderia assinar um contrato de seis discos com um grupo sem saber que tinha os recursos para competir no mercado adequadamente.” Sua conclusão? Uma muito presciente: “Acho que o que realmente foi provado é que, no caso da maioria dos artistas, eles sempre escolherão o dinheiro.”

2 – Em maio de 1983, exatamente quando os Smiths lançavam “Hand in Glove”, a Rough Trade assegurara seu primeiro sucesso do top 40 na improvável forma de “Shipbuiling”, de Robert Wyatt, uma canção composta por Elvis Costello para coincidir com a eleição geral que levara o governo de Thatcher de volta ao poder, em grande parte apoiado na vitória militar nas Falklands.

3 – Foi no The Venue, em 15 de setembro, que vi pela primeira vez os Smiths ao vivo, graças, em parte, ao estímulo insistente de Scott Piering. Ficou imediatamente óbvio que algo especial estava se desenrolando, acima de tudo, pela presença de um número substancial de fãs, muitos dos quais estavam carregando flores. Sugiro que os leitores procurem o livro de Len Brown, Meetings with Morrissey, para um relato em primeira pessoa verdadeiramente evocativo daquele show, a primeira exposição do autor aos Smiths e como aquilo o afetou profundamente.

CAPÍTULO VINTE E UM

1 – Embora, muitas vezes, aleguem que Morrissey escolheu o hotel baseado em sua popularidade, no passado, com seu ídolo, James Dean, o Iroquois era, na verdade, o hotel rock ’n’ roll favorito de promoters numa cidade onde faltavam quartos com bons preços. Seus hóspedes que não pagavam, as baratas, eram um aspecto familiar da vida doméstica de Nova York na época.

CAPÍTULO VINTE E DOIS

1 – O tempo não foi capaz de curar a percepção de Morrissey sobre a produção de Porter. The Sound of the Smiths, uma coletânea de 2008 dos singles da banda, com alguns clássicos a mais incluídos para encher o CD, trocava a versão do single de 7 polegadas pela versão da Peel Session, supostamente por insistência de Morrissey.

2 – A entrevista na Haçienda foi conduzida pelo autor, e vídeos do YouTube confirmam os perigos de um programa de televisão conduzir uma transmissão externa de uma casa noturna em tempo real. O som da plateia deveria ter sido silenciado no Factory All-Stars, que estava tocando no palco quando nossa entrevista começou, na frisa. Por alguma razão, aquilo não aconteceu, o que resultou em Morrissey e eu gritando um para o outro por cima do barulho, numa tentativa de nos escutarmos. Os telespectadores em suas casas não tiveram tais problemas, em virtude da posição de nossos microfones, a não ser, talvez, que tenham tentado imaginar por que o entrevistador se mantivera estático por dez segundos antes de começar a entrevista. Agora, eles devem saber. Infelizmente, não posso oferecer nenhuma desculpa semelhante para a entrevista igualmente exaustiva com Tony Wilson, Peter Hook e Paul Morley, a não ser sugerir que, como um editor de fanzine de 19 anos jogado no mundo da televisão ao vivo, eu estava evidentemente fora do meu ambiente. Foi divertido enquanto durou, no entanto.

3 – Quando os Smiths foram seduzidos a voltar à Europa, para um importante programa de TV alemão, os três instrumentistas e Sandie Shaw apresentaram uma maravilhosa versão dublada de “Hand in Glove” para o programa Formal Eins, que replicava os sets dos anos 1960 de programas como Ready Steady Go! e o próprio Beat Club alemão.

CAPÍTULO VINTE E TRÊS

1 – Marr alegou que ela tinha sido composta por ele e Morrissey no verão de 1983. Rourke não recebeu crédito de composição pelo que foi considerada por muitos sua melhor linha de baixo.

2 – Em entrevistas para este livro, Geoff Travis disse que foi a primeira vez que ele ouviu falar sobre aquilo.

3 – John Porter, cuja habilidade para criar truques de estúdio sutis parecia ser infinita, recordou que uma das faixas tiradas do AMS pode ter adicionado um harmônico tanto de uma terça maior quanto de uma oitava acima, a outra faixa causando uma terça maior abaixo e uma oitava acima.

CAPÍTULO VINTE E QUATRO

1 – Um ano depois, Morrissey ainda estava sofrendo com o aparente erro de Henke. Aquilo era “novidade para mim”, contou ele a Dave DiMartino, da Creem, acrescentando, imediatamente, que “aquilo teve um efeito absolutamente adverso nas nossas chances nos Estados Unidos... E, obviamente, a Sire recuou de imediato”. Nenhuma de suas afirmações partira de provas e, de todos os selos americanos que poderiam ter um problema com artistas gays, podia se esperar que a Sire teria sido o menos preocupado.

2 – Ao contrário de relatos publicados em outros lugares, nenhuma turnê americana dos Smiths foi anunciada ou promovida em 1984. Certamente, a banda não abandonou uma turnê americana no aeroporto de Londres, o que teria tido repercussões muito sérias; algo assim apenas aconteceu com a turnê europeia, que se dera mais cedo naquele ano de 1984.

CAPÍTULO VINTE E CINCO

1 – Um dos muitos indicadores do quanto a estrutura de negócios dos Smiths era irregular foi que vários empregados da Rough Trade e da All Trade se juntaram na Campden Hill Road para ajudar Morrissey a empacotar suas coisas e se mudar.

2 – Sem um produtor para receber um ou dois “pontos” percentuais, como John Porter fizera, haveria também mais lucro para a Rough Trade dividir com a banda.

3 – Apesar de ser empregado estritamente como engenheiro de som, Street levou para o estúdio um ponto de referência musical: o álbum de estreia de Lloyd Cole & the Commotions, Rattlesnakes, produzido por Paul Hardiman, álbum esse que chegou às lojas no mesmo momento em que os Smiths entravam no estúdio. “Eu via aquilo como o padrão que tinha que ser alcançado”, disse Street. “Do ponto de vista do som. E também porque estava no mesmo tipo de terreno: guitarras realmente boas e delicadas.”

4 – Ao contrário de outros relatos, “Rusholme Ruffians” e “Nowhere Fast” não foram gravadas na mesma sessão do estúdio Jam em que se gravou o single “William, It Was Really Nothing”. Quanto à Peel Session, que seria a última sessão de Porter com os Smiths por enquanto, o grupo também tocou “William” e “How Soon Is Now?”. Para replicar com sucesso a última com as restrições de uma sessão de oito horas na BBC, Porter trapaceou, levando os canais separados e transferindo a parte de guitarra com tremolo (e talvez algumas outras) para as fitas da BBC. Os Smiths tiveram sorte de ter um produtor que também trabalhava para a BBC e poderia fazer isso sem ser descoberto.

5 – Simon Goddard ligou esse verso, como muitos outros na canção, a letras da comediante/cantora/atriz britânica Victoria Wood, em particular suas canções “Fourteen Again” e “Funny How Things Turn Out”.

6 – Em 1984, a Rough Trade distribuiu um álbum do Flux of Pink Indians intitulado The Fucking Cunts Treat Us Like Pricks. Ele chegou ao número 2 das paradas independentes. Em comparação, distribuir e promover Meat Is Murder era moleza.

CAPÍTULO VINTE E SEIS

1 – Estava programado para subir de 0,5 para dois por cento, a ponto de, se o álbum vendesse 250 mil cópias no Reino Unido, Piering receberia um bônus de 22.600 libras.

2 – Como os leitores podem ter especulado, eu me conto entre essas pessoas. Embora eu não possa dizer que Meat Is Murder é a única razão para eu me tornar vegetariano, ou mesmo que é o ímpeto final (essa parte envolveu um bombeiro numa viagem para esquiar), o álbum é, possivelmente, a influência mais significativa numa mudança de estilo de vida que, no meu caso, mostrou-se permanente. Coloquemos nestes termos: eu não teria me tornado vegetariano (e, subsequentemente, vegano) naquela época se os Smiths não tivessem lançado Meat Is Murder. Eu sei que sou apenas uma de milhares de pessoas cujas vidas foram igualmente transformadas e, muito além da música, agradeço aos Smiths, tanto por se posicionarem daquela forma, ajudando a instigar o debate, quanto por criarem um impacto positivo na minha vida.

CAPÍTULO VINTE E SETE

1 – A versão lançada nos Estados Unidos, mais tarde naquele ano, trazia letras diferentes da britânica — substituindo o verso inicial “on the high-rise estates” [nos prédios altos] por “all the lies that you make up” [todas as mentiras que você inventa].

2 – Digo isso, em parte, por experiência. Fui ao show no Oxford Apollo — um dos shows mais animados que já testemunhei. Eu conhecia muitos dos jovens representantes de A&R daquela época, e uma jovem levara seu chefe para ver o James; minha memória se recorda de que foi a gravadora que quase assinou com o grupo. O chefe de A&R nos chamou de lado depois do show deles e, com toda seriedade, pediu-nos para explicar o apelo das duas bandas, porque ele não conseguia entender sozinho.

3 – “Well I Wonder” foi, na verdade, a única música dos três primeiros álbuns dos Smiths a nunca ser tocada ao vivo.

CAPÍTULO VINTE E OITO

1 – Piering, no entanto, filmou o grupo em Super 8, na Irlanda, em novembro de 1984, bem na época em que a Sire estava preparando o vídeo. Não pode ser descontado que essas imagens não serviram e ele acabou enviando as imagens de Showbiz.

2 – Marr foi cuidadoso para nunca usar o nome de Grower na mesma frase que o advogado que ele descreveu como “tubarão”. Ele também não foi capaz de explicar como Grower veio a representar os Smiths em primeiro lugar: “Alexis Grower não veio do meu lado das coisas”, contou-me ele em 2011. “Eu nunca tinha ouvido falar dele antes.”

CAPÍTULO VINTE E NOVE

1 – Morrissey, adicionalmente, tentou usar essa entrevista para se vingar de Jim Henke, da Rolling Stone, ao revelar Henke. “O jornalista que escreveu isso... ele mesmo está mergulhado até a cabeça, é uma voz muito forte no movimento gay de Nova York, acho que era apenas um desejo da parte dele”, disse Morrissey, talvez não sabendo que jornalistas musicais de revistas rivais poderiam, na verdade, ser amigos. DiMartino se sentiu obrigado a sair em defesa de Henke, terminando seu artigo com a observação de que “deve ser dito que o jornalista da Rolling Stone que escreveu aquela declaração não está mergulhado até a cabeça, não é uma voz forte no movimento gay de Nova York e não foi apenas um desejo da parte dele”.

2 – Ao voltar dos Estados Unidos, o papel de Gosling continuou. “Com Andy e Mike, a coisa começou a ficar um pouco mais séria. Eles estavam tentando se reunir comigo, conversar comigo, para que eu continuasse a resolver coisas para eles.” E então, repentinamente, todo o contato acabou. “Há forças dentro de qualquer banda. Quem sabe o que Moz achou de tudo aquilo? Quem sabe se Johnny pode ter decidido, no fim, que era tudo um pouco demais?” Gosling não foi contratado para a turnê seguinte. “Essa é uma daquelas lições que você aprende na vida e, na próxima vez que alguém tenta colocá-lo naquele papel, você diz: ‘Não, obrigado.’”

CAPÍTULO TRINTA

1 – A versão ao vivo de “Meat Is Murder” tornou–se o lado B do single de 7 polegadas, marcando esse como o primeiro single dos Smiths a usar o andamento raro de balada em 3/4 (ou 6/8) nos dois lados. “Nowhere Fast”, “Stretch Out and Wait” e “Shakespeare’s Sister” foram incluídas em seu lugar no single de 12 polegadas. Prensagens de teste originais do single de 12 polegadas que incluíam “Miserable Lie”, a qual mudara significativamente ao vivo com o passar dos anos, e “William, It Was Really Nothing” tornaram-se alguns dos itens de colecionador mais valiosos dos Smiths.

2 – A capa do single dizia que o disco foi “Gravado em Manchester”. Não havia menção ao RAK.

3 – Esse não era o único ponto de referência. Em “Kimberly”, de Patti Smith, a música que influenciou “The Hand That Rocks the Cradle”, a cantora mencionava uma “chama” e se comparava a Joana D’Arc.

4 – “Rubber Ring” era o termo específico de Morrissey para a música dos Smiths, como ela se aplicava a seus fãs.

5 – Quando um DVD de coletânea dos Smiths foi lançado, em 1992, foi a apresentação do Top of the Pops de “The Boy with the Thorn in His Side” que foi incluída, não o videoclipe.

6 – “Asleep” foi tocada em Inverness, mas apenas porque a pequena casa de shows não tinha sido capaz de remover um piano do palco e Marr decidiu se aproveitar disso; Rourke e Joyce forneceram baixo e bateria rudimentares.

CAPÍTULO TRINTA E UM

1 – Margaret on the Guillotine foi mais tarde ressuscitado por Morrissey como título de uma música de seu primeiro LP solo.

2 – Perguntado se a canção “There Is a Light That Never Goes Out” foi “composta sobre seu relacionamento” com Johnny Marr, por Adrian Deevoy, da revista GQ, em 2005, Morrissey respondeu explicitamente: “Não foi e não é.” Em sua própria entrevista com o autor, Marr, no entanto, cantou o verso “driving in your car” [andando no seu carro] quando explicava que, apesar de não ter habilitação, “eu costumava nos levar para todo lado”.

3 – Como “Bigmouth Strikes Again”, “Cemetry Gates” usava uma afinação não convencional para ajudar a alcançar essa ressonância particular.

4 – Entre críticos britânicos respeitados, Simon Goddard chamou-a de “a maior gravação particular” em seu livro The Smiths: Songs That Saved Your Life; John Harris, na Mojo, em abril de 2011, referiu-se a ela como sua “maior realização”; e John Savage a rotulou “a obra-prima madura dos Smiths” no Guardian, em dezembro de 2010.

5 – O segmento de filme e a própria música foram unidos pela repetição de um rufar dos tom-tons de Mike Joyce num sampler primitivo da época (o Window).

6 – No dia 9 de julho de 1982, numa falha de segurança extremamente vergonhosa, Michael Fagan, de 31 anos, invadiu o Palácio de Buckingham e entrou no quarto da rainha, onde ela estava dormindo, sozinha. Ele passou seis meses num manicômio.

7 – O surgimento de uma gravação rudimentar dessa música, completa com o trompete, mas poucos outros overdubs, não deveria ser entendido como uma inverdade da parte de Street, meramente como prova de que a música certamente existiu, em certo momento, num formato inseparável.

CAPÍTULO TRINTA E DOIS

1 – Eu fui a esse show. Não me lembro bem do que eu estava fazendo em Newcastle, a não ser pelo fato de que tinha ligações com muitas das pessoas envolvidas no Red Wedge e uma afinidade com aquela cidade, afinidade essa que era baseada em meu trabalho anterior para o The Tube. Dessa forma, eu estava totalmente ciente de que os Smiths tocariam (sem ser anunciados); se isso influenciou minha decisão de fazer a viagem, ou apenas se tornou evidente quando eu estava no local do show, não sei dizer.

2 – Derek Hatton foi expulso do Partido Trabalhista mais tarde, em 1986, por sua filiação à Tendência Militante Marxista-trotskista, que o partido tinha declarado ilegal em 1982, numa tentativa visível de se aproximar ainda mais do centro.

3 – O Aztec Camera já não era nenhum tipo de ameaça musical aos Smiths. Depois de trocar a Rough Trade pela WEA, Frame gravou o álbum de produção exagerada Knife, com o guitarrista do Dire Straits, Mark Knopfler, como produtor, e partiu numa turnê britânica de teatros; a posição de abertura para Elvis Costello, nos Estados Unidos, igualmente indicava uma tentativa de posicionar Frame como “rock para adultos”. É o caso clássico dos perigos de trocar um selo independente de boa reputação pela atração de uma grande gravadora.

4 – Gannon não tinha feito teste para entrar para nenhuma banda desde que se juntara ao Aztec Camera, com 16 anos. Assim sendo, ainda era surpreendente ele ter sido contratado com tão pouca discussão.

5 – Morrissey negou ter escrito o bilhete que foi deixado no carro de Rourke. Rourke permanece absolutamente certo de que o recebeu.

6 – É fascinante, até reconfortante, observar que Hughes originalmente pretendia que Duckie ganhasse o coração de Andie no baile de formatura, mas plateias-teste — talvez evidenciando as expectativas da maioria em Hollywood — rejeitaram a ideia. Outro fim foi futuramente filmado, contra a vontade de Hughes. O ator Andrew McCarthy, tendo raspado a cabeça nesse intervalo para aparecer numa peça, foi forçado a usar uma peruca na cena.

CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

1 – A noção de que os Smiths não viram “nenhum dinheiro” das vendas de seus discos é, francamente, disparatada. Se fosse o caso, eles poderiam ter saído da Rough Trade depois do primeiro disco, por falta de pagamento de royalties. Geoff Travis, notando “casas e carros” variados adquiridos por vários Smiths, disse, sobre os cheques de royalties que saíram da Rough Trade: “Não acho que eram sete dígitos, mas eram significativos.” Até Sandie Shaw observou, em sua autobiografia, “a grande fatia de royalties que recebia da Rough Trade” — e isso apenas por cantar num single de sucesso moderado, “Hand in Glove”.

2 – A matéria da The Face começava com o “empresário” Scott Piering pedindo para ver o que seria publicado antes de ir para a gráfica, perturbado por Kent ter entrevistado vários antigos conhecidos de Morrissey, incluindo “pelo menos um inimigo confesso”. Apesar de o teste ter realmente sido enviado a Piering, a matéria ainda estava cheia de imprecisões imperdoáveis: o nome do vocalista estava escrito de forma errada, em todo o artigo, como Morrisey. Ainda assim, a matéria foi mais bem-lembrada pela citação final de Johnny Marr sobre seu amigo: “Acho que ele precisa de uma boa trepada.”

3 – Graças à chegada de Leslie Holmes, que vinha de Yorkshire e tinha uma atitude mais aberta, o Lads Club passou a receber muitos shows de grupos famosos e foi usado como local para palestras, seminários e programas de rádio. Uma enorme campanha de arrecadação de fundos ocorreu já no século XXI e viu Morrissey dar o exemplo com uma doação generosa. Apesar de a Coronation Street estar, em grande parte, coberta de tapumes, e de a área ao redor, com suas novas propriedades, ter pouca relação com a da Salford industrial do final da época vitoriana, das salas superiores do Lads Club ainda é possível ver as usinas de gás da “Dirty Old Town” de Ewan MacColl.

4 – Enquanto gravava “Panic”, no Livingston Studios, norte de Londres, John Porter tinha recrutado o coro da escola primária local para dar ao single uma autenticidade juvenil que combinasse com sua natureza rebelde; isso também serviu como uma volta nostálgica aos dias do glam da época do T. Rex, quando alunos de escolas primárias, como Marr, Rourke e Joyce, formavam parte significativa do público.

5 – Apesar de seus comentários póstumos rudes, o single de 1987 “Shoplifters of the World Unite” foi “dedicado a Ruth Polsky”.

6 – A dedicação de Tony Wilson, acima de tudo, à causa da música de Manchester ficou evidente numa carta que ele escreveu aos coordenadores do G-Mex antes do show do Tenth Summer, reclamando sobre sua contribuição mínima para melhorar a acústica do evento. “Sei agora que o som no sábado, dia 19 de julho, não será tão bom quanto deveria ser; quão desastroso ainda não se sabe. Manchester, uma cidade com excelente música pop, DEVERIA ter uma boa casa de shows pop de grande escala. Sua insistência, nesse, o primeiro show pop na boa e velha estação, de embolsar tudo menos mil libras de toda a sua taxa de uso, e não investir no futuro do prédio ao apoiar nossos esforços para um tratamento acústico, presta um desserviço ao espaço e presta um desserviço a Manchester.”

CAPÍTULO TRINTA E QUATRO

1 – A única reunião de Jarman com a banda a respeito do filme limitou-se à apresentação dele aos integrantes no camarim no show do G-Mex, onde Marr estava ocupado vomitando, por causa do nervosismo anterior ao show.

2 – Pratt recordou sua surpresa pelo fato de os Smiths tomarem coquetéis de champanhe — e de Rourke, apesar de estar largando a heroína, estar “tomando muitos remédios controlados”.

3 – Seu caso tinha sido adiado até novembro, então ele ainda não havia sido declarado culpado de um crime concernente a drogas. No fim, ele recebeu uma sentença suspensa de dois anos por posse de heroína.

4 – O Dream Academy tinha, inicialmente, lançado sua versão da música dos Smiths como um lado B pela Blanco y Negro, o outro selo de Geoff Travis.

5 – Simon Goddard merece o crédito por postular a ideia de usar os filmes de Jarman como o fundo dos shows.

6 – Gravações do show de Irvine Meadows, em 28 de agosto, no qual os Smiths tocaram para 15 mil fãs, mostram-no gritando com os seguranças: “Meu Deus, não seja tão estúpido!”, enquanto Johnny Marr os chama de “malditos idiotas neandertais”. Outros relatos daquela noite sugeriram que os jovens na plateia estavam chapados de pó de anjo e, por isso, atacaram os seguranças sem medo. No Greek Theater, em São Francisco, enquanto isso, a histeria da plateia viu fãs escalando o ônibus da banda, e helicópteros foram chamados.

7 – Craig Gannon recordou que Morrissey não estava com eles no Concorde, sugerindo que ele poderia ter voltado ao Colorado.

CAPÍTULO TRINTA E CINCO

1 – A reação do Parlamento contra a permissividade homossexual começou de verdade em 1986, com “um ato para impedir que as autoridades locais promovessem o homossexualismo” apresentado pela Câmara dos Lordes. No ano seguinte, a Cláusula 28 foi incluída com sucesso no projeto de lei do governo local, declarando que uma autoridade local “não deveria promover intencionalmente o homossexualismo ou publicar material com a intenção de o promover” ou “promover o ensino, em qualquer escola mantida, da aceitação do homossexualismo como uma relação familiar pretendida”.

CAPÍTULO TRINTA E SEIS

1 – A demo original de “Is It Really So Strange?” tornou-se, posteriormente, disponível, e pode ser confirmado que as duas versões têm exatamente o mesmo andamento. Quanto a “Sweet and Tender Hooligan”, a gravação original de Porter não veio à tona para permitir tal comparação.

CAPÍTULO TRINTA E SETE

1 – A gravação completada com Porter acabou surgindo, muitos anos depois, sem os vocais de Shaw e com uma introdução que soava como cítara, tocada por Porter no emulador.

2 – A canção de David Bowie, “Kooks”, de Hunky Dory, inclui o verso “if the homework brings you down, then we’ll throw it on the fire” [se o dever de casa o desanima, então vamos jogá-lo no fogo].

3 – Morrissey, por outro lado, demonstraria sua própria lealdade a Hinc ao retornar ao agente como artista solo.

CAPÍTULO TRINTA E OITO

1 – Por publicar as palavras de Esperanza, o editor do The Nation, Gavan Duffy, foi acusado de rebelião. Em seu julgamento, Lady Wilde se apresentou e assumiu a responsabilidade. “Sou a culpada. Eu escrevi o artigo ofensivo.” Talvez por causa de seu status, ela não foi acusada.

CAPÍTULO TRINTA E NOVE

1 – A única exceção foi “The Draize Train”, que também ficou ausente de The World Won’t Listen. A razão nunca foi esclarecida.

CAPÍTULO QUARENTA

1 – “Eu não me apresento”, Morrissey insistiu, anos depois, durante uma entrevista, corrigindo Russel Brand, então apresentador de um programa de rádio, fã confesso dos Smiths e amigo de Morrissey, mas que ainda não era um ator famoso mundialmente. “Focas se apresentam, infelizmente.” Morrissey disse que preferia a expressão “aparecer ao vivo”.

2 – Na próxima vez que se encontraram — “muito tempo depois”, disse Street —, Marr “foi um pouco frio comigo, para ser honesto. Apenas pensei: ‘Bem, ele obviamente achou que passei para o outro lado do muro.’” A dupla acabaria reconstruindo o muro e trabalharia em conjunto para remasterizar o catálogo dos Smiths nos anos 2000.

3 – Marr tocou no álbum Mindbomb, do The The, e no single “Windows of the World”, do Pretenders, nenhum dos dois lançados até 1989. Ele também excursionou com o The The como integrante da banda e depois tocou no álbum de 1993 da banda, Dusk.

4 – O riff de guitarra de “How Soon Is Now?”, sampleado pela banda britânica Soho para seu single indie-dance “Hippy Chick”, chegou às paradas americanas tempos depois, em 1990. Como coautores legais da música, ela deu a Morrissey e Marr, como compositores, e aos Smiths, como grupo, apesar de o único a ser realmente sampleado ter sido Marr, seu único crédito no top 20 americano.

5 – Ela seguia Marr de qualquer forma. Matt Johnson observou para o autor que, “de certa forma, imagino que o The The se tornou uma espécie de porto seguro onde ele podia se abrigar naquela época, quando estava tão magoado com certos elementos na imprensa musical, especialmente da NME, que realmente se ressentia do fato de ele ter acabado de matar a galinha que estava botando seus ovos de ouro”. Johnson recordou que Danny Kelly “fez o possível para sabotar a mudança de Johnny, tanto nos Smiths quanto no The The, em todas as oportunidades... Essa atmosfera pós-Smiths se tornou realmente malévola, e eu me lembro de Johnny, inclusive, se desculpar comigo por trazer toda aquela negatividade até ele. Não foi culpa dele, claro, embora ele costumasse ficar muito triste com isso. Eu apenas aconselhei que ele parasse de ler os jornais musicais”.

6 – As três músicas: “Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before”, “Death at One’s Elbow” e “Sweet and Tender Hooligan”.

7 – Os instintos dos Smiths em relação ao apelo comercial de “Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before” foram confirmados vinte anos depois, quando o DJ de casas noturnas e produtor Mark Ronson levou uma versão dela ao número 2 das paradas britânicas, cantada por Daniel Merriweather. Intitulada simplesmente “Stop Me” e incluindo um breve refrão do clássico que as Supremes gravaram pela Motown, “You Keep Me Hanging On” no final, essa seria a composição de Morrissey e Marr que viria a chegar à posição mais alta nas paradas do Reino Unido.